Este defeso tem sido muito penoso para o Benfica, pois com as saídas de Jorge Jesus, Maxi e Lima a moralização das hostes encarnadas tem andado muito reduzida.
A lesão de Salvio que aconteceu logo em Maio, a falta de contratações sonantes e as exibições (e resultados) "assim assim" fazem com que realmente este defeso esteja a ser uma verdadeira "seca" para todos os benfiquistas.
Ora, quando estamos em época de "silly season" - e pode ser em Junho/Julho, no Natal ou até mesmo com a Liga em andamento - há algo que nunca é uma seca ou chato...
Há hábitos que não mudam e eu sempre li a nossa Leonor Pinhão n´ "A Bola" para tentar pelo menos animar a semana nesses tempos mais disparatados da época.
Ontem li o artigo da Leonor Pinhão e obviamente achei que estávamos perante um dos oito momentos altos do nosso defeso - os outros sete foram as outras sete crónicas da "nossa" Leonor Pinhão - mas fiquei incrédulo com o "PS" no texto e com aquelas poucas palavras que me mataram o coração:
- Quinze anos foram muitas quintas-feiras e chega hoje ao fim a minha
colaboração com “A Bola”. Gostei muito. A todos, obrigada. E adeus.
O quê? Não pode ser!
Assim sem aviso, ficamos sem os textos á quinta feira da Leonor Pinhão no jornal "A Bola"?
Mas isso é muito pior que as saídas de Jorge Jesus, Maxi Pereira, Lima...
A saída de Leonor Pinhão do jornal "A Bola" é o marco deste defeso, especialmente para quem gosta e vive um certo romantismo no Benfica.
A Leonor Pinhão não morreu e ainda espero ler muito mais dela ao longo da sua vida, mas morreu com esta sua retirada das páginas do jornal "A Bola", algo do "meu Benfica".
Seguramente que Leonor Pinhão continuará a escrever ou a colaborar com outros meios de comunicação social, mas para mim a Leonor Pinhão é e sempre será aquela página mítica no jornal "A Bola".
Já a vi esporadicamente em alguns programas de televisão, que nem ligo, já a vi a falar do Benfica nalguns outros meios e para mim isso conta zero.
A "minha Leonor Pinhão" escreve no jornal "A Bola" a cada quinta-feira. Ponto Final.
Soube hoje que foram 15 anos a escrever uma coluna de opinião todas as quintas feiras.
Eu sou a pessoa que antes de saber ler as legendas dos filmes - que obviamente passavam muito rápido - já passava uma tarde inteira com o jornal "A Bola" na mesa redonda do apartamento de família a ler tudo o que tinha a ver com o Benfica no grande jornal.
E que grande era "A Bola", enorme eram as páginas daquele jornal com letras encarnadas na capa.
"A Bola" representa o verdadeiro romantismo associado ao meu Amor pelo Benfica e a todos que nasceram na década de 70.
Foi neste jornal que lemos os grandes textos, que vimos as grandes fotos e onde o relato do dia anterior ganhava vida.
Num tempo em que eu nunca tinha ido ao Estádio da Luz porque não morava em Lisboa, o resumo dos jogos do Benfica ao domingo ou ás quartas-feiras era curto e passava muito tarde na TV.
Para mim, era na tarde seguinte ou umas tardes depois - lembro que o jornal "A Bola" não era diário - que eu conseguia viver todo o romantismo do meu Benfica lendo os textos e vendo as fotografias no jornal "A Bola".
Os tempos mudam e a nossa vida também.
Parece que estou num daquele momentos "Cinema Paraíso" em que o realizador volta a casa e consegue sentir todas as memórias da infância.
A Leonor Pinhão durante 15 anos, todas as quintas feiras lembrava-me o que era ser criança a ler "o meu Benfica" nas páginas gigantes do jornal "A Bola" e isso não tem preço.
O nosso clube é de todos nós mas cada um tem uma relação única e pessoal com o clube.
Eu considero-me uma pessoa sensível, atento ás artes, ás letras e ao tal romantismo associado a um Benfica que será sempre, o meu.
Este Amor pelo Benfica é comum a todos os apaixonados do clube e em todos nós a ligação infantil é muito importante.
A Leonor Pinhão tem esse romantismo e essa maneira de ver o nosso clube diferente de todos os outros e com que eu me identifico como leitor. Tem algo do Benfica de "antigamente" que eu amava ler todas as quintas feiras.
A Leonor Pinhão é inteligentíssima na escrita, tem uma ironia refinada ao alcance de poucos, tem uma maneira de analisar o fenómeno do futebol muito própria e não há sequer comparação com qualquer outra figura da nossa escrita desportiva.
A escrita da Leonor Pinhão é como um artista alternativo que chega ao mainstream. Na verdade nunca perde as suas qualidades inatas, mesmo que muitos consumam agora essa arte.
Eu sempre me alegro quando os meus artistas favoritos conseguem ter sucesso e visibilidade, mesmo quando sei que alguns só têm essa visibilidade devido a um single mais famoso, a um filme mais acessível ou a um livro com um marketing mais conseguido. Leonor Pinhão é essa artista que está no mainstream mas consegue ser a mais alternativa de todas, porque o que escreve é bom!
Nem todos apreciam a sua escrita sempre, porque às vezes ela escreve só para alguns, mesmo que muitos a leiam.
Para mim foi sempre a melhor em todas as quintas feiras que a li.
Não a li todas as semanas dos 15 anos que escreveu e a partir de 2007 li-a maioritariamente em PDF, mas li-a nos 5 continentes a partir do momento que "A Bola" disponibilizava a edição do "dia seguinte" no site invariavelmente a cada 3am de sexta feira - hora em Lisboa.
Li-a ás quartas feiras às 7pm, quando estava na costa oeste americana, li-a ás 10pm quando vivi em New York, li-a ás quartas feiras ás 3pm quando estive no Hawai, li-a na sexta feira às 10am quando estava em Hong Kong, Macau ou Shangai, li-a ao meio dia de sexta feira na Austrália, a cada sexta feira ás 3am quando estava em Lisboa ou ás 4am quando estive em qualquer cidade africana ou europeia, especialmente Madrid onde a li algumas vezes em voz alta para quem não gostava de futebol, mas conseguia sentir a sensibilidade e inteligência fora do normal nos textos da Leonor Pinhão.
Hoje é um dia triste para mim, porque morre um pedaço dum futebol e dum tipo de escrita futebolística que não existe mais em nenhum meio jornalístico.
Leonor Pinhão escreveu várias vezes sobre o seu avô e eu penso que cada vez que a lia sentia que escrevia para ele. Lá está o meu romantismo encarnado a vir ao de cima, mas mesmo que não escrevesse para ele, seguramente que escrevia influenciada por uma maneira de ser benfiquista que não se usa nas páginas dos jornais, em blogs ou em sites no ano de 2015.
Hoje morre um tipo de Benfica que os mais novos não conhecem e que não tem a ver apenas com as vitórias ou derrotas dum antigamente. Morre um Benfica de nível, morre um Benfica de bem, morre um Benfica de cultura.
Sim, o Benfica é de cultura e a Leonor Pinhão provou-o em cada linha que escrevia.
Como Carlos Miranda escreveu aquando da morte do seu pai Carlos Pinhão :
"Recordava no seu "Jogo de Ler" que havia escritores que convinha conhecer. Recordava que era bom ir ao teatro, que há filmes que não se podem perder."
Leonor Pinhão acha o mesmo e isso notava-se em muitos dos seus textos.
É com uma tristeza imensa que escrevo estas linhas e que vejo partir do meu jornal de referência a sua melhor escritora.
Leonor Pinhão acha o mesmo e isso notava-se em muitos dos seus textos.
É com uma tristeza imensa que escrevo estas linhas e que vejo partir do meu jornal de referência a sua melhor escritora.
E não deixa de ser irónico que esse lugar seja ocupado por uma mulher num denominado jogo de homens, escrito por homens e para homens.
Nada mais errado.
O futebol não é nem feminino nem masculino, como o ballet não é mais feminino que masculino.
O futebol e o Benfica são universais e foi essa universalidade que Leonor Pinhão levou todas as quintas feiras ás paginas do jornal A Bola como seu pai Carlos Pinhão levou antes dela.
É impossível não recuar até aos anos 70/80 onde o jornal "A Bola" era uma referencia da escrita de qualidade no panorama desportivo nacional e compará-lo com o que é hoje.
Para mim hoje "A Bola" é um site e ontem era um site com a Leonor Pinhão.
Os sites não têm alma, apesar de terem muita informação e a todas as horas.
Não é apenas uma escritora que sai dum jornal que tem um site, mas a saída da Leonor Pinhão do jornal "A Bola" mostra-nos e lembra-nos que tudo mudou.
Era ela realmente o ultimo bastião do Benfica romântico, o ultimo baluarte do Benfica elegante do antigamente. Odeio a palavra antigamente, mas faz sentido no que eram os textos e as sensibilidades linguísticas de Leonor Pinhão.
Hoje também para mim morre um pedaço grande do jornal "A Bola".
Para mim hoje morre o tal romantismo das grandes histórias do futebol de antigamente, que hoje são trocadas por boatos, rumores ou mentiras descaradas para aumentar os clicks.
Eu tive com a Leonor Pinhão várias vezes e nunca lhe falei dos seus textos no jornal "A Bola" nem sei se alguma vez lhe falarei.
Como os grandes escritores ou os grandes artistas é bom que se aproveitem ao vivo, nas páginas dum livro, dum jornal ou até mesmo dum PDF.
Eu sempre preferi a Leonor Pinhão das quintas feiras no jornal "A Bola" que a Leonor Pinhão de qualquer outro meio audiovisual ou a Leonor Pinhão intelectual com quem de quando em quando me cruzo com amigos comuns, pela simples razão que aquela era imortal, sensível, romântica e ainda não tinha a opção de diálogo, de comentários ou de likes.
O Benfica continuará para sempre, mas para mim hoje está muito mais pobre porque perde a ligação emocional com o jornal "A Bola" que apenas a Leonor Pinhão ainda preconizava.
O jornal "A Bola" é hoje apenas e só um site de futebol com o nome do maior projecto desportivo alguma vez criado neste país, onde a cultura, a elegância na escrita e a elevação são apenas traços históricos dum passado que não volta.
Obrigado a ti Leonor Pinhão.
Muito Obrigado. Gostei Muito. E adeus!
Força Benfica
6 comentários:
Boa noite,
Nasci em 1971. Subscrevo tudo. Ou melhor: exceptuando as diversas moradas e os amigos comuns, diria que poderia ter sido eu a escrever este texto, se tivesse talento para o fazer.
Aprendi a ler com A Bola. Aprendi a escrever com A Bola.
Esperava pela "camioneta" que a trazia às segundas, quintas e sábados! Às vezes vinha na das 11 horas e era uma festa. Outras vezes vinha na das 17 horas e era uma festa também. Quando vinha no dia seguinte...era um pesadelo.
Era um puto doente, diziam. Saía da papelaria com os olhos cravados no jornal e calcorreava, qual sonâmbulo, os 200 metros do largo da aldeia até casa, mergulhado nos sonhos Benfiquistas. A Bola foi a minha primeira namorada. Ainda hoje gosto dela e não me contento em vê-la só no écran. Já nao confio tanto nela, mas isso dava um livro que alguém devia escrever. Talvez a Leonor o faça um dia.
Obrigado ao Vitor Santos, ao Carlos Pinhão, ao Aurélio Márcio, ao Homero Serpa, ao Cruz dos Santos e a outros que me iniciaram na viagem.
Espero que os actuais e os vindouros saibam respeitar estas minhas memórias. E que escrevam respeitando a memória destes que referi, vivos ou mortos.
Temo que a Leonor tenta sido a última...
Bom dia ,
mais uma subscrição...:-)
Também sou de 71 , também já lia A Bola antes de ir para a escola , também diziam que
eu tinha uma doença e também para mim era uma emoção incrivel quando me chegava às mãos.
A diferença é que vivendo em Lisboa tinha o privilégio de ler a Bíblia logo de manhã. Quantas noitadas só acabavam quando os primeiros quiosques abriam....assim podia dormir descansado até tarde sem o receio de não encontrar-la.
Mais tarde , em Berlim, durante um ano assinei o jornal,ao início saía ainda só 3 vezes por semana, o de segunda chegava à quarta, o de quinta ao sábado....
Depois veio a net , o decréscimo de qualidade, etc, etc.
De alguns anos a esta parte , quando estou em Portugal, alterno A Bola com o Record, mas a edição das quintas era imperdivel devido à Leonor Pinhão!
Acabou-se uma época, felizmente li esta manhã que inicia a colaborar com o Record, optima notícia!
Acabou-se o alterne!
Calma que éssa piça vai escrever no RECORD
Pois eu sou de 66 e nasci e sempre vivi no norte e a a bola foi para mim isso tudo, foi lingua portuguesa, foi história (as celebres colunas "hoje jogo eu") foi geografia e foi obviamente uma escola de benfiquismo honesto, ganhador, conquistador e respeitador, principamente do adversário. Essa A Bola acabou e, pior ainda, não ha nada que a substitua. Sabe-se que Leonor Pinhão vai escrever no Record mas...o Record? meu deus a A Bola está a ficar sem um pingo de benfiquismo, restando apenas aquele aproveitador de expedientes de nome Seara. Mas o Record? Credo, Leonor, credo! estará a berrar o senhor teu pai, carlos inhão, l+a no Olimpo dos grandes jornalistas...
excelente texto
concordo em absoluto
assino por baixo os comentários
a bola já não é o que era
mas entretanto dedico algo ao portoença:
PORTOENÇA NÃO É O PRESIDENTE DE TODOS OS CLUBES
O SEU PASSADO, NÃO É IMACULADO ANTES PELO CONTRÁRIO
ELE SABE MUITO BEM COMO TRATOU O BENFICA NAS SUAS HABILIDOSAS ARBITRAGENS
MAS ELE PENSA QUE OS BENFIQUISTAS SÃO PARVOS ????????????????????????
PARVO É ELE SE PENSA QUE OS BENFIQUISTAS COMEM GELADOS COM A TESTA
NUNCA ESQUECEREMOS AS HABILIDOSAS ARBITRAGENS (?)
PORTO-BENFICA (DO PENALTY DO YEBDA)
BENFICA-PORTO (DO FORA DE JOGO DO MAICON)
BRAGA-BENFICA (DO PENALTI DE COSTAS )
BOAVISTA-BENFICA (DOS PENALTIS PERDOADOS AO BOAVISTA)
PENAFIEL-BENFICA (DOS PENALTIS PERDOADOS AO PENAFIEL)
NACIONAL-BENFICA ( DO GOLO DO NACIONAL EM FORA DE JOGO E DE TRÊS PENALTIS PERDOADOS AO NACIONAL)
PS- COMO É QUE SE PODE GABAR DE IMPARCIALIDADE
QUANDO TODOS RECORDAMOS A HISTÓRIA DA
POCINHA DE ÀGUA NUM SETÚBAL-PORTO
SE ESTE CAVALHEIRO TIVESSE VERGONHA NÃO SE CANDIDATAVA À LIGA
OU NESTE PRECISO MOMENTO ABANDONAVA O CARGO
MAS A SUA VAIDADE NÃO O VAI DEIXAR FAZER ISSO
PORTOENÇA A NÓS NÃO NOS ENGANAS TU,
MEU QUERIDO
O spray milagroso (assim se chamava a cronica) era uma das poucas páginas que me faziam ler a bola.A outra é a do palhaço do MST que às vezes malha forte no porto e no brunalgas. E a do dr mas pra me rir. de resto, nada!
Nos últimos tempos tem sido impressionante o anti benfiquismo desse jornal.
Já aqui li que no record é que não, que a Leonor arranjava melhor e mais não sei o quê.
pois digo-vos que últimamente perfiro ler, e até comprar o record. Estão muito mais isentos e analisam muito, mas muito melhor os jogos.
nA bola pensam que os benfiquistas já estão conquistados e que agora o que interessa é conquistar os lagartos, mas os meus noventa cêntimos já não mais levarão, agora sem a Leonor Pinhão.
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