quarta-feira, 20 de julho de 2011

Hoje falo eu...

Estive muito tempo calado e a ver, ler e ouvir as mais variadas alarvidades em tanto sitio que achei que o melhor era mesmo estar calado.

Mais importante que Jesus, Rui Costa, LFV ou cada um dos novos reforços, somos nós adeptos apaixonados que fazemos do Benfica o que ele é e somos nós que apoiamos e defendemos o Benfica em cada momento da nossa existência, independentemente da crítica que pode ser feita aqui ou ali a quem decide uma ou outra contratação.

 O Benfica de 2011/2012 vai hoje ser apresentado no Estádio da Luz a uma semana da primeira eliminatória da champions league e se tudo correr bem podemos fechar hoje o plantel, o que se saúda. 

Na minha opinião, temos um plantel forte com várias opções no ataque mas com muitas dúvidas na defesa. Se Maxi Pereira e Luisão ficarem no Benfica, então temos praticamente o plantel fechado ficando apenas definir se Roderick Miranda e Miguel Vitor serão os dois centrais que acompanham Luisão e Garay ou se um qualquer "Mangala, Déde, Coates ou Anderson Martins" aparece a complementar a defesa e a baralhar a conta dos estrangeiros.

Eu sou dos que acho que ter portugueses apaixonados pelo Benfica no plantel é ter sempre um pouco mais do terceiro anel e de paixão pura por tudo o que é crescer em Portugal com o Benfica.

Ontem na RTP deu um pequeno documentário televisivo sobre o nosso antigo jogador Nelinho - jogador do Benfica na década de 70 - e ele dizia numa certa altura que "hoje, jogaria no Benfica de borla" e vê-se o "homem por trás do atleta" e do apaixonado pelo Benfica, entre outras coisas da sua vida privada.

Eu quando falo repetídissimas vezes neste assunto, não tenho a veleidade ou a arrogância de ser populista e dizer esta frase bonita "de que o Benfica precisa de mais portugueses no plantel" sem dar soluções, mas na verdade não sei quem iria contratar e para que posição, mas sei que só com mais portugueses na equipa o Benfica pode aspirar a ser o Benfica de outros tempos. Tenho esta opinião e sei que os nossos dirigentes também a partilham apesar da dificuldade em colocá-la em prática.

Posto isto, vamos aplaudir os oito portugueses que ficarão no plantel - Mika, Eduardo, Miguel Vitor, Ruben Amorim, Nuno Coelho, Carlos Martins, David Simão, Nelson Oliveira - aguardar a hipótese de poder contar com um nono português de nome Roderick Miranda e aplaudir os 18 estrangeiros que têm lugar garantido neste Benfica - Artur, Maxi Pereira, Luisão, Garay, Emerson, Capdevilla, Matic, Javi Garcia, Witsel, Enzo Perez, Aimar, Gaitan, Bruno César, Nolito, Saviola, Franco Jara, Cardozo, Rodrigo -  com a hipótese de ter mais um ou outro -  a eterna dúvida de Urreta e um novo central - mesmo sabendo que a Liga "apenas" autoriza 19 estrangeiros e a UEFA "apenas" autoriza 17...

Senti neste defeso, que agora começa a ver luz ao fundo do túnel, o mesmo que senti noutros anos - o Benfica deveria ter tratado e fechado o plantel há pelo menos duas semanas. Mais uma vez sei que isto pode soar a populista e a alguem desligado da realidade do mercado, mas penso que isso terá que ser revisto e corrigido nos próximos anos. 

É sempre a mesma incerteza, as mesmas novelas nos jornais, os mesmos negócios falados e expostos antes de se assinar qualquer coisa e sempre as mesmas expectativas criadas nos adeptos com a possível contratação deste ou daquele.

Deveremos contratar menos e com mais critério - temos emprestados ou à beira de emprestar Wass, Carole, Jardel, Shaffer, Fernandez, Kardec, Filipe Meneses, Airton, Fábio Faria, Ruben Pinto, André Almeida, César Peixoto, Roberto, Julio César, Rodrigo Mora, Miguel Rosa - e devemos de futuro analisar quem queremos, ver o preço possível e atacar o alvo cirurgicamente e de forma rápida...

Dizem que as novelas podem ajudar a baixar os preços - os jogadores pressionam, os clubes acabam por ceder - mas o desgaste mediático tem por vezes um preço demasiado alto.

E depois temos aqui um novo elemento que é o ataque cerrado do FCPorto a todos os nossos alvos.

Eu não quero analisar quem ganha ou quem perde nestas guerras do Benfica e do FCPorto, quem passa informação a quem, mas quero entender este ataque cerrado do Porto como algo que "já faz parte do processo" de todas as possíveis contratações do Benfica. O FCPorto vai continuar a "picar" todos os nossos alvos com dois objectivos. Por um lado aumentar o preço que Benfica paga por esse jogador e por outro lado comprar algum dos nossos alvos e criar aqui uma arma psicológica muito forte nesta silly season do defeso.

Hoje temos a massa adepta encarnada depressiva, triste e cabisbaixa apenas porque um tal jovem brasileiro de nome Danilo assinou pelo FCPorto em vez de estarmos a subir as escadas do nosso estádio alegres, confiantes e a apoiar este excelente plantel. 

Mas quem é Danilo? Que efeito tem este nome na depressão encarnada no dia em que apresentamos a nossa equipa aos nossos adeptos?

Tem o efeito que Pinto da Costa quer criar em todos nós. O sentimento de tristeza, de impotência, de critica à nossa direcção, à nossa estrutura, etc...

O que eu sei é que se o Benfica desse 22,5 milhões de euros por dois jogadores sub 20 brasileiros - e um deles suplente do nosso Leo à beira dos 36 anos - haveria metade dos benfiquistas a criticar o despesismo. 

Sinceramente, acho que o Benfica não precisava de Danilo, pelo menos por 13 milhões de euros mais um ordenado seguramente alto e ainda por cima segundo se diz apenas vem em Janeiro. Se a viagem de LFV ao Brasil serviu apenas para aumentar o preço do jogador para o FCPorto eu já considero isso como algo de positivo, porque estamos finalmente a jogar com as mesmas armas com que eles jogam.

Vendemos Coentrão por 30 milhões de euros e comprámos Emerson por 2,5m, Garay por 5,5m, Witsel por 6,5m, Bruno César por 5,3m e Enzo Perez por 5,5m. 

Arur, Nolito, Nuno Coelho, Matic e aparentemente Capdevilla vieram a custo zero, Eduardo veio por empréstimo e com isso fechámos o plantel até ver nos 25,3 milhões. Se contarmos com Leo Kanu que veio por  0,5m, André Almeida por 0,2m e Melgarejo por 0,7m temos um total de 26,7m investidos em 10 contratações para o plantel e em mais 3 jogadores para engrossar a lista dos emprestados.

O FCPorto comprou Kelvin, Kleber e Iturbe por 2,3m cada (com percentagens diferentes dos passes) e estes dois brasileiros Alex Sandro por 9,5m e Danilo por 13m. No total compra quatro brasileiros e um argentino de grande potencial, mas grandes incógnitas de perfomance na Europa por 29,4m. Sinceramente continuo a preferir as opções feitas pela nossa estrutura de futebol apesar das muitas criticas que posso fazer aos timings, a alguns processos muito longos e a algum aparente descontrolo num determinado momento desta pré-época tendo em conta que temos a nossa primeira grande competição dentro de uma semana. 

Temos um plantel realmente equilibrado e muito forte e isso é o mais importante no dia de hoje.

Mais uma vez e quando tudo aparentava estar calmo e sereno eis que aparecem mais alguns problemas de ultima hora. Luisão não se sabe se fica, Maxi Pereira ainda não renovou e apurou-se para a final da Copa America, chegando em cima do jogo da pré-eliminatória da champions.

Hoje apresentamos o plantel e até ao primeiro dia do campeonato recebemos o Trabzonspor no dia 27 de Julho, depois vamos à Turquia jogar a segunda mão no dia 3 de Agosto e recebemos o Arsenal para a Eusébio Cup no dia 6 de Agosto.

No dia 14 de Agosto (ou antes se jogamos o playoff de apuramento para a champions) abrimos o campeonato em Barcelos contra Gil Vicente, a 16/17 de Agosto jogamos desejavelmente a primeira mão desse playoff de acesso à fase de grupos da champions, depois a 20 de Agosto recebemos o Feirense para a segunda jornada da Liga, jogamos a segunda mão do playoff a 23/24 de Agosto e vamos à Madeira na sempre dificil deslocação ao Nacional a 28 de Agosto fechando assim um pequeno ciclo complicado, com muitos jogos em pouco espaço de tempo. De 27 de Julho a 28 de Agosto teremos um mês cheio de jogos - desejavelmente 7 - e onde se joga muito do resto da temporada.

O não apuramento para a champions, sendo eliminados agora ou no playoff, seria um duríssimo golpe nas aspirações da nossa época e um tónico negativo decisivo para Jorge Jesus, que é para mim o elo mais fraco deste arranque de nova época. 

Eu tenho a ideia que os jogadores antigos revelam algum cansaço perante os seus métodos, acho que ele não vai ter mãos nem inteligência para gerir tanta gente do meio campo para a frente a jogar e a estar no banco, acho que ele só conhece um esquema e dá-se mal com outros esquemas tácticos fruto da sua teimosia já conhecida e acho que o famoso terceiro anel não lhe dá nenhum crédito para este íncio de época. Aliás acho que Jorge Jesus vai ter que voltar a conquistar os adeptos do Benfica que vêm nele o principal responsável pelos fracassos da época passada o que quer dizer que ou ele se apura para a champions no final de Agosto ou podemos começar a ter problemas logo de ínicio. 

Atenção que isto é uma opinião pessoal e só espero poder enganar-me mas resulta da observação e de conversas que mantenho com vários benfiquistas de vários quadrantes e de várias regiões. Penso também que Pinto da Costa está à espera da escorregadela do Benfica na champions e alguns jogos iniciais de maus resultados para poder tentar dar ao Danilo e ao Alex Sandro o treinador que os descobriu para o futebol europeu. Pode ser que me engane, mas sei que vai tentar fazer a cabeça do nosso treinador nalgum momento da época...

Não estaremos perante um possível novo caso Fernando Santos que foi despedido depois dum empate no primeiro jogo, até porque o nosso presidente acredita cegamente em Jorge Jesus e já disse várias vezes que esse foi um erro óbvio, mas como disse antes, o crédito de Jorge Jesus nos adeptos é muito mais reduzido do que ele apregoa aos sete cantos do mundo. 

Só uma mudança muito radical na sua atitude, na sua humildade, no seu conhecimento e na maneira como ele está acompanhado na equipa, na estrutura do futebol e pela administração pode salvar Jorge Jesus da ira dos adeptos se algo correr mal na champions. Se tudo correr bem na Champions é óbvio que teremos tudo para iniciar uma boa época e é apenas nisso que a equipa tem de focar nestes jogos iniciais.

Espero do fundo do coração que Jorge Jesus tenha sorte e que nos consiga levar aos objectivos que mais desejamos - ser campeões, voltar a ganhar a Taça de Portugal e fazer uma champions de grande nível.

Para o fim deixo uma nota para o árduo trabalho que Rui Costa terá pela frente ao colocar todos estes jogadores dispensados no mercado, com o desejo que quanto mais próximo eles andarem, mais os podemos controlar, mais os podemos monitorizar nas suas performances e mais controlamos os balneários de outras equipas do nosso campeonato. Como alguém disse, "não são só os árbitros que ganham campeonatos para o FCPorto". Uma boa gestão de emprestados nas várias equipas da Primeira Liga não dá titulos, mas ajuda seguramente...

Espero que Rui Costa entenda isso quando estiver a resolver os casos da quase dezena de jogadores que precisam de ser colocados em equipas ou vendidos em definitivo e que a estrutura de Rui Costa, António Carraça, Manuel Sérgio e equipa técnica de Jorge Jesus sejam realmente uma familia blindada e unida para os desafios que estão pela frente. 

Estamos muito mais fortes hoje que há um ano, sem euforias desmedidas, com trabalho de casa mais bem feito e sem grandes loucuras no mercado. Gastámos mais ou menos o que ganhámos com a transferência de Coentrão e no final só temos que ter paciência para esperar pelo entrosamento desejado com tanta cara nova no plantel.

Finalmente hoje temos bola a rolar novamente no relvado do Estádio da Luz.

Força Benfica

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O senhor Águas

Não quero falar do Benfica de 2011/2012, desta silly season que tem muito mais de silly que qualquer outra - quanto mais não seja pelas expectativas que eu criei a pensar que finalmente o Benfica iria ter um plantel fechado ou quase fechado no arranque dos trabalhos - e vou centrar este texto no que realmente importa num clube como o Benfica.

Eu não vou escrever muito porque vou colocar aqui um texto sublime do mais sublime esritor que Portugal viu nascer. Já uma vez aqui escrevi sobre António Lobo Antunes e coloquei uma entrevista feita por Vitor Serpa para o jornal A Bola onde ele fala sobre a sua paixão (agora adormecida) pelo nosso Glorioso. 

Um dia tive oportunidade de conhecer e falar com António Lobo Antunes. Foi no inverno de 2008 na New York Public Library que assisti a uma magnífica conferência deste maior vulto da nossa literatura e foi aí que este grande autor, grande escritor e grande benfiquista me assinou um exemplar traduzido para inglês do livro que acabava de lançar. 

Não sei porquê - ou se calhar até sei - não tive coragem de pedir ao senhor António Lobo Antunes que me fizesse uma dedicatória de benfiquista para benfiquista. Era o que eu mais queria naquele livro. Queria que o senhor António Lobo Antunes perdesse um pouco mais de tempo comigo do que todos aqueles americanos que estavam na fila para o autógrafo e me escrevesse qualquer coisa sobre o nosso amor comum.  Não foi em New York, mas poderá ser em qualquer aldeia recôndita do nosso Portugal e sei que da próxima vez que tiver oportunidade de estar com este senhor escritor, não terei vergonha e pedir-lhe-ei o tal autógrafo de benfiquista para benfiquista.

No passado dia 22 de Junho, a Visão publicou um texto de Lobo Antunes sobre o Senhor Águas...

Eu tenho pelo José Águas uma enorme estima e lembro-me de desde muito pequeno do meu pai falar que jogava à bola no verão com este nosso capitão numa praia deste nosso Oeste. Inclusivamente lembro-me do meu pai me mostrar as fotos do José Águas com ele e me contar que andou com o pequeno Rui ao colo. 

Admito que quando era pequeno as minhas grandes estrelas dos idos anos 60 eram Eusebio - pelo nome e pelo que representava - o Coluna - porque tudo o que eu vi e ouvi dele faziam deste senhor Coluna o grande maestro e a inteligência do Benfica - e o Cavem - por razoes de proximidade.

Nunca entendi até alguns anos depois, a importância do Senhor Águas no Benfica apesar de saber que a foto que aqui tenho em cima ser a única foto que eu gostava de comprar em versão original, porque é a foto que representa o melhor do nosso Benfica.

A propósito desta foto o meu amigo e absolutamente talentoso Ricardo Araujo Pereira foi convidado para falar sobre o livro que a tambem minha amiga Lena d´Água editou sobre "O que é ser José Aguas e o que é ser Benfica".  Diz ele a certa altura que não tendo sobrinhos ou sobrinhas quando a enfermeira lhe deu a filha para as mãos ele a levantou como José Águas levantou a nossa primeira "Taça dos Campeões Europeus". Eu que ao contrário do Ricardo, tive sobrinha primeiro que filhos ou filhas senti e sinto exactamente o mesmo que ele sente ao levantar a sua menina... Levanto a minha sobrinha dou lhe um beijo e vejo-a com aqueles olhos e aquele sorriso bem lá no alto, como o José Águas levantou e sentiu a nossa primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus.  

Um excerto do que ele diz pode ser visto no link que coloco em baixo e é com um enorme orgulho que coloco no mesmo texto, Jose Águas, António Lobo Antunes e Ricardo Araújo Pereira. São três gerações que representam o melhor que o Benfica tem e terá, porque nem só de futebol vive o nosso Benfica e ainda bem. 

O texto do António Lobo Antunes foi retirado daqui e podem-no ler na íntegra de seguida. 

O vídeo do Ricardo Araujo Pereira roubei-o ao meu querido vizinho Coluna d´Aguias Gloriosas que ontem resolveu publicar um post com este link do vídeo que retirou do YouTube.


O senhor Águas


Nunca admirei tanto um atleta como admirei José Águas. Para quê, portanto, ir ao futebol se ele já não se encontra no estádio?


António Lobo Antunes
6:07 Quarta feira, 22 de Jun de 2011 


Há mais de trinta anos que não assisto a um jogo de futebol. Não conheço os estádios novos, vejo, às vezes, um bocadinho na televisão. Mas entre os dez e os vinte anos não falhava um jogo do Benfica. E não falhei enquanto Águas jogou. Claro que não era apenas Águas: era Costa Pereira, Germano, Ângelo, Simões, Eusébio, Cavém, o grande Mário Esteves Coluna que Otto Glória considerava o melhor jogador português, outros mais artistas que jogadores, como José Augusto, por exemplo, a todos estou grato pela beleza e a alegria que me deram, porém nunca admirei tanto um atleta como admirei José Águas. Para quê, portanto, ir ao futebol se ele já não se encontra no estádio? Era a elegância, a inteligência, a integridade, o talento, e ao pensar em escrever o meu desejo era ser o Águas da literatura. Vi Pelé, Didi, Nilton Santos, Puskas, Di Stefano, Santamaria, tantos outros génios, no tempo em que o futebol não era ainda uma indústria nem os jogadores funcionários competentes, comandados por esse horror a que chamam técnicos: era pura criação, uma actividade eufórica, uma magia cinzelada, uma nascente de prazer, uma inspiração, um entusiasmo. Águas foi tudo isso e, muito novo, ganhou o respeito dos colegas, dos adversários, dos jornalistas da época, que os havia de grande qualidade, Carlos Pinhão, Carlos Miranda, Aurélio Márcio, Homero Serpa, tantos outros. Não jogava futebol: criava futebol, respirava futebol, inventava futebol, e teria sido um privilégio para mim conhecê-lo. Não para falar com ele, para o ouvir. A sua beleza física invulgar distinguia-o de todos os outros, a forma de se mover em campo era única, a autoridade sobre os companheiros natural e humilde. Os miúdos que iam comigo à bola chamavam-lhe senhor Águas, sem sonharem que era desse modo que Simões e Eusébio o tratavam, como tratavam Coluna. Senhor Águas, senhor Coluna. Reconhecíamo-lo, do alto do terceiro anel, no estádio de então, onde, de tão longe, os jogadores minúsculos, pelo modo de correr, se deslocar no campo, passar, rematar, reconhecíamo-lo pelos seus golpes de cabeça, inimitáveis, pelo sentido da ocupação do espaço, pela simplificada geometria do seu futebol. Não tinha a garra de Ângelo ou Cavém, a força de Coluna, o gigantesco talento de Eusébio, o poder do drible de Simões, a velocidade de José Augusto: era uma espécie de rei sereno e eficaz, um aristocrata perfeito. Até a andar os olhos ficavam presos nele, na harmonia dos gestos, no modo de ajeitar bola, e eu, criança de dez anos ou adolescente de quinze, pensava tenho de trabalhar mais esta página, ainda não chego aos calcanhares de José Águas. Escrever como ele jogava, com a mesma subtileza e a mesma eficácia. Escrever como a equipa do Benfica, umas vezes à Ângelo, outras à Germano, outras à Coluna, e finalizar à Águas. Nunca deve ter ouvido falar em mim nem podia adivinhar que um garoto qualquer o tomava não apenas como mestre de futebol mas como mestre de escrita. Só, mais tarde, certos saxofonistas de jazz, Bird, Coltrane, Webster, Coleman, Hodges, alguns mais, tiveram, sobre o meu trabalho, influência semelhante. Mas Águas foi o meu primeiro e indisputado professor: escreve como ele joga, meu estúpido, aprende a escrever como ele jogava. Como morava em Benfica via-o, às vezes, no autocarro do clube e ficava, pasmado de admiração, a fitá-lo. Isto lembra-me o meu irmão Nuno chegando a casa de dedo no ar 

- Toquei no Eusébio, toquei no Eusébio

como provavelmente, eu o faria, porque na infância e na adolescência o futebol era, para além de uma aprendizagem do mundo, um prazer infinito. A cor dos equipamentos

(o meu amigo Artur Semedo:

- Não sou um homem às riscas, sou homem de uma cor só)

a entrada em campo, o hino, tudo isto me exaltava e fazia feliz. E as vitórias, comemoradas em Benfica com bebedeiras eufóricas. Uma das minhas glórias secretas, confesso-o agora, consiste em ter visto a fotografia do meu pai no balneário do hóquei em patins do Benfica, de ele ter estado no Campeonato da Europa de 1936, em Estugarda, com vinte ou vinte e um anos, e de brincarmos com uma caixa de lata cheia de medalhas, a que o meu pai não dava importância alguma e eu considerava inestimáveis. Há pouco, a minha mãe

- O que faço eu a isto?

exibindo-me uma espécie de troféu ou de placas num estojo, que alguns anos antes de morrer a Federação de Patinagem lhe entregou, juntamente com outras antigas glórias, e que me recordo de o meu pai, que não saía, ir receber com satisfação secreta. Mas, claro, eu era só filho do Lobo Antunes, não era filho do Águas, e ainda sei medir as distâncias. Portanto, o que vou eu fazer a um campo de futebol se ele já não joga? Seguir os funcionários competentes de um negócio? Assistir ao bailado dos técnicos? Ver a fantasia substituída pela sofreguidão, a ambição pela avidez, o amor ao clube pela violência idiota? Claro que continuo a querer que o Benfica ganhe. Claro que sou, como em tudo o resto, parcial, sectário, por vezes sem bom senso algum. Mas há séculos que não sofro com as derrotas e, sobretudo, não choro lágrimas sinceras com elas: estou-me nas tintas. Contudo voltaria a trotar, radiante, para assistir à entrada em campo de Costa Pereira, Mário João, Germano, Ângelo, Cavém, Cruz, José Augusto, Eusébio, Águas, Coluna e Simões, a agradecer-lhes o facto de me terem, durante anos e anos, colorido a existência. E talvez no fim do jogo, postado junto ao autocarro, quando os jogadores saíssem do balneário, o senhor Águas me apertasse a mão.

 Video do Ricardo Araujo Pereira a falar de Jose Águas



Força Benfica


quinta-feira, 23 de junho de 2011

A primeira boa notícia da época



Finalmente, e depois de ter escrito sobre este assunto aqui, aqui e aqui eis que ontem foi apresentado o equipamento principal do Benfica para 2011/2012 e desapareceu a marca TMN em azul na frente da camisola.

Sem vontade nenhuma de escrever sobre o que tenho visto nos ultimos meses no Sport Lisboa e Benfica, tenho que dizer a todos os que escreveram, que assinaram petições online e que tiveram o bom gosto de ser visionários, a frase:

"Estamos todos de Parabéns"

Sim, estamos todos de Parabéns porque quando nem os senhores da TMN nem os dirigentes do Benfica foram capazes de entender o extremo mau gosto de ter o azul na frente da nossa camisola, nós fomos todos capazes de meter o dedo na ferida e chamar a atenção para a completa aberração desse azul feio e inestético, que não servia nem a marca, nem o clube.

No entanto a guerra não termina e quem gosta do Benfica sabe que a única opção de equipamento alternativo é ser branco com letras encarnadas. Nem mais nem menos. Por isso num dia importante e onde se celebra algo que a todos nos satisfaz - nao conheço uma única pessoa que gostase do azul TMN na nossa camisola -  não vamos esquecer que a batalha só termina quando provarmos que neste caso a melhor modernidade é ser vintage e clássico como se escreve no blog vizinho "Ontem vi-te no Estádio da Luz". O autor deste texto e deste blog - assina apenas Ricardo - é a revelação do ano na blogosfera e na minha modesta opinião é o melhor de todos nós (neste momento) pela inteligência, pelo humor e pela escrita apaixonada e despreocupada que coloca na defesa do Benfica há vários meses a esta parte.
Até ver, a apresentação do novo equipamento é a única boa notícia deste defeso...

Força Benfica

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Parabéns Presidente!

O nosso presidente acaba de dar uma entrevista serena, séria e defendendo com factos o que tem de ser defendido neste momento.

Nem mais nem menos. Defendeu-se, atacando e explicou que quem não deve não teme!

Explicou que afinal Julio Cesar foi comprado por menos de um mihão de euros - houve um desconto de 125 000€ por liquidação de 12 letras com troca de cheque - e sobre a transferencia de Roberto, mostrou o comprovativo dessa operação de 8,5 milhões de euros transferidos directamente para o Atlético de Madrid.

 Disse ainda :

"Investiguem os dois primeiros classificados do campeonato"

Só isso.

Parabéns Presidente!

Força Benfica

O exemplo das amadoras

Há dois dias vi no canal ESPN Classic o jogo que opôs Benfica e Inter de Milão na final da Taça de Campeões disputada no Estádio de San Siro a 27 de Maio de 1965. 

Vi um campo encharcado, vi o nosso Costa Pereira a sair lesionado indo o Germano para a baliza e vi a magnifica segunda parte que fizemos com 10 homens, contra o colosso Inter e no seu estádio. Vi uma entrega e uma força que realmente não são normais em qualquer equipa mundial e vi jogadores a lutarem por cada bola como se fosse o jogo mais importante da sua vida. E era... Perdemos 1-0 com honra e saímos de cabeça erguida em mais uma final europeia - era a quarta em 5 anos.

Ao acabar o jogo e ver a injustiça do resultado pensei porque razão os nossos burgueses jogadores não são obrigados a ver todos estes jogos em sessões semanais, porque no meio de tantas horas sem fazer nada, sempre aprendiam um pouco do que é o verdadeiro espírito benfiquista que anda ultimamente a ser muito mais encarnado pelas nossas equipas amadoras, que pela equipa profissional de futebol.

Eu acho que todos os verdadeiros sócios do Benfica deveriam pagar a quota modalidades. Eu sei que vou pagar essa quota sempre, porque posso, porque nunca deixarei de ter o Benfica como prioridade, mas entendo que alguns sócios com o país a entrar em banca rota possam ter outras prioridades. E a única razão que os verdadeiros sócios podem utilizar para desculpar-se de não pagar a quota modalidades será financeira e essa entendo-a.

Se alguém neste momento merece cada euro das nossas quotas, são os profissionais que representam as nossas amadoras. Sem excepção, acho que os directores, seccionistas, técnicos e  jogadores do volei, do futsal, do andebol, do hóquei, do basket (entre outras modalidades) estão a representar esse espírito combativo que os nossos jogadores de futebol representavam nos idos anos 60.

Tento ver in loco todos os jogos das modalidades - na medida que a agenda permita - apesar de gostar mais de seguir o hóquei e o basket. O nosso hóquei conseguiu uma Taça europeia e o feito de chegar à ultima jornada com os mesmos pontos do FCPorto.

Infelizmente, o FCPorto já é campeão porque vai receber a Oliveirense - actual terceiro classificado e a única equipa que poderia dar alguma luta ao líder a julgar pela vitória da primeira volta contra dragões - mas antes de receber a equipa de Oliveira de Azemeis já contratou para o próximo ano o seu melhor jogador Tiago Santos e o seu treinador Tó Neves.

Os mesmos senhores que acham um escandalo o Benfica comprar o Jardel na semana que joga contra o Olhanense para a Taça da Liga, não acham escandaloso comprar o treinador e melhor jogador da equipa com quem vão jogar o ultimo jogo decisivo na atribuição do título de campeão nacional.

Na verdade, parece-me já uma evolução em relação ao modus operandi no futebol onde as prostitutas e  as viagens pagas aos árbitros são feitas às escondidas. 

Neste caso do hóquei é mais claro e legal... Éticamente pode ser reprovável mas não há nada de ilegal e de obscuro quando uma equipa quer contratar o melhor jogador ou treinador duma equipa adversária.

No Basket, eu admito que o Porto tem melhor equipa que o Benfica. Vi-os ao vivo este ano em todos os jogos que jogaram em Lisboa contra o Benfica  - até no Campo Pequeno para a Taça Compal os vi - e admito que me parece uma equipa mais equilibrada que a nossa.

Os nosso jogadores parecem mais em esforço, mais atabalhoados nas decisões ofensivas e até mais individualistas nas estratégias. Isso não impede que nos momentos decisivos desta série e especialmente em casa os nossos heróis tenham aparecido como os tais heróis de San Siro que mesmo perdendo mostraram de que raça eram feitos.

E no Benfica, ninguem exige a vitória, mas que se lute por cada jogo até ao fim e é isso que todas as modalidades sem excepção têm feito nesta recta final de época.

O andebol do Benfica perdeu o campeonato mas ganhou a Taça de Portugal e esteve na final da Taça Challenge. O Futsal foi uma vez mais à final four europeia, perdendo com o actual campeão europeu e está ainda a lutar por um lugar na final do playoff  enquanto o basket e o hóquei vai ser decidido na última hipótese.

Ontem vi o jogo de andebol na TV e o jogo de basket no nosso pavilhão. O que Ben Reed fez nos últimos segundos é de alguem que não se esconde nas responsabilidades e mesmo podendo falhar, não vira a cara à luta e é isso que eu quero ver no Benfica em toda a linha.

Eu vi Carlos Lisboa no cantinho do pavilhão a sofrer em pé e ontem naqueles momentos finais tambem me lembro dos cestos que ele, Mike Plowden, José Carlos Guimarães, Steven Rocha ou Henrique Vieira nos deram tantas alegrias nos idos anos 90. 

Muito triste foram as declarações do espanhol Poncho Lopez - treinador do FCPorto - sobre a arbitragem.

Meu caro Poncho, eu entendo a frustação de não celebrar o título no nosso pavilhão e entendo que o jogo de basket tem faltas e especificidades que ás vezes podem não ser as mais acertadas, mas por favor, se alguém foi muito prejudicado e em decisões importantes foi o Benfica. Acho que revela uma coragem inacreditável ao trazer o tópico da arbitragem depois de não ter conseguido ganhar um jogo que estava no papo na entrada do ultimo minuto.

Na quinta feira quero que os nossos jogadores desfrutem do jogo, que acreditem que ainda é possivel e gostava de ver toda uma direcção, toda uma esrutura á volta destes homens. Este ano noutra modalidade, vieram cá ganhar nos o título no nosso relvado. Agora nós temos uma hipótese (remota é certo, mas temos...) de ir lá festejar o título na sua Caixa... Apoiem quem tem de apoiar e criem as condições necessárias para que os nossos heróis não tenham medo de jogar naquele pavilhão. Acompanhem nos nas mais altas esferas e mesmo que percamos o jogo, temos que o fazer de cabeça bem levantada.

Tudo o que digo é imposivel de colocar em prática porque é muito triste que o nosso presidente não tenha estado no pavilhão em nenhum dos três jogos em casa, mesmo entendendo que as suas prioridades agora serão outras. Muito, muito triste senhor presidente.

O escandalo das luvas que vem nos jornais é algo grave e que exige a maior calma na análise. A linha ténue entre o que é legal e ilegal pode ser aqui uma interpretação de direito e não tanto uma interpretação ética.

Vamos esperar para ver o que o nosso presidente vai dizer hoje outra vez na TVI, mas para esta guerra não se entra com fisgas... Tem que se estar muito bem preparado para contra atacar, porque se isto é tudo mentira, então há uma clara estratégia em fragilizar o presidente a mando de outros poderes que não estarão obviamente a pensar no melhor para o glorioso. 

Uma coisa é criticar o presidenente com o respeito e a elevação que ele nos merece e outra coisa é estar a contribuir para uma chacina pública a mando duma pseudo oposição interna ou duma oposição externa vinda dos senhores do norte e para isso eu não vou contribuir nem hoje, nem nunca. 

Força Benfica 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Meu caro Presidente

Meu caro Presidente, 

Estivemos juntos várias vezes e numa das saídas do Benfica para a Liga Europa tivemos oportunidade de nos cumprimentar e trocar algumas palavras. Tenho por si e por qualquer pessoa que represente a nossa grande Instituição o maior apreço e não me ouvirá nunca tecer críticas pessoais fáceis e oportunistas contra a sua pessoa, porque não é o meu estilo. 

Começo exactamente por aí. O seu estilo de Presidente é hoje fácil de analisar. 

Está no Benfica há 10 anos e foi uma pessoa fundamental no mandato de Vilarinho e depois nos seus mandatos como Presidente, porque contribuiu decisivamente para a credibilização do Benfica junto de fornecedores, da banca e foi uma das pessoas responsáveis pelas construções do Estádio e o consequente parque desportivo criado nesse perímetro, do centro de estágio do Seixal e de algum saneamento financeiro que o Benfica tanto ambicionava. 

Além disso, recordo que foi no seu mandato que "alguém" se lembrou de dar nomes às bancadas e com isso trazer receitas extraordinárias importantes, antes do Benfica poder finalmente vender o naming da nossa catedral e foi também no seu consulado de presidente que demos nova vida às publicações do clube - jornal, revista Mística e o novo canal Benfica TV. 

Também não esqueço que foi no seu mandato que dinamizámos a campanha de "maior clube do mundo em associados" fruto de aguerridas e agressivas campanhas de marketing fazendo do cartão de sócio do Benfica um verdadeiro cartão de descontos, facilitando com isso a angariação de indecisos que sendo apaixonados pelo Benfica não tinham ainda a motivação necessária para se fazerem sócios e conseguiu criar uma marca nova para os famosos cativos - Red Pass - com especial sucesso numa altura sempre importante de contratações e de definição de orçamentos como é o início de época. 

Por tudo isto e por vir com Vilarinho depois de Vale e Azevedo, tem o seu nome associado à história de grandes pessoas que serviram o Benfica e vai ser o nosso Presidente com mais anos de mandatos o que só por si será Histórico. 

Também tenho que lhe dar os Parabéns pela dinamização de todas as modalidades e em vários escalões, mantendo e cumprindo a sua promessa de fazer do eclectismo do Benfica, uma imagem de marca das direcções por si presididas e pela maneira como "armou" o Benfica com as casas do Benfica espalhdas pelo mundo. 

Por tudo isto, os meus sinceros Parabéns e o agradecimento pelo bem que tem feito ao serviço do grande Sport Lisboa e Benfica.

Depois de assistir à sua entrevista na Benfica TV a semana passada, eu fiquei com uma ideia clara de que pelo menos mais um objectivo você vai conseguir cumprir e que muito me satisfará. Disse que até ao final do seu mandato teremos o novo museu do Benfica inaugurado e  essa, é uma das obras mais importantes dos últimos 25 anos porque eu sou dos poucos que sei realmente como estava o espólio do Benfica, há mais ou menos 18 anos. 

Há muitos anos, ainda no tempo do senhor Manuel Damásio eu tive a oportunidade de ajudar a catalogar todo o espólio de taças que o Benfica tinha. Nesse tempo, todas esses troféus estavam colocados por baixo do terceiro anel e eu andei aí com outras pessoas a tentar apanhar uma ponta que se pudesse pegar na vergonha que ali estava diante dos nossos olhos. Aí andei algumas semanas a fazer um trabalho complicado e de grande paixão, mas a liderança do Presidente e das pessoas que estavam abaixo dele não mostraram grande interesse na continuação dessa empreitada e tudo ficou no mesmo local, dando por perdido todo o tempo ali despendido e deixando no mesmo local frio e húmido toda a história - ou grande parte da história - do nosso Sport Lisboa e Benfica. 

Nunca mais soube desse espólio mas sei que hoje, entre algumas coisas roubadas, entre algumas coisas perdidas e entre outras coisas desaparecidas, temos uma equipa profissional a trabalhar nessa área e a fazer o inventário de tudo, a restaurar o que deve ser restaurado e a tratar do que teve décadas a ser totalmente esquecido.

E sabe, senhor Presidente, porque no seu mandato este museu vai ser inaugurado? Porque o senhor sabe gerir estas equipas e sabe gerir estes timings. O senhor sempre mostrou que na sua vida sabe gerir empreitadas difíceis, trabalha bem com os senhores da construção civil, sabe dar um berro onde deve ser dado e fazer ouvir a sua voz com este tipo de interlocutores. Eu não tenho o mínimo talento para gerir obras, mas sei que o senhor Presidente tem esse talento e tem essa capacidade de saber gritar quando é necessário e motivar essas equipas para cumprirem com um timing acordado, ou para trabalharem mais e melhor. 

O problema destes 10 anos que já leva trabalhando e servindo o nosso clube, é que ninguém consegue fazer tudo bem e com esta conjuntura do desporto em Portugal neste momento - futebol e amadoras - penso que já deu muito ao Benfica, mas não pode dar muito mais na vertente desportiva porque a verdade é que o senhor Presidente tem um estilo, um discurso e uma maneira de ser, oposta ao que o Benfica precisa nos próximos anos para conquistar definitivamente a parte desportiva e afirmar-se novamente como um clube dominador nas várias modalidades. 

Sinto que o seu tempo no Benfica está a chegar ao fim e sei que antes de sair, deixará os acordos assinados para os direitos televisivos, sei que o museu será inaugurado, sei que deixará tudo organizado ao nível das amadoras, sei que deixará contratos de publicidade estáveis e longos com Sagres com Adidas - ou outra marca de roupa - com a PT e até pode ser que deixe o naming do Estádio definido... Se conseguir tudo isto, deixará uma marca no clube que jamais será esquecida. 

No entanto, falta-lhe a inteligência, savoir faire e sensibilidade para saber gerir futebol e saber gerir a parte desportiva no geral. Por mais que tente arranjar pessoas ao seu lado que saibam fazer as coisas, ou que o Presidente pense que sabem fazer as coisas bem feitas, também gosta de opinar e depois acaba por não deixar mais ninguém mandar. 

Sabe senhor Presidente, que quando fala das equipas maravilhosas que fazem parte da gestão do nosso clube - e eu acredito que existem alguns bons profissionais - isso não se repercute na gestão desportiva, não se repercute na atitude dos treinadores, dos jogadores e na comunicação (ou falta de comunicação) entre o Benfica e os media, entre o Benfica e os adversários ou entre o Benfica e os seus próprios sócios. 

Sabe senhor presidente, quando isto tudo é visível?

Quando a equipa de futebol profissional passa o ano a brincar e ninguém entende isso. Quando a equipa profissional foi humilhada a toda a linha na champions league, no campeonato - 21 pontos atrás do FCPorto será sempre humilhante - quando foi humilhada na Taça de Portugal em casa, quando é humilhada em Braga para a Liga Europa e quando todos assobiam para o lado sem que exista uma liderança forte que segure o barco.

Eu vi-o falar na Benfica TV e deu-me pena. Pena porque tenho simpatia por si, deu-me pena pela sua total incapacidade em entender que o seu tempo está a chegar ao fim e entender que os seus talentos como Presidente são outros que não a gestão desportiva. 

"Quem treina o Benfica arrisca-se a a ser campeão" dizia-se nos idos anos 60 ou 70. Hoje quem treina o FCPorto é seguramente campeão, mesmo que não ganhe nada em mais nenhum outro clube como tantos treinadores que por ali passaram. 

Quem é Presidente do Benfica durante três mandatos arrisca-se a ser campeão várias vezes e o senhor Presidente foi até agora, campeão duas vezes o que é manifestamente pouco. 

Ganhou poucas Taças de Portugal, fez pouca coisa na Europa e se não fossem as novas Taças da Liga que temos dominado, pouco se podia dizer do seu mandato desportivo. As razões para que isso aconteça, são várias e não quero falar disso agora, porque o senhor será o meu Presidente até ao ultimo dia, tratá-lo-ei por "senhor Presidente" até ao seu último dia de vida e terei por si o maior respeito e amizade, sempre. 

Mas acredite, que o seu tempo está a chegar ao fim e não queira prolongar o seu mandato ou não queira deixar "benjamins" da sua gestão no seu lugar de Presidente. 

O senhor Presidente não tem a força nem a juventude que o Benfica precisa neste momento, o senhor Presidente e a sua equipa não têm a inteligência e o saber estar/saber fazer necessários para poder encarar estas próximas épocas que se avizinham.

Eu passo muito tempo fora de Portugal e nem por um dia me esqueço do Benfica. Acompanho a equipa a todo o lado e venho ao Estádio da Luz acompanhar todos os desportos - no próximo domingo vou apanhar um avião de manhã em parte incerta da Europa para estar no terceiro jogo do playoff de Basquetebol e fazer o meu trabalho como grande benfiquista que é apoiar despreocupadamente - mas entendo tão bem o problema principal do nosso Benfica e sei que para resolver esse problema do Benfica a nível desportivo só existe uma solução. 

Começo por dizer lhe que o óbvio problema é a gritante falta de liderança e uma hierarquia pouco identificada com os verdadeiros valores do Benfica.

Eu disse várias vezes este ano que o Benfica andava à deriva e que Jorge Jesus não estava a conseguir ter mão na equipa, independentemente dos erros ou das virtudes tácticas do nosso treinador, que isso não devemos discutir. 

Era óbvio que as derrotas que íamos somando no campeonato e na champions league eram assimiladas pelos jogadores, como se nada fosse. Era óbvio que não havia liderança e eu quero dizer-lhe meu caro Presidente que estive em hotéis no estrangeiro onde a nossa equipa pernoitou e vi muita coisa que não  são normais de ver numa equipa de alta competição. 

Eu não culpo os meninos que têm 21 anos (ou outros com pouco mais de idade) que querem fugir dum hotel - sim vi com os meus olhos e ninguém me contou - mas o que me preocupa é que ninguém na nossa estrutura queira sequer saber ou estar de olhos atentos ao que se passa. O que me preocupa é que os jogadores não têm medo de nada porque não há disciplina que os castigue, porque não há solidariedade e porque não há nada naquela equipa e naquela estrutura  que soe a "ganhador".

Eu já disse e repito que o respeito muito e nutro por si um sentimento de agradecimento incondicional, mas não lhe revejo características inatas para gerir este barco, na vertente desportiva. Digo-o com pena e com uma imensa tristeza. 

A vertente desportiva do Benfica não é apenas vender, comprar, definir os nomes, fazer mais valias ou gerir com o fundo de investimento dos jogadores. É muito mais que isso... O dia a dia do futebol tem de ser vivido com alegria, com motivação, também com brincadeira e espirito de grupo aqui ou ali, mas com muita responsabilidade por todos. Muito respeito pelo clube que servem em cada treino, em cada jogo, ou em cada momento que estão com a águia ao peito (e isso inclui obviamente as concentrações nos estágios da equipa). 

Acho que neste momento a equipa precisa duma revolução e a nossa direcção é demasiado burguesa para poder dar esses passos. 

Não leve as minhas palavras a mal quando falo em burguesia, porque sei donde veio e os valores que defende, mas não se engane mais e tente ver o que se passa no nosso Benfica. Não é por Jorge Jesus ter um discurso do futebol que vai saber liderar pessoas que lhe perderam o respeito há muito tempo. 

Não podemos ter um director desportivo que não tem voz activa, nem respeito dos jogadores numa estrutura que você mesmo criou e que você mesmo desautorizou variadíssimas vezes. 

Não podemos ter uma equipa construída por brasileiros e argentinos, sem identidade portuguesa e sem os valores de "Ser Benfiquista" enraizados em toda a estrutura.

Não podemos ver uma equipa de férias desde há muito tempo sem que ninguém na estrutura, tenha reparado ou dado um murro na mesa.

Não podemos ter uma equipa que sente a derrota com total impunidade, como algo normal e sem sequer se preocuparem com essa mesma derrota. 

Não podemos ter uma estrutura de futebol que deixa os jogadores saírem do ultimo jogo no Estádio da Luz directos ao balneário, sem virem agradecer o apoio dos sócios. 

Sabe o que eu faria se estivesse no seu lugar neste passado sábado? Eu juro-lhe que vinha cá abaixo ao balneário e estando nus, em cuecas, vestidos ou semi vestidos, obrigava-os a voltarem ao relvado e irem agradecer como Fábio Coentrão o fez. E sabe porque Fábio Coentrão o fez ? Não é porque se vai embora para um outro clube - sim é verdade que o vai vender, mas não se foi despedir - mas sim porque ama o Benfica, sente o Benfica e sabe que ninguém se despede duma época diante de 30 000 sofredores que com tudo perdido ainda vão ao estádio, a correr para o balneário. 

Sabe quando se nota que tudo está perdido naquela estrutura? É quando no inicio do consulado de Jorge Jesus, o próprio treinador os obrigava a virem ao terceiro anel agradecer o apoio - em casa e fora - e agora ninguém tem respeito por ninguém.

Custa assim tanto, sentir um clube? Custa se me pedirem para sentir o Boca Juniors ou o São Paulo... Mas se me pedirem para sentir o Benfica eu tenho os valores, a história e o contexto porque sou português, mas mesmo que não seja português, eu tenho de sentir a disciplina e o respeito pelos valores do clube.

Meu caro Presidente, entendo que o seu silencio às constantes atordoadas de Pinto da Costa ao Benfica é o melhor que pode fazer, mas o Benfica não pode deixá-lo sem resposta. Não podemos estar um ano a ser bombardeados diariamente com frases surreais contra o Benfica sem que ninguém lhe chame nos olhos "corrupto, mentiroso e mau carácter". 

Não podemos ouvir uma pessoa ir para Dublin dizer que "chega à final sem mãos" (citando o saudoso  Vata) e ninguém lembre a esse senhor "que além da final de champions de Mourinho que roubaram escandalosamente o Manchester United nos quartos de final, ninguém no nosso clube anda a comer com árbitros antes ou depois de jogos internacionais, não temos árbitros com declarações de viva voz no YouTube a declarar que viajaram para Marrocos à conta do nosso clube ou que influenciaram resultados com pagamentos de prostitutas e também não andamos nas páginas dos jornais internacionais pelas piores razões de corrupção."

Eu não estou a exigir nada mais de si e não lhe pedirei nada mais a não ser que acabe o seu mandato com a dignidade que merece como pessoa e que o Benfica merece como Instituição.

Entendo que queira manter Jorge Jesus pelo contrato que assinou e porque não tem força nem vontade para começar um novo ciclo, quando o seu próprio ciclo se está a fechar, mas lembre-se que não estamos preparados para mais um "caso Fernando Santos" ou para uma prematura chicotada psicológica nesta nova época. Lembre-se meu caro Presidente que as hostes encarnadas estão muito desmotivadas e que este será um ano de crise nacional e difícil nas renovações dos Red Pass, será um ano difícil para receber as quotas dos 240 000 sócios e será um ano de tolerância zero para um plantel que se quer a jogar nos limites da motivação, do sacrifício e da paixão pelo clube. 

Se a isso juntarmos a disciplina que ninguém consegue impor nesta estrutura - e por favor nem quero ouvir falar de Couceiro ou de Octávio -  teremos os condimentos necessários para podermos fazer uma época digna. 

Sabe, meu Presidente, ser digno na derrota é algo bonito no desporto. Perder quatro vezes com FCPorto, ser eliminado contra SCBraga e ter não sei quantas derrotas num ano pode ser desastroso, mas podem haver aplausos no fim se todos virmos que a nossa equipa deu tudo em campo e foi derrotada por alguém superior. Isso é normal e pode acontecer. O que não pode acontecer é ver esta equipa de férias desde há várias semanas sem que ninguém conseguisse motivá-los para ir a uma final europeia ou para ganhar à Naval na Figueira da Foz, por exemplo. 

Não acredito em "equipas B" no Benfica. Quem representa este clube tem de lutar para ser sempre mais forte que os adversários mesmo que perca no final. O que se passou este ano foi algo que não víamos há muito tempo e que seguramente não me lembro de ver em tempos recentes.

Sabe que enquanto existirem pessoas na nossa estrutura que não consigam impor o respeito pelo Benfica aos nossos jogadores, eles sentirão que podem fazer o que querem. Enquanto continuarmos a chorar os penalties não marcados e as roubalheiras que nos fazem nos relvados a cada semana, os jogadores vão achar que essa desculpa também os desculpará a eles pelo mau profissionalismo em campo e fora dele.

Neste momento já entendemos que o Presidente não tem o perfil para que o respeitem como o chefe absoluto e o seu trabalho terá que ser noutras áreas de gestão, mas ao contrário de dizer que vai delegar menos, tente arranjar alguém que possa fazer esse trabalho bem feito,  veja quem pode chefiar o nosso departamento de comunicação sem toques de vedetismo e tente acabar o seu mandato com paixão pelo clube, com humildade, à Benfica e com uma vontade imensa de "fazer Bem". 

Meu caro Presidente, até ao ultimo dia da sua vida terá aqui um sócio agradecido, mas pense seriamente em dar o máximo no que resta do seu mandato nas áreas que domina, delegar em quem sabe o que você manifestamente não tem talento para fazer e prepare a sua saída com obra e com alguns resultados. Todos sabemos que a memória que conta no futebol é o presente e se conseguir dar mais disciplina a toda a estrutura do futebol e das amadoras, se conseguir que os jogadores corram o dobro de todas as outras equipas e se conseguir alguns títulos, sairá pela porta grande do nosso estádio. 

Para mim, será já o melhor presidente dos últimos anos, não pelo que ganhou, mas pelo que deixará para o próximo poder ganhar. Espero que entenda que o seu tempo está a chegar ao fim e dê o máximo para poder sair com elevação e nível.

Um grande abraço Presidente e felicidades pessoais e profissionais. 

Força Benfica

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Era óbvio o que ia acontecer...

Não vale a pena agora estar a pedir sangue, porque empatando no ultimo minuto, nada mudaria o que se passa no Benfica desde há umas semanas a esta parte.

Estou longe de Braga, longe de Lisboa e não contem comigo para sangue ou para manisfestações a quente. Uma coisa eu sei... Foi com muita tristeza que não fui a Braga e foi com muita tristeza que escrevi ontem um ataque cerrado aos nossos jogadores. 

Quem tiver paciência para ler o meu texto de ontem, encontra lá palavras que podiam ter sido escritas depois do jogo. Eu entendo um bocadinho dos meandros do futebol e para mim seria óbvio que só passávamos a eliminatória com o aparecimento dum rasgo de Mística - se fosse bem preparado por alguém que não existe na nossa estrutura - mas só isso poderia safar a nossa equipa. Nada mais...

O Amor ao Benfica nao muda por irmos ou nao irmos à final. Gritar e chamar nomes aos jogadores, eu não faço, mas alguém tem de dar um murro na mesa.

Isto estava a adivinhar-se desde há várias semanas e se não fosse a derrocada hoje, seria uma derrocada na final. 

As causas para esta derrocada, têm que começar a ser analisadas por quem de direito amanhã.

Ontem escrevi que:

"Quero o "Fábio Coentrão e o Ruben Amorim vezes 20" porque estes parecem-me ser os únicos que sentem o Benfica como eu e como os milhões espalhados pelo mundo."

Hoje é óbvio que o que escrevi faz ainda mais sentido...

Tenham calma, minha gente, isto não é o fim do mundo. 

Força Benfica