Au Revoir Les Bleus

Não gosto de falar da selecção neste cantinho Benfiquista, mas o dia é de celebração e eu abro aqui uma honrosa excepção...

Eu sou uma pessoa liberal e aberta, é raro julgar pessoas por uma ou outra situação e não gosto de generalizar um povo por amostras que podem não ser representativas desse mesmo povo ou nação.

A primeira vez que fui a França foi há exactamente 18 anos. Era um jovem com ideias pouco claras acerca do mundo e França era a capital do "Maio de 68" e de um certo liberalismo intelectual Europeu. Ia obviamente com expectativas altas. Bastaram uns poucos dias para entender que a minha amostra, não era tão liberal e aberta, mas sim mais arrogante e mal educada... Mais uma vez, considerei que estas atitudes que vi no povo françês, eram uma simples e pura amostragem e continuei a visitar França por várias vezes em trabalho e até de férias nos anos seguintes.

Apesar de trabalhar com artes, onde em todo o mundo se convive com as tais pessoas liberais, intelectualmente mais evoluídas e abertas para o convivio com vários povos de várias partes do mundo, entendi que mesmo dando-me bem com todos os "cidadãos do mundo" tinha alguns problemas com os "cidadãos franceses", especialmente de Paris...

Além disso, senti que a maior parte dos franceses que contactei em Paris no ambito profissional, têm problemas com Portugal ou com o que artisticamente vem de Portugal, da mesma maneira que noutra área gostam de se apregoar com uma arrogância desportiva - em especial no futebol - que muitas das vezes ultrapassa a brincadeira razoável. Contactei com outros franceses noutras partes do mundo e a verdade é que fora do seu quadradinho françês admito que conheci algumas pessoas interessantes, amigos de meus amigos, com um nível, educação e respeitabilidade fora do comum e muito, muito alta.

Para terminar esta introdução quero dizer que eu tento há vários anos a esta parte, gostar de França, dos franceses e de não generalizar esta ideia simplista e provavelmente falsa que são um povo arrogante, mal criado, com mania de superioridade, pretensiosos em várias áreas e com uma má relação com Portugal nas suas mais variadas áreas... Eu tentei, tento e tentarei até ao meu ultimo dia de vida, porque é isso que caracteriza uma pessoa aberta e com sentido de evolução. Aliás há uma semana vivi um episódio absolutamente inacreditável com claro prejuizo da minha vida pessoal e financeira fruto da absoluta arrogância francesa. Mesmo assim, quero e vou tentar tudo por tudo para mudar esta ideia geral do povo em causa.

No entanto, há áreas em que eu admito que odeio os franceses e o futebol é uma delas. Tudo começou no célebre jogo de França-Portugal em 1984 no Euro disputado nesse mesmo país. O jogo foi aberto, ambas as equipas podiam ter ganho, mas a sorte sorriu aos franceses. Azar o nosso... A partir daí e acompanhando a selecção nacional e a selecção francesa, senti que todas aquelas caracteristicas que se dizem ser parte integrate da população desse país, fazem de facto parte do ADN da selecção francesa de futebol. Vou então cingir a análise apenas à parte futebolistica da coisa....

Em 1998 a França é campeã do mundo e em 2000 a mesma França elimina Portugal das meias finais com um penalti polémico numa mão duvidosa de Abel Xavier. Passados uns anos voltamos a encontrar-nos nas meias finais dum Mundial em 2006 e somos eliminados uma vez mais por um penalti marcado por Zinedine Zidane.

Como tenho acompanhado in loco todos os europeus e mundiais que Portugal participa, acabo sempre por conviver com a falange de apoio que segue a formação francesa e dessas pessoas posso falar eu à vontade. Numa palavra, digo que são detestáveis e numa abordagem mais consolidada digo que representam tudo o que pode ser mau num povo. Mais não digo...

Tirando o mundial de 1998, a França nunca foi um exemplo de futebol espectacular e vistoso. Em 2006, foram apurados para a final depois dum bom jogo de Zidane contra Brasil (quartos) e dum jogo quanto baste para marcar o penalti e controlar defensivamente o jogo de Portugal. Depois a final com a Itália fica marcada pelo episódio da cabeçada de Zidane e de pouco ou nenhum futebol. Tirando esses anos de 1998 e 2000 que ganharam títulos, a França faz um mau Mundial de 2002, um mau Euro 2004, uma final no Mundial 2006, um mau Euro 2008 e um péssimo Mundial 2010.

Neste processo contrata um treinador de nome Domenech que toma atitudes deploráveis para alguém que representa um cargo de responsabilidade numa qualquer equipa - pior se for de seleccionador - e profere afirmações incendiárias, provocatórias e 100% arrogantes para adversários, árbitros, colegas de profissão (treinadores) e imprensa. Apesar de todas essas frases de mentecapto, esse senhor continuou a ser o selecionador françês até este mundial de 2010 e nestes dias que antecederam a eliminação matemática da França num grupo com Uruguai, México e África do Sul, foi um dos protagonistas da mais vergonhosa campanha de uma selecção francesa num mundial. Não me refiro apenas aos resultados mas a todos os episódios que vinham saindo para a imprensa nos últimos dias, com o castigo de Evra, com a suspensão de Anelka, com a greve dos jogadores ao treino de domingo ou com a demissão do director técnico da federação em pleno mundial. A arrogância francesa tinha um rosto e se não a podemos quantificar em todas as áreas da população francesa, ela está perfeitamente quantificada e identificada no que toca à àrea do futebol. A imagem que este senhor criou, através de declarações e atitudes várias, foi a de uma pessoa odiosa e deplorável. Se somarmos a isto, o apuramento da França através dum golo irregular aos pés da simpática Irlanda, está composto o ramalhete para a França ser o país a odiar neste mundial de 2010, por parte de todos os adeptos de todas as outras selecções.

Digo e repito que futebilisticamente não gosto dos franceses e sei porquê... Tres eliminações em 1984, 2000 e 2006 nas meias finais de grandes provas deverá ser suficiente, mas não pode ser só isso... Numa delas vivia-a no Estádio em Munique e sei o que esses senhores diziam antes e depois do jogo. Hoje, cada vez que a França sai duma grande prova é um dia de felicidade para mim e assumi-lo hoje não é motivo de orgulho, mas tambem não me envergonho. Gosto de gritar bem alto junto de cada adepto francês a célebre linha melódica da banda inglesa Lightning Seeds e trocar a linha "footbal is coming home" para um mais forte "French are going Home" ou trocar um cântico de "allez les bleus" para um "au revoir les bleus" porque isso me dá prazer e me deixa feliz...

Hoje foi bonito ver em Cape Town o jogo da África do Sul contra a França. Todos os adeptos de todas as selecções queriam que ganhasse a África de Sul. Uns porque queriam que o país organizador passasse e daí viver a consequente festa que se adivinhava durante a tarde/noite, outros porque assim eliminavam uma equipa teoricamente mais forte já desde o ínicio e outros, como eu e o meu pequeno grupo que me acompanha, porque simplesmente quero que a França perca sempre, porque sim...

No final do jogo e numa clara demosntração de regularidade até ao ultimo momento, Domenech recusa-se a cumprimentar o técnico da Africa do Sul, José Alberto Parreira. A imagem correu o mundo e está no YouTube em vários links como se pode ver abaixo. A maneira como os jogadores da França educadamente trocam as camisolas com os jogadores da África do Sul pode representar a maioria do povo Francês e o fair-play ou respeito que afinal caracteriza este povo, mas a cena final de Domenech representa seguramente uma atitude perante a vida, perante o futebol e o desporto em geral que tem de terminar. Esta é a França com que infelizmente me tenho cruzado na minha vida e nas bancadas, nos restaurantes, nos fun parks, nas ruas dos mundiais e dos europeus que tenho ido. Por essa razão é que este senhor ficou no comando da selecção durante tanto tempo. Afinal há pessoas que se reveêm nessas atitudes, nos disparates que este senhor vem fazendo - futebolisticamnete e não só - e nas afirmações que vem proferindo ao longo dos anos.

Depois do que se viu hoje e depois duma humilhação completa nestes ultimos dias, o meu ódio pela França atenuou. Vou continuar a querer que percam todos os jogos que fizerem até ao meu ultimo dia de vida, mas fá-lo-ei com o respeito e com o fair play que me merecem todos os povos do mundo. Vi e revi a imagem de Domenech com Parreira e a verdade é que no fim dá-me pena que existam pessoas assim no mundo desportivo. Espero que este senhor se retire e que o mundo do futebol ou da comunicação social tenha a dignidade de o colocar fora de toda e qualquer actividade futebolistica, para todo o sempre. Faziam um favor a quem gosta do futebol e a ele também, obrigando-o a evoluir como pessoa e quem sabe tornar-se melhor ser humano noutra qualquer área profissional.

Au Revoir Les Bleus... Hoje termina uma era e seguramente que se vai erguer outra com mais humildade, com mais respeito pelos adversários e pelo jogo. Se me enganar é sinal que este povo afinal não tem mesmo emenda...

Em relação à selecção de Portugal, não retiro uma virgula ao que digo há anos. Com qualquer treinador, com quaisquer jogadores, em qualquer parte do mundo que se jogar um mundial ou europeu com a nossa selecção, estarei in loco a apoiar do principio ao fim e acreditarei sempre na vitória. Assim tem sido num passado recente - 2004, 2006 e 2008 - assim será neste mundial de 2010 e em todos os outros que se realizarem. Não me ouvirão dizer mal da nossa selecção (com ou sem brasileiros) e por norma apoiei, apoio e apoiarei inequivocamente a nossa equipa. Se ganharmos um dia sei que estive sempre certo e cada vez que perdemos, a desilusão não me deixará desacreditar o sonho de ver Portugal Campeão do Mundo e da Europa.

Força Portugal

Força Benfica