Robert Enke foi nosso jogador durante três anos e todos nós sabemos que era um dos nossos. Sei que nesta altura é normal colocarmos ênfase nas coisas boas dum jogador no momento da sua despedida mas a verdade é que quem me lê sabe que ele era realmente especial e sentia paixão pelo nosso clube de uma forma muito honesta. Como se dizia esta semana de Javi Garcia, Robert Enke sempre foi do Benfica e ainda recentemente li uma entrevista sua dizendo que adorava Portugal e não colocava de lado um regresso ao nosso clube, se por ironia do destino essa oportunidade assim se verificasse.
Moreira diz hoje n´"A Bola" que a primeira impressão que teve dele foi de uma pessoa fria.
"A ideia é de que os alemães são frios. Quando vi Enke pela primeira vez, foi o que achei: frio. Mas com os dias, vi que não, que era conversador, e a atenção que dispensava ao que fazia era a mesma que dispensava ao que os outros faziam e diziam", diz Moreira. Continua dizendo que:
"Quase de um dia para o outro começou a falar português correctamente. Foi a uma conferência de imprensa e falou em português! Eu só lhe corrigia a pronúncia. Era inteligente, queria tudo perfeito, nada menos que isso".
Enke "Ficava chocado quando via cães abandonados, levava-os para casa. Era comum vê-lo chegar ao treino danado e explicar-se: tenho um cão que me deu cabo do jardim!", acrescenta Moreira.
"Nos treinos trabalhava para o grupo, não só para ele. No quarto era certinho: a roupa arrumada, os livros empilhados. A única chatice era no que respeitava à televisão: ele ligava um canal alemão, com um filme alemão e eu pedia-lhe para escolher um em inglês que compreenderíamos os dois. Ele dizia-me que o filme alemão era melhor...", conta Moreira. A morte do Enke foi para o guarda-redes encarnado um choque.
"Fiquei devastado. Já não falava com ele desde Barcelona, mas seguia a carreira. Nunca no Benfica deu sinais de ser alguém deprimido", recorda Moreira.
Esta história dramática de Robert Enke, que escolheu um qualquer comboio Alemão para terminar com a sua vida, deve servir de exemplo para todos nós e especialmente para todos os jogadores de hoje e do futuro...
Todos sabemos que a questão psicológica é muito importante no grupo de trabalho, mas não tenho dúvidas que em plantéis de 25/26 jogadores, há sempre problemas pessoais que se podem e devem tratar em terapias individuais.
Ás vezes o futebol não é tudo, como o trabalho não é tudo, como o dinheiro não é tudo e muitas vezes todos temos que decidir baseado no nosso bem estar. Enke deciciu de acordo com o seu bem estar e por isso o respeito. O que retiro deste momento é que como diz uma famosa canção - "be thankful for what you've got" - todos devemos estar felizes com o que temos...
Enke está mais descansado e nós vamos guardar na nossa memória a sua passagem pelo Benfica com uma ideia de profissionalismo, de dedicação, de amor ao Benfica e vamos lembrar a sua história como um aviso para que no futebol das próximas décadas não nos esqueçamos nunca que o Homem é sempre mais importante que o Jogador.
Força Benfica
1 comentário:
Robert Enke veio para o Benfica para substituir o extraordinário Michel Preud'homme e não defraudou as expectativas. Pelo seu talento e qualidade foi chamado à selecção alemã, lugar por onde passaram grandes lendas como Harald Schumacher. Terá vivido os dias mais felizes em Lisboa, longe de imaginar a tragédia que iria irremediavelmente afectar a sua vida e da família. Apesar da sua juventude, a adaptação a um novo país e a falta da conquista de títulos desportivos, nunca foi impedimento para dar todo o seu empenho e profissionalismo dentro do campo. Fora dele, era o expoente máximo de bondade, pois dividia-se entre projectos de solidariedade e o amor aos animais, sem esquecer as preocupações com o meio ambiente. Guardarei na memória a chegada à Portela de um Homem com cara de menino, à procura da glória num clube enorme, tão grande como o seu coração.
http://dylans.blogs.sapo.pt/
Enviar um comentário