Hoje é um dia em que não vou falar do Benfica, ou do FC Porto ou dos árbitros, ou do dinheiro das transferências, mas sim de Paixão e Coração!
Eu tenho uma Paixão grande pelo Benfica, mas não tenho nada contra o Sporting. É um rival, quero que perca obviamente muito mais do que ganhe, mas vivo bem com a rivalidade e até defendo que se o Benfica e o Sporting pensassem o desporto a dois, melhor seria para todos nós.
Mas isso agora pouco importa e o que importa é que me chegou um texto incrível de alguém sportinguista que é apaixonado pelo seu clube e que escreveu uma carta para um blogger do seu clube, que o publicou e tornou público.
Como o texto poderia ser escrito por um qualquer benfiquista - e seguramente que há histórias semelhantes - e porque eu passo muito tempo longe do Estádio da Luz porque ando muitas semanas do ano, fora de Portugal, resolvi homenagear o Pedro colocando o texto dele no meu singelo e insignificante espaço, como homenagem a todos os apaixonados por futebol, pelos seus clubes e que sofrem á distancia!
Pedro, que o Sporting te dê uma alegria no domingo!
O texto foi retirado daqui mas eu coloco-o em baixo para que todos possam ler neste espaço.
VAI ONDE TE LEVA O CORAÇÃO
Olá. O meu nome é Pedro e deixei Portugal há 37 anos. O meu pai
encantou-se por uma loura de olhos verdes e, diga-se de passagem, teve
um bom gosto do catano. Acontece que essa loura de olhos verdes, a minha
mãe, que hoje está um bocadinho menos loura com a idade, era
neozelandesa. Isso. Tinha raízes no outro lado do mundo, tão diferentes e
tão distantes que quando, depois de uma noitada de namorados (poupem-me
os pormenores), o meu pai lhe dizia «querida, é meio-dia» ela acordava
sobressaltada porque tinha voltado a esquecer-se de ligar aos seus pais e
«a esta hora eles já estão a dormir». Ora os meus avós pais do meu pai,
morreram cedo. Acho que os vi ainda mal abria os olhos, naquele ano de
77 que dizem que foi uma maravilha e que nasceram Pedros e Ruis e
Miguéis e Anas e Cláudias e Ritas com fartura. O meu pai pensou, pensou,
deu um enorme abraço ao irmão e meteu-nos aos dois num avião. Aos três,
melhor dizendo, porque eu vinha ao colo da minha mãe, deixando uma
capital chamada Lisboa rumo a uma capital chamada Wellington.
Por esta altura deves já ter-te questionado sobre o porquê de estar a
escrever-te. És capaz, até, de ter bufado com enfado, uma espécie de
«mas o que é que eu tenho a ver com a tua história?!?». Ok, vamos lá: tu
e eu temos algo em comum. Sim, somos portugueses, mas, mais do que
isso, somos Sportinguistas! E se soubesses o orgulho que eu tenho em
dizer-te isto… Não sei quantas vezes agradeci ao meu pai o facto de ele
nunca ter deixado de alimentar a chama em relação a estas duas paixões: o
país e o clube. Falo e escrevo português fluentemente e sou doente pelo
Sporting! Sabes, tenho uma fotografia que anda sempre comigo. Tens uns
tons meio violeta, porque naquela época fotografava-se em filme e o
filme tinha esse tom algures entre o sépia e o sol do final do dia. Ora,
contava-te eu, tenho uma foto que anda sempre comigo e que, atrás, tem
escrito: «Em 1982 foste o único a perceber o meu abraço». Nessa foto, o
meu pai e eu estamos com uma camisola do Sporting. Quer dizer, são
camisolas de lã, verdes e brancas, com um lindo Leão Rampante estampado.
O meu pai tem uma grande bandeira verde e branca na mão e, contou-me
ele pelo menos umas 358 vezes, usava um bigode como o do Meszaros. Nesse
ano o Sporting foi campeão e parece que jogava muito à bola. Depois…
depois foram muitos anos sem ganhar.
És capaz de ter sentido mais do que eu esse vazio de conquistas. Ou
talvez não. Tu tinhas colegas de escola com quem falar, tinhas outros
com quem gozavas e por quem eras gozado. E estavas perto. Eu estava no
outro lado do mundo, num país onde o desporto preferido se disputa com
uma bola oval que se mete debaixo do braço (sim, obviamente que eu
aprendi a jogar rugby e tenho um polo dos all blacks). A única pessoa
com quem eu falava sobre o Sporting era com o meu pai. Ele contava-me
tudo e não imaginas a festa que era quando chegavam as encomendas
enviadas pelo meu tio. Jornais com notícias que para um puto da minha
idade continuavam sempre frescas. Eu deixava o meu pai lê-las, ia
aprendendo a ler e, no final, recortava tudo o que tinha a ver com o
Sporting. Essas eram as minhas cadernetas, ou achas que eu tinha os
paninis como tu? Recortes, recortes e mais recortes. Do futebol e de
tudo o resto. Hóquei, atletismo, basquetebol, andebol. Sabia tanta coisa
que, a partir de determinada altura, passei a jogar quizz leoninos com o
meu pai. Ele olhava para mim, orgulhoso, de cada vez que eu acertava. E
contava ao meu tio, por telefone, o quão Sportinguista era o puto,
mesmo a milhares de quilómetros de Alvalade.
A propósito, eu nunca entrei em Alvalade. Nem no antigo, nem no novo.
Sonhei jogar lá. Tantas e tantas vezes. Então no dia em que o meu pai
mandou vir um equipamento de Portugal… nunca mais hei-de esquecer-me.
Foi quando fiz dez anos. Caramba… tão longe e tão perto, eu um puto
charila, aos gritos, a enfiar camisola, calções e meias, mais uns ténis e
a levar todo o dia assim equipado no meio de pessoas que sorriam no seu
desconhecimento. Outras perguntavam-me se era do Celtic, porque o que
não faltam por aqui são gentes de descendência britânica, e eu berrava
que era do Sporting de Portugal! E chutava a bola, para trás, para a
frente, contra paredes e para o céu, orgulhoso daquela minha segunda
pele que fiz birra para despir quando chegou a hora de tomar banho
(obviamente que cheguei a dormir equipado, mas com o equipamento
lavado). E já que te falo em festas de anos, eu nunca tive um daqueles
bolos de aniversário com jogadores do Sporting feitos de borracha. Nem
nunca tive amigos que dissessem que não queriam comer do meu bolo porque
eu tinha enfiado um berlinde na baliza do benfica. O mais perto que eu
estive disso foi, já adolescente, no ano em que pedi um bolo que fosse
um campo de futebol e lá espetei o meu onze do Sporting feito de bonecos
do Subutteo! Também não cresci a trocar picardias nos tampos da
secretária da escola, com colegas de outros clubes. Só recados a miúdas
giras (pelo menos para mim). Ao domingo usava o cachecol (tenho uma
colecção de cachecóis do Sporting que há ultrapassou os 60, muito por
culpa do meu tio e do meu primo, que estão em Portugal), mas não ia ao
estádio. Ouvia na rádio, algumas vezes com o relato a chegar pelo
telefone e o meu pai e o meu tio aos gritos. Depois começámos a
conseguir ver alguns jogos, quando o meu pai comprou uma antena
parabólica que apanhava canais do mundo todo. Depois veio a internet e
os jogos em streaming. Facilitou tudo e aproximou-me, ainda mais, do
nosso Sporting.
Dizia-te eu que tenho um primo e é com ele que mais vezes partilho
esta paixão (claro que não o abracei naquela inesquecível tarde em que
voltámos a ser campeões, mas eu e o meu pai andámos feitos loucos a
festejar e a apitar pelas ruas de uma cidade que sorria à nossa
passagem). Quer dizer, agora com os blogues e com o facebook o mais
certo é ter-me cruzado e conversado contigo, mas tem sido o meu primo a
fazer a ponte. No final de semana passado, quando o Sporting jogou com o
Rio Ave, falávamos do porquê dos jogos serem todos à noite, do frio, da
chuva, daquelas memórias que são minhas sem nunca tê-las vivido de
bancadas cheias à luz do sol, pintadas de verde e branco por gentes de
todas as idades. Foi quando ele me disse «meu, para a semana o jogo é às
16h! um domingo à tarde! e vai estar sol!». “Caraças, o estádio vai
estar cheio!”, respondi-lhe eu. «Hmmm, não sei», responde-me ele, que lá
vai de 15 em 15 dias e leva o filho, meu afilhado, a quem eu ofereci
uma gamebox para poder rugir no meu lugar. «Não percebo este pessoal,
mas arranja sempre uma desculpa para faltar. Devemos ter uns 40 mil, o
que já é fixe».
Eu fiz uma pausa. Abri o site do Sporting, introduzi os meus dados de
sócio e comecei a comprar. Um, dois, três, quatro, cinco bilhetes, que o
meu primo e o meu sobrinho vão ter que mudar de lugar por uma semana.
Depois, comprei as passagens de avião. «Estás a gozar?!?», perguntava-me
ele, atónito. Não, não estava. Tanto não estava que te escrevo estas
palavras no avião, a caminho de Portugal. Vão ser cerca de 23 horas de
viagem e sinto-me como uma criança. Mais do que a minha filha de seis
anos, que vem a meu lado (também eu me encantei por uma loura de olhos
verdes, claro). E bem mais acordado do que o meu pai, que dorme na lugar
ao lado. Não vejo a hora de entrar em território português e, aqui de
cima, ver o nosso estádio. Só de pensar fico com um nó na garganta. E
duvido que não me venham as lágrimas ao olhos quando, no domingo, com a
minha camisola nova que me inscreve o nome num sonho chamado pavilhão,
me sentar no meu lugar. Em Alvalade.
Sabes, quando eu era mais pequeno, principalmente quando estava
zangado, perguntava muitas vezes ao meu pai porque raio é que ele tinha
ido para a Nova Zelândia. Ele respondia-me, invariavelmente, «fiz o que o
meu coração me disse para fazer. Tu, um dia, vais perceber e vais ver
que tudo faz mais sentido assim». Faz, faz mesmo. Espero que outros
cinquenta mil corações pensem como o meu. E que vocês os escutem.
* texto dedicado a todos os que amam o Sporting a centenas e milhares de quilómetros de distância.
Força Benfica
1 comentário:
Já o tinha lido e gostei muito.
Uma bela declaração de amor ao seu clube.
Enviar um comentário