sábado, 18 de outubro de 2008

Entrevista de António Lobo Antunes ao Jornal "A Bola" 18/10/08


António Lobo Antunes
O arquipélago do futebol

Admirável poeta de prosas, António Lobo Antunes acaba de publicar o 'Arquipélago da Insónia'. Gosta tanto de futebol — o futebol do desporto, não o da indústria — que alguém, um dia, lhe chamou o Eusébio das letras. «O Eusébio é responsável por algumas das minhas alegrias; António Lobo Antunes por algumas das minhas maiores chatices» — respondeu então. O único escritor português vivo nobelizável concedeu a A BOLA — seu jornal de sempre — uma tão surpreendente como fantástica entrevista.

Entrevista de Vítor Serpa

Trouxe comigo uma entrevista sua, dada ao Carlos Miranda, de há vinte anos. Uma entrevista notável...

— Tive esse privilégio. A BOLA sempre teve grandes jornalistas e uma grande preocupação cultural. O Miranda era um desses grandes jornalistas. É uma pena que as suas crónicas da Volta a França nunca tenham sido publicadas em livro. Aquelas crónicas com o Agostinho são admiráveis e olhe que este é um termo que eu uso muito poucas vezes...

— Lembra-se dessa entrevista?

— O Carlos Miranda fez-me várias entrevistas. Gostava muito dele, ele pedia e eu não conseguia dizer-lhe que não. Felizmente tive oportunidade de dizer ao Carlos Miranda que ele tinha uma espantosa qualidade literária. Ficava a olhar para mim, surpreendido. Era um homem que eu muito admirava.

— O Pinhão também falava muito consigo...

— Havia mais uma série de jornalistas de A BOLA que escreviam admiravelmente. O Carlos Pinhão, que eu conheci bem e outros que não conheci, mas que igualmente admirava. O Aurélio Márcio, O Homero Serpa...não sei, sequer, se era da sua família...

— Meu pai...

— Excelente qualidade literária. Escrevia muito bem. E mais. O Alfredo Farinha e, de uma geração mais recente, o Santos Neves.

— Já lia A BOLA, quando era jovem?

— Havia três jornais desportivos de que me lembro. A Bola, o Norte Desportivo e o Record. Eu, os meus irmãos e os meus amigos, sempre compramos A BOLA. As crónicas de futebol eram muito bem escritas. Não havia equivalente, nem mesmo na imprensa não desportiva. A BOLA tinha, além de tudo o mais, uma componente literária. Lembro-me bem do Ruy Belo publicar, na BOLA, poemas inéditos.

— Influência do Pinhão

— O Carlos Pinhão tinha uma extrema simpatia. Era uma pessoa quente. É uma pena que se deixem morrer estes nomes. Era importante manter na lembrança o Pinhão, o Homero, o Miranda...

A morte do Agostinho

— O Miranda ajudou muito a fazer do Agostinho um ídolo nacional...

— Quando o Agostinho teve o acidente foi o meu irmão que o operou. Tinha acabado de chegar da América. Foi o meu irmão que me disse que o Agostinho ia morrer. Ele tinha perdido muita substância cerebral. E lembro-me do Manuel Graça dizer: o país não está preparado para a morte do Agostinho.

— O seu irmão já conhecia o Joaquim Agostinho?

— Só o conheceu quando o Agostinho já estava em coma, mas tinha um grande respeito por ele.

— É curioso como perdurou, entre os portugueses, a lembrança do Joaquim Agostinho...

— O Agostinho tinha de ser um homem inteligente. Aliás, é como no futebol. É impossível haver um grande futebolista estúpido. Pode ter dificuldade de comunicação, ser limitado nessa capacidade de saber comunicar, mas estúpido, nunca. O Maradona, por exemplo. Tal como o Eusébio, pode ter dificuldades de expressão, mas é um homem inteligente. São pessoas que pensam rápido.

Xixi ao lado do Vicente

— Fale-me da sua primeira relação com o mundo do futebol...

— Quando era miúdo coleccionava os bonecos da bola. Conhecia todos os jogadores pelos bonecos. O Grazina, o grande Patalino, o José Pedro, do Lusitano de Évora, que era o clube dos ricos. O Ernesto, guarda-redes do Atlético. O Eloi, do Estoril.

— Via-os jogar?

— Alguns, sim, mas a maior parte deles conhecia-os só pela colecção dos bonecos da bola. Os do Porto. O Barrigana, o Monteiro da Costa, o Miguel Arcanjo. E do Sporting. Muito pequeno vi jogar o Azevedo. Depois, o grande Carlos Gomes.

— Noto-lhe a paixão com que fala desses jogadores. Como foi possível perder essa relação tão forte com o futebol?

— O futebol deixou de ser um desporto. Naquele tempo havia um deprimido debaixo dos paus e dez eufóricos a mandar brasa e, disso, eu gostava. Era impensável o Travassos ir para o Benfica, ou o Coluna ir para o Sporting e isso marcava-nos a todos. Faziam com que se amasse verdadeiramente os clubes. Lembro-me de tanta gente minha amiga do Belenenses que, naquela altura, tinha as célebres torres de Belém. O Capela. O Matateu, fantástico Matateu. O extraordinário Vicente. Que grande jogador! Um dia, era eu miúdo, de calções, e, num cinema, fiz xixi ao lado do Vicente. Inesquecível. Lembro-me de ter reparado como ele era um homem baixo e, no entanto, parecia sempre grandioso no campo.

Quando o futebol era desporto...

— Você é do Belenenses, eu sei, li no seu livro... [comentário de Lobo Antunes]

— Sou, mas, hoje, poucos acreditam que haja alguém do Belenenses. Não faz sentido para muita gente que não se seja de um clube grande... [resposta de Vítor Serpa]

— Mas naquele tempo havia muita gente do Belenenses. Como havia muita gente que era do Atlético, ou do Oriental. Ser, mas ser mesmo, ou seja, não ser também do Benfica ou do Sporting. [comentário de Lobo Antunes]

— O António Lobo Antunes é do Benfica...

— Eu sou do Benfica, mas ia ver, muitas vezes, o Belenenses ao Restelo. Tinha boas equipas e o estádio sempre foi lindíssimo. Não passava um fim de semana sem ir a um jogo de futebol. Adorava, apesar de apenas ter jogado hóquei no Benfica. Nunca futebol.

— O hóquei vai definhando, hoje em dia...

— E naquele tempo até os treinos enchiam os pavilhões. Havia aqueles relatos pela rádio. O Amadeu, o Artur Agostinho, que relatavam muito bem. Sempre estive ligado ao hóquei por causa do meu pai. Aliás, havia uma fotografia do meu pai, publicada nos jornais, nos campeonatos da Europa de 1936.

— O seu pai era adepto do futebol...

— O meu pai não ia ao campo ver o futebol, porque achava que dava azar. Era do Benfica, ficava em casa a ouvir os relatos e a fazer desenhos, até dar um salto quando o locutor gritava GOOOOLO. Naquela altura o futebol era um desporto. Agora vêm aqueles tipos todos, muito senhores de si, com aqueles novos termos da pressão alta, das diagonais, o losango. Não tem interesse nenhum.

— Foi uma mudança tão radical assim?

— E os treinadores? Quando eles começam a pedir paciência e muito trabalho. Agora, é uma indústria, não é desporto. Eu que sou sócio do Benfica desde pequenino, fui deixando, gradualmente, de ir ao futebol e ainda nem sequer entrei neste estádio novo do Benfica.

O Coluna era admirável

— Qual a equipa que mais o entusiasmou?

— Uma do Benfica, na minha adolescência. Inesquecível aquela equipa que venceu a primeira Taça dos Campeões. Sei todos os nomes de cor: Costa Pereira; Mário João, Germano e Ângelo, Neto e Cruz; José Augusto, Santana, Águas, Coluna e Cavém.

O Coluna era admirável. Que grande jogador. Fazia todo o meio campo num passinho curto e tinha uma autoridade natural sobre toda a equipa.

— Tinha paixão pelo Benfica...

— Havia, nesse tempo, um amor real pelos clubes. Acho que isso se começou a perder quando o Yaúca foi para o Benfica. Hoje, não há qualquer amor pelo clube. O Dinheiro comanda tudo e isso transforma o futebol para pior. Agora, quando perdem, o treinador avisa-os de que é preciso levantar a cabeça. Antes, os jogadores sofriam mesmo com as derrotas. Agora estão-se nas tintas.

— Acha, mesmo?

— Sabe o que eu acho, Vítor. A arte, no futebol, foi substituída pela eficácia. E isso, a prazo, mata o futebol. Ainda hoje estava a ler no seu jornal. Não interessa jogar mal ou bem, o que interessa é ganhar.

— Antigamente o futebol tinha mais arte?

— Lembro-me de uma linha avançada extraordinária do Vasco da Gama, tenho uma memória tão má que me lembro de tudo, e que eu vi quando tinha cinco ou seis anos. Era notável. Equipas para quem a grande finalidade era o prazer do jogo. Havia uma dimensão lúdica em tudo aquilo. Hoje, não há. Lembra-se do Didi, do incomparável Garrincha?...

Ronaldo? Prefiro o Águas

— Agora há o Cristiano Ronaldo...

— Quero que eu seja sincero? Não me dá prazer vê-lo jogar. Dava-me prazer ver o Coluna e o Zé Águas, esse sim, que foi dos jogadores mais elegantes que eu vi jogar.

— Outro tempo, futebol mais lento, mais desenhado...

— Não posso dizer como seriam os grandes jogadores de então a jogar agora.

— O Coluna continuaria a ser fantástico...

— E era tudo limpo. O Jesus Correia dizia que o doping dele era o arroz doce da mãe. Isso também é importante. A credibilidade do jogo.

— Quando começou a perder essa paixão?

— Começo a perder a paixão quando o Benfica começa a deixar de ser o Benfica. Ao contrário do FC Porto, fundado por banqueiros, ou do Sporting, fundado por um visconde, o Benfica foi fundado por casapianos. Teve um tipógrafo como presidente. Sempre foi um clube do povo e por isso se tornou tão grande.

— O Benfica não deixou de ser popular...

— Lá em Benfica, onde eu morava, as pessoas apanhavam bebedeiras quando ganhávamos. E lembro-me de colegas meus, do liceu, me dizerem: tu és do Benfica? Mas isso é um clube de gente pobre...

— Nesse tempo, os intelectuais não se interessavam por futebol...

— Essa história dos intelectuais não gostarem e não se interessarem pelo desporto é uma treta. O Niels Bohr, dinamarquês que foi prémio Nobel da física, jogou na selecção do seu país. O Camus foi um vigoroso guarda redes. É uma estupidez completa.

Os jogadores e as manequins

— Não me diga que não reconhece talento num Cristiano Ronaldo, ou num Figo?

— Admito que o Cristiano Ronaldo ou o Figo tenham, de facto, muito talento, mas não me interessa essa indústria na qual eles têm sucesso. Essa indústria em que os jogadores têm de casar com manequins, como acontecia no Real Madrid. Você, Vítor, ainda se lembra da dona Fernanda Coluna? então hoje não podia casar com um jogador de futebol?

— Outros tempos, reconheço...

— As pessoas estavam juntas no futebol. Lembro-me de estar nas bancadas do estádio da Luz e a meu lado estarem cegos. Ouviam o relato e sentiam o ambiente. Nessa altura, para mim, toda a gente com mais de trinta anos era velha, e eu via-os a chorar quando o Benfica perdia. As mulheres nos carros a fazerem croché e, sobretudo, não havia essa promiscuidade de interesses.

— E a selecção. Não sente a Selecção?

— Sou quase como o José Cardoso Pires. Ele dizia, não sou do Benfica, sou do Nené. Eu digo: não sou da Selecção, sou do Benfica.

— Mas também já não gosta tanto do Benfica...

— Sabe, gosto deste treinador. Do Quique Flores. Li umas coisas de que gostei.

— Sobrinho da grande Lola Flores...

— Mulher extraordinária.

— No Benfica actual só gosta do Quique Flores?

— Não. Gosto muito e admiro o Rui Costa. É inteligente, parece ter uma vida estável. E ainda por cima tem um amor muito grande ao clube.

O FC Porto e Pinto da Costa...

— O FC Porto roubou o comando ao Benfica...

— O FC Porto tem um problema. Tem sucesso e não consegue ter uma dimensão nacional. Continua a ser um clube regional, com sucesso. No entanto, reconheço que, para o bem ou para o mal, o presidente do FC Porto foi uma pessoa importante no clube e até no futebol português, nos últimos trinta anos.

— Não me diga que gostava que Pinto da Costa fosse presidente do Benfica?

— Se fosse para ganhar campeonatos não me importava nada...a sério, nesta fase do futebol, não me interessa do presidente, o que me interessava é que o Benfica não tivesse deixado de ser um clube de afectos.

— Mas nem na Selecção sente esses afectos...

— Uma vez perguntaram ao José Luís Borges o que ele pensava da Argentina ganhar à Holanda e o Borges respondeu: não me apetece nada ganhar ao Erasmos. É que não se trata, de facto, de Argentina ou de Portugal. São onze profissionais e, como eles dizem, é a selecção da montra.

Carlos Queirós e José Mourinho

— Não se sentiu empolgado pelo Euro 2004?

— Não. E neste último europeu nem vi jogo nenhum. Vi a final do Mundial 2006, que a Itália ganhou e jogou muito bem. Com muita inteligência. Foi um grande jogo.

— E dos treinadores portugueses, não gosta?

— Ao Jorge Jesus, por exemplo, acho uma certa graça. Ao professor Carlos Queirós acho menos.

— O Mourinho?

— Acho que não vai ter, em Itália, o sucesso que teve em Inglaterra. Não conheço o homem, gostava do pai dele, que foi guarda-redes do Vitória de Setúbal e do Belenenses, mas a ele acho-o muito arrogante.

— Faz parte da imagem...

— Não gosto de ver os treinadores como umas figuras distantes, que nem comem à mesa com os jogadores e que passam a vida a fazer treinos à porta fechada, para esconder a táctica. E também não gosto dos treinadores que passam a vida a falar naqueles termos que eu detesto, as linhas de passe, a pressão alta, os losangos. Posso parecer um velho saudosista a falar, mas, para mim, o futebol pelo qual tinha paixão era o do deprimido debaixo dos paus e dos dez eufóricos a correrem no campo e a mandarem brasa.

— Mas tem admiração por um grande jogador de futebol?

— Eu olho com o mesmo respeito para um grande jogador de futebol como olho para um grande escritor. Para mim são artistas que encheram de alegria a minha vida: Desde a infância.

— O que não gosta mais nos clubes de futebol?

— Aquelas claques organizadas. Acho-as horríveis... os nomes dos patrocinadores nas camisolas... e aquilo que ainda hoje li na BOLA, do campo de treinos do Benfica ser a Caixa Futebol Clube, ou lá como se chama aquilo.

— Sabia que para falar a um jornal o jogador tem de pedir autorização à direcção do clube?

— Porquê? Um jogador não tem liberdade de falar a quem quiser?

— Não, não tem...

— Não sabia que era assim. Não fazia ideia...Mas há alguma razão para ser assim?

— Os jogadores podem dizer algo que não interesse ao clube. As coisas são mais controladas...

— Quando o Ângelo chamou ao Costa Pereira «ladrão do meu dinheiro», todos os jornais trouxeram isso...

— Pois, mas hoje teria de pagar uma enorme multa...

— Por isso, antigamente, os jogos prolongavam-se por discussões na segunda feira. Era assim quando estava no Hospital. Hoje, de facto, já não vejo esse entusiasmo da discussão do futebol à segunda feira...

— Até porque há jogos quase todos os dias na semana...

— Mas cada vez menos gente nos estádios. Isso, eu sei.

Médico no futebol

— Quando estava na tropa, colocado no Hospital militar de Tomar, fui médico do União. O treinador era o Fernando Cabrita. Formavam a equipa com restos do Benfica, do Sporting e do FC Porto e eu sentava-me no banco. Era o Nascimento, que tinha sido guarda-redes do Belenenses, o Calado, o Totoi, o Barnabé. Eles estavam a jogar mal e o presidente dizia: dou mais quinhentos escudos a cada um. E o massagista, muito gordo, começava a correr pela linha lateral, com uma botija na mão, e gritava para o campo: mais quinhentos escudos, mais quinhentos escudos, e eles começavam todos a correr mais depressa.

Barrigana ...no plural

Aquela sua crónica sobre o Barrigana, ficou célebre...

— Foi quando estava na tropa, em Malange. Foi aí que eu vi o grande Barrigana, que estava em África a treinar miúdos. E os miúdos puxavam por ele e gritavam: vai Barrigana, anda Barrigana, e ele, muito sério, virava-se para os miúdos e dizia: vai Barrigana, não. No plural, se faz favor. Senhor Barrigana.

Ciclismo, livros e tourada

— Estava sempre a dizer ao Miranda que gostava de fazer uma Volta a Portugal...

— Está a tempo, A BOLA leva-o...

— Mas eu estou sempre a escrever. No Verão nunca posso. Agora, este livro que eu comecei em Fevereiro, não sei quando vai estar pronto...

— E esse livro está a correr bem?

— Um livro nunca está a correr bem...

— Li numa entrevista que o livro tem a tourada como tema.

— Não, não é nada disso. Não é sobre touradas. Eu nem gosto da tourada à portuguesa. Gosto da tourada à espanhola, embora não seja um aficionado. Mas gosto. Aquilo é trágico. Tem a majestade que a nossa não tem. Na nossa vão a correr, a correr, e pumba, espetam as bandarilhas no boi. No tempo do João Núncio não era assim, agora, aquilo, é um farró-bó-dó. Mas eu queria dar uma estrutura aquilo. O livro acaba com a morte do touro que é a morte da mãe. Trata-se de uma família... mas o ciclismo, estava a falar de ciclismo, ainda gosto imenso de ver as imagens da Volta à França.

— É uma corrida notável...

— Aquelas montanhas... O Marçal Grilo diz, e com razão, que ninguém sobe aquilo só a comer bifes...

As brasas do Ronaldo

« ...Vejo-as quando vou aos quiosques. Parecem todas desenhadas pelo Vilhena»
— Sabia que Cristiano Ronaldo pode vir a ser nomeado o melhor jogador do mundo?

— Não me interessa muito. Sei que é muito popular. Vejo nos quiosques as fotografias das brasas com que o Ronaldo namora. Parecem todas desenhadas pelo Vilhena.

— Tão curvilíneas, que parecem feitas em banda desenhada...

— É... e você, diga-me lá, quando joga a Selecção, ainda sente alguma coisa?

— Mesmo como jornalista, sinto. Gosto de ver a Selecção e quero que ganhe. Temos bons jogadores e há ali gente boa...

— Isso, eu admito que sim. Já o Miranda me dizia que o mais puro no futebol eram os jogadores.

— Às vezes um bocado manipulados...

— Mas isso também eu, às vezes, sou manipulado pelo editor. É inevitável. O Zé Cardoso Pires dizia que um escritor não podia ser amigo de um editor, porque os interesses são opostos.

— Mas o António Lobo Antunes tem estado em alta. O seu último livro, o Arquipélago da Insónia...

— Sim, está a ter uma grande procura e só foi posto à venda na última sexta feira.

— Era muito amigo do José Cardoso Pires?

- Uma amizade diária.

Cavalos que fazem sombra no mar

«Quando comecei o 'Arquipélago da Insónia' não tinha nada. E neste só tinha uma frase...»
— Deixe-me falar do seu novo livro...

— Não se pode falar de livros?

— Acha que não?

— Consegue falar do seu?

— Deixe-me desafiar, pelo menos, uma ideia que o Arquipélago da Insónia me suscitou. A ironia de dizer sempre que escreve muito devagar e do seu livro nos obrigar a um tempo rápido de leitura, para conseguirmos acompanhar a musicalidade das palavras...

— É curioso que sinta isso. Não lhe sei dizer. Sou incapaz de ler um livro meu depois de escrito. Não sei.

— Mas está cada vez mais distante, nos livros, das suas crónicas na Visão. É verdade que escreve crónicas por atacado?

— É tão diferente o que se escreve, num caso e noutro. Nas crónicas posso escrever catorze crónicas seguidas. Preciso de resolver assim o problema da mudança de ritmo. Por isso eu lhe dizia que, no seu caso, não deve ter sido nada fácil mudar de ritmo da escrita de jornal para a escrita do livro que publicou.

— Por isso são contos...

— Eu nunca escrevi contos, mas um conto não se faz numa noite. Será difícil, ainda assim...é muito difícil estar a escrever um livro, largar e escrever crónicas para jornais e voltar ao livro. Muito difícil.

— Não lhe aparece gente a falar-lhe mais das crónicas que dos livros?

— Aparece. Mas a minha dúvida é se muitos daqueles que me lêem na Visão vão depois ler os meus livros...

— Muitos, seguramente, sentir-se-ão tentados a fazê-lo...

— Mas é como a diferença entre uma piscina para crianças e uma piscina para adultos. Afinal, uma crónica para jornal, ou para uma revista, tem sempre pé...

— Este seu livro, o Arquipélago, é mesmo muito especial...

— Mas quando o comecei não tinha nada.

— E no novo?

— Este? tinha uma frase. Tenho um grupo que almoça às quintas feiras. Um professor da faculdade de letras, um oftalmologista, um editor e há também dois cantores, entre eles o Vitorino. Aqui há um ano estavam a cantar uma moda velha do século XIX, por alturas do Natal, uma moda do interior do país, gente que nunca vira o mar, e quando chega a altura de descrever os reis magos, o poeta, que não se sabe quem é, poeta anónimo, escreveu isto: que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? E isto ficou-me cá dentro. É de uma beleza que eu não resisti e pensei: vou chamar o livro assim. O título é grande de mais, mas é tão bonito que ficou assim.

Mais mortos que glóbulos

— E tão injusta a morte. Principalmente, a morte de quem a gente gosta. É muito dolorosa. O pior é que se chega a uma altura na vida em que temos mais mortos que glóbulos nas veias.

— Os amigos...cada vez menos...

— É. Às vezes eu esqueço-me da idade e digo em casa: lembras— te daquele rapaz da minha idade? E as minhas filhas, logo: rapaz...?

— Sei o que é isso. Também tenho duas filhas?

— Tem duas filhas? E os ciúmes que eu tenho dos namorados delas?...Você também tem?

— ...

— E já tem netos?

— Uma neta.

— Eu tenho um neto. Anda nas escolas do futebol. É a mãe que o leva, mas parece que corre muito atrás da bola...e eu pergunto-lhe: ouve lá, como é que se chama o teu treinador? E ele, muito sério: mister!

Força Benfica

O Benfica de António Lobo Antunes

Hoje a entrevista de António Lobo Antunes n' "A Bola" é emocionante. Eu gosto do Benfica de António Lobo Antunes porque é exactamente o meu Benfica - o Benfica da emoção, do amor à camisola, do futebol bonito e livre, da mística, da vitória.

Colocarei online toda a entrevista num post seguinte, porque sei que quem gosta do Benfica e sente o Benfica tem de se identificar com o que o grande escritor diz hoje nesta conversa com Vítor Serpa.

A razão principal que eu gosto do António Lobo Antunes é a sua escrita, mas admito que desde sempre soube que foi, é e será um grande Benfiquista o que me influenciou positivamente para a sua pessoa - aparte da escrita...

Recentemente tive oportunidade de pedir um autógrafo a António Lobo Antunes, num livro que tenho seu, e quando estava na fila pensei em pedir-lhe que me escrevesse uma frase sobre o Benfica na página branca que antecede o texto. Durante a minha estadia na fila, pensei que apesar de essa "dedicatória Benfiquista" representar mesmo o que eu desejava - uma frase do António Lobo Antunes num livro seu (mas meu) sobre o Benfica - tive receio que com tanta gente a solicitar autógrafos, esse pedido fosse um "abuso" e optei por não lhe pedir o que mais desejava. Depois de ler a entrevista dele e sabendo que o autógrafo num livro (como num disco) vale o que cada um quiser considerar como valorizável, decidi que tentarei ter a tal dedicatória do grande escritor Benfiquista num próximo autógrafo, num qualquer outro livro seu, para sempre me lembrar da sua ideia magnífica de Benfiquismo.

A entrevista que hoje concede ao jornal "A Bola" tem vários momentos de interesse mas também tem passagens tristes que merecem reflexão. Eu sempre vi o Benfica como um clube de cultura. Bem sei que é orgulhosamente um "clube do povo" e António Lobo Antunes reforça essa ideia da mesma maneira que reforça a ideia que obviamente os intelectuais também gostam de futebol e o Benfica sempre teve muitos adeptos incondicionais ligados às artes, à cultura, às ciências, à investigação. No entanto, consequência desta nova indústria do futebol mediatizado, procuram-se mais facilmente as novas caras das novelas, os novos ou velhos músicos mais mediatizados, alguns "Jet Set" mal amanhados (as) e oferecem-se bilhetes quase como que a pensar que essa oferta terá um efeito comercial num determinado público-alvo que assim mais facilmente irá ao estádio.

Eu paguei todos os bilhetes de todos os jogos no antigo e no novo Estádio da Luz (salvo uma ou outra excepção perfeitamente justificadas - até porque o cativo não engana), e não aceito que nenhum VIP ou não VIP utilize constantemente qualquer estatuto para de forma continuada ver jogos no Estádio da Luz - todos sabemos que há vários exemplos destes no passado recente Benfiquista. Para mim, estes exemplos são inaceitáveis. Não admito que se convidem continuamente VIPs ou "pretensos" VIPs que na maioria dos casos utilizam o Benfiquismo para sua promoção, nem sequer são sócios do clube e provavelmente nem sabem quanto custa um bilhete para um jogo - quanto mais um bilhete de época. Declaro que não tenho nada contra as promoções, contra um ou outro bilhete que se ofereça a um ou outro Benfiquista destacado mas sinceramente tenho a ideia "antiga" e quase "religiosa" de pagar ao Benfica todo e qualquer bilhete, quota ou cativo. Obviamente...

Isto a propósito de algo que me chocou na entrevista - António Lobo Antunes ainda não foi ao novo Estádio da Luz.

Obviamente que o escritor não precisa de qualquer convite para aí se deslocar e se nunca lá foi é obviamente consequência do enorme desencanto que tem vindo a crescer sobre toda a indústria do futebol e também dos resultados recentes Benfiquistas. Penso que alguém (que pode e deve ser Rui Costa ou em última análise o próprio Luis Filipe Vieira) deve fazer algo formal e provavelmente com carácter Institucional para que António Lobo Antunes volte a fazer parte da mobília do Estádio da Luz porque faz mesmo falta. O timing é bom porque parece que António Lobo Antunes (tal como eu) vê em Quique Flores e em Rui Costa uma lufada de ar fresco que pode ser determinante para a sua primeira visita ao novo Estádio da Luz. É mesmo importante ter o António Lobo Antunes no nosso estádio. Este e todos os Antónios Lobos Antunes que estão espalhados nos 4 cantos do país - para não dizer do mundo. Fazem falta porque eles representam também este novo Benfica - não o Benfica de passado mas o Benfica de futuro.

Um Benfica de futuro tem de saber ler as entrelinhas da entrevista de António Lobo Antunes. Este é o Benfica que nos foi passado pelos avós, pais, tios, amigos e que terá necessariamente ser o Benfica de futuro. Eu sou dos que apoio todo o tipo de modernidade que possa trazer mais receitas, mais criatividade na abordagem a essas mesmas receitas, dum marketing evoluído que permita a quem está em qualquer parte do mundo possa aceder pela internet ou pelo telefone móvel ao jogo ou a conteúdos exclusivos, sou a favor dum Benfica virado para as novas gerações falando a sua linguagem, sou a favor dum Benfica ecléctico e mais competitivo nesse ecletismo, sou a favor dum Benfica social e cultural e não apenas desportivo. A Mística que vem à baila, muitas e muitas vezes estará presente no futuro se soubermos ler o passado. E o passado aprende-se com quem o viveu nas bancadas frias e duras do antigo Estádio para que possamos revivê-las nas bancadas quentes e confortáveis do novo Estádio da Luz.

Quero muito ser campeão este ano, mas também é importante ver o grande António Lobo Antunes na bancada dum dos próximos jogos, porque isso significa que recuperaríamos um desanimado e sabíamos apontar as verdadeiras baterias para o presente/futuro da Mística do Glorioso.

Força Benfica

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Senhor empresário, quem manda aqui somos nós!

Li hoje n' "A Bola" afirmações do empresário de Cardozo que me deixaram estupefacto. Diz o senhor Pedro Aldave que "apesar de ser feliz no Benfica, se as condições do contrato não melhorarem, se calhar é melhor o Cardozo mudar-se".

Também li esta semana no mesmo jornal que Rui Costa pensa em renovar o contrato de Cardozo e de Nuno Gomes - que termina em Junho 2009. Nesse dia não entendi o porquê da renovação de Cardozo e obviamente que aplaudo a renovação de Nuno Gomes pela simples razão que numa altura da carreira os jogadores passam a ser símbolos e se temos um dos nossos símbolos recentes há anos e anos no estaleiro - Mantorras - quem é que pode ter dúvidas na renovação do nosso único avançado da selecção nacional com 150 golos marcados ao serviço do Benfica?

O que me surpreende é a urgência na renovação do contrato do Cardozo. Pelos vistos o atleta tem contrato até Junho de 2012 e tem uma cláusula de rescisão de 50 milhões de euros. Fantástico contrato. O jogador quer ser aumentado. Eu acrescento que todos os jogadores num determinado momento do contrato querem ser aumentados e os clubes nalguns casos devem ter isso em consideração. Uma das vezes em que se deve rever o contrato é porque queremos aumentar a cláusula de rescisão e blindar o jogador de propostas mais tentadoras. Neste caso, isso não se verifica porque com uma cláusula de 50 milhões de euros, o Benfica não tem neste momento interesse ou urgência em aumentá-la.

Então a quem serve a renovação de Cardozo e com que objectivos se fala duma renovação de contrato depois de 16 meses no Benfica e com mais outros 44 meses até ao final do contrato? Só interessa ao jogador e ao seu empresário. A mais ninguém...

Estas frases ameaçadoras próprias de empresários muito manhosos (sim manhoso é a palavra certa) são na minha opinião autênticas bombas que se enviam para a cabeça do jogador primeiro, para a direcção em seguida e para o restante plantel por último. Existem neste momento jogadores com contratos que acabam antes de 2012, com cláusulas muito mas reduzidas e que não têm propostas de renovação. Que pensarão eles da renovação de Cardozo , sabendo que faltam 3 anos e meio até ao final desse contrato? Então o que realmente quer este empresário? O mesmo empresário que disse que se o Cardozo fosse Brasileiro, Espanhol ou Argentino não teria sido castigado por Quique Flores. Mas quem é que este senhor pensa que é? Não há ninguém que peça uma reunião com este senhor e lhe ensine que quem manda no Benfica não é ele? Não há ninguém que lhe diga que o silêncio dos empresários para com a imprensa deve ser uma regra de ouro, especialmente se os seus jogadores tiverem contratos longos por cumprir com cláusulas de rescisão acordadas por ambas as partes?

Se Cardozo e o senhor empresário aceitaram receber por mês um valor x, uns prémios de jogo por valor y e uma cláusula de rescisão de valor z (por acaso esta sabemos que é de 50 milhões) porque razão agora diz ele que "apesar de ser feliz no Benfica, se as condições do contrato não melhorarem, se calhar é melhor o Cardozo mudar-se". Mas mudar-se para onde? Quando? Quem pagará a cláusula?

É fundamental ser forte com esta gente e mostrar coragem, ensinando-lhes olhos nos olhos que quem manda e quem decide as renovações dos jogadores do Benfica é o seu director desportivo, nos timings que bem entender.

Não podemos aceitar pressões de ninguém - pais, amigos, empresários, etc... - sob pena de ficarmos reféns da manhosice desta gente sem escrúpulos.

Conheço bem este tipo de pessoas e sei bem o que pretendem. Espero que o Rui Costa consiga ter mão neste tipo de gente porque o nível é tão baixo que será complicado para Rui Costa descer abaixo da sua média. O mais fácil é falar de cima e esperar que a ralé oiça e entenda que quem tem a faca e o queijo na mão somos nós. E isto pode ser explicado sem gritos e a falar devagarinho, porque além de manhoso este senhor já revelou que é pouco inteligente. Assim devagarinho, pode ser que entenda o essencial - "Esteja caladinho e quando quiser falar sobre o que quer que seja relacionado com o seu jogador, o número do meu telemóvel é..."

Eu não sei quanto Cardozo ganha e até admito que possa ganhar menos do que merece ganhar - duvido que ganhe mal porque com uma cláusula de 50 milhões de euros, mal não ganhará... Admitindo que pode e deve ser aumentado e que estrategicamente o Benfica vai aumentá-lo, o que não pode acontecer é ser no timing do empresário ou que o jogador use as birras e os maus humores para ser aumentado consoante o seu timing.

Quem manda no Benfica somos nós. Neste caso o Rui Costa e a direcção. Nunca um Paraguaio aqui mandou e não será este o primeiro - nada contra os Paraguaios, mas desta laia, sinto que pouca falta cá fazem...

Força Benfica e Força Cardozo, onde mais de ti precisamos - no campo...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Precisa-se Fato de Macaco

Faltou tudo a este Benfica hoje, mas o que mais me preocupou foi a apatia geral da nossa equipa. Sinto que há jogos que o Benfica nunca entra, e este foi um deles. O resultado foi-nos favorável, porque se alguém merecia ganhar o jogo, não seríamos nós seguramente. Quase que com alguma luta e felicidade conseguimos alcançar o objectivo da vitória, mas seria obviamente uma vitória injusta.

O que alguém tem de entender rapidamente (espero que Quique e sua equipa técnica) é porque voltamos constantemente a desequilibrar o que parece equilibrado. Com o Paços de Ferreira tivemos atitude, raça, força e mesmo que o resultado fosse 4-4, não teríamos dúvidas da vontade de ganhar da equipa. Pensava que com Quique, jogos como este de Matosinhos tinham terminado, mas pelos vistos ainda falta algum trabalho neste particular. Hoje pareciam depressivos, tristes, sem nenhum tipo de "ganas" de ali estar. Parece que qualquer um daqueles jogadores esperava o apito final como uma salvação para poderem ir para junto das famílias ou para ver/fazer qualquer coisa mais interessante que estar a jogar com a camisola do Glorioso.

Isto mudará. Não tenho dúvidas que tem de mudar, porque o Benfica hoje, voltou a ser igual ao de Chalana, de Fernando Santos e de mais outros que têm passado por aqui nos últimos anos. Voltámos a estar dormentes, sem a mínima noção da importância e de respeito pelo nosso clube. É passageiro, seguramente.

Teria sido bom que se safasse o resultado, porque assim poderíamos aprender e tirar ilações com 3 pontos no saco, mas isso não foi possível pela simples razão que por vezes, ainda há justiça no futebol. Pena, porque ficámos sem três pontos na recta final da partida.

Era muito, muito importante que se tivessem ganho os três pontos hoje e eu próprio tenho referido que neste momento em que a equipa cresce (hoje nem cresceu, nem evolui, e até parece que regrediu) o resultado será sempre o mais importante. As exibições boas chegarão com o tempo e agora será importante prevalecer o resultado. Apesar de tudo, ganhámos 1 ponto a uma equipa que há quinta jornada só perdeu 1 jogo. Para a próxima jornada prestará vassalagem nas Antas e perderá o segundo, porque no futebol há coisas que nunca mudam. Ou talvez não... Veremos.

Perdemos uma oportunidade de ouro para irmos descansar na pausa de selecções com o primeiro lugar da Liga, mas temos que ser pacientes e sentir que tendo em conta o cenário trágico que se apoderou do nosso inicio de época, estar dois pontos atrás do FCPorto não é nada de embaraçoso, nem que nos possamos envergonhar.

Mas uma coisa torna-se imediatamente clara a quem entende minimamente de futebol. Se continuarmos com esta atitude nos jogos fora, (especialmente nos jogos em campos que não se assemelham a uma Liga Europeia) o Benfica não ganhará muitos desses jogos decisivos. Como eu sou dos que acredito que tudo se aprende e a evolução faz parte do ser Humano, espero que todos entendam que nestes campos que mais parecem da segunda divisão Turca se perdem e ganham campeonatos e que sem fato de macaco a vitória não aparecerá em nenhum destes campos...

Será tudo melhor se alguém convencer a equipa a puxar do fato de macaco. O fato de gala tem de estar guardado para palcos maiores e melhores, como o Estádio da Luz.

Apesar de tudo, safou-se o resultado.

Força Benfica

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Orgulho neste Benfica

O Benfica mostrou hoje porque temos razões para acreditar neste plantel. Como pedimos, a equipa hoje mostrou atitude, foi coesa, combativa, mostrou garra e foi acima de tudo eficaz. Marcámos quando tínhamos de marcar e decidimos quando tínhamos que decidir.

Sempre tenho defendido a paciência e o acreditar no trabalho de toda esta equipa técnica, plantel e direcção desportiva liderada por Rui Costa, mas hoje é dia de dizer bem alto que temos Orgulho neste novo Benfica. Um orgulho grande porque começa a ser finalmente uma equipa de acordo com os pergaminhos do Benfica.

Penso no entanto, que vamos ter muitas dificuldades esta época, muitas desilusões, mas também muitas alegrias e muita esperança num futuro que tem nesta semana decisiva a primeira semana "à Benfica" de muitas que se seguirão.

Não consigo pensar em nenhuma outra palavra que descreva melhor o que sinto pelo trabalho que Quique e seus pares têm desenvolvido no Benfica como a que utilizo no título deste post - Orgulho.

Não podemos agora pedir muito mais que disciplina e motivação para ganhar ao Leixões. Esta época é, e vai continuar a ser a época zero de muitas outras, onde a palavra Vitória será uma constante.

Não podemos ter dúvidas disso...

Forca Benfica

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Há Maldição Italiana?

O Benfica dá-se mal com equipas italianas. Assim diz a estatística, mas a estatística também diz que nem sempre foi assim. A verdade é que nos últimos anos o Benfica tem se dado mal com muitas equipas Italianas, bem como com muitas outras de muitos outros campeonatos distintos – a última malapata é que não conseguimos ganhar a equipas Espanholas.

Para mim toda esta questão de ter azares mal resolvidos com equipas Italianas ou Espanholas tem a ver com a atitude com que se defrontam estas equipas. Nem mais nem menos que a atitude que temos perante cada um destes desafios.

Fala-se muito no projecto Europeu deste novo Benfica e eu sou dos que defendo que este projecto é o que vai marcar positivamente ou negativamente o Benfica dos próximos 10 anos. Sabemos que temos anos estratégicos muito importantes – pagamento integral do Estádio e consequente alívio nas prestações do project finance; rendas e quotas colocadas em prol do Benfica e não reféns desse mesmo project finance do Estádio; diminuição natural de algum do nosso passivo; aumento das receitas publicitárias; criação do Benfica TV e consequentes receitas associadas; maior número de sócios e aumento de receitas de bilheteira – que podem criar condições para que o Benfica volte à alta roda do futebol Europeu e de forma continuada nos anos que se seguem.

Tenho defendido que esta época a prioridade tem de ser o campeonato. Digo-o desde Maio e não retiro uma única palavra a esta ideia base do Benfica 08/09. Parece-me natural depois da miserável temporada passada. No entanto, apostar tudo no campeonato não pode significar deixar todas as outras competições para trás. A Taça Uefa deste ano, pelo menos o apuramento para a primeira fase de grupos, é algo que estava intrinsecamente ligado a esta época pela razão simples de que ao Benfica (como principal cabeça de série) iria sair em sorte uma equipa bastante inferior à nossa. A verdade é que saiu o Nápoles, segundo classificado do campeonato Italiano e que vem jogar ao estádio da Luz com uma vantagem de 3-2, muito importante por três razões essenciais, que são:

- O Benfica não ganha a equipas Italianas há muitos, muitos anos (são quase 25 anos sem eliminar Italianos)
- O Benfica só por uma vez conseguiu recuperar este resultado, virando-o e ganhando 2-0 ao Estrela Vermelha de Belgrado, passando a eliminatória com um saldo de 4-3 a nosso favor.
- O Benfica tem 5 jogadores pseudo-titulares castigados e lesionados.

Como sabemos, as estatísticas no Futebol valem a exacta importância que as equipas lhe querem dar. Se o Benfica na quinta-feira entrar a pensar que a estatística joga contra nós a atitude pode ser negativa e muito dificilmente passamos este eliminatória. Se pelo contrário os jogadores entrarem com bom espírito, com boa atitude, com positivismo e virando os pontos fracos em pontos fortes, o Benfica vai ganhar ao Nápoles.

Não interessa chorar antes dos jogos – e na verdade nem depois deles – nem tão pouco inventar desculpas antes de se iniciar a partida. Vejo alguns rostos apreensivos com as lesões e castigos que nos retiram seguramente David Luiz, Cardozo e Suazo e aparentemente Aimar deste importantíssimo jogo Europeu. Eu não vejo o Benfica deste ano dependente de dois ou três jogadores, mas vejo o Benfica deste ano mais junto, mais coeso e muito mais solidário. Vejo uma equipa combativa, simultaneamente nobre, com uma vontade de fazer bem, mesmo que muitas vezes ainda não o consiga e muito diferente de qualquer outra de anos recentes. Também, vejo uma equipa muito motivada depois do resultado contra Sporting, da mesma maneira que vejo com apreensão que com 34.000 bilhetes vendidos a dois dias do jogo, não haverá seguramente “casa esgotada”, o que muito me entristece.

Quando um clube como o Benfica, com quase 200.000 sócios não consegue esgotar o Estádio da Luz num jogo de extrema importância como este, algo vai mal no universo Benfiquista – ou na crise que abala Portugal e Mundo?

Também não vale a pena chorar sob este facto, mas é bom que se avalie as razões pelas quais o Benfica ainda está divorciado do grande público, para que nesta próxima década se possa resolver este importante tópico aumentando as receitas que nos permitirão crescer como equipa e como clube. Isso são outras conversas...

Temos que estar preparados para todos os resultados e assumi-los como parte do futebol. A derrota não será algo desastroso nem deverá ter repercussões dramáticas no plantel, na equipa técnica ou na direcção desportiva. Sabemos da importância desportiva e financeira deste resultado, como também sabemos que o tal Benfica Europeu deveria crescer este ano “rodando” o que pudesse rodar para dar minutos e experiência a uma equipa que ainda está em crescimento. Isso é o que desejamos e é isso que seguramente vai acontecer, mas temos que estar preparados para tudo, pois preparados para todos os cenários, mais facilmente chegamos aos nossos maiores objectivos.

Acredito, como sempre, e combato a estatística do “contra” afirmando que esta nossa equipa não perdeu em casa nenhum jogo – apesar dos empates com Inter e FCPorto – e sei que quinta-feira isso também não acontecerá. Sei que os místicos da estatística vão querer agoirar tudo o que pode mexer essas águas turvas da sorte e azar, mas também sei que os nossos jogadores não são dados a “místicismos baratos”, mas sim mais preocupados em recuperar a Mística de outros tempos. O Benfica é uma grande equipa e vai prová-lo contra o Nápoles. Se infelizmente algo contrário a este desejo acontecer, é porque os Italianos foram superiores a nós, merecendo passar a eliminatória – e aqui estarei para aplaudir e esperar que contra o Leixões o resultado não se repita.

É a única forma possível de ajudar este nosso Benfica a continuar o grande objectivo da época – a conquista do campeonato.

Força Benfica

domingo, 28 de setembro de 2008

Quique 2 - Bento 0

Hoje é um dia importante na época 08/09. Tenho aqui falado de paciência e da necessidade em acreditar nesta equipa técnica, neste plantel e neste novo projecto Benfiquista. Alguns dos nossos caros colegas consócios ou simpatizantes Benfiquistas têm colocado algumas questões (uma mais pertinentes que outras) sobre a maneira como a época foi preparada. Neste aspecto, é fácil de entender que a pré-época teve erros de timing próprios de projectos que arrancam do zero e sobre isto estamos conversados. Obviamente que esses erros foram cometidos e alguém terá que aprender com esses erros. Já passou...

Para quem tinha dúvidas, a equipa hoje deu uma resposta de humildade, de força e de coesão como há muito não víamos no nosso plantel profissional de futebol e Quique Flores deu mais uma lição a Paulo Bento, depois da resposta exemplar na conferência de imprensa anterior ao jogo.

Quando tudo corre bem é fácil dizer bem e quando tudo corre mal é fácil dizer mal. Hoje tudo correu bem e temos que aplaudir quem arriscou e quem planificou tudo a pensar que as apostas arriscadas iam mesmo correr bem.

Fiquei contente por ver seis jogadores Portugueses na equipa titular, contente com a aposta na juventude que Quique preconizou e mais contente fiquei por sentir que a equipa focou a importância da exibição no resultado, sendo inteligente e experiente na prossecução e obtenção desse objectivo maior – A Vitória.

Na próxima quinta-feira jogamos o jogo mais importante da época (até ver) e como já disse antes, seria bom que o ambiente no Estádio da Luz fosse ainda mais caloroso e mais esgotado que os 60 000 adeptos que hoje se deslocaram à catedral.

O Benfica está a crescer e não será uma hipotética derrota que retirá mérito a um trabalho que está a começar a dar pequenos resultados, mas se conseguirmos ganhar (como esperamos todos), alcançamos algo mais importante que é a conquista de uma tranquilidade no imediato , que terá frutos desportivos e financeiros durante toda a restante época.

Peço deste meu singelo cantinho blogosférico, que uma vez mais a equipa tenha coração e coesão porque sem Suazo, Cardozo e Makukula, teremos mais dificuldades em chegar ao grande objectivo da vitória, só possível com uma entreajuda própria das grandes equipas. Com atitude igual à que tivemos hoje, e que na minha opinião vimos manifestando na maioria dos jogos desta época, o Benfica pode arriscar ganhar todos os jogos – como aliás é apanágio da nossa História.

Celebremos a vitória contra o Grande Rival, mas não podemos esquecer que a semana ainda agora começa – falta ganhar a Nápoles e a Leixões para termos lugar na fase de grupos da Uefa e para tentar assegurar desde já a liderança do campeonato nacional.

Por ora, um contentamento enorme que não pode ofuscar o grande objectivo da semana - Ganhar ao Nápoles. Viva o Benfica!

Força Benfica