quinta-feira, 11 de junho de 2009

A Mística com sotaque latino-americano



Há uns dias e a propósito dum texto que escrevi aqui sobre a Verdadeira Mística Benfiquista, tive na caixa de comentários um link com um texto sobre Mozer.

Mozer foi o meu herói de sempre no Benfica e foi com ele que aprendi realmente o que significa a palavra Mística. Não é muito normal que seja um defesa a mostrar e a entusiasmar um jovem Benfiquista como eu, mas a verdade é que ele foi obviamente o meu maior ídolo num determinado momento. Eu era, como se denomina na gíria, um fã incondicional de Mozer - com recortes nos cadernos, poster's e colecção de fotos - e se me perguntassem nessa altura que outros símbolos do Benfica seguiam Mozer, a resposta era clara - Valdo e Ricardo Gomes.

Mozer esteve 8 épocas no Flamengo e teve apenas dois anos no Benfica antes de se transferir para Marselha, onde jogou três anos. Voltou ao Benfica depois da sua passagem Francesa onde ficou mais três épocas, apesar de na minha opinião sem o brilhantismo daquelas duas fantásticas temporadas entre 87 e 89.

Quando Mozer se transfere para Marselha pela extravagante quantia de 500 mil contos - algo como 2,5 milhões de Euros - tomei contacto pela primeira vez com a questão materialista de que os jogadores valem dinheiro e que o futebol é uma industria, muito mais que um belo jogo colectivo.

Fiquei triste mas lembro-me duma frase que alguém disse e que se repete cada ano em cada clube - "Não há insubstituíveis" - que de alguma maneira me fez ter esperança que alguém pudesse fazer melhor que Mozer ou pelo menos igualá-lo. É basicamente o mesmo que os adeptos do Manchester estão a pensar agora com a transferência de Ronaldo para o Real Madrid. Não há insubstituíveis e esse dinheiro - 94 milhões de Euros - deve amortizar a perca de Cristiano e devem chegar para substitui-lo à altura.

Voltando ao texto do link que estava na caixa de comentários e tendo como pano de fundo a Mística que tanto venho apregoando nos últimos tempos, resolvo transcrever esse texto do blog Bafica - http://bafica.blogspot.com/ - para que entendamos o que para Mozer significava o Benfica, a sua Mística e o célebre velho Estádio da Luz.

"É preciso sair do país para enxergar o prestigio e o tamanhão do Benfica em todo o mundo. Estive três anos em França, no Marselha, joguei num estádio fantástico, o vélodrome, convivi com grande jogadores como Papin e Waddle, mas o Benfica estará sempre no meu pensamento.Os meus companheiros de equipa não percebiam muito o meu entusiasmo pelo clube, já que sabiam pouco do futebol português, embora reconhecendo o tremendo historial do Benfica.Durante os primeiros tempos tive de aturar os comentários de Papin, logo desde o inicio, sempre que jogávamos em casa.Uns dias antes de cada jogo, o Papin chegava para mim e me dizia: "Mozer, vais ver o que é um estádio cheio e um ambiente terrível." Terrível para os outros. Não sei se o se o Papin dizia isso para me intimidar, já que era novo no clube e não percebia muito daquela conversa. Mas para mim, sempre pensava: "Este cara precisava de jogar no Maracanâ ou no estádio da Luz, cheios." Era o que eu pensava.Até que, na taça dos campeões, nas meias-finais, o Benfica calhou no caminho do Marselha. Fiquei, ao início, desgostoso, porque ia defrontar o meu Benfica, o clube que os meus companheiros sabiam que eu adorava. Me lembro de Sauzée, o meu zagueiro do lado me ter perguntado: "Você vai estar e condições de jogar contra o Benfica?" Aí, senti que beliscavam o meu profissionalismo. Nos dois, jogos joguei a duzentos por cento.Depois do primeiro jogo, em Marselha, uns dias antes de jogarmos na Luz, virei para o Papin e lhe perguntei: " Papin, você quer mesmo ver o que é um estádio cheio, com 120 mil a gritar todos para o mesmo lado?" Engraçada a reacção do Papin: "Você, está querendo me meter medo, Mozer?" Não estava não e por isso lhe disse para esperar para ver. E já agora, tremer. Pois bem, chegou o dia, chegámos no estádio da Luz e fomos logo indo para os balneários. Muitos risos, muita convicção de que íamos jogar a final da Copa dos Campeões. Lembro até que Tapie disse aos jornalistas franceses que lhe podiam chamar de Bernardette se o Marselha perdesse a eliminatória.Antes de subirmos ao relvado, para o aquecimento, Papin ainda troçou de mim, dizendo que estava já "tremendo de medo". E ria-se bastante.Os jogadores foram saindo do balneário e eu atrasei um pouco, porque estava colocando uma ligadura no tornozelo. Quando cheguei perto do túnel de acesso ao estádio, começo a ver os meus companheiros, completamente assustados e todos do lado de dentro, não querendo entrar. Só depois percebi que, nessa altura o Eusébio foi chamado ao relvado para receber uma homenagem e foi aí que o estádio quase vinha abaixo. Logo no momento em que os meus companheiros do Marselha se preparavam para entrar. Claro que voltaram atrás assustados e me perguntado: "O que era aquilo?". Aquilo respondi eu, é o INFERNO DA LUZ. Aí todos me começaram a me dizer para ser eu o primeiro a avançar, subi as escadas, entrei no relvado, não fui mal recebido e quando olhei para trás, estava sozinho. Espreitando, à saída da escadaria estavam alguns dos meus companheiros do Marselha, ainda com um olhar de medo e só nessa altura começaram a entrar. No regresso as cabinas, perguntei a Papin: "Já sabes agora o que é um estádio cheio e um grande ambiente?" A resposta, nunca mais a esqueci: "Mozer, nunca vi uma coisa destas. Tudo isto é incrível. Sempre tiveste razão, o Benfica é ENORME!" Naquela noite, o Marselha perdeu, fiquei triste mas senti orgulho pelo Benfica. E já agora, naquele balneário, fui o único a ter uma vitória. Foi uma vitória moral, sobre aqueles que não acreditavam na grandeza do Benfica."

Este emocionante texto de Mozer, mostra o que é interiorizar e sentir o Benfica para sempre, mesmo que nem sempre tenham sido Benfiquistas. Ricardo Gomes e Valdo foram exemplos que como Mozer foram e voltaram mantendo sempre o Benfica no coração. Ambos estiveram três épocas no Benfica, foram vendidos ao Paris Saint Germain, onde estiveram 4 épocas e voltaram depois para o Benfica onde ficaram uma (Ricardo Gomes) e duas épocas (Valdo).

Estes três exemplos de Benfiquismo e de Mística com sotaque - os três perfazem 14 épocas no Benfica - mostram que nem só de Portugueses vive esta Mística e sobre este tema outro comentário de Captain Kid noutro texto afirmava que "entre um estrangeiro e um Português Portista não há grandes diferenças". É verdade, mas o que teremos que conquistar são os estrangeiros Benfiquistas ou pelo menos, estrangeiros com aspirações a ganhar e a lutar pelo Benfica como se o sentissem desde pequenos.

A nossa formação e as ideias de Rui Costa expostas hoje n"A Bola" são claras e para ele o mercado sul-americano é uma prioridade por razões que se prendem com a adaptabilidade ao nosso futebol. Diz ele que:

"O que verdadeiramente temos é preferência por bons jogadores, independentemente do mercado onde actuem, mas é evidente que os jogadores sul-americanos têm demonstrado uma melhor capacidade de adaptação ao campeonato português."

Rui Costa foi emprestado ao Fafe e faz dessa experiência um modelo que para ele pode ser importante para fazer crescer jovens talentos. Eu tenho opinião contrária, porque Messi, Ronaldo, Bojan, Raul e muitos outros nunca precisaram de ser emprestados para mostrar o seu valor e crescer futebolisticamente. No entanto respeito na totalidade as suas afirmações. Diz Rui Costa que:

"Um dos meus objectivos é obter o melhor rendimento dos jovens da formação, mas isso não significa precipitar a entrada de jovens no nosso escalão principal só para dizer que o fizemos ou para que isso seja contabilizado a nível estatístico. Vamos fazê-lo quando sentirmos que estão preparados, e o Miguel Vítor este ano é um claro exemplo do caminho que queremos percorrer. Estamos a desenvolver um óptimo trabalho de base que começa a dar os seus frutos, ainda ontem conquistamos, ao fim de vinte anos, o Campeonato Nacional de Iniciados, e temos boas hipóteses de ganhar os títulos de Juvenis e Juniores. O centro de estágio foi, desse ponto de vista, uma obra fundamental para a consolidação da formação!
"

O Benfica tem vários jogadores jovens, alguns deles nacionais e outros de vários pontos do globo. Temos Fábio Coentrão a brilhar em Toulon e a ser colocado por alguma imprensa nacional "pouco credível" na órbita do negócio Jesus, temos Adu na selecção Americana sénior a disputar a Taça Confederações, temos Miguel Vitor implantado no plantel do Benfica, temos Urreta, (Uruguai) Di Maria (Argentino), Filipe Bastos, David Luiz e Sidnei (Brasileiros) e alguns outros jovens estrangeiros e nacionais na formação Benfiquista.

Há uns dias disse sobre Patric que me parecia que as afirmações deste jovem jogador já mostravam sinais de raça e de Mística diferentes de outros Benfiquistas com sotaque que por aqui têm passado nos últimos anos. Pois bem, aplaudi Patric e critico Ramires porque disse ao site sambafoot que:

"Vou para Portugal com a intenção de realizar uma boa temporada e sair depois para outro grande clube europeu". Mais adiantou que:

"Para ser sincero, conheço pouco do campeonato português. É muito difícil segui-lo a partir do Brasil. De tempos a tempos, podemos ver um pouco dos resumos e dos golos."

Ramires quer usar o Benfica como a tal passagem que eu referi neste texto e especificamente neste parágrafo:

"...eu detesto ler entrevistas de Brasileiros quando chegam a Portugal. Normalmente aparecem com esse auto convencimento e arrogância ao aeroporto que me irritam. Como se viessem do mundo perfeito do futebol e esta passagem pelo Benfica fosse isso mesmo - uma passagem - para outros campeonatos mais importantes."

Infelizmente parece que este Ramires veio com este conceito de "passagem para um clube grande" interiorizado e ou se convence que Grande é o Benfica ou vamos ter problemas com este rapaz que até ver vinha rotulado de humilde, trabalhador e disciplinado.

Obviamente que o que todos queremos é que ele jogue bem, se afirme na equipa e depois o futuro logo se verá, mas muitas destas ideias são impostas aos jogadores pelos agentes com neurónios - tanto um com outro - activos junto à carteira e aos milhões das percentagens das transferências futuras.

Cá estaremos para colocar o Benfiquismo em todos os que chegam e que nós queremos que se mantenham muitos anos. Mesmo que partam, que fiquem ou voltem com o Benfica no coração, como fizeram Mozer, Ricardo Gomes e Valdo.

Força Benfica

2 comentários:

Anónimo disse...

Lembro-me de o Di Maria ter dito algo semelhante quando se transferiu para o Benfica, ainda antes de ter alcançado qualquer título.
Na mesma posição temos o Reyes, que apesar de já ter jogado no Real, no Atlético e no Arsenal, diz só querer o Benfica.

É por isso que espero que não seja o Reyes que deixe o Benfica.

AXN disse...

A culpa não é deles, mas sim de quem, após o acordo não lhes oferece a História do Benfica.
Com video 'explicativo' para os que apresentarem dificuldades de leitura!