quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O tempo dos portugueses

Agora que a selecção Portuguesa volta a encantar - grande exibição, grande resultado e que bom foi ganhar aos espanhóis, vendo o jogo em Madrid - penso que chegou a altura de voltar a falar dum assunto muito importante que é a "não aposta" em jogadores portugueses e que é fundamental para o nosso presente e futuro.

A julgar pelas noticias vindas a publico, David Luiz, Fábio Coentrão e Cardozo sairão seguramente no fim do ano - mais milhão, menos milhão - ou até quem sabe, já em Janeiro.

Tambem segundo noticias - e eu não acredito em todos os nomes que são falados na comunicação social - o Benfica prepara-se para comprar, servir de entreposto para outras paragens ou receber emprestados mais um ou dois avançados argentinos para juntar a Weldon, Jara, Nuno Gomes, Kardec, Cardozo ou a Rodrigo e Nelson Oliveira, emprestados esta época.

Eu não quero focar este post na pertinência de comprar mais avançados em detrimento doutras áreas mais carenciadas, mas é obvio que alguem anda de cabeça perdida na estrutura do Sport Lisboa e Benfica...

O Benfica tem neste momento muitos estrangeiros no plantel e os portugueses que estão - tirando os internacionais Ruben Amorim, Carlos Martins, Roderick e Fábio Coentrão - são de segunda linha. Nomes como César Peixoto, Luis Filipe, Moreira, Fábio Faria servem apenas para compor o plantel e manter a quota minima de gente portuguesa na equipa.

Não acredito em Luis Filipe Vieira quando diz que quer colocar mais portugueses no plantel do Benfica a curto/médio prazo porque já está no Benfica há muitos anos para todos entendermos que o estrangeiro é opção em mais de 90% das contratações. Neste particular admito que perdi a confiança no presidente como aqui já referi que a perdi neste treinador tambem.

O Benfica não pode comprar cada "menino" que mexe um bocadinho melhor na bola por 6, 8 ou quase 10 milhões na Argentina ou em qualquer outro país, quando tem igual nas camadas jovens ou de qualquer outra equipa nacional. Eu sei que os olheiros do Benfica gostam mais de viajar para o Brasil e Argentina mas a estratégia tem de ser clara e vir de cima. Os jogadores estrangeiros que estão no Benfica - especialmente os jovens Kardec, Jara, Gaitan, Sidnei, Airton, Filipe Menezes, Sálvio, Javi Garcia e  emprestados como Urreta ou Rodrigo  - são nossos jogadores e trato-os como jogadores do Benfica e ponto final. Não olho para o seu passaporte e acho que devemos apostar nestes jogadores para renderem o máximo nos próximos anos, tentar rentabilizar os investimentos ou simplesmente que estejam no Benfica a render em alto nivel para sempre. Repito que não tenho nada contra os jogadores estrangeiros do Benfica, especialmente os novos.

O que temos de mudar - e estando a 10 pontos do FCPorto à décima jornada e sem a pressão da luta pelo título - é a estratégia de contrataçôes pois as nossas contas, a nossa tesouraria, o passivo, a classificação no campeonato, o afastamento da champions league e a nossa história obrigam o Benfica a ter outro "modus operandi" na construção e preparação dos planteis para as próximas épocas. O futuro do Benfica constroi-se hoje e não vamos ter eleições para a presidência do clube nestes próximos anos, portanto há que apoiar quem lá está, gostando ou não se gostando. É assim a democracia e quem não entende estas noções escusa de opinar. Todos os empregados do Benfica e da SAD podem ser despedidos, cessar a sua ligação ao clube, optar por outras paragens para a sua vida pessoal ou profissional, mas a nossa direcção a não ser que se demita em bloco, irá gerir os nossos destinos até novas eleições ordinárias daqui a alguns anos.

O Benfica tem de pensar em aproveitar o maior numero de jogadores jovens nacionais que estão a jogar em Portugal ou no estrangeiro - não só nas equipas de formação mas tambem noutras equipas e noutras idades nao tão teenagers - pois isso está no nosso ADN. Eu já não falo no número de jogadores na nossa selecção que neste jogo recente contra Espanha seriam dois se Fábio Coentrão jogasse e podem voltar a ser dois jogadores caso entre Ruben Amorim nas convocatórias e saia Coentrão para outras paragens.

O meu problema é pensar que o "camião" de argentinos não acrescenta nada de novo e sei que o Benfica sendo o maior clube nacional deveria ser muito mais acutilante na descoberta,  prospecção e consequente contratação de novos jogadores nacionais.

Ha grandes jogadores portugueses a serem trocados de clubes para clubes nacionais, há grandes jogadores portugueses a serem vendidos para estrangeiro, há grandes jogadores portugueses a jogarem em clubes nacionais que podem e poderão representar o Benfica. Que arrogância de "novo riquismo" é esta que esquece a história do nosso clube maioritariamente feita por jogadores nacionais? Mas que "novo riquismo" é este que aceitam gastar milhões e milhões de euros em jogadores que na prática não valem nada, como aconteceu com Éder Luis (só para falar naquele que era óbvio que iria ser recambiado para o Brasil ao fim de seis meses) e muitos, muitos outros?

Eu entendo todas as noções do mercado, os lobbies dos agentes, a perspectiva de vender mais facilmente argentinos que desconhecidos portugueses,  o dinheiro de agentes como Kia que investe em Ramires e obriga o Benfica a vendê-lo no ano seguinte com claras mais valias para ambas as partes, mas eu não acredito que o Benfica não consiga ter no mínimo mais cinco grandes jogadores portugueses no plantel se colocar esse objectivo como prioritário nos próximos dois anos. A sério que não acredito...

O que se passou no Benfica nestes ultimos meses desde a conquista do campeonato é digno dum case study internacional. Com a venda de três jogadores - Quim, Ramires, Di Maria - e a compra de mais quatro - Gaitan, Jara, Roberto, Salvio - mudamos tudo, tornando-nos numa equipa completamente diferente e os resultados estão á vista. A continuar assim, a acreditar em mais duas ou três vendas fundamentais para equilibrio de finanças e criação de mais valias, a acreditar que os grandes investimentos feitos pelo Benfica terminaram - não se pode continar a gastar 30 milhões por época - e a julgar que mais tarde ou mais cedo mudaremos de treinador, o grupo tem de ser renovado e nessa renovação, a opcão por portugueses de qualidade ou com potencial para terem qualidade de selecção,  será determinante.

O Manchester United é conhecido por ser uma segunda escola para muitos jovens jogadores -  Nani, Ronaldo e Rooney são hoje estrelas que tiveram treinadores pacientes a esperar o seu pleno desenvolvimento, Bébe segue as pisadas destas estrelas e o Benfica deveria seguir este exemplo e contratar alguém, ou potenciar quem tem na estrutura, para o desafio da "segunda escola" depois da formação até aos juniores. É nesta fase que se ganham ou perdem jogadores.

Força Benfica

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