Temos assistido a várias opiniões que colocam a decisão de continuidade ou não continuidade de Quique Flores como treinador do Benfica na mão de Rui Costa. Tecnicamente todas elas apontam no sentido de um grande dilema que afecta o nosso director desportivo - despedir ou não despedir Quique Flores.
Eu não confundo competência técnica/desportiva com capacidade em gerir o marketing duma campanha que terá necessariamente de focar nos pontos fortes da gestão de Luís Filipe Vieira e omitir/disfarçar ao máximo os pontos fracos dessa mesma gestão.
Espero que Rui Costa também não confunda essas duas diferentes perspectivas que nada têm em comum.
O único dilema de Rui Costa é obviamente técnico e desportivo. Foi ele quem assinou por dois anos com Quique Flores e foi ele quem disse que só a estabilidade poderia trazer sucesso a um projecto que teve nesta época o seu "ano zero". Neste "ano zero" muita coisa correu mal, mas também muita coisa correu bem. E uma das coisas que correram bem este ano foi o facto de termos estado no comando da Liga durante várias semanas, criando uma ilusão nova de que poderíamos obviamente voltar a ser campeões.
Na verdade e independentemente das exibições, apenas as duas derrotas caseiras frente a Guimarães e Académica colocaram o Benfica estrategicamente fora da corrida do título 2008/2009. Isto são factos. Com essas duas vitórias o Benfica estaria hoje a 2 pontos do primeiro classificado e 2 pontos à frente de Sporting.
Posto isto, pergunto porque razão há dilema na cabeça de Rui Costa? Que dilema?
Numa época com muitos jogos o que verdadeiramente correu muito mal foi a prestação europeia, que terminou em Dezembro. Nessa altura, fomos eliminados da Taça de Portugal nos penaltis pela equipa sensação da altura e durante o resto do campeonato lutámos com armas menos poderosas que adversários directos e ainda ganhámos uma Taça da Liga.
Não há evolução sem auto-avaliação e Quique tem de admitir perante Rui Costa as dificuldades de adaptação a um futebol que não conhecia e onde não quis ser ajudado a entendê-lo de forma mais rápida. Neste momento e com um plantel que não terá muitas alterações, com uma equipa técnica mais familiarizada com jogadores, com adeptos, com adversários, com árbitros, com imprensa, com os estádios e adeptos adversários, com toda a envolvente do futebol nacional porquê mudar um plano que o próprio Rui Costa definiu e organizou?
Sinceramente, entendo a imprensa, entendo as manifestações eleitorais - se bem que a esta distância são absolutamente inócuas - até entendo o "meu terceiro anel", mas não posso entender o "falso" dilema que querem colocar a Rui Costa.
O único dilema que poderá existir nesta questão é a opinião de Quique Flores e o que o próprio treinador quer fazer da sua vida.
- Será que Quique quer cumprir o contrato que assinou com Benfica?
- Será que Quique Flores quer continuar a assistir impávido e sereno a esta palhaçada de futebol nacional?
- Será que Quique quer estar associado a um futebol que entre envelopes e escutas ilegais se vai passeando como se ainda vivesse em 1983?
- Será que Quique quer continuar a ser muito roubado e às vezes beneficiado num futebol que tem no "esquema" das compensações a sua génese?
- Será que Quique quer continuar num futebol onde o presidente da Liga diz que "quem não paga ordenados deve ser condenado por isso" e a resposta que os "senhores deste futebol" lhe dão é a tentativa de fazer cair a direcção da Liga presidida por este presidente para continuar com a mentira e com a dependência que esses clubes pobres têm desses senhores grandes deste futebol nacional?
- Será que Quique não está contente com o seu trabalho e quer sair pela vergonha de algumas exibições do Benfica este ano?
Eu defendo que só faz falta quem cá está e para o bem e para o mal este é o futebol que temos em Portugal. Se Quique quiser sair esta época por todas estas razões ou por outras questões pessoais, Rui Costa saberá ler nesse desejo as razões para aceitar a sua demissão.
Se não for por vontade de Quique porque razão deverá Rui Costa despedir Quique Flores?
Não consigo ver uma única razão para esse despedimento, mesmo sabendo que há pontos fracos que se podem mudar para pontos fortes nessa decisão. Todos concordamos que eventualmente será negativo ter Quique fragilizado no inicio da próxima época. Nesse aspecto só há uma única solução - dar apoio total e incondicional a Quique Flores.
Dizer claramente que o seu contrato é para cumprir e quem não concorde com essa decisão estará contra Rui Costa e contra o Benfica. Não podemos ter uma situação semelhante à de Fernando Santos outra vez, onde se prepara uma pré-época com um treinador e depois se despede esse treinador depois dum empate na primeira jornada. Aliás, Rui Costa viveu dentro do balneário essa situação anedótica. Temos que saber definir claramente o que queremos para o Benfica. E o que queremos para o Benfica é que a estabilidade possa dar resultados.
Repito, queremos que a estabilidade possa dar resultados e não que os resultados tragam estabilidade esporádica, porque se assim for não chegaremos às vitórias que ambicionamos e se chegarmos a essas vitórias, é porque aparecem por acaso.
Li com atenção todas as entrevistas de Rui Costa (quando aceitou ser director desportivo) e de Quique Flores (quando aceitou ser nosso treinador). Rui Costa dizia que era importante a estabilidade para criar as condições para que o Benfica ganhe e que ganhe muitas vezes e não de forma esporádica uma vez e depois passados dez anos outra vez.
Quique Flores sempre disse que queria ajudar o Benfica a organizar-se como clube moderno e criar condições para quem o seguir poder continuar esse trabalho, sempre focando no Benfica como Instituição que se serve e não servir-se da Instituição Benfica como trampolim para outros desejos pessoais.
Não nos podemos esquecer de nada disto apenas porque perdemos contra Guimarães e porque fomos escandalosamente roubados contra Académica no espaço de três jornadas.
Se Rui Costa tem algum dilema no seu Grande Projecto por causa de duas derrotas, então desculpem-me a frontalidade mas não serve para o nosso Benfica.
Os Grandes Homens conhecem-se pela determinação com que defendemos ideias e projectos mesmo nos momentos em que mais ninguém acredita neles. Rui Costa é obviamente um destes Homens e se hesita um segundo que seja, é literalmente "comido" por uma massa sem cara nem ideias.
Força Benfica
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