segunda-feira, 11 de maio de 2009

Primeiro Aniversário


Há um ano Rui Costa abandonava os relvados numa tarde emocionante no Estádio da Luz. Há um ano resolvia inaugurar este espaço blogosférico e admito que tenho gostado da experiência, especialmente por ser algo isolado e onde escrevo sozinho e para mim. Escrevo para mim sobre a paixão que tenho há muito tempo e faço-o sabendo que cada vez tenho mais leitores, mas sem que isso mude obviamente todas as ideias pessoais que por aqui vou defendendo.

Tenho opinado de vários pontos do país e do estrangeiro, tenho opinado com vários sentimentos, tenho opinado com várias sensibilidades mas apenas com uma ideia individual e muito séria. Sério comigo mesmo. Só assim faz sentido.

Sei que tenho alguns problemas em adaptar-me a este novo meio tecnológico e ainda estou a aprender a maximizar tudo da melhor maneira. Tenho pena de não saber um pouco mais de design, de layout, de packaging electrónico para que este espaço seja um prolongamento (também estético) efectivo das minhas ideias e imagens. Como não tenho tempo para isso, fico-me pelas ideias, que são a essência deste espaço.

Tenho pena de chegar ao primeiro aniversário exactamente no mesmo local onde estava há precisamente um ano. Com um "fim de ciclo" a dar inicio a "outro ciclo novo" sinto-me desiludido e triste. Hoje sei que o Benfica não tem remédio rápido e só espero que a emoção dê lugar à inteligência sob pena de estes novos ciclos não parem de renascer.

Hoje é dia de aniversário e não quero fazer deste, mais um dos (longos) posts com opinião crítica sobre o "Meu Benfica" de fim de época.

Quero cumprimentar quem me lê e agradecer os comentários que me fazem ou os emails que me enviam regularmente; quero agradecer a todos os bloggers vizinhos pelo destaque que me vão fazendo nos seus espaços; quero agradecer ao Benfica pela inspiração infinita.

Força Benfica

domingo, 10 de maio de 2009

Os Amadores

Os Amadores... Bem que podia ser um título de um qualquer filme de autor, mas a verdade é que é apenas e só o título dum modesto post dum blog encarnado desiludido com o que vê neste final de época Benfiquista.

A equipa de futebol é absolutamente amadora, no sentido oposto ao que a palavra profissional encerra na sua génese. Ser profissional é honrar a camisola, honrar o dinheiro que se ganha - muito ou pouco - ter atitude sempre, mesmo que os resultados não sejam motivadores, respeitar quem paga bilhete para os ver jogar e "last but not least" ser honesto com as ideias que defendem.

No final do mês de Janeiro - já depois da deplorável prestação europeia, do afastamento da Taça de Portugal e depois de termos já perdido na Trofa para o campeonato, Yebda confirma a tristeza na hora da derrota e promete coisas ambiciosas para a segunda volta do campeonato.

- "Ficamos tristes. É normal porque queremos ganhar e satisfazer os adeptos. Mas até final da época não sentiremos mais, pois não vamos perder mais qualquer jogo".

Quando li isto desconfiei e pensei que pudéssemos ter uma segunda volta abaixo das expectativas. Na verdade perdemos contra Sporting, Guimarães, Académica e Nacional... Para quem dizia que não ia perder, tivemos bem, sim senhor...

Depois foi o episódio Académica, quando os jogadores do Benfica disseram que queriam vingar-se dos 3-0 do ano passado e que tinham recortes de imprensa nos balneários com palavras provocatórias do jogador adversário Nuno Piloto. Pois no final, mais uma derrota.

Depois da derrota com Académica em casa, soube-se que os jogadores do Benfica tinham cerrado fileiras e garantido internamente que queriam ganhar os restantes quatro jogos do campeonato para mostrar o carácter que alguns adeptos meteram em causa. Desconfiei uma vez mais da atitude dos jogadores mas dei o beneficio da dúvida. O resultado foi claro. Perdemos com Nacional na Madeira e empatámos com o penúltimo do campeonato em casa.

Isto para dizer que todas estas estórias são reveladoras do que para mim é o oposto de total profissionalismo. Dizem que "se desejas ser bom, começa por acreditar que és fraco". Pois no Benfica é ao contrário... Também se diz por aí que "se queres melhorar, passa a ideia geral que és tolo e estúpido". No Benfica somos mesmo fracos, tolos e estúpidos e queremos passar a ideia que somos muito bons. E isso enerva-me...

A semana passada falou-se de infantilidades. Foi mais uma expressão que Quique arranjou para descrever o descalabro made in Madeira. Hoje com o empate contra Trofense - com quem perdemos 5 pontos em 2 jogos - passámos para o nível de amadores. Perde-se o respeito todo por cada um dos adeptos e por cada um dos que ainda acredita que a inteligência e o bom-senso são características inerentes às nossas equipas. Se algum adepto pensa isso não pode estar mais longe da verdade.

No entanto o Benfica tem "verdadeiros amadores" que conhecem bem os conceitos de humildade, de profissionalismo e atitude. Agora chamam-lhes "modalidades" mas durante muito tempo foram apenas "As Amadoras". Também se chamou durante muitos anos de "ecletismo" - coisa que os nossos vizinhos de segunda circular têm a mania que sabem mais disso que nós. Essa é a atitude da nossa equipa profissional de futebol. Em vez de irem de mansinho e ganhar, vão de convencidos e perdem. O mesmo se passa com o ecletismo dos viscondes... Armam-se em grandes e nem pavilhão têm para serem "dignos amadores".

Pois bem, o Futsal, o Andebol, o Basquetebol, o Hóquei em Patins e as camadas jovens do Futebol ainda se consideram "Amadoras". E é exactamente aí que deve estar o nosso orgulho. Perder ou ganhar faz parte do desporto e no Benfica perdemos e ganhamos muitas vezes - apesar de tudo, ganhamos mais que perdemos no conjunto das amadoras com a "profissional". O que é diferente na derrota duma amadora encarnada quando comparada com a derrota ou empate da equipa "profissional de futebol" é que elas parecem estar trocadas. Os "Amadores" perdem e lutam até à exaustão numa atitude de mística que provavelmente nenhum dos profissionais do futebol encarnado sabem o que é. Esses profissionais do futebol encarnado vão de espertos e lutadores e parecem umas "primas donas" totalmente amadores, displicentes e enervantes.

É assim que eu os vejo e não devo ser o único. Hoje no estádio, não tinha nenhum dos meus colegas cativos ao meu lado esquerdo, ao meu lado direito, à minha frente ou atrás de mim. Desistiram todos e provaram que são mais inteligentes que eu. Há meia hora de jogo aparece um desses vizinhos que comenta que chegou atrasado porque ficou em casa a ver o jogo de Basket entre Porto e Benfica, que tinha dado vantagem ao Glorioso na luta pela passagem à meia final dos playoff do campeonato nacional. Eu também vi o jogo e apesar de também ver os mesmos roubos de igreja que se têm visto no futebol profissional, os amadores não usam esses roubos como desculpa e vão à luta porque sabem que se não lutarem eles próprios, ninguém lutará ou ganhará esses jogos por eles. Não serão os adeptos ou os directores de comunicação ou os administradores que irão resolver o problema maior deles e lutam com dignidade pela camisola que vestem. E perdem? Sim perdem. E ganham? Sim ganham. O voleibol já perdeu, o rugby já perdeu mas ainda estamos noutros tabuleiros para ganhar algo.

No futebol profissional estamos de cabeça perdida, estamos a dar um novo conceito á palavra amador e estamos a ser envergonhados na nossa própria casa . Dos últimos 4 jogos em casa, perdemos com Guimarães (8º da Liga), Académica (9º da Liga), ganhámos a Marítimo (7º da Liga) e empatámos com Trofense (14º da Liga). Andam todos cabisbaixos, de treinador a jogadores e para eles o conceito de "levantar a cabeça" é andar de cabeça levantada, que como todos sabemos não é a mesma coisa.

Eu considero o ecletismo algo maravilhoso no nosso clube e vibro com desportos que me são queridos com o Hóquei e Basket, quase da mesma maneira como vibro com futebol. Digo quase, porque na essência por mais que queira o futebol sente-se de maneira diferente. Por falar em futebol, estamos agora a entrar na fase final do campeonato de juniores e seria bom pensarmos que a grande maioria desses amadores poderia e deveria jogar na equipa dos profissionais dentro de pouco tempo. Só assim vamos conseguir ser dignos da nossa camisola de futebol profissional num futuro próximo.

Dissemos durante a época que esta nossa equipa de futebol profissional era muito fina para jogar nas Trofas, nas Matas Reais, em Matosinhos ou no Estádio dos Arcos em Vila do Conde. Agora tornaram-se tão finos, tão finos que nem no Estádio da Luz querem jogar. Ao contrário, os juniores vão jogar pela primeira vez no relvado do nosso Estádio esta tarde contra Vitória de Guimarães e diziam na Benfica TV que a ansiedade, o nervosismo e o orgulho de ali jogar é algo maior e motivo de enorme motivação. Este é o espírito meus caros profissionais da bola. Este é o espírito.


Se tivessem a humildade de aprender com os amadores, esta tarde viam os jogos dos juniores no estádio com Guimarães, depois viam os jogos de Andebol contra Sporting, de Basket contra o FCPorto e de Hóquei em Patins também contra o FCPorto. Era um bom menu de domingo à tarde. Mesmo que possamos perder todos estes jogos "Amadores" sei que a atitude em qualquer um destes jogos será 100% profissional. E se os jogadores do futebol profissional perdessem umas horas do seu maravilhoso e precioso tempo a ver os seus colegas amadores, talvez começassem a aprender o que é ter a Mística encarnada. Se calhar os profissionais pensam que ter Mística é ter a revista do clube no carro...

Como a maior parte deles ficará cá na próxima época, poderia ser que estes ensinamentos pudessem dar maior humildade e disciplina de cada vez que vestirem a camisola encarnada do Glorioso.


Força Benfica

sábado, 9 de maio de 2009

O adeus de Quique

As palavras de Quique ontem na conferência são de clara despedida ou de claro passo táctico num jogo que terá um final anunciado daqui a duas semanas.

Há uns tempos disse aqui que não haveria nenhum dilema de Rui Costa na continuidade ou não continuidade de Quique, a não ser que o espanhol quisesse sair. Pois neste momento, tendo em conta o silêncio da administração e direcção desportiva no apoio inequívoco a Quique podemos estar perante uma situação em que o próprio Quique quer sair e a administração joga com o tempo para evitar o pagamento da indemnização ao treinador espanhol.

A tristeza do espanhol, bem patente desde há umas semanas a esta parte é indicador que algo pode estar errado. Dizia ele ontem:

"No final da época vamos conversar com frontalidade, faremos o balanço e tomaremos uma decisão com naturalidade. Posso seguir em frente ou dar lugar a outro projecto, sem traumas nem problemas. Temos de fazer o melhor possível nos jogos que faltam, e no final faremos as contas ao que foi feito. Será decidido o que for mais conveniente para todos".

Segundo o jornal "A Bola", quando confrontado se estava preparado para perder Reyes, o espanhol soltou: "Estou preparado para acabar esta época, depois logo se vê."

Parece-me claro a atitude do treinador, passiva e conformado com a realidade que se adivinha nas próximas duas semanas.

Quando o jornal "A Bola" começa a fazer capas e manchetes mostrando o "quão" mau foi o trabalho do treinador espanhol nesta segunda volta e quando hoje mete a Taça dos Campeões em formato invisível, parodiando as palavras do treinador sobre esse conceito invisível do seu trabalho, fica claro para mim que há já trabalho de bastidores a ser feito no sentido de inviabilizar totalmente todas e quaisquer condições de manter o treinador na Luz. Dizia Quique a propósito desse novo conceito do trabalho invisível:

"Os primeiros objectivos passavam por terminarmos nos dois primeiros lugares, se possível em primeiro, mas há também objectivos invisíveis, como a formação de jogadores muito jovens que já estão na primeira equipa, a conquista de um título [n. d. r. Taça da Liga] ou o facto de o Benfica ter passado a ser a equipa com menos lesões na Europa, sobretudo comparando com a época passada, em que foram muitas as lesões. Há muita coisa a melhorar e há argumentos que nos dizem que foi uma época muito difícil, em determinados aspectos, mas também há outros, invisíveis, em que o Benfica melhorou muito e que farão parte do balanço".

O que penso e acredito é que tudo se deve definir e tornar público. Temos tabus no FCPorto - onde Jesualdo termina contrato este ano - e temos tabu no Sporting fruto duma campanha eleitoral em curso e também com o final do contrato de Paulo Bento. Neste momento com a Taça Europa e o terceiro lugar seguro já deveria ser mais que tempo de definir claramente se Quique fica ou não fica e deixarmos estas infantilidades mediáticas para outros clubes concorrentes.

A aparecerem nomes de reforços todos os dias nos jornais ainda se corre o risco de comprar jogadores em Maio que nem entram nas contas de Julho porque o novo treinador não opinou nessas contratações.

Meus caros amigos da direcção Benfiquista, orientem-se e definam um rumo antes que comecem a perder toda a noção de seriedade e a ganhar cada vez mais uma noção de ridículo que neste momento é a única coisa que é visível para todos os Benfiquistas. E já nem falo do episódio Leo que até envergonha o mais high-profile dos nossos adeptos. Nem devíamos comentar tamanha falta de seriedade desse grande sacana.

Orientem-se meus caros, orientem-se...

Força Benfica

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O Benfica de "segunda a sexta"

No último post, antes da derrota na Madeira, falava do final anunciado desse tal ano zero que nós tanto acreditámos que fosse o relançamento do futebol encarnado nos voos que tanto ambicionamos e merecemos.

Na verdade, tal não sucedeu. E não digo isto por causa dos resultados obtidos. Isso sinceramente não me importa e sei que é grave quando alguém diz que "os resultados não importam" num clube como o Benfica, mas sei o que quero dizer quando afirmo tão polémica frase.

Eu apoiei Rui Costa e apoiei Quique e sua equipa. Mesmo com todo o descalabro desportivo desta segunda volta, continuo a acreditar que não será desejável qualquer alteração nesta estrutura. Quando nós na bancada dizemos "sai o Nuno Gomes", "sai o Yebda", "sai o Aimar" baseamos a nossa opinião na premissa de adepto fervoroso que está descontente com a performance desse jogador. Um treinador que sinta o mesmo que nós tem que pensar quem vai meter no seu lugar e analisar se esses resultados serão positivos para a equipa e não apenas para penalizar o jogador que não está a render. Esta metáfora aparece aqui para justificar a razão que defendo para deixar ficar Quique Flores e sua equipa como treinadores do SLBenfica.

Qualquer outra alteração nesta estrutura, seria algo negativo. A não ser que o treinador fosse alguém que conhece bem o futebol português, alguém que conhece muito bem o plantel actual do Benfica, alguém que conseguisse garantir resultados e ambição sem exigir contratações milionárias, alguém que não dissesse que "Reyes, Balboa, Aimar e Yebda" deveriam sair porque são "jogadores de Quique", alguém que fosse suficientemente carismático para conquistar o terceiro anel em dois minutos, alguém que fosse profissional e exigente, alguém que sentisse a mística e se desse bem com a estrutura de Rui Costa, alguém que fosse duro e exigente com os jogadores mas que os soubesse conquistar e convencer da mística Benfiquista, alguém que desse a sua vida pelo Benfica sem outros objectivos a curto-médio prazo, alguém que não use o Benfica para um qualquer trampolim pessoal.

Esse alguém existe. Seguramente que sim. Mas não é fácil passar deste perfil para um nome disponível e economicamente viável. Nesse sentido deve ficar Quique.

Mesmo assim, todo o processo Quique está a ser absolutamente mal gerido. Rui Costa, depois da derrota com Guimarães deveria ter dado um sinal inequívoco que Quique é para ficar. Depois da derrota com Académica e da contestação nessa semana pela exibição contra Amadora, Rui Costa deveria ter deixado claro para todos que "Quique fica" e depois da derrota com Nacional, Rui Costa deveria ter dito "que até podemos perder 10-0 nos restantes jogos da Liga, que Quique Flores será sempre nosso treinador na próxima época". Não o dizendo dá razões para especular...

E isto leva-me ao ponto fundamental deste texto. O Benfica não tem uma estrutura de Futebol que entenda bem o que é o Futebol moderno e as exigências comunicacionais desse mesmo futebol.

Rui Costa é um dos nossos. Foi, é e será...Há um ano despediamo-nos dele e eu escrevia que aos 35 anos, habituado a balneários, estágios e relvados, seria difícil ele habituar-se rapidamente ao outro lado do jogo. Ele mostrou qualidades nas contratações e no tal projecto que ele queria implementar a dois anos com Quique e com um punhado de novos jogadores no plantel. Quer "misturar experiência com juventude". E diz que "quer aproveitar mais jovens da formação e contratar mais portugueses para o Benfica". Se este é um projecto, não se esgota nas bolas na barra ou nos golos falhados ou sofridos que constituem percas de pontos.

O problema é que o Benfica de Rui Costa não se esgotou no último dia de contratações. A gestão do dia a dia do futebol do Benfica, foi na minha opinião mal feita. Nem tudo foi mal feito, mas foi muita coisa mal feita.

Não gosto do estilo de comunicação do nosso director João Gabriel. Já aqui o escrevi e sei que alguns dos que me lêem criticaram a minha postura, mas é a que me vem de dentro. Não entendo a mediatização da figura do director de comunicação e detesto o seu estilo. Neste papel exige-se discrição e boa gestão do timing. Deixar que os actores principais sejam jogadores e técnicos, trabalhando na sombra para alcançar objectivos claros, mas que só ele deve saber. Ser capa de semanários e sentir que ele próprio é uma estrela mediatizada neste nosso Benfica, parece-me desadequado à função, seja ele João Gabriel ou João Malheiro. Há outras maneiras mais modernas de gerir este departamento. Aliás, nada me convence que tem de ser ex-jornalista para executar bem esta função. Alguém da área do marketing e do media management pode fazê-lo de maneira mais moderna, eficaz e discreta.

Além do estilo de comunicação, há o estilo e a mediatização do director jurídico. É ele que dá a cara na Liga, é ele que fala no final de cada assembleia e parece-me que o Benfica deve zelar pelos seus interesses na Liga, mas lá dentro e não através dos media. Mais uma vez alguém que entenda o media management em 2009 poderia ajudar o nosso director jurídico Paulo Gonçalves a desempenhar melhor esse trabalho. Dizem por aí que não ganhou nenhum caso para o Benfica. Não sei se ganhou ou não ganhou, mas essa não é razão do meu descontentamento com esta dupla que mais directamente assessoria Rui Costa.

Sem Luís Filipe Vieira nos jogos - por conselho médico - o Benfica fica frágil durante o "fim de semana" e forte durante a semana de "segunda a sexta" onde todo o potencial empresarial do Benfica funciona. Esta metáfora da "segunda à sexta" vs "fim de semana" é obviamente para delimitar o que tem sido a gestão magnifica de todo o universo empresarial do Benfica ao nível de associados, projecto do cartão e seus descontos, merchandising, dinamização das casas do Benfica, marketing e novas variáveis da marca Benfica - viagens, seguros, telecom - e da má gestão futebolística da mesma direcção.

Nesta fase, prefiro que de "segunda a sexta" se trabalhe bem e se trabalhe mal ao "fim de semana" porque apesar de ser ao "fim de semana" que existe o core business da marca Benfica é mais fácil adaptar e mudar uma área que todas as outras. Outra razão que assenta este meu raciocínio é que as contas do Benfica estão orientadas - apesar do passivo crescente - e controladas. Caso contrário, se existisse um descontrolo total nas contas e se o futebol funcionasse e ganhasse, seria apenas fogo de vista e um rastilho que rebentaria rapidamente com a crise financeira a meter-se mais cedo ou mais tarde na gestão do futebol.

Então o que é que o Benfica tem de mudar para voltar a ganhar?

Essa resposta não é clara, mas há razões que podem ajudar a entender o que na minha opinião corre mal. Uma dessas razões é que o nosso Rui Costa está sozinho ao "fim de semana".

Sem Luís Filipe Vieira ao "fim de semana", sem Diamantino, Chalana ou qualquer outro membro forte na estrutura com ligação à mística Benfiquista, com Rui Águas muito distante e com outras obrigações, sobra Paulo Gonçalves e João Gabriel - aliás bem visível nas imagens televisivas que vimos do estádio do Nacional.

Isto é muito pouco para quem tem que gerir muitas pontas ao mesmo tempo. O problema é este. Rui Costa parece-me ser uma boa pessoa. Muito boa pessoa. Não consegue ser "aquele sacana" que muitas vezes na vida temos que ser para atingirmos determinados objectivos. Um exemplo...

No final do jogo na Trofa, em Matosinhos para Taça de Portugal, na Amadora ou contra Guimarães em casa seria importante que Rui Costa fosse ao balneário ser DURO com todos, mostrando quem manda, quem lidera e mostrando a atitude que se deve ter ao vestir a camisola do Benfica. Usando uma linguagem dura, com as "asneiras" e as ofensas pessoais a subir de tom deveria responsabilizar o plantel e equipa técnica e mostrar que "quem não se sente não é filho de boa gente". E mostrar que não admite faltas de atitude em nenhum campo onde o Benfica jogue.

Não tratar ninguém de forma diferente. Mesmo os que lhe são próximos e que o grupo sente como próximos dele deveriam ser os primeiros a ser criticados. Criticar sem critério o que significa poder apontar o dedo ao melhor jogador e o que mais correu para que todos entendam que a sua "cegueira" é por amor ao clube e que nenhum desses jogadores se pode sobrepor ao emblema encarnado.

No final poderia sair do balneário com todos os jogadores a chamarem-lhe nomes e a rogarem-lhe pragas. Para fora o discurso teria que ser de solidariedade, de força, de acreditar, de mandar recados de união para adversários mais próximos, de cerrar fileiras para entender que dos pontos fracos e dos pontos perdidos vamos ter mais força para os recuperar noutros terrenos.

Mesmo que Rui Costa "amuasse" com os seus meninos um ou dois dias eles sentiriam que não fez nada disto por mal, nem por lhes querer mal, mas por amor ao clube e a uma gestão bem feita. Quando os jogadores sentissem esse discurso de protecção para fora, poderiam comentar:

"Este cabrão gritou e berrou até mais não, mas depois defendeu-nos na rua".

E é isto que nós precisamos - duma voz de comando que não pode ser João Gabriel - por favor - ou Paulo Gonçalves - por favor - ou Quique muito solitário - por favor - ou Luís Filipe Vieira a meter os pés pelas mãos quando na conferência que devia ser de apoio inequívoco a Quique o que melhor lhe saiu foi "os contratos são para cumprir". A fazer fé no episódio Fernando Santos, essa frase ficou-lhe muito bem...

Isto consegue-se, delimitando quem faz o quê na estrutura, e talvez contratando alguém que seja uma voz maior no seio do grupo. Rui Costa é o director desportivo mas pode haver alguém que pode acompanhar a equipa, tendo em conta que Luís Filipe Vieira está proibido de assistir aos jogos.

E o Shéu? Eu adoro o Shéu. Aliás um texto de Ricardo Araújo Pereira sobre o Shéu há uns meses descrevia o que é Shéu para uma geração. "Eu queria ser o Shéu". Claro que sim. Mas será que essa pessoa que falo atrás é o Shéu? Não me parece. Shéu é um gentleman e nalguns momentos no futebol não se pode ser só gentleman e Shéu é só gentleman. E que continue a ser... Rui Costa pode endurecer o discurso para dentro ganhando mais respeito mas é um ex-colega de grande parte deles e não tem essa distância. Eu não dou nomes reais, mas posso definir nomes que definem perfis... Será que precisamos de um Toni, de um José Veiga, de um Humberto Coelho, de um Manuel José, de um Álvaro Magalhães ou de um Diamantino que não seja fragilizadíssimo desde a primeira semana de treinos? Se calhar de alguns desses perfis não necessitamos, mas sei que precisamos de competência no Benfica. A figura intermédia entre Presidente Luis Filipe Vieira e o director desportivo Rui Costa é importante. Humberto Coelho poderia ser um bom nome ou com um bom perfil, mas mesmo assim preferia alguém mais "bruto" ou menos politicamente correcto... Uma espécie de Jorge Jesus ou Scolari, mas da casa e com mística reconhecida. Alguém que Reyes e Aimar não "gozassem" se ele tivesse que puxar dos galões. E essas pessoas não são os que neste momento temos na estrutura de futebol e esse é o nosso problema.

No ano de José Veiga, além dele tínhamos Trapattoni e Álvaro Magalhães. Todos pesos pesados e uma equipa que não tinha o mínimo de talento. Ganhámos porque a estrutura era forte. Eu sei que a história não se repete e sinceramente penso que o tempo destes três já passou e não desejo que qualquer um deles volte ao Benfica. Isto serve apenas como exemplo do que para mim é a disciplina e forte estrutura que neste momento não temos.

Quando se fala em mística é disto que falo. Quando este sábado o Sporting empata com Académica era imprescindível que o Presidente, o director desportivo ou esta figura intermédia fosse ao balneário e dissesse umas palavras que metam a equipa em sentido.

Alguém que bata à porta educadamente, peça permissão para entrar e faça um discurso de 2 minutos onde foque com educação que "este jogo só pode ter um resultado, independentemente do que jogamos ou não jogamos". Lembrar que cada um daqueles jogadores vai "querer lutar por um lugar na champions onde eles merecem estar" e dar uma mensagem subtil de "responsabilidade e atitude." Não me canso de falar em "atitude" porque foi isto que nos faltou o ano todo - independentemente de nós "treinadores de bancada" pensarmos isto ou aquilo da parte táctica.

A falta de atitude nos tais campos pequenos e mais recentemente em casa - por exemplo com Guimarães - para mim só é possível porque não há liderança no nosso futebol. Posso estar enganado e tudo o que aqui opino estar obviamente errado. Claro que sim,mas este espaço é meu e eu opino o que bem me apetece.

Gosto de Rui Costa e sei que ele parece-me pouco confiante e muito sozinho. Ele pensou que com este João Gabriel ou Paulo Gonçalves estaria bem acompanhado e na minha opinião não está. Ele é o patrão, não esses nomes. Ele é o patrão do futebol e tem de ter tudo muito claro para que nos próximos meses tudo isto tenha que ser melhorado. Não pode confundir amizades com profissionalismo e deve saber ler nas "entrelinhas" de tudo o que se passou esta época.

Nessa altura, posso acreditar que o Benfica será bem gerido "de segunda a domingo" porque esta dicotomia de "fazer bem" vs "fazer mal" dependendo das áreas de actuação da gestão do Benfica é das coisas mais desconcertantes que me lembro de ver em qualquer tipo de organização.

Falhar o main core business e conseguir gerir bem tudo o resto, é das coisas mais estranhas da gestão do nosso clube. "Só" temos que acertar no futebol e apelar ao profissionalismo, liderança e capacidade mobilizadora.

Quando isso acontecer seremos mesmo imparáveis. De verdade.

Força Benfica

sexta-feira, 1 de maio de 2009

O fim anunciado do "ano zero"

Estamos a chegar ao final da época e apesar de eu ter falado há uma semanas do inicio da pré-época, apenas agora podemos começar a fazer análises claras do que se passou este ano e do que fica deste mesmo ano para o próximo que se iniciará em Julho 09.

Na minha opinião, independentemente do que se passar no que falta jogar do campeonato, o Benfica perde esta Liga no jogo em casa com Guimarães e perde o segundo lugar com a derrota com a Académica. Isto passa-se tudo em 3 semanas e convenhamos que a derrota contra Académica, à semelhança do empate contra Nacional, do empate contra Setúbal, do empate no Restelo e do empate nas Antas foi obviamente um ultraje. Na minha frente eu vi um penalti seguido de golo ser transformado numa falta atacante. Eu que não gosto de criticar árbitros penso que poderá levar alguém a anular um golo precedido de penalty? É nestas jogadas que se vêem os resultados dos choradinhos "made in Alvaldade" ou "made in Algarve" na final da taça da liga. A mesma taça da liga que não tinha importância quando lhes foram oferecidos um golo de Vukcevic contra Rio Ave. Nesse dia, este golo com fora de jogo de dois metros era um "brinde envenenado para depois poderem realmente prejudicar o Sporting na Liga".

Pois passados umas semanas o brinde ao Benfica desse tal famigerado penalti em Faro, valeu ao Sporting o segundo lugar e ao Benfica o terceiro previamente previsto nesse acordo silencioso entre Sporting e FCPorto. Como foi triste assistir a dirigentes do Sporting em Guimarães a criticar o árbitro desse jogo - existiu algum jogo que estes senhores não critiquem a arbitragem? - e a concluir no final que "tudo isto só prova que os dirigentes do Benfica andam de cabeça perdida".

Na prática, entre boas e mas exibições, entre reforços (Ruben Amorim) e flops (Balboa), entre acertos e equívocos de Quique o Benfica apenas sai fora da corrida com duas derrotas seguidas em casa em jogos que teoricamente éramos mais fortes. Isto é a verdade indesmentível.

Para o tal ano zero que se apregoou em Agosto de 2008 e assumindo a tristeza que tenho no desgosto das derrotas, existem coisas positivas.

Lembro a todos que na passada época contratámos Sidney, Jorge Ribeiro, Ruben Amorim, Reyes, Aimar, Suazo, Balboa, Yebda, Carlos Martins, Urreta e já com o campeonato iniciado perdemos Nelson e Leo. As contratações foram feitas a conta gotas e o planeamento da época começou tardio. Tínhamos contra nós toda uma estrutura nova contra a tal experiência e estabilidade das estruturas de FCPorto e Sporting.

Em Maio de 2009 temos o plantel a começar a ser desenhado com tempo e calma que se deseja no clube como Benfica. Contratámos Patric - o tal defesa direito sub-20 com "margem de progressão" - e temos referenciados vários defesas esquerdo, um avançado que substitua Suazo e alguns ajustes no meio campo e defesa.

Mesmo com dúvidas - sairá Di Maria? sairá Katsouranis? sairá Luisão? sairá Binya? sairá Balboa? - este será um defeso com menos capas com Benfica e com mais instabilidade para os lados da coligação FCPorto/Sporting. Por isso é que aparecem desde já as capas com os Afonso Alves e com os Álvaros Pereiras, Cavalieris ou Micollis...

Anunciar ou pré anunciar o fim do ano zero significa começar a encarar tudo com menos margem de manobra. Espero que se tenha aprendido a conhecer a Liga e os árbitros, os limites que podemos e não podemos pisar, a comunicação do Benfica e a sua relação com os vários media, mesmo com o novo player Benfica TV. Será bom que todos aprendam que sem atitude até podemos perder com o último classificado seja ele Trofense ou qualquer outro. Todos conhecem as limitações do nosso campeonato e da nossa Liga e todos sabemos que para sermos campeões temos que jogar todos os jogos no nosso limite. Sei que já aqui escrevi isto dezenas de vezes mas enquanto tivermos jogadores que não assimilem esta verdade de la palisse nunca é demais lembrá-lo.

Apesar do final anunciado do "ano zero", sei que faltam 4 jogos e amanhã joga-se uma partida que já vem quente desde a semana passada. Os jogadores e técnicos do Nacional querem o terceiro lugar e apregoam-no em várias conferências de imprensa. Sem necessitar de promover que no nosso balneário se colocam recortes de imprensa dos adversários, que deu mau resultado com Académica, seria positivo que cada um dos nossos jogadores sentisse estas palavras nacionalistas como "motivação" extra para podermos sair da Choupana com a vitória que tanto desejamos.

É a única arma que temos. Jogamos apenas para nós. Como dizia o blog "Vedeta da Bola" nos últimos dias, Porto e Sporting ganharam 8 dos últimos 9 jogos - o outro empataram entre eles.
Isso prova que com o calendário que falta só um milagre fará que os três lugares da liderança se alterem. Não há problema. Ficaremos no terceiro lugar, com director desportivo castigado, com Quique "fragilizado", com os dois primeiros em lugares "combinados" e com a verdade desportiva uma vez mais colocada atrás das costas.

Quanto mais depressa tivermos fechado o nosso plantel melhor para o sucesso da nova temporada. Obviamente que nem quero ouvir falar de mudar de treinador - esse será problema para os "amiguinhos de sempre" resolverem no defeso. Com tanta amizade ainda optam por trocar de treinadores num negócio similar com o do Postiga. Na verdade Paulo Bento deve bater o recorde de em quatro temporadas seguidas não ter conquistado nenhum campeonato o que faz dele um bom alvo para FCPorto. Isso sim seria preocupante para as nossas cores saber que Quique passa 4 temporadas sem ganhar nenhum campeonato. Do outro lado é considerado positivo apenas porque em todos esses anos acabaram à frente do Benfica. Que tristeza...

Força Benfica

sábado, 25 de abril de 2009

EU VOU

Quando Michael Jordan começava a destacar-se do outro lado do oceano com a sua equipa Chicago Bulls, deste lado começávamos nós a sonhar com uma equipa de Basket encarnada que pudesse ser competitiva aqui em Portugal e quem sabe na Europa.

Vivemos esse inicio dos 90 com Mike Plowden, Carlos Guimarães, Carlos Lisboa, Henrique Vieira, Jean-Jacques (que para mim era o mais próximo do Michael Jordan que podia ver jogar), Pedro Miguel (pouco tempo depois), Steven Rocha e o inconfundível treinador Mário Palma.

Eu acompanhei in loco vários jogos deste Benfica para a liga regular (usando uma expressão à la NBA), para o playoff e para a liga Europeia. Estes tempos do antigo pavilhão cheio a fazer lembrar esses ambientes da Grécia (para o bem e para o mal) representavam o melhor do ecletismo encarnado. Sabíamos que a magia da NBA era algo que não se podia alcançar na Europa, muito menos no nosso pavilhão, mas acreditávamos na equipa e encchiamos esse pavilhão com o nosso ambiente. No entanto, quase duas décadas depois, o cenário hoje é ainda mais deprimente.

A nossa equipa de Basket já bateu recordes este ano, que essas equipas dos anos 90 não conseguiram bater. Nenhuma dessas equipas maravilha conseguiu chegar ao último jogo da liga regular com todos os jogos apenas com vitórias. No entanto, o entusiasmo dos nossos adeptos não tem sido igual ou similar ao entusiasmo que muitos vivemos nessas noites históricas no antigo pavilhão da Luz. E é pena... Porque se há jogo que empolga um pavilhão ou estádio nas últimas décadas é o Benfica-Porto e hoje vamos fechar a Liga regular com esse confronto que não nos dá nenhum título, mas pode dar o absoluto recorde de fechar esta mesma liga regular com vitórias em todos os jogos.

Sei que muitos dos jogos da primeira fase não são tão chamativos, mas se este cartaz não chega para entusiasmar uns milhares de adeptos Benfiquistas para encher esta tarde o pavilhão Império Bonança, não sei realisticamente que futuro podem ter as nossas modalidades amadoras.

Eu acredito num Benfica dominador no Basket e acredito num projecto que pode levar novamente este Benfica aos palcos maiores do Basket Europeu. No entanto, não há clube ou modalidade que exista sem público. Por mais que a quota modalidades (que muitos de nós pagamos para "ajudar" essas modalidades) dê a estabilidade financeira para viabilizá-las, o que realmente tem de mudar são os ambientes que se vivem nos pavilhões onde se jogam essas modalidades.

A Benfica TV é um projecto que pode ajudar a promover os jogos das amadoras mas não podemos trocar o sofá confortável dessa Benfica TV pelo ambiente que se vive no local do jogo. Quando se fala tanto em futebol e no que o futebol representa no Benfica será bom olhar que uma das nossas modalidades de sempre está a horas de bater um recorde nacional (nem sei se mesmo internacional) e será desolador ver as bancadas do nosso pavilhão vazias uma vez mais.

Temos que pensar nas modalidades como algo de presente e de futuro e aí meus amigos candidatos ou pseudo candidatos à Presidência de Outubro, temos que aplaudir o trabalho desta direcção na manutenção e na competitividade que vamos tendo em várias modalidades. Falta ainda criar público porque por mais esforço que a direcção, técnicos e jogadores façam será sempre desmotivador ver a tal tendência de pouco público que é muito difícil de inverter.

Hoje seria bom e bonito que o pavilhão enchesse para que pudéssemos sentir o que pode ser o Basket do Benfica num futuro próximo - vencedor e apoiado por todos os Benfiquistas onde mais se sente esse apoio. Na bancada...

Espero que hoje se faça História e que o Benfica consiga fechar esta regular season com o mítico resultado de zero derrotas na classificação e com bastante público na bancada.

Como dizem no slogan dum famoso festival - "EU VOU"

Força Benfica

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O candidato da blogosfera

Sou um leitor assíduo de vários blogs "vizinhos" que diariamente escrevem sobre o Benfica. Leio muitos e apesar de não comentar tanto quando queria, opino mentalmente e tenho boa impressão de todos quantos escrevem em blogs encarnados. Posso concordar ou discordar, como muitos podem concordar ou discordar dos meus posts em determinadas alturas, mas tenho um respeito enorme por cada um dos que por esta blogosfera vai opinando sobre o nosso glorioso.

Não tenho uma estratégia de marketing associada ao meu blog e os meus leitores são outros bloggers ou alguns curiosos que por aqui passam. Repito que tenho o maior respeito por todos que escrevem em blogs encarnados e na minha modesta opinião acho que quantos mais formos, melhor.

Há um mês foi anunciado oficialmente através do blog "Novo Benfica" o primeiro candidato oficial a Presidente do Benfica nas eleições de Outubro.

Esse anúncio feito por Bruno Carvalho no blog onde escreve marca uma nova maneira de ver as candidaturas ao maior clube nacional e maior clube do mundo. Este candidato torna-se oficialmente no primeiro candidato da blogosfera e penso que nas próximas décadas podem-se repetir outras candidaturas que surgirão de blogs ou de meios "não tradicionais". Isto só prova que este meio é já importante e apesar de não ser um dos mass media tradicionais tem peso junto de um público obviamente formador de opinião.

Quem quiser saber o que pensa Bruno Carvalho sobre os vários pontos relacionados sobre o Benfica basta ir ao seu blog, clicar no seu nome e ler tudo o que este candidato pensa ou pensou em vários momentos da vida do clube. Eu não preciso de voltar a ler porque já li a maioria dos seus posts como aliás dos seus colegas de blog.

Neste momento, aplaudo a forma que este candidato escolheu para se dar a conhecer e parece que pode obviamente chegar a Outubro com notoriedade suficiente para pelo menos ser ouvido.

Para quem não sabe, o Benfica é, foi e será sempre um bastião de democracia em Portugal. Para mim, cada vez que se fala em candidatos à presidência do Benfica, tenho a opinião que sendo sérios, nunca são demais. No entanto, a democracia às vezes tem coisas estranhas. Uma delas é permitir que se candidate alguém que não tenha o mínimo perfil para o lugar. Guerra Madaleno era um desses candidatos mas existiram mais ao longo da nossa história. Um destes erros de casting inclusivamente chegou a Presidente e depois de Presidente a presidiário.

Não conheço este Bruno Carvalho, mas parece-me ser alguém bem preparado e que sabe o que diz. No entanto, não concordo com a maior parte das coisas que pensa e parece-me que exagera num discurso quase sempre assente na critica fácil à gestão desportiva do futebol. Muitas das suas ideias são ideias alicerçadas em factos indesmentíveis e inspirados em exemplos de outros clubes - onde o FCPorto é a sua grande matriz - mas que não chegarão para motivar as hostes encarnadas.

Apesar disso vejo nesta candidatura apenas pontos positivos. Este candidato parece-me ser alguém educado na forma, apesar dos erros de palmatória que cometeu depois de assumida a candidatura.

A sua ideia de antecipar as eleições é apenas uma manobra para ter mais protagonismo e algum destaque de media. Este senhor é alguém que tem um MBA em Marketing e saberá algumas das regras básicas de comunicação. Tal como ele, eu também conheço algumas...

No entanto, como Benfiquista deve saber que as eleições no nosso clube são normalmente em Outubro e não é pelo facto de o Presidente novo não ter preparado a época que isso tem sido impeditivo de entrar em funções em Novembro para continuar o trabalho e arrumar a casa nos primeiros meses até que prepara a época seguinte como a sua primeira época a full.

Tem sido assim e não se verificando uma situação extrema de calamidade organizativa/financeira ou de saúde pessoal do Presidente não me parece de todo desejável que se antecipem as eleições. O candidato Bruno Carvalho acha o contrário e segundo ele "a tradição já não é o que era" mas se foi assim antes, porque não será em Outubro de 2009?

Obviamente que com esta sua ideia, não conseguiu nada mais que alguns recortes de jornais para juntar ao seu press clipping de candidato e na sua estratégia de aumento de notoriedade junto de um público que é muito castrador. Todos nos lembramos que Vale e Azevedo perdeu contra Manuel Damásio e depois ganhou contra Luís Tadeu passados três anos. Aliás estes ciclos Manuel Damásio/Vale e Azevedo são autenticas páginas negras na história recente do nosso dirigismo e daí aparecem muitos dos problemas desportivos que fazem com que nos últimos 15 anos apenas tenhamos conquistado um título. Será que a ideia deste Bruno Carvalho passa por ser candidato agora para perder por poucos e depois ser candidato para ganhar? Veremos se será assim...

Além desta má ideia de antecipar as eleições, o candidato Bruno Carvalho é demasiado crítico em relação a tudo o que tem a ver com o futebol do Benfica e muitas vezes, para dizer algumas das suas verdades dá o (mau) exemplo do FCPorto. Nem tudo o que o FCPorto faz é bem feito, nem todas as suas compras são acertadas, nem todos os seus métodos são legais. Não podemos duvidar de muitos dos seus méritos, mas também não podemos "endeusar" o que não deve ser "endeusado". Mesmo no caso paradigmático da "maravilha do seu futebol" e dos seus excelentes resultados versus a mediocridade total do futebol do Benfica, temos que ser sérios na análise. Há 3 jornadas separavam-nos 2 pontos para esse colosso europeu. Na Champions essa equipa maravilha, leva 4 do Arsenal, perdem em casa com Dínamo de Kiev, não ganham um sequer jogo à ridícula equipa do Atlético de Madrid e são eliminados em casa pelo Manchester United. Há bem pouco tempo, o Benfica elimina o campeão europeu Liverpool com duas vitórias e sem sofrer golos nos dois jogos. Podemos e devemos fazer melhor mas é importante admitir que nem tudo está mal no Benfica.

Quero acreditar que este candidato também acha que nem tudo está mal no Benfica. Entendo que como homem que vive fora de Lisboa, lhe meta confusão a maneira como algumas pessoas utilizam o Benfica. Nesse particular escreve ele que os assessores jurídicos e assessores de comunicação parecem estrelas mediáticas quando na verdade não passam de assessores jurídicos e assessores de comunicação. Para quem tem uma escola humilde e sensível - que não sei se será o caso - pode fazer confusão a atitude e body language desta dupla meio surreal.

No entanto, não estou aqui para comentar ou criticar as suas opções. Provavelmente pronunciar-me-ei noutra altura do ano, de forma mais calma e com mais dados sobre outros candidatos. Uma coisa lhe digo - quem tem um pouco mais de informação, cultura e know-how sobre algumas das questões relacionadas com gestão, marketing, merchandising e pensa que com isso sabe gerir futebol engana-se. O nosso futebol tem especificidades muito próprias como aliás dizia no último post. Gerir um negócio onde na entrada para a 22ª jornada estamos a lutar pelo maior objectivo do ano e a 2 pontos do primeiro e depois passados três jornadas - à entrada para a 25ºª já estamos a 8 pontos de distância desse primeiro faz com que entendamos todos que a humildade é sempre o melhor e mais correcto caminho.

Entendemos todos que com algumas mudanças se podia melhorar muitas coisas. Cada um de nós bloggers damos ideias e não tenho dúvidas que qualquer um de nós acha que se fossemos Presidentes ou membros da direcção tudo seria diferente para melhor. Dessas ideias que todos damos, existem algumas boas, outras más, umas mais exequíveis que outras, outras mais megalómanas. Todos opinamos nestes cantinhos de liberdade e a verdade é que em cada um de nós está um potencial candidato, potencial treinador, potencial gestor, potencial director técnico, potencial jogador ou potencial simples adepto.

Penso que é importante respeitar sempre quem serve o clube e mesmo com as diferenças que nos caracterizam nunca ser um foco de instabilidade enquanto não se entra no normal período mais hard-core da campanha eleitoral. Neste momento a equipa e o clube precisam de calma e tranquilidade. O nosso Presidente ontem deu um sinal claro de que mudou o diapasão e aposta agora numa ideia de estabilidade assente na manutenção de toda uma estrutura de futebol que teima em não acertar. Parece-me óbvio que esta é a solução correcta mas entendo que o populismo do ano de eleições possa mudar a sua opinião, caso disso dependa a sua eleição para comandar mais três anos os destinos do Benfica.

O clube nos próximos 20 anos vai ter que viver uma revolução ideológica que adapte o Benfica definitivamente para o século XXI. Nesse sentido, sangue novo é importante para que se apliquem algumas ideias que ajudem a implementar essa revolução na gestão e na direcção desportiva - especialmente no futebol.

Vem aí um ciclo importante - pagamento do estádio, renovação ou não dos contratos de transmissão televisiva, consolidação do grupo empresarial que existe neste momento debaixo da marca Benfica e aumento dos sócios e do esquema de descontos que muito bem se começou nos últimos anos. Depois deste ciclo e com aumento de receitas e com acerto na parte desportiva, melhor aproveitamento da formação e ganhando títulos o Benfica pode claramente voltar a ser o colosso que todos queremos que volte a ser. Para isso acontecer há que passar por estes anos onde a parte financeira ainda não está estável e onde a parte desportiva ainda não dá os frutos que todos desejamos.

Sinto que com tudo certo, o próximo mandato vai dar títulos importantes ao glorioso seja com Luís Filipe Vieira, com Rui Costa, com Bruno Carvalho, com Bagão Félix ou com qualquer outro. Neste momento sei que a simpatia com que aceito qualquer candidatura legítima à presidência do Benfica é inversamente proporcional à vontade que tenho em votar neles. Muito dificilmente alterarão o meu rumo, mesmo sabendo que há muita coisas a mudar.

Neste momento, meu caro consócio Bruno Carvalho, o meu voto está longe de apoiar a sua candidatura. Quanto mais tempo passa mais hipótese tem de apresentar as suas ideias, mas tem de pensar que depender dos resultados do futebol para pensar em ser Presidente é redutor e não é sério. Lembre-se que todos os grandes presidentes do nosso clube foram pessoas sérias, cultas e não oportunistas. O seu trabalho até Outubro é parecer sério. Se conseguir parecer sério em Outubro já se deve dar por muito contente. Seja sério nas análises, critique educadamente o que tem der ser criticado, dê boas ideias - se as tiver - ajudando a que o Benfica seja melhor e mais forte a partir de Outubro. É esse o objectivo principal dum candidato a Presidente do maior clube do mundo. Entender as tradições encarnadas, conhecer a História e ser digno desse papel de candidato contribuindo positivamente para o engrandecimento do clube.

Ganhar ou perder as eleições depois será secundário porque depende sempre da vontade democrática do voto. Por tudo isto que referi, saúdo a sua candidatura a quem chamo de candidatura da "blogosfera" mas não a apoiarei com o meu voto. Soube hoje que contratou uma equipa de comunicação espanhola para tratar de parte da sua campanha. Como a notícia que li era tão pequena acabei por não entender qual será o trabalho específico dessa agência. Não se esqueça que as especificidades do "terceiro anel" não se sentem à distância - do Porto - ou de outro país - mesmo que separados apenas por uma fronteira.

Veja o exemplo do nosso futebol que você tem tanto criticado. Quique Flores não é a aposta certa com resultados rápidos pela simples razão que se entende que a aprendizagem do nosso futebol por parte de um espanhol demora tempo.

Um candidato Benfiquista terá que entender esse terceiro anel, terá que saber estar com o povo e dar-se com as elites, terá que ter a humildade e humor popular, terá que ter a cultura das artes e a inteligência para entender o público a quem se dirige. Será que essa sua agência espanhola entende todas estas variáveis?

O fenómeno Obama, que acompanhei de perto, não se limitou à mudança pela mudança. Nos dias que correm esta mudança faz-se com vários factores desde imagem, carisma, competência, capacidade de liderar, de motivar e de entusiasmar o publico a que se dirige. Duvido que essa agência "que ajudou Florentino Perez a ser eleito" o possa ajudar a chegar a presidente do Benfica e a dar-lhe esses atributos que manifestamente duvido que tenha.

Não há problema nenhum em não ser Presidente do Benfica, nem em perder uma guerra que não tem obviamente derrota. No nosso clube e na nossa democracia ser candidato a Presidente com ideias e sugestões é sempre positivo e desejável.

Infelizmente para si, não conte com os meus singelos 20 votos mas conte com o meu aplauso se aqui estiver pela positiva. Se estiver a torcer pelas derrotas do Benfica para com isso criticar por criticar, além de não contar com os meu voto, contará com a minha oposição directa que não serão nem mais nem menos que estes mesmos singelos 20 votos.

Pense sempre no Benfica e nunca nas suas ambições pessoais. O Benfica é obviamente maior que todos os seus adeptos ou possíveis candidatos.

Desejo-lhe boa sorte, na esperança que faça uma campanha pela positiva e sem a obsessão desse poder de Presidência que muitas vezes cega a clarividência que se deseja em todos os momentos do nosso Benfiquismo.

Força Benfica