O outro lado da euforia

No meio de tanta euforia há situações que não são motivo para tanta alegria por parte de adeptos, equipa ou direcção e acho que é importante tentarmos todos manter os "pés na terra" antes dos sonhos legítimos da conquista de três troféus este ano.

Antes, o jogo de quinta feira em Eindhoven onde sofremos por dois motivos. O primeiro motivo foi táctico, de pouca preparação do jogo e de uma atitude que inicialmente não entendi.

As opções de Jesus, discutíveis ou não, são para acatar, respeitar e entender por parte dos nossos jogadores.

Se o nosso treinador mete Peixoto e Javi Garcia a jogar e deixa no banco Aimar e Carlos Martins não esperaria por certo que aos 25 minutos tivesse a perder 2-0, com dois golos em contra ataque.

A equipa nao deve ter entendido o conceito de aguentar o mais possível o ímpeto inicial holandês - que na verdade não existiu -  e não entenderam a obrigatoriedade de todos serem muito organizados no meio campo defensivo, tentando controlar um jogo que não controlando, se pode pagar caro na europa do futebol. 

Nos jogos fora contra Shalke 04, em Telavive e em Lyon tivemos três derrotas porque a equipa não entendeu que jogar ao mais alto nível europeu significa ter inteligência, manha, contenção e atitude de trabalho. Ontem podia ter tudo corrido mal quando todos vaticinámos que ia correr bem, porque vemos que apesar da experiência de Liga Europa o ano passado, da Champions League este ano e do que temos feito de Liga Europa esta época, a equipa ainda não mostra a estaleca europeia que necessitamos.

O segundo erro nasce duma má analise de Jesus ou da equipa médica. Salvio lesionou-se com gravidade exactamente do lado onde estão os adeptos encarnados.

Quem vai regularmente aos estádios e conhece os jogadores, entende em 2 segundos que a cara de dor e sofrimento de Salvio era clara. Há ali lesão grave.

Tinha um amigo meu que nao estava a ver o jogo e entre trocas de SMS escrevi:

"Salvio já foi. Está lesionado"

"Ainda não estou a ver. É grave?" responde ele

"É grave." escrevo eu

"Ele quer sair. Jesus quer forçar..." escrevo novamente

"Não vale a pena arriscar." responde ele

"Jesus é estúpido. O gajo está arrasca" escrevo eu num português de SMS no futebol e onde a palavra "estúpido" é quase um elogio e a palavra "arrasca" a descrição possivel...

"O homem é burro" responde esse meu amigo no mesmo conceito de SMS futebolístico positivo para o visado, pois nao se chegou ao nível do palavrão...

"Nem se consegue mexer" escrevi eu

"Salvio vai sair. Carlos Martins entrar. Já levámos um golo entretanto." escrevo e sem obter respostas termino com:

"Jogámos 10 minutos com menos um..."

Primeiro há que contextualizar os SMSs. Do estádio de Eindhoven para algures em Portugal e entre dois amigos. Resolvi passar as mensagens para o blog porque há coisas que são tão óbvias que não entendo como alguém responsável e perto do jogador não viu o que todos vimos da bancada. Não vou questionar se foi o departamento médico ou Jesus que forçou Salvio a jogar, mas foi uma má decisão porque estava na cara que o menino Toto estava lesionado, com cara de esforço e em esforço (passe a expressão) e na verdade jogámos 10 minutos ou perto,  com apenas 10 jogadores.

Como é obvio não foi por culpa dele que sofremos um golo e não é culpa de Jesus que ele se tenha lesionado gravemente.

E esta é a primeira má noticia desta semana. Este Toto era peça fundamental nestes difíceis jogos que se avizinham e sem ele neste momento somos uma equipa mais fraca quando deveríamos estar bem mais fortes. E temos que admitir que somos mais fracos exactamente no momento da época onde precisamos de estar mais fortes.

Quando chegamos ao hotel, não vi Salvio a chegar com a equipa e ao ver  alguns semblantes carregados, entendi que o tal menino Toto estaria ainda no hospital e que a coisa não parecia bonita. Ontem depois de ver Salvio com o pé engessado e com operação marcada para esta segunda feira, sei que nos despedimos dele nesta época com a célebre frase "até um dia".

Ontem em Eindhoven acordo com outra bomba. Já aqui critiquei varias vezes as indefinições de horários e datas do calendário benfiquista. Eu não trabalho num emprego ao lado do estádio da luz, das "9 às 5" e organizo as minhas viagens e o meu trabalho com alguma antecedência com marcações que sao inalteráveis em Portugal e no estrangeiro.

Tenho uma agenda no meu iPhone com todos os jogos do Benfica (datas aproximadas) e a minha agenda profissional. Neste caso específico estava claro em todos os sites e na minha agenda que o vencedor do Braga -  Kiev recebia a 28 de Abril o vencedor do PSV - Benfica e que a 5 de Maio o Benfica receberia o Braga ou Kiev no seu estádio, jogando a partida decisiva em Lisboa para carimbar o acesso à final da Liga Europa.

Soube ontem que foi a UEFA que alterou esta ordem de jogos o que só significa que deste lado do Atlântico - mesmo ao mais alto nível - têm muito que aprender com os seus homólogos americanos que até em desportos menos populares  - basket ou hoquei - gerem marcações de agendas complicadíssimas de arenas como o Madison Square Garden e outras similares, nao podendo alterar as coisas a seu bel prazer.

E a UEFA muda o calendário devido a um critério definido há muito tempo que basicamente diz:

 - Quando dois jogos se realizam à mesma hora num espaço de 50km, altera se um deles beneficiando o que ficou mais bem classificado no campeonato anterior.

Ou seja entre Braga e FCPorto, opta se por deixar o FCPorto a receber o Villarreal no dia 28 de Abril porque foi terceiro no campeonato anterior beneficiando-se o segundo classificado - SCBraga - mas esquecendo que com essa decisão prejudica-se o campeão em título que por acaso é o seu adversário nessa eliminatória - o Benfica.

Eu entendo tudo e sei que estas alterações são feitas com regras claras e que provavelmente não contemplam um cenário com campeão, segundo classificado e terceiro classificado do mesmo campeonato, mas acabamos por ser prejudicados.

O Benfica é prejudicado porque joga o segundo jogo decisivo em Braga em vez de jogar no nosso estádio com 60000 pessoas a apoiar e eu sou prejudicado  porque com viagens marcadas e calendários profissionais definidos arrisco me a nao ver nenhum "in loco"

Na quinta feira à tarde no hotel onde estava a equipa, alguém da estrutura benfiquista dizia que era melhor apanhar o Dínamo Kiev na meia final por questões financeiras e também por questões desportivas.

Eu nao entendi esse raciocínio - quanto mais nao seja pela viagem a Kiev e o conhecimento aprofundado do SCBraga - mas se os nossos directores e técnicos sabiam deste cenário da possível troca de jogos, talvez tenha sido essa uma das razões dessa sua opção e agora faz mais sentido.

Disse num post anterior que ter o Braga na meia final da Liga Europa era "argumento de sonho" e não me arrependo, mesmo com esta alteração.

Podemos ficar pelo caminho mas neste momento morrer na praia à beira duma final, será catastrófico.

Mais uma vez está nas cabeças dos nossos jogadores e na sua capacidade de auto superação o desfecho desta eliminatória.

Com a atitude da primeira parte em Eindhoven, acabou o sonho com Braga, Porto ou Villarreal. Com uma atitude de responsabilidade e de vontade de ganhar podemos tudo, mesmo sem Salvio.

E seria tão bonito festejarmos esse apuramento para uma final, duas décadas depois da ultima com Milan, no nosso Estádio da Luz, como o fizemos com o Marselha. A acontecer, será em Braga...

Antes, foco absoluto na Taça de Portugal a 20 de Abril e a final da Taça da Liga a 23 de Abril. Datas fundamentais para nós, enquanto os nossos adversários da Liga Europa descansam quase 2 semanas antes da deslocação ao Estádio da Luz.

Temos que mais uma vez jogar com uma euforia desmedida à volta da equipa - ninguém em Eindhoven falou doutra coisa que não a viagem a Dublin - começando desde já a dar trunfos ao SCBraga.

Neste caso específico seria bom ir a Braga na primeira mão da meia final e como tal não acontecerá o jogo no Estádio da Luz a 28 de Abril será o verdadeiro jogo europeu este ano e aquele que nos poderá dar a final da Liga Europa. Aqui temos que jogar nos limites e fazer o jogo perfeito para não se sofrerem golos. O ambiente tem de ser à antiga e não nos podemos esquecer nem por um minuto que se joga uma meia final da Liga Europa. E agora sim é tempo de celebrar o que não conseguíamos há 17 anos. 

Parabéns Benfica.

Força Benfica