Como tudo na vida, a perspectiva e a relatividade são as nossas maiores aliadas quando queremos entender algo. E é isso mesmo que faltava... Colocar em perspectiva este negócio do Ramires era obrigatório porque há sempre a maneira de ver o copo meio vazio ou o copo meio cheio e é exactamente a mesma quantidade de água.
Eu escrevia no post anterior um texto sobre o Benfica Fund Stars e onde também falei do Ramires. Hoje, na edição de "A Bola" tudo fica claro e entende-se que afinal o negócio que foi feito há um ano já era um negócio de empresários e o Benfica na verdade "apenas" serviria como rampa de lançamento, serviria para usufruir do talento desportivo do rapaz durante este primeiro ano, serviria para criar mais valias com o investimento inicial de 7,5 milhões de euros na ordem dos 10 milhões de euros, mas nunca teríamos a ultima palavra na decisão de vender ou não vender o jogador porque essa decisão seria sempre dos empresários Kia Joorabchian e de Giuliano Bertolucci.
Neste momento e em vez de estarmos a questionar as negociatas e os 50% deste ou daquele, temos provavelmente que agradecer a estes senhores o facto de nos deixarem ganhar 11 milhões de euros num espaço dum ano e deixarem nos ter o Ramires por um investimento tão baixo - 7,5 milhões de euros.
Vendo assim, quase que o investidor do fundo seria o Benfica que investiria esses 7,5 milhões de euros com a esperança de num ano rentabilizar esse investimento gerando os tais 18,5 milhões de euros que vamos ganhar no negócio. Como digo antes, tudo depende da perspectiva. Como disse também no post anterior prefiro sempre ter 100% dos jogadores e deixar que o meu presidente decida sozinho que ter que partilhar essa decisão com empresários, mas como também disse no anterior post e sabendo da situação financeira do Benfica, às vezes há negócios que não se podem perder. Antes de mais transcrevo o que João Bonzinho escreveu hoje nas páginas do jornal "A Bola":
"O Brasileiro está há muito prometido ao futebol inglês. Benfica sabe desde o início que seria apenas uma ponte.
Desde o verão de 2009, quando se transferiu do Cruzeiro para o Benfica, que o internacional brasileiro Ramires tem guia de marcha para o futebol inglês. Esse era um dos pressupostos do negócio, que, recorde-se, envolveu parcial investimento do clube da Luz e o restante de investidores particulares, representados pelo conhecido empresário Kia Joorabchian, anglo-iraniano de 39 anos. Na altura, Ramires só veio, aliás, para o Benfica por tão baixo preço (7,5 milhões de euros quando a sua cotação de mercado já parecia ir nos 15 milhões) pela intervenção daquele empresário e de um outro, Giuliano Bertolucci, ambos com excelentes relações com o presidente encarnado, Luís Filipe Vieira.
Perder Ramires agora pode ser bom em termos financeiros, mas mau, muito mau, desportivamente. Jorge Jesus que o diga. O Benfica é, desde o início, a ponte para Ramires chegar ao futebol inglês, para o qual está prometido há um ano. Podia transferir-se já este ano, no máximo em 2011. Ramires precisaria, porém, de ganhar maior número de internacionalizações pelo Brasil (tem agora 16) e mostrar a titularidade quase indiscutível num clube europeu para mais facilmente conquistar o work permit, autorização de trabalho, em Inglaterra, país no qual são muitas, e boas, as relações de Kia Joorabchian. Não admira, portanto, que o jogador esteja muito perto de se transferir para o Chelsea (clube que leva vantagem sobre outros eventuais interessados, como Manchester City, na negociação com aquele empresário) por um valor bem acima do que custou há um ano.
Ramires não é só um jogador interessante do ponto de vista das suas características; é muito jovem (23 anos) e tem à sua frente muitos anos de selecção do Brasil. Vale muito bem os 25 milhões de que se fala. O Benfica tem sempre uma palavra a dizer no negócio, mas não pode, porém, impedi-lo, de acordo com o estabelecido há um ano, quando garantiu os direitos sobre o jogador com um investimento mínimo (o jogador custou 7,5 milhões de euros, mas a grande parte do investimento, tipo empréstimo bancário, foi assegurado pelos investidores particulares). Desde o princípio que os encarnados sabem que só naquelas condições contariam, naquele momento, com um jogador da qualidade de Ramires.
Mais: sabiam que teriam retorno desportivo (pelo menos por um ano, como tiveram) e financeiro (como vão acabar por ter). Claro que não cai bem perder Ramires. Nem agora, nem nunca. Muito menos numa altura em que Jorge Jesus organiza a sua equipa a contar com o médio internacional brasileiro."
A parte do negócio está explicada e muito bem explicada. Todos os negócios fossem assim tão claros e não haveria matéria para nenhum tipo de discussão. O que eu agora não entendo é se todos sabiam que Ramires ia embora este ano, então porque João Bonzinho termina o seu texto escrevendo "que Jorge Jesus organiza a sua equipa a contar com o médio internacional brasileiro."
Mas conta com ele porquê? O que o Benfica deveria ter feito há muito tempo era ter contratado alguém para o seu lugar. Ou Jesus acha que esse jogador poderá ser Airton, ou poderá ser o Ruben Amorim, ou teremos mesmo que comprar um novo jogador nas próximas semanas e quanto mais próximas, melhor. Com a contratação dum bom defesa/médio interior direito poderíamos sempre ter esse novo jogador na posição do Ramires, como poderíamos ter Maxi Pereira e/ou o tal Ruben Amorim.
Tudo está bem quando termina bem e se for tudo como está escrito nas páginas do jornal "A Bola" o caso Ramires, torna-se facilmente um "não caso..."
Eu não posso querer ficar com uma coisa que pensei que era minha, quando afinal essa coisa nunca foi minha... Esteve apenas emprestada e de passagem para outras margens. No entretanto usufruí dessa coisa e ainda ganhei uns trocos largos - mais do dobro do que investi - num leasing e não numa compra.
Se quisermos entender assim com esta metáfora o assunto Ramires, ficamos todos contentes, é tudo claro como a água e já ficamos a saber que o Ramires não jogará mais com a camisola do Benfica.
Vamos ter que nos habituar a estes negócios até que volte uma "nova ordem", estabilizando aquilo que eu penso que será o normal e ideal - todos os passes são do Benfica e o Benfica decide sozinho, com a opinião do presidente, do treinador e do jogador, o que fazer com esse passe.
Até esse dia, estes casos Ramires serão o "pão nosso de cada dia..."
Força Benfica
1 comentário:
Vocês andam tão preocupados com estas coisas...
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