Após ausência natalícia, abro 2010 com um desejo óbvio. Que este ano nos inicie a caminhada rumo ao nosso Penta... Feito que está o irónico pedido mais desejado, passo a coisas mais sérias.
Muitas pessoas acham que esta estratégia é uma jogada muito arriscada quando se sabe que o passivo de todo o universo consolidado do Benfica suplanta os 400 milhões de Euros.
Eu entendo perfeitamente o investimento no futebol, aceito-o e acho que é fundamental para o Benfica valorizar activos e aumentar as receitas. Uma boa equipa de futebol, com bons jogadores e boa equipa técnica, faz aumentar as audiências no estádio, faz aumentar o número de sócios, faz aumentar a venda de red pass, faz aumentar a venda de merchandising, faz valorizar essas estrelas onde se investe, como fazem valorizar outros que doutra maneira não poderiam dar nas vistas e consequentemente valorizar-se.
Investir na equipa de futebol sem colocar em perigo a tesouraria do dia-a-dia é a opção certa e lógica num clube como o Benfica pela razão simples que a hipótese de ser campeão - o título máximo e mais desejado por todos os adeptos encarnados - dá acesso directo à liga dos campeões e aos milhões de receitas de TV, de bilheteira, de pontos que dão euros e mais importante, da valorização desses activos (jogadores) donde se investiu milhões uns meses/anos antes.
Em qualquer negócio, pensar grande, com boa estratégia e com pés assentes no chão é normalmente sinónimo de sucesso. No entanto no futebol as coisas não são tão lineares, porque na maioria dos casos não se é coerente com esta estratégia.
Primeiro vamos considerar que muitas vezes se falha nos objectivos a que nos propomos quando contratamos um novo jogador. Veja-se o caso do Keirisson que foi comprado por 14 milhões e pelo que vi o senhor jogar à minha frente - os jogos na TV não contam - o Barcelona pode estar perante um redondo flop. O Luís Fabiano também o foi e depois rebentou em Espanha... Veremos o que pode acontecer. O nosso Filipe Bastos e o Freddy Adu eram jogadores de futuro e nem no Belenenses jogam... Sepsi era o nosso defesa esquerdo de futuro e foi já recambiado para a Roménia. Patric e Shaffer seguirão o mesmo caminho rumo a casa mais cedo ou mais tarde... Temos ao longo dos últimos anos contratado jogadores que podem ser promessas e apenas um ou outro cumprem esse requisito. David Luiz é um deles, Sidnei poderá ser (ou talvez não, se Jesus assim o entender) mas na verdade é que do Brasil podem vir grandes futuros craques como grandes flops no imediato. Uma coisa é certa... Os valores que se apregoam para Alan Kardec, Airton, Éder Luís não são proibitivos mas revelam uma clara aposta no futuro e numa continuação do investimento no futebol.
No entanto todas as nossas contratações acima de 5 milhões de Euros são valores seguros da equipa como se prova com Luisão, Saviola, Javi Garcia, Ramires, Cardozo ou Di Maria. Mais uma vez digo... Pensar grande e apostar pela certa é menos arriscado que tentar ser chico esperto acabando a comprar gato por lebre. Ao contrário de outros negócios, este negócio do futebol é muito complicado de prever. A verdade é que já temos 60 jogadores nos nossos quadros e isso parece-me inaceitável, sejam eles Portugueses, Brasileiros, jovens ou veteranos. Eu não sou director desportivo, nem conheço as razões que podem fazer um clube como o Benfica comprar 60 "activos", pagando-lhes ordenados e os valores das transferências, mas quero acreditar que alguém sabe as razões para esta politica e pensa nas soluções que nos levarão a diminuir esse número para os 40 aceitáveis.
Posto isto, acho bem que se comece a preparar as próximas épocas e parece-me que estas aquisições de inverno são a pensar mais em Julho de 2010 que propriamente em Fevereiro próximo. Não me parece mal que assim seja. Sabemos que venderemos um ou outro jogador como sejam Di Maria, Cardozo, Luisão e/ou Yebda. Estas vendas deverão ser suficientes para o Benfica encarar os próximos anos com algum desafogo financeiro, apesar de eu defender que uma equipa quando tem bons valores e com resultados só se deve vender pelas propostas irrecusáveis. Na minha opinião mais vale ir aumentando o ordenado dos jogadores que se conhecem e que sabemos que são bons, identificados com o clube e com os adeptos que estar a arriscar comprar brasileiros (ou de outra nacionalidade) sem saber se podem ajudar ou não a equipa.
Isto para dizer que eu entendo que seja interessante ir comprando barato, amortizar esse activo contabilisticamente nos anos de contrato e depois vendê-lo por três ou quatro vezes o preço de custo. Isto é o ideal em todos os negócios. No entanto, os próximos 4 anos de Benfica serão os anos onde podemos cimentar a liderança nacional, podemos voltar a fazer brilharetes na Liga Europa e desejavelmente na Champions League. Para que isso aconteça, uma estabilidade de plantel, de equipa técnica e de modelo de jogo é desejável.
Já sabemos que nos próximos anos vamos assistir a uma série de evoluções financeiras na nossa Sad e no clube, vamos ter um naming do estádio, vamos renegociar os direitos televisivos, vamos ainda ter mais sócios, mais pessoas a assistir aos jogos em casa e mais jogos na liga milionária. Isso vai trazer mais clubes interessados nos nossos jogadores (activos) e nós teremos que definir uma estratégia clara de investimento na equipa, nos resultados, no equilíbrio entre "quem sai e quem fica" sem prejudicar a performance desportiva da equipa.
Todas as equipas desejam ser campeãs, fazer boas campanhas europeias, realizar mais valias com activos adquiridos uns anos antes, comprar depois "jogadores melhores" e com mais potencial, gastando um quarto do dinheiro dos que foram vendidos . Fórmula fácil de escrever e difícil de aplicar.
O Benfica optou por apostar seguro em jogadores como Saviola, Aimar, Javi Garcia, Ramires (que já chegou titular da selecção canarinha) e outros com potencial como David Luiz, Cardozo ou Di Maria. Hoje, todos assistimos ao melhorar das performances desportivas do nosso clube e antes sequer de vender qualquer jogador, contratámos Kardec e Airton a pensar no futuro.
Esse futuro, é hoje construído com uma base de risco própria de quem gere futebol. Nos dias que correm temos ouvido muitas vozes criticas em relação à opção Brasil em detrimento dos nossos novos jogadores da formação ou em detrimento de outros jovens Portugueses oriundos de outros clubes nacionais.
Eu já aqui escrevi que acho que faltam Portugueses no nosso plantel e não mudo a minha opinião mas também sei que não é fácil adaptar esta teoria á parte prática.No tempo de Camacho e de Quique Flores, eles preferiam espanhóis na equipa. Noutros tempos, outros preferiram Ingleses (de segunda) ou suecos de primeira. Sempre tivemos brasileiros nas nossas equipas e com Jesus era óbvio que ele iria preferir um mercado que conhece bem, nem que seja pelo número de brasileiros que treinou ao longo da sua carreira. Quem conhece os meandros do futebol sabe que a politica desportiva tem de estar sempre alicerçada em várias áreas e uma das mais importantes é a opinião do treinador que todos sabemos, assiste a vários jogos brasileiros. Esta frase nem sequer é uma critica. É apenas constatar um facto. No entanto, penso que deveremos pensar em gerar receitas extraordinárias (vender dois ou três jogadores máximo, aumentando extraordinariamente outras receitas) e tentar manter a tal espinha dorsal nos próximos anos.
O Luisão é para mim o exemplo a seguir. Deveremos manter os jogadores o maior número de anos possível e tentar que criem laços com o clube. Nem sempre os jogadores da cantera são mais apaixonados pelo clube que os que vêm de fora e o que está a acontecer com David Luiz é um exemplo do que acabo de dizer. O grau de empatia com a massa associativa é de tal forma elevado que neste momento é já um símbolo do terceiro anel - para os críticos e para os seus fans. Só temos que continuar a contratar menos e melhores, manter os que estão e começar a pensar em aproveitar seriamente os jovens da formação. Temos Roderick, Miguel Vitor e outros se seguirão como disse Luis Filipe Vieira na célebre entrevista a "A Bola" da passada semana.
Isto significa que num futuro próximo - no máximo 5 anos - poderemos ter realmente 4 ou 5 jogadores da nossa formação na equipa. Vamos acreditar nisso, vamos acreditar em quem decide, vamos acreditar nos que agora chegam e vamos acreditar que discordando aqui ou ali, não podemos criticar sem saber os reais objectivos de algumas das decisões que são tomadas neste âmbito. Como disse antes, este negócio não é linear. Eu prefiro poucos e muito bons, com créditos firmados, preferencialmente jovens e Portugueses. Acham que Rui Costa, Jesus ou Luís Filipe Vieira não pensam o mesmo? Mais uma vez falar é fácil mas decidir não é tão fácil. Vamos dar o benefício da dúvida e apoiar onde podemos ser realmente úteis - na bancada a gritar Benfica, Benfica, Benfica... Sábado lá estarei em Vila do Conde, onde perdi a última vez que lá fui com um golo de Miguelito, apesar de ter sido campeão umas semanas depois. Lá está um bom exemplo do que disse antes. Queríamos Portugueses, compramos o Miguelito e depois viu-se o que deu. Eu dou o benefício da dúvida a quem tem que decidir...
Força Benfica