Para quem tem na cultura pop uma referência de vida, há sempre uma citação de uma qualquer canção, de um qualquer filme, ou de um qualquer livro contemporâneo que faz sentido num determinado momento. Um mês depois de Morrisey lançar novo disco e na semana que antecede os seus 3 concertos em tantas outras salas de New York, aqui no burgo, lembro-me de uma das suas letras dos The Smiths escrita em 1986 no álbum "The Queen is Dead"- que obviamente nada tinha a ver com futebol. Cito uma parte da letra que diz:
"I know it's over
And it never really began
But in my heart it was so real"
Obviamente que estas palavras são tiradas fora do contexto emocional dessa letra, e que repito, nada, mas mesmo nada tem a ver com futebol.
No entanto, faz sentido neste momento, porque este pequeno texto reflecte exactamente o que é o Benfica nesta época e a minha relação com o Benfica este ano. Alterando a tradução e adaptando-a à minha realidade Benfiquista ficará algo como:
"Agora sei que acabou, mas na verdade nunca realmente começou, apesar de no meu coração sentir que poderia ser real."
Tirando o lado emocional da frase no contexto da canção, é exactamente isto que aconteceu nesta época.
No fundo, no fundo, quem gosta de futebol e entende um pouco de futebol, sabia que as hipóteses que tínhamos de ser campeões esta época eram as mesmas que tivemos no ano do Trapattoni. Poderia acontecer porque somos apaixonados e porque acreditamos sempre no nosso clube. Eu escrevi aqui dezenas de vezes - "acredito", "eu acredito", "claro que acredito" - sabendo que estes "acreditos" estavam presos apenas e só por pura paixão.
Nós somos apaixonados pelo Benfica. Ontem éramos 47100 - tirando os poucos do Guimarães - apaixonados e quando se está apaixonado a razão não é bom conselheiro.
Tal como no tempo do Trapattoni, ficámos fora da Uefa prematuramente, não jogávamos nada, resolvíamos de bola parada o que era complicado resolver de forma "corrida" mas a diferença grande é que nesse tempo a equipa era constituída por muito pior plantel, mas com um treinador muito mais esperto que Quique. Hoje temos um plantel muito melhor, apesar de um pouco desequilibrado - especialmente nos defesas laterais - mas com pouco sumo futebolístico.
Esse "sumo futebolístico" reduzido não vem de agora e revela erros graves de análise por parte da gestão do nosso futebol.
Eu sou dos que sempre defendeu Quique - tirando uma ou outra vez em que as declarações por si feitas acerca de jogadores do Benfica foram totalmente despropositadas - e defendi e defendo a estabilidade como forma de evolução.
O que se pediu a Quique, foi que construísse uma equipa, que definisse um modelo de jogo, que de forma relaxada e depois de um quarto lugar a mais de 20 pontos do FCPorto, pudesse acalmar e colocar em prática o tal "ano zero" com um futebol moderno e bonito, que agradasse a adeptos, apesar das diferenças grandes que Sporting e FCPorto levavam do ano transacto.
A partir dum determinado momento eu escrevi que estar a 2 ou 3 pontos do primeiro no inicio de 2009 seria uma vitória. Pensava eu que o mais difícil seriam os primeiros meses, os meses de adaptação a novos métodos, novos jogadores, nova estrutura. A partir de 2009, pensava que com tudo mais ou menos definido, com uma equipa a crescer futebolisticamente, os resultados iam aparecer e se não aparecessem logo, ao menos íamos construindo uma equipa.
A partir dum determinado momento da época e sem um fio de jogo perceptível, o discurso - especialmente depois da derrota na Trofa - mudou radicalmente. Em vez de construirmos a atitude competitiva, a disciplina, o cimentar de bases que nos pudessem dar esperança num futuro, o treinador define a prioridade nos "resultados" independentemente de não se jogar bem, apostando invariavelmente nas bolas paradas e na tal sorte e azar que não se controlando, são arriscadas.
Com esta atitude mantivemos a ilusão nos adeptos - 47100 ontem na Luz - mas colocámos a "equipa a jeito" para um desaire que deitaria tudo a perder. Esse desaire surgiu em forma dupla - derrota em Alvalade com exibição paupérrima e derrota na Luz contra um Guimarães que não merecia perder.
Neste momento e lutando por um lugar na champions com o rival de sempre é importante pensar nos resultados, mas mais importante redefinir novamente a prioridade na construção duma equipa, dum modelo de jogo e duma base que nos dê mais títulos no próximo ano. Hoje começa a nova época e é bom que todos pensem que não queremos depender das bolas paradas e da sorte ou do azar na próxima temporada.
Nós a partir de agora queremos a tal construção de equipa, maturidade, espírito competitivo, atitude de vitória em todos os jogos, o tal fio de jogo que tarda em aparecer. Queremos hoje aquilo que queríamos em Agosto de 2008.
Sempre disse que gerir as expectativas seria algo muito importante. Criando expectativas de conquista do título, com derrotas na Uefa, com derrota na Taça de Portugal em Dezembro, fez com que os adeptos sonhassem, acreditando apenas no coração. Apenas o coração nos fazia acreditar e daí as célebres frases de "sofremos até ao fim", "sempre a sofrer". São frases próprias de quem ama ou quem tem paixão, esquecendo que os jogos nos indicavam outra realidade.
Não há problema. Nós vamos sempre amar e ter paixão pelo clube. Agora é a altura de alguém dar o murro na mesa e gritar bem alto as prioridades que tínhamos no inicio do ano - criar um novo grupo, reduzir distancias para os adversários directos e ganhar pelo menos um título.
Está tudo em aberto, nestes objectivos propostos. Podemos e devemos ganhar um título contra o rival de sempre no próximo sábado, podemos e devemos criar as condições para jogarmos melhor de forma mais consistente, podemos e devemos reduzir distancias para os adversários mais directos. Se ganharmos os 21 pontos em disputa no campeonato, reduziremos essas distancias ao mínimo, se perdermos mais um ou dois jogos e mostrarmos atitude e futebol para o futuro acabamos a época outra vez na dezena de pontos para primeiro, sem champions mas a ganhar noutros tabuleiros seguramente.
O que não podemos é continuar a tapar o sol com a peneira e a redefinir prioridades a meio do percurso.
Quique Flores será o nosso treinador no próximo ano, a equipa terá três saídas e três entradas no máximo e o modelo de jogo terá de ser obviamente mais consolidado. Nos adversários directos, teremos novos treinadores, novos jogadores e novos métodos a partir de Julho. Sendo assim, é bom começar a treinar para a próxima época a partir de hoje.
Não há que desesperar e pedir cabeças em Março. O director desportivo será o mesmo em Agosto, o treinador será o mesmo, a equipa técnica a mesma e o plantel será praticamente o mesmo. Ir à champions é importante se terminarmos em primeiro. Sendo segundo, temos de começar a época em Junho, fazer duas importantes eliminatórias, correndo o risco de perder uma delas, voltar para a Uefa e estragar todo o planeamento da restante época.
Perdendo o campeonato ontem e não despedindo Quique Flores uma hora depois de terminar o jogo contra Vitória de Guimarães, não faz nenhum sentido continuar com essa história de "Quique servir ou não servir para este Benfica". A nova época começa hoje e é com estes que vamos estar em Julho a planear a nova modalidade da Taça Uefa, a lutar pelo campeonato, pela Taça de Portugal e esperamos que a defender o título que ganhámos este ano na Taça da Liga.
Custa escrever, mas mais vale assumir a realidade que continuarmos a sonhar com base no coração...
Força Benfica
And it never really began
But in my heart it was so real"
Obviamente que estas palavras são tiradas fora do contexto emocional dessa letra, e que repito, nada, mas mesmo nada tem a ver com futebol.
No entanto, faz sentido neste momento, porque este pequeno texto reflecte exactamente o que é o Benfica nesta época e a minha relação com o Benfica este ano. Alterando a tradução e adaptando-a à minha realidade Benfiquista ficará algo como:
"Agora sei que acabou, mas na verdade nunca realmente começou, apesar de no meu coração sentir que poderia ser real."
Tirando o lado emocional da frase no contexto da canção, é exactamente isto que aconteceu nesta época.
No fundo, no fundo, quem gosta de futebol e entende um pouco de futebol, sabia que as hipóteses que tínhamos de ser campeões esta época eram as mesmas que tivemos no ano do Trapattoni. Poderia acontecer porque somos apaixonados e porque acreditamos sempre no nosso clube. Eu escrevi aqui dezenas de vezes - "acredito", "eu acredito", "claro que acredito" - sabendo que estes "acreditos" estavam presos apenas e só por pura paixão.
Nós somos apaixonados pelo Benfica. Ontem éramos 47100 - tirando os poucos do Guimarães - apaixonados e quando se está apaixonado a razão não é bom conselheiro.
Tal como no tempo do Trapattoni, ficámos fora da Uefa prematuramente, não jogávamos nada, resolvíamos de bola parada o que era complicado resolver de forma "corrida" mas a diferença grande é que nesse tempo a equipa era constituída por muito pior plantel, mas com um treinador muito mais esperto que Quique. Hoje temos um plantel muito melhor, apesar de um pouco desequilibrado - especialmente nos defesas laterais - mas com pouco sumo futebolístico.
Esse "sumo futebolístico" reduzido não vem de agora e revela erros graves de análise por parte da gestão do nosso futebol.
Eu sou dos que sempre defendeu Quique - tirando uma ou outra vez em que as declarações por si feitas acerca de jogadores do Benfica foram totalmente despropositadas - e defendi e defendo a estabilidade como forma de evolução.
O que se pediu a Quique, foi que construísse uma equipa, que definisse um modelo de jogo, que de forma relaxada e depois de um quarto lugar a mais de 20 pontos do FCPorto, pudesse acalmar e colocar em prática o tal "ano zero" com um futebol moderno e bonito, que agradasse a adeptos, apesar das diferenças grandes que Sporting e FCPorto levavam do ano transacto.
A partir dum determinado momento eu escrevi que estar a 2 ou 3 pontos do primeiro no inicio de 2009 seria uma vitória. Pensava eu que o mais difícil seriam os primeiros meses, os meses de adaptação a novos métodos, novos jogadores, nova estrutura. A partir de 2009, pensava que com tudo mais ou menos definido, com uma equipa a crescer futebolisticamente, os resultados iam aparecer e se não aparecessem logo, ao menos íamos construindo uma equipa.
A partir dum determinado momento da época e sem um fio de jogo perceptível, o discurso - especialmente depois da derrota na Trofa - mudou radicalmente. Em vez de construirmos a atitude competitiva, a disciplina, o cimentar de bases que nos pudessem dar esperança num futuro, o treinador define a prioridade nos "resultados" independentemente de não se jogar bem, apostando invariavelmente nas bolas paradas e na tal sorte e azar que não se controlando, são arriscadas.
Com esta atitude mantivemos a ilusão nos adeptos - 47100 ontem na Luz - mas colocámos a "equipa a jeito" para um desaire que deitaria tudo a perder. Esse desaire surgiu em forma dupla - derrota em Alvalade com exibição paupérrima e derrota na Luz contra um Guimarães que não merecia perder.
Neste momento e lutando por um lugar na champions com o rival de sempre é importante pensar nos resultados, mas mais importante redefinir novamente a prioridade na construção duma equipa, dum modelo de jogo e duma base que nos dê mais títulos no próximo ano. Hoje começa a nova época e é bom que todos pensem que não queremos depender das bolas paradas e da sorte ou do azar na próxima temporada.
Nós a partir de agora queremos a tal construção de equipa, maturidade, espírito competitivo, atitude de vitória em todos os jogos, o tal fio de jogo que tarda em aparecer. Queremos hoje aquilo que queríamos em Agosto de 2008.
Sempre disse que gerir as expectativas seria algo muito importante. Criando expectativas de conquista do título, com derrotas na Uefa, com derrota na Taça de Portugal em Dezembro, fez com que os adeptos sonhassem, acreditando apenas no coração. Apenas o coração nos fazia acreditar e daí as célebres frases de "sofremos até ao fim", "sempre a sofrer". São frases próprias de quem ama ou quem tem paixão, esquecendo que os jogos nos indicavam outra realidade.
Não há problema. Nós vamos sempre amar e ter paixão pelo clube. Agora é a altura de alguém dar o murro na mesa e gritar bem alto as prioridades que tínhamos no inicio do ano - criar um novo grupo, reduzir distancias para os adversários directos e ganhar pelo menos um título.
Está tudo em aberto, nestes objectivos propostos. Podemos e devemos ganhar um título contra o rival de sempre no próximo sábado, podemos e devemos criar as condições para jogarmos melhor de forma mais consistente, podemos e devemos reduzir distancias para os adversários mais directos. Se ganharmos os 21 pontos em disputa no campeonato, reduziremos essas distancias ao mínimo, se perdermos mais um ou dois jogos e mostrarmos atitude e futebol para o futuro acabamos a época outra vez na dezena de pontos para primeiro, sem champions mas a ganhar noutros tabuleiros seguramente.
O que não podemos é continuar a tapar o sol com a peneira e a redefinir prioridades a meio do percurso.
Quique Flores será o nosso treinador no próximo ano, a equipa terá três saídas e três entradas no máximo e o modelo de jogo terá de ser obviamente mais consolidado. Nos adversários directos, teremos novos treinadores, novos jogadores e novos métodos a partir de Julho. Sendo assim, é bom começar a treinar para a próxima época a partir de hoje.
Não há que desesperar e pedir cabeças em Março. O director desportivo será o mesmo em Agosto, o treinador será o mesmo, a equipa técnica a mesma e o plantel será praticamente o mesmo. Ir à champions é importante se terminarmos em primeiro. Sendo segundo, temos de começar a época em Junho, fazer duas importantes eliminatórias, correndo o risco de perder uma delas, voltar para a Uefa e estragar todo o planeamento da restante época.
Perdendo o campeonato ontem e não despedindo Quique Flores uma hora depois de terminar o jogo contra Vitória de Guimarães, não faz nenhum sentido continuar com essa história de "Quique servir ou não servir para este Benfica". A nova época começa hoje e é com estes que vamos estar em Julho a planear a nova modalidade da Taça Uefa, a lutar pelo campeonato, pela Taça de Portugal e esperamos que a defender o título que ganhámos este ano na Taça da Liga.
Custa escrever, mas mais vale assumir a realidade que continuarmos a sonhar com base no coração...
Força Benfica