quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Gerir as expectativas

Tenho aqui falado muito na capacidade que um bom presidente, administrador, director ou treinador devem ter na "gestão de expectativas" e o Benfica não foge à regra. Desde o início da época que tenho tentado com textos que valem o que valem, alertar para esta fundamental arma que é a "gestão de expectativas".

O Benfica começou mal a época porque as contratações não vieram no tempo correcto, as dispensas não foram feitas na altura certa e tentámos mudar (quase) tudo duma só vez. No início de campeonato tivemos todos um travo amargo na boca, sentindo que uma vez mais ou nossos adversários, mantendo equipas técnicas e estruturas base de plantel levavam-nos avanços consideráveis.

A verdade é que ao olharmos para o nosso umbigo de forma crítica e a lermos os jornalistas do costume a dizer que na vizinhança tudo corria bem - estabilidade na direcção técnica, estabilidade nos respectivos plantéis, reforços em posições chave - pensámos que iríamos arrancar muito mal e eles muito bem.

Na verdade nós não arrancámos muito bem, mas eles arrancaram pior. Luisão dizia ontem que "este ano o público aplaude e incentiva mesmo quando as coisas não correm bem" e isso tem exactamente a ver com esta "gestão de expectativas" que falei durante muito tempo. A percepção que nós temos da necessidade de dar tempo à equipa, a percepção que todos temos que devemos apoiar uma equipa em construção, uma nova estrutura técnica e a percepção fantástica que nos diz que assobiar nesta fase não ajuda em nada (eu acrescento que nem nesta fase, nem em fase nenhuma) faz com que perdoemos muito melhor um deslize ou um pior resultado esta época que em qualquer das nossas últimas temporadas - apesar de tudo já empatámos com Rio Ave, Porto e Leixões.

Neste momento somos terceiros na Liga. É uma classificação normal à sexta jornada para a tal "equipa em construção". Anormal é termos Nacional e Leixões a partilhar o comando mas isso revela que afinal o nosso campeonato pode ser competitivo e vai sê-lo cada vez mais nos próximos anos. Continuando nesta gestão de expectativas e sabendo que num campeonato longo o que hoje é uma vantagem pontual, amanhã é um atraso fruto dum empate ou derrota inesperada, espero que possamos manter esta paciência e esta cultura adulta de quem sabe que o caminho está a ser bem definido, mas que nada se ganha em Outubro - ou em Setembro, em Janeiro ou em Fevereiro (nestes meses só se pode perder).

Nos nossos adversários mais directos as expectativas eram altas. Iam lutar um contra o outro pela liderança do campeonato, enquanto o Benfica ia ser o eterno terceiro a tentar aproximar-se dos "estáveis" Sporting e FCPorto.

Apenas a 1 ponto do Benfica, o FCPorto já tem lenços brancos na bancada, adeptos com pedras na mão a lembrar-nos a razão pela qual o FCPorto nunca terá expressão nacional - o treinador Jesualdo foi campeão por duas vezes e na última vez com uma dezena de pontos de avanço - e o Sporting ainda sem lenços brancos não consegue já calar a crítica popular a Paulo Bento por opções disciplinares/técnicas duvidosas - exemplos de Stojkovic, Vukcevic, Djaló e Miguel Veloso.

Não gosto de falar dos adversários, e a verdade é quanto pior lhes correr a vida melhor me sentirei, mas tenho que admitir que Paulo Bento teve muito bem em não convocar os jogadores Yannick Djaló e Miguel Veloso para o jogo de Paços de Ferreira. As notícias vindas hoje a público, confirmam que o empresário Paulo Barbosa levou os seus jogadores a reunirem com a SAD onde se criticou abertamente as decisões técnicas do treinador Paulo Bento (que colocou Veloso a defesa esquerdo contra o Shakhtar Donetsk em detrimento da sua "normal" posição de "trinco" e que colocou Djaló no banco depois de um começo brilhante com golos contra FCPorto na Super Taça e contra Trofense para o campeonato) e onde se criticou uma vez mais o valor das cláusulas de rescisão que ambos os jogadores assinaram sem "nenhuma espingarda apontada nas suas cabeças". Sobre este assunto da intromissão dos agentes no trabalho técnico e nos contratos que os seus jogadores assinam já falei aqui, mas tenho que voltar a referir que a culpa também é dos clubes que dão uma importância a estes empresários que eu não entendo - porque é que a administração da SAD leonina aceita uma reunião com o agente Paulo Barbosa no dia 23 de Outubro, quando o mercado está fechado e não se afiguram nenhumas possibilidades reais da venda de nenhum dos seus activos? Pouco me importa porque na casa dos outros, não mandamos nós...

No entanto, podemos opinar sobre essas mesmas casas. Tenho nestes textos utilizado alguma ironia na questão do Cristian Rodriguez (como o fiz aqui ou aqui) e alguma seriedade (como fiz aqui ou aqui). No entanto, nunca desejei ou desejaria a qualquer pessoa o que aconteceu este fim de semana a Cristian Rodriguez. Alguns relatos dizem que o seu carro foi apedrejado por vândalos ligados à claque Super Dragões, e que nessa viatura apedrejada, além de Rodriguez viajavam seus familiares como a sua filha menor. Também pelo que se lê em blogs e publicações desportivas nacionais (as ligadas ao FCPorto preferiram não escrever nada contribuindo uma vez mais para elevar o excelente jornalismo que já praticam diariamente), Pinto da Costa esteve no balneário da equipa após a derrota contra Leixões. Uns jornais dizem que Pinto da Costa desceu ao balneário para "dar confiança a Jesualdo" enquanto noutras publicações se lê que o presidente desceu ao balneário para "dar um puxão de orelhas aos jogadores". O que é inequívoco é que passadas 72 horas sob o triste episódio, Pinto da Costa não proferiu uma única palavra contra os actos bárbaros que foram efectuados por adeptos ligados ao FCPorto. Para quem se considera uma pessoa Humana, o seu silêncio é demasiado velhaco.

Eu acho que o Rodriguez esteve muito mal em todo o processo de saída para o FCPorto e tenho textos onde coloquei bem expressa a minha opinião. Mas não tenho pela pessoa nada a apontar e cada vez que se assobia algum jogador adversário num recinto desportivo, todos o fazemos por razões de clubismo óbvias mas nenhum de nós quer que algo possa acontecer a esse jogador. No meu caso, nem uma lesão por mais pequena que seja gosto de ver num relvado de futebol em qualquer equipa adversária. Espero sinceramente que o Rodriguez, o Postiga, o Cardozo ou outro qualquer jogador não tenham que passar por estas situações (ainda por cima com filhos no carro) de nenhuma maneira, sob nenhuma condição, mesmo que para os dois primeiros o meu desejo sincero é que desportivamente percam muitos dos seus jogos, porque isso beneficiaria o Benfica.

Por falar em Benfica, e para terminar o tópico que dá título a este post - "gerir as expectativas" - espero que todos possamos entender que ainda temos muitos pontos para perder, algumas derrotas para sofrer e que devemos aprender com os erros de expectativa destes nossos vizinhos, mantendo sempre os pés bem assentes no chão. Este domingo segue-se outro jogo difícil e como sempre, espero que possamos continuar a crescer como equipa e nesse crescimento que possamos ir amealhando os pontos necessários para chegar ao primeiro lugar o mais rápido possível. Não podemos nunca esquecer que para o objectivo principal desta época - ser campeão - só temos que ter mais pontos que todos os outros na última jornada e que num deslize ficamos nós atrás e os outros dois à frente. Desejo união, porque sinto que ao contrário dos nossos adversários, este é ainda o nosso ponto mais forte. Temos a equipa unida e os adeptos unidos com a equipa.

Força Benfica

1 comentário:

Anónimo disse...

Acho que todos nós sentimos esta união - mais que em anos anteriores. Luisão fala disso mesmo e é bom ver que mesmo os jogadores se aperceberam disso.

saudações,
kid