segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Safámos o resultado

Estive em Olhão este fim de semana e assisti ao jogo numa daquelas bancadas amovíveis que existem nesse Estádio. Paguei 50€ pelo bilhete na tal bancada amovível, num estádio digno de terceiro mundo, contra uma equipa que está em último classificado e uma semana antes do Benfica - FCPorto. Não me arrependo nem por um segundo ter viajado tantos kms para assistir ao nosso pior jogo do ano, porque vi aí muito mais que um jogo.

Primeiro admito que durante esta semana se falou muito no árbitro nos blogs, nos cafés, nos jornais e até imagino que se tenha falado desse árbitro nos treinos do Benfica. Este senhor é o árbitro que mais amarelos dá no campeonato e por "sorte" ou "azar" foi nomeado para um jogo do Benfica antes da partida mais importante do ano contra FCPorto.

Há coisas que não se controlam como a nomeação do árbitro para um jogo do Benfica, mas há coisas que nós controlamos, temos que controlar e somos obrigados a controlar.

Nenhum director desportivo ou qualquer director do Benfica se deve intrometer em qualquer decisão técnica. Isto parece-me de cartilha de primeira classe do dirigismo de futebol aqui ou na China.

No entanto, numa "guerra sem quartel", há coisas que são óbvias. Por exemplo, alguém deveria informar TODA a equipa que este árbitro é famoso pelo número de amarelos que dá e alguém deveria informar-lhes que este adversário não é igual a todos os outros da Liga. Alguém deveria dizer aos nossos jogadores que tal como o Braga é um "FCPorto B", esta equipa de Olhanense é um "FCPorto C" e isso deveria ser suficiente para eles entenderem algumas regras de actuação nestes jogos.

Uma delas parece-me clara e evidente. Não se devem meter em nenhuma escaramuça provocada por adversários do Olhanense, não deverão actuar no limite em nenhuma falta sob pena de levarem amarelos e/ou expulsões, não deverão entrar em qualquer jogo psicológico dos jogadores do Olhanense e deverão ter nervos de aço em todas as situações. Quer o resultado seja a nosso favor ou a favor do adversário, quer o árbitro nos roube um penalti ou marque outro contra nós a três metros da grande área, quer os adversários nos provoquem ou o público seja o mais hostil do mundo, a nossa equipa só tem alhear-se de tudo isto e apelar aos tais nervos de aço que falei há pouco.

Não há nenhum mal nisto. Os nossos jogadores são jovens mas ganham bem. Sabem que ser jogador de futebol não é apenas dar uns pontapés na bola e se alguém lhes ensinar estas regras eles aprendem facilmente porque podem ser burros ou estúpidos - que não é o caso - mas o que lhe explicarem é mesmo muito fácil de entender.

Depois de tudo isto, eu entrei no estádio - ou naquele campinho de futebol digno duma terceira divisão de qualquer Liga civilizada - com a certeza que íamos lutar pela vitória com a humildade dos campeões e com as regras "duns meninos".

Ia preparado para tudo pois sabia que ao contrário do que se apregoava nos tais cafés ou até mesmo em Olhão, o Benfica ia passar realmente as passas do Algarve para ganhar este jogo. Na terça feira, quando me dirigi à bilheteira onde fui "assaltado" nos tais 50€, alguém do Olhanense me dizia que o Benfica daria uma goleada e que "os defesas locais se iam abrir todos" para deixar passar o Cardozo, ao que lhe lembrei que o Cardozo não jogava de listas azuis e de dragão ao peito. Ele respondeu que era bem capaz de ter razão... Adiante.

Quando cheguei ao Estádio, senti logo que alguma coisa poderia acontecer naquele jogo e sempre esperei que a perdermos, perdêssemos com a dignidade dum campeão, deixando tudo em campo e sem cometer nenhum tipo de erros "extra desportivos".

Não vou falar da parte desportiva ou táctica pois penso que jogámos tão mal, tão mal que o empate veio do céu. Tal como escrevo no título safámos o resultado e tal como no tempo de Trapattoni, um pontinho aqui, outro pontinho ali se vai "enchendo o papo da galinha". Na corrida para o título parece-me que pode ser um ponto muito importante.

Vou voltar aquilo que mais me preocupou na rápida visita ao Algarve. Este Benfica não tem liderança e isso é muito triste. Quando Fábio Coentrão é agredido mesmo à minha frente - nessa tal bancada amovível manhosa - vi em centésimos de segundos toda a máfia e manhosice deste futebol pequenino que temos. Não vou entrar em pormenores e em teorias da conspiração de "quem manda em quem" mas foi claro para mim que alguém estudou a lição e alguém não a estudou. É inadmissível que Cardozo, Luisão e outros se metam numa escaramuça tão premeditada quanto mal disfarçada, com um único objectivo - rastilho para uma mão cheia de cartões.

E porque razão David Luiz foi o único jogador do Benfica que em todo o jogo nunca se envolveu em nenhuma dessas escaramuças ficando a vários metros de todas as situações perigosas? É o único inteligente ou terá sido o único avisado? Eu quero acreditar na nossa estrutura e quero acreditar que todo o nosso departamento desportivo "sabe andar nisto" mas ás vezes tenho dúvidas.

Será que ninguém avisou Cardozo, ou os restantes colegas do perigo que este jogo representava? Eu não quero, nem posso acreditar nisso. Mas depois há coisas que me parecem estranhas. Jorge Jesus acalmou as hostes quando se fazia a entrada para o túnel separando as águas e separando os nossos jogadores dos jogadores adversários. Até aqui tudo bem. Mas ninguém avisou os nossos jogadores do perigo de escaramuças ou de qualquer tipo de provocação contra este adversário?

Mais uma vez vou retirar desta análise qualquer teoria da conspiração. Eu quero acreditar que nunca ninguém do FCPorto encomendou qualquer confusão ou incidente que permitisse ao árbitro exibir a gala de cartões amarelos/vermelhos que já nos habituou. Não estou a ser irónico e sei que estas coisas não funcionam assim. Não é o Pinto da Costa que liga ao Jorge Costa para ele passar uma mensagem aos jogadores contra o Benfica. É a própria situação do Olhanense sendo ultimo classificado, com treinador e jogadores ligados "umbilicalmente" ao FCPorto e adeptos ávidos de uma vitória contra Benfica que dinamitam toda a situação.

Eu não critico os jogadores, não critico Jorge Jesus, nem sequer Rui Costa ou a nossa estrutura de futebol. Não o critico porque sei em que altura do ano estamos. Mas uma coisa eu sei. A equipa em Olhão não teve liderança. Não sei se foi a perca de Aimar, de Di Maria ou de Ramires, na segunda parte carregámos sem cabeça, sem foco e a acreditar como eu acreditava - apenas com o coração encarnado que eles têm como eu e como muitos malucos que ainda continuamos a sustentar chulos.

Quando um desses chulos afirma que fazer o jogo no Estádio do Algarve significaria ter um "triplo da receita" - passar de 250 000€ para 750 000€ - e que por respeito aos sócios não o fez, eu tenho de me rir. Ninguém de bom senso abdica de 500 000€ por respeito aos sócios desse clube. Aliás de um estádio ao outro distam apenas cerca de 14 km e 500 000€. Eu não quero aqui levantar suspeitas porque o tal chulo em questão - e atenção que a expressão chulo apenas aparece devido aos preços altos, altíssimos que todos nós Benfiquistas pagámos por cada bilhete - até pode ser boa pessoa mas como se dizia da mulher de César, "não basta sê-lo é preciso parecê-lo..."

Voltando ao jogo onde tudo correu mal - menos o golo de Nuno Gomes e o falhanço do avançado Olhanense no último minuto de jogo - o Benfica mostrou ingenuidade. Eu acredito e acreditarei este ano na conquista do título. Acompanharei o Benfica para todo o lado e estarei todas as semanas de jogos no nosso estádio. No entanto, nestes jogos fora entendem-se muitas coisas, que no nosso magnifico cativo em Lisboa não se entendem. Como aliás se entendeu na derrota na Trofa o ano passado, ou até mesmo este ano em Braga. Temos que sair de casa com todas as lições bem estudadas. Temos que entrar nestes campos a saber os trunfos técnicos/tácticos dos adversários e os perigos escondidos nas entre-linhas sem manhosices e com total legalidade.

Eu não quero falar muito do Di Maria e da sua atitude infantil, mas uma coisa é fazer aquilo sem ser avisado e outra coisa é fazer aquilo depois de ter sido avisado durante a semana dos perigos que se adivinhavam nesta visita ao Algarve. Qualquer uma delas deve ser punida exemplarmente no seio do grupo. Nem eu nem ninguém deverá saber do castigo que o Benfica lhe deverá aplicar porque nestes casos a protecção do grupo deve ser o principal objectivo. Nós precisamos dum Di Maria forte e não será a crucificá-lo na praça pública que isso virá a acontecer. Só espero uma coisa dum bom gestor desportivo. Punição exemplar no interior e protecção total no exterior.

Rui Costa é novo e bem formado. Não se pode nunca pedir a uma pessoa de 36 anos que saiba tudo do seu novo ofício nem se deve comparar as atitudes dum homem novo e bem formado com as manhas dum seu antecessor mais velho e bem menos formado. O fantasma de José Veiga aparece muitas vezes na mente dos Benfiquistas quando se cometem alguns destes erros. No entanto, José Veiga é passado e não será a lembrá-lo que se recupera a boa liderança. Há coisas que ou se têm ou não se têm e Jorge Jesus sabe-a toda. Bem sei que não será ele que tem de pensar em tudo mas na prática será ele que terá de preparar os 26 jogadores para as batalhas que se travam para lá da táctica. Não há outra maneira de o fazer. Quando Jesus arrisca meter Coentrão a defesa esquerdo todos sabíamos que só um milagre poderia fazer com que Coentrão jogasse contra FCPorto. Por duas razões. Por um lado o árbitro estava numa toada de amarelos que fazia com que cada falta pudesse ser um possível cartão e por outro lado, Jorge Costa sabia que Coentrão deveria ser mais mole e deveria apostar mais nos contra-ataques por esse lado.

Infelizmente nem cinco minutos passaram com o jogador na defesa esquerda sem levar o amarelo. Depois de ter perdido Di Maria e apesar de se "pensar jogo a jogo" obviamente que Jesus não foi inteligente. Mas tudo bem... Ele saberá porque o colocou ali mas agora tem que gerir um plantel sem muitos jogadores para dois jogos numa semana.

Falarei de cada um dos jogos a seu tempo e sei que Jesus estará a esta hora a pensar exactamente nisso. Ele quer ganhar a AEK poupando todos os 14 jogadores que podem ser opções para FCPorto. Por outro lado sabe que ganhar ao FCPorto por meio-zero será um passo de gigante na candidatura ao título.

Eu estou com a equipa, com os treinadores e com os directores. Claro que sei as dificuldades em ser campeão neste país, com todas estas equipazinhas que morrem para ganhar ao Benfica, mas também sei que a nossa equipa está preparada para sofrer. Não é semana para criticar a atitude passiva de alguns jogadores do Benfica este sábado, nem tão pouco a semana certa para criticar a pouca inteligência de alguns dos nossos jogadores em vésperas do encontro com FCPorto. Esta semana é a semana do ano que mais ansiamos e vamos vivê-la com unidade absoluta. Só assim será possível derrotar o FCPorto com os guerreiros que entrarem no campo no próximo domingo. Vamos ganhar e esquecer toda esta má jornada no Algarve. Para terminar e depois de ver as atitudes de cada um dos adeptos olhanenses a desejarem que o Benfica apenas fosse campeão na PlayStation, a aplaudirem o amarelo inventado de Javi Garcia e pedirem desesperadamente o amarelo para David Luiz - seguramente a pensar no jogo do próximo domingo - só posso desejar um bom regresso do Olhanense à segunda liga e que por ali fique "para sempre".

Força Benfica

4 comentários:

Bruno disse...

O jogo deste fim-de-semana é, em meu entender, decisivo para o Benfica. Uma derrota contra o FC Porto poderá querer dizer o adeus ao título. É que esta costuma ser a altura da temporada em que o Porto arranca, época de pausa da Champions, e é a altura em que o Benfica começa a ceder.

Escrevi ontem no meu pasquim que uma análise fria aos números mostra que o Benfica de Quique foi campeão de Inverno, e que o Benfica de Jesus se arrisca a passar o Natal no terceiro lugar.

http://portudoenada.blogspot.com/2009/12/benfica-e-o-genio-de-jorge-jesus.html

O que quer dizer que nem sempre o espectáculo é sinónimo de eficácia e títulos. É preciso não vacilar contra os pequenos.

Por terra pode ficar a previsão que fiz no início da temporada, de que este seria o ano do Benfica;

http://portudoenada.blogspot.com/2009/08/benfica-campeao-nacional-de-futebol.html

Nota: não sou adepto do Benfica. Mas também não sou do Porto, nem do Sporting, nem do Braga. Neste país quando não se diz maravilhas de um clube é-se logo catalogado como adepto de um clube rival. Neste caso, posso analisar com algum distanciamento.

Nota 2: a propósito, li algures num site brasileiro que o Benfica já contratou mais um brasileiro, o Alan Kardec. Não sei se é bom jogador, o que sei é que esse é o nome de um dos maiores estudiosos do espiritismo, venerado no Brasil. Sabendo como é dado o Jorge Jesus ao misticismo, pergunto-me se este Kardec veio para jogar ou apenas para trazer boas energias ao balneário.

iBenfiquista disse...

Muito bom post, mais uma vez.

No domingo vamos ganhar com o Aimar e o Carlos Martins e uma equipa mais física. Só tenho pena do Ramires. De mais ninguém.

Por vezes há males que vêm por bem.

Saudações Benfiquistas

Anónimo disse...

Foi pena o Ramires e o Coentrão. Quanto ao Di Maria, foi a melhor coisa que nos poderia ter acontecido. è pena o castigo ser de apenas um jogo...

Atlas disse...

A forma como o Benfica foi recebido em Olhão para mim não foi surpresa bem como a inclinação do campo uma vez que esta é a regra. Por isso é extremamente injusto exigirmos tudo e mais alguma coisa dos nossos atletas (e aqui não me refiro à técnica) para poderem alcalçar a victória.
Agora quando a falta de liderança e a falta de lógica na montagem das equipas são notórias a probabilidade de ganhar é quase nula. Deixando a táctica de lado, se nos concentrarmos apenas e só na lógica, a inclusão de David Luiz a ter de evitar o 5º amarelo não faz qualquer sentido uma vez que o elo mais fraco da nossa defesa é o defesa esquerdo. Consequência, foi nessa área que marcaram os 2 golos. Não faz também qualquer sentido o facto do Coentrão não ter sido mais protegido depois de o Di Maria ter sido expulso. Na realidade o inverso foi feito. A razão porque concordo com o artigo quando evidencia a falta de liderança prende-se não apenas com as atitudes do Di Maria e do Cardozo, mas também com um pequeno detalhe que detectei ao intervalo: - O JJ correu para a entrada do túnel para que os nossos jogadores não entrassem sem que os adversários o fizessem. Depois do que se passou em Braga no 1º treino logo a seguir os jogadores deviam ter sido instruidos a serem sempre os úiltimos a entrar tanto no nosso como em qualquer túnel.
De facto cada vez se torna mais dificil praticar futebol quando a camisola tem uma águia e os Benfiquistas deviam pensar muito a sério se vão permitir que esta grandeza de clube desapareça. Há meios legais para o fazer mas temos de fazer o que está gravado no nosso emblema - TODOS POR UM e boicotar economicamente tudo o que ataque o nosso Benfica directa ou indirectamente.