Antes de emitir a minha opinião sobre o caso específico deste fim de semana, tenho que admitir como ponto prévio que não tenho pelas claques Benfiquistas qualquer tipo de simpatia ou antipatia. Não as levo muito a sério e penso sempre que num dia em que o Estádio da Luz tenha 60.000 cativos vendidos, as claques deixam de existir. No entanto, partilho com muitos dos membros das claques momentos históricos do SLBenfica, especialmente nas deslocações ao estrangeiro ou em estádios nacionais onde o Benfica joga fora. Vejo nalguns desses elementos a cara da Mística Benfiquista - o sofrimento, o acreditar sempre, as directas em voos de low cost, os hotéis baratos, os sacrifícios que fazem para poder acompanhar o Benfica nas viagens para fora de Portugal, especialmente.
Nessas pessoas sinto a Mística e sinto que são boas pessoas, humildes, que amam o Benfica como eu, como tu, como você ou como qualquer grande apaixonado - com chama... Também vejo nesses mesmos estádios a droga, alguma violência verbal e alguns esquemas mais ou menos sujos que por lá se passeiam... Considero-os normais e não confundo nunca o geral com o particular.
Não gosto de ver "claques" separadas no Estádio da Luz e sem querer ser demasiado naif, acredito na hipótese de ter claques ou grupos organizados menos delinquentes, menos violentos, menos procurados pelas autoridades e mais legais. Especialmente muito mais legais. Posso ser naif mas não quero parecer demasiado naif ao ponto de pensar que uma claque tem de ser um grupo de jovens escuteiros, mas quero acreditar que podem ser um grupo mais bem comportado. Todos passamos por fases de socialização mais ou menos rebelde mas quero acreditar que vandalizar estações de serviços, roubar, bater, traficar droga, vender armas, não sejam de todo actividades normais que farão parte do "objecto social duma claque organizada legalizada".
Do site do Jornal "A Bola" retiro a seguinte notícia:
"A PSP concluiu, ontem, a denominada operação «Fair Play» - cujas diligências tiveram início há cerca de um ano –, culminando as investigações com a detenção de 30 membros da claque «No Name Boys» e apreensão de 11,5 quilos de haxixe, 115 gramas de cocaína, 70 gramas de ecstasy e 187 gramas de liamba, três armas, munições de vários calibres, quatro soqueiras, cinco embalagens de gás de defesa (spray), três bestas, três armas eléctricas, quatro bastões extensíveis, seis tacos de basebol, nove tochas, cinco potes de fumo e um very-light. Foram também apreendidas seis viaturas e cerca de 15.300 euros em dinheiro.
Em comunicado, a PSP informa que «o grupo de suspeitos, além da prática de crimes, tem incitado os elementos da claque à prática de acções violentas contra adeptos de outras claques, Agentes de Autoridade e elementos da Segurança Privada - Assistentes de Recintos Desportivos, bem como a introdução nos estádios de material pirotécnico». O tráfico de estupefacientes servia «como forma de financiamento da claque».
Mais adiante, quando o site do jornal "A Bola" fala da chegada de 12 dos 30 detidos às instalações do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa (DIAP), ao início da tarde, acrescenta que essa chegada:
"(...) ficou marcada por incidentes motivados pela presença de outros elementos alegadamente afectos à claque «No Name Boys», que provocaram desacatos com alguns empurrões e o arremesso de garrafas (...) agrediram jornalistas, provocando distúrbios que resultaram em ferimentos ligeiros num agente da PSP."
Ou seja, apesar de conseguir separar o trigo do joio sinto claramente que algo vai mal no reino das claques Benfiquistas. Vamos considerar que estes 30 detidos e os cerca de 50 que foram ao DIAP esta tarde, são os únicos que têm problemas com a justiça e que todos os outros milhares são pessoas bem formadas, respeitadoras, que amam o Benfica como cada um dos milhões de adeptos e simpatizantes que não fazem parte de nenhuma claque e que a única ilegalidade que fazem é fumar uns quantos charros nos jogos ou nas viagens que antecedem esses mesmos jogos. Se assim fosse o problema seria fácil de resolver, mas só alguém imensamente naif - há vários níveis de inocência - pode acreditar que o que digo é verdade. Todos sabemos que as claques escondem outros problemas sociais e não podemos esperar que o Benfica os resolva mas também não podem esperar que esses problemas sejam desculpados pela administração do SLBenfica.
Eu acredito numa estrutura Benfiquista dialogante com as claques. Não teria nenhum problema em aceitar que a nossa direcção falasse abertamente com as claques e fazer-lhes ver que provavelmente deveríamos ter UMA claque e não duas, que a estrutura legal talvez deva fazer parte da SAD Benfiquista ou do próprio clube Sport Lisboa e Benfica e que deveriam ter directores e responsáveis mais condignos com os requisitos sociais legalmente aceites. Obviamente que ter "11,5 quilos de haxixe, 115 gramas de cocaína, 70 gramas de ecstasy e 187 gramas de liamba, três armas, munições de vários calibres, quatro soqueiras, cinco embalagens de gás de defesa (spray), três bestas, três armas eléctricas, quatro bastões extensíveis, seis tacos de basebol, nove tochas, cinco potes de fumo, um very-light e cerca de 15.300 euros em dinheiro" não corresponde ao meu conceito de directores responsáveis.
Se numa empresa responsável, alguns dos seus representantes forem apanhados com o que acabei de escrever no parágrafo anterior isso significa o fim dessa empresa socialmente, independentemente dos seus méritos empresariais. O que quero dizer com isto é que apesar de eu considerar as claques positivas e de sentir que apoiam o Benfica em momentos difíceis no Estádio da Luz ou fora, há mínimos de comportamento que temos que exigir dos responsáveis das claques.
Se as claques são grupos de pessoas distintas e diferenciadas com negócios ligados a armas, ao tráfico de droga, com membros ligados à extrema direita eu acho que o Benfica tem de agir e regulamentar internamente e com o apoio das autoridades uma nova estrutura para estes grupos.
O nosso presidente está muito queimado com estas claques e não tem neste momento espaço de manobra para poder negociar o que quer que seja com estes líderes, mas quando chegar o tempo de Rui Costa, e se ele tiver a coragem que nós lhe reconhecemos, podemos dar passos fundamentais na regulamentação das nossas claques e quem sabe aumentar as receitas do nosso merchandising e de bilheteira trabalhando com as claques.
Neste momento, o que sei é que este modelo de claques separadas, que não se dão, que escondem negócios paralelos, que são ilegais, que não elevam o nome do Benfica e que por contrário o denigrem na praça pública está esgotado. Apesar de tudo isto, ainda acredito na humildade de quem ama o Benfica e de quem acredita que estar numa claque é a maneira mais simples e leal de ajudar o clube do coração. Mais acrescento que não tenho dúvidas que 50% dos membros das claques correspondem a este perfil. Esse é o principal problema. Não deviam ser 50% , mas sim 90% a corresponder a este perfil e os restantes 10% a margem de erro que confirmaria a regra...
Os tempos mudaram mas o Benfica teve os momentos mais altos da sua História, com um autêntico Inferno composto por vozes de homens e algumas mulheres que apenas amavam o Benfica. Este deve ser o leit motiv dum grupo organizado que quer apoiar o Benfica - o seu amor incondicional ao clube. Não utilizar o clube para negócios mais ou menos sujos, mais ou menos legais. Quando isso voltar a acontecer, vamos ver o verdadeiro Inferno da Luz a reaparecer com vozes e pessoas de várias idades, várias ideologias, várias sensibilidades, várias classes sociais e de várias etnias ou raças, apenas e só com um objectivo - apoiar o Glorioso.
Força Benfica