sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Ramires, o Benfica Stars Fund e os timings das nossas vendas...

Eu tenho evitado falar do fundo neste espaço e hoje penso que o timing é o correcto para escrever algumas ideias soltas sobre esse mesmo fundo.

Parece-me claro para todos que o fundo existe e é criado porque o Benfica precisa de dinheiro fresco sem recorrer aos bancos, que já tem grande parte da nossa dívida e sem depender apenas das receitas dos sócios, dos bilhetes, dos patrocínios ou de outras receitas extraordinárias.

Se nós tivéssemos uma situação estável ao nível de tesouraria, o fundo não seria necessário porque comprávamos os passes dos nossos jogadores e quando os quiséssemos vender, apenas dependíamos de nós próprios, da vontade do nosso treinador em dispensar ou não o jogador e da vontade do mercado em pagar o que nós queremos cobrar por esse mesmo jogador. Basicamente foi assim durante anos e agora com o fundo entrámos numa nova era que tem como tudo, prós e contras.

Primeiro eu tenho que dizer que sou contra o fundo no conceito teórico associado ao mesmo. Ou seja, eu sou contra qualquer tipo de pressão de alguém externo ao Benfica para vender qualquer nosso jogador. Gosto de pensar num conceito "antigo" onde o presidente quer, pode e manda.

Eu acredito no conceito onde o treinador opina sobre se devemos ou não vender o jogador, opina sobre se há ou não há substituto à altura do jogador que vai sair e depois a decisão de vender alguém do nosso plantel é 100% assumida pelo presidente. Chamem-lhe "old school" ou antiquado, mas a verdade e que só assim faz sentido e eu encaro este modelo, o desejável no Benfica.

O fundo ao contrário do que algumas pessoas pensam não é o futuro do Benfica e é apenas uma ferramenta que o Benfica utiliza num determinado momento porque assim o necessita.

Basicamente, neste fundo de jogadores o Benfica vende parte dos passes de vários jogadores a um fundo de empresários que não tem objectivos de ser campeões todos os anos - isso é para os Benfiquistas - e o seu objectivo é criar mais valias com os seus investimentos iniciais. O risco deste investimento é alto nalguns casos, é muito reduzido noutros e o sucesso desse investimento depende muito do aparecimento de compradores para esses passes que eles investiram e obviamente da saúde física desses activos que desejavelmente terão folha limpa em termos de lesões.

O Benfica investe na maioria dos casos 100% do valor inicial da compra da totalidade desses passes e depois num determinado espaço de tempo vende uma percentagem desse passe - 20% a 50% - para uma série de investidores tendo logo um retorno financeiro grande e ainda continuado a usufruir dos direitos desportivos e da performance desses jogadores com a camisola do Benfica.

O formato é simples e em tempos de crise é um modelo perfeito. Como em todos os negócios que envolvem comissões, percentagens, investimentos, o lucro é sempre o objectivo final.

Nós que gostamos e temos paixão pelo Benfica desde pequenos, quando pensamos em vender jogadores e no dinheiro que essa venda gera, pensamos sempre em mais valias para o nosso clube do coração e de que maneira esse dinheiro ajudará a criar o nosso clube melhor. Nas artes muitas das vezes o objectivo principal não é o lucro do grupo de teatro, da banda ou do filme, mas sim o manter da organização e a consequente viabilização dessa organização para outro disco, outra tournee, outra peça de teatro ou outro filme.

No Benfica para mim a venda dum jogador sempre representa uma tristeza com a sua partida - se forem bons jogadores e por isso bem vendidos por valores altos - mas por outro lado a alegria de poder reforçar os nossos cofres com euros (ou escudos em tempos) que mantenham a organização e a façam melhor de ano para ano.

Com este fundo, e com as mais valias geradas pelas vendas dos jogadores, o Benfica distribui pelos empresários que investiram, parte desse lucro, sendo em última análise, um bom samaritano para quem em determinado momento nos deu a mão ajudando a pagar ordenados e outras despesas de tesouraria corrente com a compra duma determinada percentagem desses passes.

Digo e repito que num momento de crise, num momento onde temos a banca esgotada em empréstimos e com o project finance a estrangular a grande parte das nossas receitas para esse papão de nome "novo Estádio", o fundo é uma excelente ideia.

No dia em que pagarmos o Estádio, no dia em que esse mesmo Estádio tenha um naming e as receitas associadas, num dia em que os direitos televisivos sejam muito mais bem pagos, no dia em que os Red Pass representem 85% da lotação desse estádio, no dia em que o merchandising facture o dobro do que facturou o ano passado, no dia em que as rendas associadas aos nossos espaços sejam todas elas maiores e canalizadas para o clube/SAD, no dia em que o Benfica vá pela quinta vez seguida à Champions League, no dia em que os sócios pagantes sejam 300 000, então o fundo não será necessário...

Nesse dia, o Benfica pode voltar a comprar os passes sozinhos, amortizando esse valor pelos anos de contrato do atleta e vendendo-os, ou não, pela decisão única e exclusiva do nosso presidente que sozinho enfrentará os sócios e justificará a decisão de venda ou de não venda desse activo.

Hoje a história é diferente e temos aqui dois tipos de investimentos do fundo. Por um lado os jogadores novos, com grande margem de progressão, sem grande nome no mercado internacional, com um risco elevado de poderem falhar a carreira, defraudando com isso quem neles investiu e por outro lado os valores seguros que à partida, mais ano menos ano, mais mês menos mês, renderão a esses investidores altas quantias de mais valias.

Eu vou dar dois exemplos que me estão um pouco atravessados enquanto accionista e sócio do Benfica. Num determinado momento da época passada Jorge Mendes, agente de Di Maria investe 1 milhão de Euros por 10% do passe de Di Maria que todos sabemos tinha uma clausula de rescisão de 40 milhões de Euros. A percentagem que corresponde um investimento de 1 milhão de euros é avaliada por uma comissão independente supervisionada pelo BES e onde teoricamente a especulação e inside information devem ser controladas e evitadas. A verdade é que Jorge Mendes investe 1 milhão de Euros por 10% do passe e passados pouco meses arrecada 2,5 milhões de euros gerando uma mais valia de 1,5 milhões de euros. Para ele não será grande coisa, mas para qualquer cidadão que consiga pedir 1 milhão emprestado a um banco, este negócio pode significar não ter que fazer mais nada o resto da vida...

Eu aqui pergunto, que necessidade extrema teria o Benfica em ver adiantados esse milhão de euros para abdicar a própria SAD dum retorno de 2,5 milhões de euros ou ainda um valor maior dependendo dos tais objectivos assinados no contrato do Di Maria para o Real Madrid.

Mais recentemente, o Benfica alienou 50% dos direitos de Ramires por 6 milhões de euros. Mais concretamente este negócio foi efectivado no dia 20 de Junho de 2010 em pleno mundial e dando um sinal claro ao mercado e aos adeptos mais atentos que afinal Ramires, ficaria mais um ano, pois não faria sentido vender-se a um empresário esses 50% por 6 milhões de euros, para esse empresário ganhar em pouco menos de um mês depois, 6.5 milhões de euros de mais valias.

Considerando que Ramires sai por 25 milhões de euros como vem na imprensa desportiva de hoje as contas são fáceis de entender.

50% de 25 milhões = 12,5 milhões de euros - 6 milhões de investimento por 50% do passe = 6,5 milhões de mais valias para o Iraniano Kia Joorabchian.

O que eu pergunto é como é que o Benfica aceita vender 50% do passe de Ramires a 20 de Junho de 2010, sabendo que pelo menos teria propostas de 20 milhões de euros, dando uma futura mais valia de 6 milhões de euros a esse empresário. Para mim estava claro que teria ficado acordado entre o nosso clube e este senhor Kia que estes 6 milhões de euros da compra de 50% do passe de Ramires, seriam utilizados pelo Benfica para essas despesas de tesouraria que sempre necessitamos e que na próxima época logo se veria que resultados desse investimento inicial em Junho de 2010, traria para esse empresário em Julho de 2011 - altura em que eventualmente se deveria vender Ramires.

Tudo o que não seja este cenário, é algo que para mim não faz sentido. Digo-o como benfiquista e como pessoa que entende mais ou menos como isto funciona. O que faz sentido é que o senhor Kia invista 6 mihões este ano e que em 12 meses recupere algum desse investimento enquanto o Ramires nos ajuda a ganhar o segundo campeonato seguido e a fazer um brilharete na champions league. Não faz sentido que este senhor invista 6 milhões e que um mês depois ganhe 12,5 milhões gerando mais valias de 6,5 milhões.

Vinha hoje no jornal "O Jogo" a seguinte noticia que vale o que vale...

" A proposta que o Benfica recebeu do Chelsea por Ramires agrada sobremaneira a Kia Joorabchian, razão pela qual o empresário anglo-iraniano está a pressionar os encarnados para aceitarem a saída do internacional brasileiro.

Luís Filipe Vieira quer manter uma estrutura forte para tentar revalidar o título nacional e surpreender na Liga dos Campeões, mas admite vender mais um dos craques, depois de Di María. Ramires tem uma cláusula de 30 milhões de euros, valor pretendido pelo líder dos encarnados para transferir o brasileiro. No entanto, Kia Joorabchian considera a proposta do Chelsea, que pode atingir uma verba a rondar os 23 e 24 milhões de euros, irrecusável.

O JOGO sabe que o empresário considera esse um valor muito bom face à actual situação de mercado, até porque o jogador, de 23 anos, tem apenas uma época na Europa e um currículo ainda curto a comparar com os grandes nomes na sua posição.

)...) Assim, o Benfica, que vendeu recentemente 50 por cento do passe de Ramires à Jazzy Limited, empresa de Kia Joorabchian, deve fazer um encaixe de cerca de 12 milhões - que vai servir para Vieira continuar a investir no reforço do plantel às ordens de Jesus.

O antigo empresário de jogadores pagou apenas seis milhões de euros por metade dos direitos económicos do futebolista. Pouco mais de um mês depois rentabiliza o investimento, pois prepara-se para receber precisamente o dobro do que despendeu. Este processo tinha ficado logo acordado na altura da transferência de Ramires para a Luz, razão pela qual os responsáveis encarnados tiveram então de cumprir o estabelecido, perdendo desta forma a oportunidade de fazer um maior encaixe superior por um jogador que encantou os principais clubes europeus na sua primeira época ao serviço das águias"

Nesta noticia, não entendo a parte que diz que:

"(...) Este processo tinha ficado logo acordado na altura da transferência de Ramires para a Luz, razão pela qual os responsáveis encarnados tiveram então de cumprir o estabelecido". Mas tinha ficado acordado o quê? Que este empresário pagaria 6 milhões de euros por metade do passe? Que o Benfica estava obrigado a vender-lhe metade do passe 1 mês antes de vender o Ramires, para ele ganhar 6 milhões de euros num mês? Que ele deveria ter comprado metade do passe por 6 milhões de euros há um ano e só os comprou ou só os pagou quando viu que ganharia 6 milhões num mês? O que é que afinal estava "estabelecido"? Estas noticias apareceram ontem e hoje com a mesma tónica... O Benfica apenas "fez o que estava estabelecido" mas eu gostava de entender o que é isso, porque como a história está contada só há uma coisa que todos sabemos. Alguém pode ganhar 6 milhões de euros com esta história e o Benfica em 25 milhões de euros ganha 12,5 milhões mais os 6 milhões que já teriam sido adiantados em 20 de Junho totalizando 18,5 milhões. Descontando os 7,5 milhões que investiu há um ano perfaz um total de mais valias de 11 milhões.

Eu sei que estes negócios do fundo envolvem muita especulação própria doutro tipo de negócios que não os do futebol, como a bolsa, especulação imobiliária e informação privilegiada num determinado momento.

O que todos sabemos é que sem querer adiantar e falar muito mais do caso Roberto, porque disse no post anterior que "era a primeira e ultima vez que falava desse caso" não deixa de ser interessante ler no blog Eterno Benfica uma justificação que envolve especulação, tendo este fundo de jogadores como pano de fundo, passe a expressão...

Todos sabemos que o futebol é um negócio de milhões e eu no meu negócio que não é de milhões já dei alguns milhares largos de euros a comissionistas, agentes, "chulos" que nada fazem e que no fim são quem mais ganha. Alem do futebol é assim nos espectáculos, na musica, no teatro, na moda, no cinema e até na especulação das artes plásticas. Sei do que falo e sei que neste mercado e neste fundo de jogadores é importante que se utilize esta ferramenta nestes próximos anos, mas desejavelmente as compras feitas a partir de 2015 não necessitarão de ir anexadas a nenhum fundo e o Benfica deve voltar a poder entrar nos negócios sozinho porque como sabemos mais "vale só que mal acompanhado".

Estamos acompanhados por pessoas que só pensam no lucro e eu quando leio no jornal a dizer que o senhor Kia "quer vender já o Ramires", eu pergunto mas o que é que queriam que ele fizesse? O homem não quer saber do próximo titulo, nem das maravilhas que o Ramires pode fazer na Champions nem sequer ouvir falar na hipótese de o vender por 30 milhões no próximo ano e assim ainda gerar ainda mais "ganhos"... O que ele quer é utilizar a frase também muito célebre nos negócios que é "mais vale um pássaro (de 6 milhões de lucro) na mão que um pássaro (de 8 possiveis milhões) a voar". Não o critico...

É óbvio que Domigos Soares Oliveira e Luís Filipe Vieira não querem que o fundo dê prejuízo aos seus investidores, porque se assim for deixam de investir. Isso parece-me óbvio. Quando eu dou comissões de 2000 euros a comissionistas num qualquer negócio, o meu objectivo é que no próximo ano ou noutro qualquer negócio nesse mesmo ano, esse comissionista me compre mais um dos meus produtos/serviços. Isso é natural. Então, o Luís Filipe Vieira poderia dizer agora ao senhor Kia uma, de duas coisas. Uma poderia ser o que todos desejamos que é afirmar ao senhor empresário que "afinal o Ramires só sai para o ano, porque agora é tarde demais para comprar um substituto e os 6 milhões de euros que nos deu no dia 20 de Junho já nos desafogam as contas por uns meses".

Outra hipótese é dizer lhe que agora que ganhou 6 milhões de euros num mês - a considerar que Luís Filipe Vieira não consegue resistir à pressão de o vender já neste defeso - invista 4 desses 6 milhões em comprar 50% do Roberto, pois assim resolveria muitos problemas e calava uma opinião publica que ainda não se conforma com os 8,5 milhões de euros que demos por ele e por parte do Simão a fazer fé na história que linkei atrás do Eterno Benfica.

Eu não me choco em ver pessoas a enriquecer à conta do Benfica e dos jogadores que esses empresários investiram. A mim só me custa ver que esse enriquecimento é gerado num mês. Isso já é demais. Por isso é que eu considero o fundo importante nesta fase, mas o Benfica tem de ter a palavra final no que toca aos timings das vendas dos nossos jogadores.


Como já disse muitas vezes, só admito o cenário de saída dum jogador neste defeso, para além de Di Maria. Esse jogador é Cardozo e por um mínimo de 25 milhões de euros. De resto, neste momento e tendo em conta que já encaixámos muitos milhões com vendas de percentagens de passes de muitos jogadores, então agora que os senhores investidores esperem sentadinhos pelo resultado desse investimento, enquanto o Benfica e os Benfiquistas vêm as nossas estrelas a brilhar um ano mais nos relvados nacionais e internacionais.

Força Benfica

2 comentários:

espaço1904 disse...

Eu só acredito que o Ramires sai quando o ler o comunicado da CMVM. Também já me perguntei qual seria o interesse de vender esses 50% do passe se era pa vender o jogador um mês depois...
É impossivél ele sair já sem ser pela clausula. No fundo o Benfica abdicou de ganhar 50% de um a transferencia milionária por apenas 6M para o manter mais um ano. Só pode ter sido assim.

Se não foi que arranjem uma maneira de ele ficar, nem que seja pagamdo ao iraquiano os 6M que ele ganharia já em vez de gastarem o dinheiro num substituto de qualidade duvidosa.

Anónimo disse...

Eu também não gosto do fundo de jogadores mas percebo e aceito a sua existência pois as nossas dificuldades de tesouraria obrigam a estes "esquemas". Temos que andar a adiantar receitas para podermos ter a equipa que temos, para podermos ser desportivamente muito mais fortes do que éramos. Claro que tudo tem um custo, se ganhamos desportivamente perdemos financeiramente.
Espero que um dia, não muito longe, deixemos de necessitar de andar a adiantar receitas. Isso vai depender dos Benfiquistas e da Direcção do clube.

undertoad