domingo, 26 de outubro de 2008

A Maldição de Cristian Rodriguez

Há alguns dias aquando do nosso empate no campo do Leixões disse que:

"Apesar de tudo, ganhámos 1 ponto a uma equipa que há quinta jornada só perdeu 1 jogo. Para a próxima jornada prestará vassalagem nas Antas e perderá o segundo, porque no futebol há coisas que nunca mudam. Ou talvez não... Veremos"

Pelos vistos as coisas estão mesmo a mudar. O José Mota ganhou pela primeira vez no Estádio do Dragão quebrando uma larga maldição, pois era o único estádio onde José Mota não tinha ganho nunca. Aliás, José Mota passou anos e anos a dificultar a vida a todos os outros clubes e a descansar cada vez que se deslocava às Antas. Desta vez, correu tudo bem e no meio de tanta Festa dos homens de Matosinhos, o que estará menos contente será mesmo José Mota que quase acabava a sua carreira sem ganhar ao seu clube de coração. Há dias maus para todos e desta vez se calhar os jogadores lixaram-lhe os planos. Aliás o que eu estranhei (ou nem tanto) foi que o José Mota hoje nem criticou a arbitragem absolutamente vergonhosa de Paulo Baptista, que até se deu ao luxo de roubar um um golo limpo ao "seu" Leixões. entre outras habilidades... Ele, que como se sabe, não deixa passar uma semana sem falar ou criticar as arbitragens. Desta vez, teve medo que depois da desfeita da vitória nas Antas, as suas palavras fossem "mal recebidas pelos seus amigos dragões". Como o compreendo...

Eu fiquei contente e penso que é muito positivo que um clube modesto mas com tradições futebolísticas lidere a prova depois dum empate contra Benfica e vitória contra FCPorto.

No entanto, a verdadeira razão para estes tão maus resultados do FCPorto só pode ter a ver com a decisão do azarado Cristian Rodriguez em mudar-se para os ares do norte. Este homem sozinho, conseguiu que o Paris Saint Germain quase descesse de divisão, que o Benfica tivesse uma das suas piores classificações de sempre, e agora que ia finalmente para a equipa que ganha constantemente - "Admirava o FC Porto porque ganha sempre." Cristian Rodriguez, 12 de Julho 2008 - Rodriguez encontra-se perante derrotas contra Dínamo de Kiev e Leixões na mesma semana e entre outros empates e derrotas que ele tão bem conhece desta época - até perderam o jogo de apresentação em casa....

Obviamente que tudo isto pode mudar rapidamente mas sinto que este ano as trapalhadas vêm todas do mesmo lado. É incompreensível que uma equipa que se reforça, mantém a estrutura técnica e depois de ganhar o campeonato com 20 pontos de avanço deita tudo a perder em tão curto espaço de tempo. Claro que ainda estamos no inicio mas a vantagem de poder arrancar de forma fulgurante e ganhar avanço considerável para os seus mais directos adversários, não passa neste momento duma ilusão.

Que os nossos jogadores hoje, vistam o fato de macaco e que não percam a oportunidade de arrancar para um novo ciclo de vitórias que tanto necessitamos.

Força Benfica

sábado, 25 de outubro de 2008

20 milhões de espectadores nos próximos 15 anos?

O nosso Estádio da Luz celebra hoje o seu quinto aniversário. Lembro-me perfeitamente desse 25 de Outubro de 2003 e sei que as lembranças desse dia ficarão para sempre na minha memória. Passei muitas e muitas vezes pelo novo Estádio em construção e fui analisando por fora toda a evolução da obra desde os tempos em que víamos essa mesma construção do Estádio antigo até ao ponto em que já não havia sequer Estádio antigo. Tive uma ou outra oportunidade de acompanhar as obras por dentro, que sempre recusei a pensar no exacto momento em que entrasse no novo Estádio da Luz.

Sei que por motivos profissionais tive que viajar do norte para Lisboa e voltar ao Norte de Portugal imediatamente depois do jogo, fazendo com que chegasse pouco tempo antes do apito inicial. Não assisti a toda a festa envolvente antes do jogo e quando cheguei lembro-me que já estava o estádio completamente cheio.

Comprei um bilhete de terceiro anel - afinal o mítico terceiro anel também existe no novo Estádio - e fui bem lá para cima, sozinho, molhado da chuva que se fazia sentir lá fora. A primeira impressão que tive ao subir as escadas deste novo terceiro anel é que o "cimento" do novo Estádio estava à vista como acontecia no antigo Estádio. Senti uma sensação algo similar ao que vivi muitos anos ao subir o Estádio antigo. Gostei. Quando cheguei lá acima senti as mesmas semelhanças. Antes de entrar na porta que me levaria ao meu local, senti uma vez mais que o passeio com vista para a rua me fazia lembrar o antigo Estádio o que sinceramente me alegrou bastante. Quando entro no Estádio e vejo as 60 000 pessoas em festa fiquei feliz, mas a verdade é que foi uma felicidade nostálgica e não entendi bem porquê. Seria por estar sozinho, distante dos meu habituais companheiros de "bola"? Seria por estar o tempo cinzento de chuva a fazer com que o meu estado de espírito fosse ele também cinzento? Seria um último momento de saudades do antigo estádio? Não entendi mas sei que passou rápido. Não me lembro do jogo... Passei muito tempo a avaliar tudo o que tinha a ver com o Estádio que acabo por não ter grandes recordações da partida de futebol propriamente dita. Também não era importante...



Sempre fui defensor do novo Estádio apesar de sentir que foi no antigo que o Benfica se fez Glorioso. Na vida, as mudanças não são fáceis mas esta mudança era essencial, imprescindível O conforto que os "novos clientes" do desporto exigem não eram minimamente compatíveis com o que oferecia o nosso antigo Estádio e as receitas anexadas a esse Estádio eram absolutamente irrisórias quando comparadas com as receitas geradas por este novo Estádio.

Parabéns ao Benfica pelo quinto aniversário do Estádio de todos nós.

Parabéns também pelo número absolutamente notável de 5 milhões de espectadores em 5 anos. No entanto, os próximos anos têm que mostrar um potencial ainda maior de ocupação do Estádio. Este é o grande desafio da próxima década. O Benfica nos próximos anos vai fechar o project finance acabando de pagar este grande investimento e desenvolver uma série de projectos que podem gerar receitas extraordinárias muito importantes - teremos seguramente mais sócios (mas não tantos mais sócios assim); teremos mais novas receitas com as negociações dos contratos de merchandising, da marca de equipamentos (Adidas ou outra marca), do naming das bancadas e do próprio nome do Estádio; teremos seguramente receitas extraordinárias associadas aos novos contratos de transmissão televisiva e teremos obviamente novas receitas geradas pelas novas tecnologias e por novos meios de distribuição da marca Benfica.

Tudo isto me parece óbvio e fico muito feliz por neste particular as contas irem tão controladas e sustentadas, fazendo com que o Benfica possa realmente sonhar em voltar a ser um grande da Europa, mesmo num campeonato que gera muito menos receitas que campeonatos vizinhos.

O que me parece que tem de ser feito neste momento é uma campanha de "quase marketing social" como nós vimos em outras áreas da nossa sociedade, em vários meios - TV, imprensa e outdoors. Como exemplo temos as campanhas de sensibilização para a utilização do cinto de segurança, campanhas de sensibilização para a redução do álcool em situações que envolvem condução, a prevenção da SIDA com a promoção da utilização sistemática do preservativo, etc... Estas são campanhas que não se medem no "fim de semana seguinte" mas sim na década seguinte.

O Benfica tem de traçar objectivos claros nesta matéria. Nos próximos 15 anos devemos ter 20 milhões de espectadores no Estádio, o que pensando na hipótese de ter 400 jogos nesses mesmos 15 anos - nestes 5 anos tivemos 131 partidas - dará uma média de 50 000 espectadores, contra a (boa) média inicial de 38 000 espectadores nestes primeiros 5 anos.

Eu conheço todas as teorias que nos dizem que o nosso tecido urbano não se compara com o de Madrid ou de Barcelona, que a nossa competitividade no campeonato é incomparável a outros campeonatos, que temos jogos da taça da liga e da taça de Portugal que muitas vezes não são grande conteúdo para quem vai ao Estádio, mas tudo isso são as ameaças que temos de transformar em oportunidades.

Quem gosta do Benfica e se habitua a ir ao Estádio, terá esse hábito para sempre. O conforto que temos neste Estádio, aliado a um ou outro requisito tecnológico que nos permitirão ver outros ângulos do jogo no telefone ou em outras quaisquer máquinas portáteis, ajudarão a viver uma experiência muito melhor no estádio do que no sofá de casa.

Claro que estas campanhas de "marketing social" que falava há pouco deviam ser pensadas e executadas pela própria Liga e cada clube potenciava essa campanha com outras campanhas mais localizadas, mas é importantíssimo que as pessoas sintam o apelo do Estádio.

Todos sabemos que quanto melhor a performance da equipa, melhor o desempenho da bilheteira - sempre foi e sempre será assim. No entanto, também sabemos que nos próximos anos teremos momentos bons e momentos maus e também sabemos que ter gente no estádio pode estar directamente ligado à venda de mais cativos - outro importante factor de receita do clube. Apesar de sabermos que os cativos não vão a todos os jogos e muitas das vezes temos "bilhetes vendidos" no cartão de cativo com lugares vazios, é fundamental aplaudir o esforço feito pela direcção e administração em fomentar o apelo ao cativo. Essa pode passar por ser uma das soluções mas não é seguramente a única.

Dizia o nosso administrador Domingos Soares Oliveira hoje em pequena entrevista ao jornal "A Bola" que o Newcastle mete 20 000 pessoas a almoçar em dias de jogo no seu Estádio. Obviamente que essas receitas extraordinárias são fruto duma cultura de Estádio diferente da que temos em Portugal. Nos jogos de basket da NBA é normal vermos pessoas abandonar a sala durante o jogo para ir jantar e mesmo que não vão jantar, todas as pessoas comem ou bebem algo durante o jogo. No Estádio da Luz mais importante que pensar nas receitas extraordinárias associadas ao jogo - merchandising, alimentação - temos de focar no número de espectadores que em média se deslocam ao nosso Estádio e analisar que variáveis externas ao jogo, ao plantel, ao sucesso da equipa, podem ter ou não influência nessa deslocação de pessoas ao Estádio - estacionamento, transportes públicos, acessibilidades, hora do jogo, etc...

Temos visto que as Casas do Benfica têm feito um trabalho notável na gestão e organização de excursões que de alguma maneira habituam as pessoas a vir mais vezes ao Estádio. Não tenho dúvida que uma geração mais nova tomará conta dos destinos dessas mesmas Casas do Benfica e provavelmente outras formas mais criativas de trazer pessoas ao Estádio serão desenvolvidas.

Um dos factores que traria muito mais excursões ao Estádio da Luz era voltarmos a ter jogos à tarde porque isso permite que se volte a casa em tempo útil. Não sei se num futuro próximo isso será realmente possível. Estou convencido que há leis em Portugal que podem mudar e uma delas é essa proibição de se transmitir televisivamente jogos que colidam com outros jogos de divisões inferiores. Não sei se o Pay Per View individual influirá nesse particular - em Espanha podemos comprar jogos de Pay Per View que se desenvolvam a qualquer hora - mas sempre tive a noção que quanto mais cedo for o jogo, mais gente levará ao Estádio.

As soluções para chegar a este mágico número de 20 milhões de espectadores em 15 anos são muitas - umas de fácil implementação, outras muito complicadas - mas penso que poderá ser possível chegarmos a um número próximo dos 20 milhões de uma forma realista.

Neste momento apenas nos resta celebrar o maravilhoso número de 5 milhões de espectadores em 5 anos em 131 partidas e esperar que amanhã possamos chegar aos 5000 golos marcados em todas as competições. Noutros tempos, noutro Estádio, pedir-se-iam os 5-0, mas eu apenas peço a vitória...



Força Benfica


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

As Lições dos Pequenos

O Benfica é Glorioso e será sempre o Maior, para quem realmente tem o clube no coração e assim deverá continuar. No entanto, a humildade dos grandes também é aplaudir os pequenos e tirar ilações (ou lições) desses mesmos pequenos.

Isto a propósito dos três últimos jogos contra "pequenos" - Paços de Ferreira, Leixões e Penafiel. Ganhámos o primeiro por 4-3 mas tivemos que correr muito e jogar ao melhor nível para levar os três pontos de Paços. Parabéns ao Paços pela atitude e competitivade. Empatámos em Matosinhos contra um Leixões grande demais para ser considerado pequeno. O empate foi lisonjeiro para a nossa equipa e escrevi-o aqui. Ontem contra o Penafiel, uma equipa da segunda divisão B a jogar no Estádio da Luz, vimos um Gigante que quase eliminava o Benfica pela simples razão que teve atitude, coragem (especialmente de defender acima das linhas recuadas) e muita determinação em fazer História num palco a que não pertence no presente mas que pertenceu num passado recente (e a ver pela exibição pode ambicionar a voltar num futuro).

Eu não vou alinhar pelo diapasão de criticar de forma gratuita o trabalho de Quique ou dos jogadores que ele elegeu para jogarem esta partida. Nada disso. Vou aplaudir a atitude do Penafiel e esperar que o Benfica tenha a mesma atitude em TODOS os jogos que dispute esta época. Obviamente que temos mais qualidade individual e obviamente que a nossa equipa técnica é melhor que a do Penafiel mas a atitude competitiva perante o jogo tem de ser SEMPRE no limite. Já todos entendemos que mesmo ficando em quarto lugar no ano passado, temos sempre equipas preparadas para nos derrotar. Por isso somos Gloriosos e Grandes. Não trocava esse título por qualquer outro, mesmo que isso me desse mais facilidade de jogar contra os pequenos.

Esta é uma das grandes lições que temos de retirar dos ditos "pequenos". Se essas equipas estão SEMPRE preparadas para jogar o jogo da vida delas contra o Benfica, o nosso Benfica tem de jogar o jogo da nossa vida casa semana. Não há outra hipótese. Temos de jogar todas as semanas, independentemente dos 11 eleitos, nos máximos limites competitivos.

Vamos ter sempre os melhores guarda redes contra nós, vamos ter sempre os melhores avançados prontos para nos marcar e vamos ter sempre o conjunto mais bem preparado para nos derrotar. Ainda bem que assim é... A sério. Sei que contra os nossos rivais alguns dos pequenos amedrontam-se enquanto contra o Benfica agigantam-se. Repito, ainda bem. Não vejo nisso um problema, mas vejo nessa atitude constante dos nossos adversários um alerta geral para o que devemos e temos que fazer. Jogar SEMPRE nos nossos limites.

Ontem, na roleta dos penaltis pensei no que correu mal na partida. E não critico nenhuma das opções de Quique. Entendi-as no inicio e entendo-as no final. Aliás, no dia anterior o nosso treinador dizia isto a propósito das alterações que ia fazer na equipa:

"Parto do princípio todos os jogadores, se estão no plantel, é porque têm qualidades. Temos 27. Seria subestimá-los pensar que um deles, sequer, é incapaz de jogar contra o Penafiel, na Taça. Seria decepcionante para mim constatar amanhã [hoje] que tinha jogadores no plantel que não conseguiam jogar este jogo. Seria sinal de que algo falhara. Confio em todos os meus jogadores. Vou escolher uma equipa com a mesma esperança e determinação de que podemos fazer um bom jogo, e como se o jogo fosse com o Sporting, o FC Porto ou o Nápoles!"

Estas frases descrevem em absoluto a atitude que deseja Quique, desejo eu e desejamos todos - que o plantel do Benfica cumpra sempre e que deixe tudo em campo independentemente de quem joga, porque se estes jogadores fazem parte do plantel, é porque têm muita qualidade e responsabilidade. No final do jogo de ontem as suas palavras resumem-se neste parágrafo:

"Qualquer jogo deve ser abordado com a seriedade e o rigor necessários. O que se passou é que faltou intensidade e quando nos falta intensidade iguala-se a categoria, o talento, o jogo equilibra-se. Lamento este sofrimento desnecessário e o desgaste físico em vésperas competição importante. A única coisa positiva hoje foi que passámos..."

Análise certeira e madura como aliás se espera de alguém que em nenhum momento pode ter o lugar em perigo. Digo isto, porque caso os penaltis tivessem corrido mal, hoje teríamos um coro a pedir a cabeça de Quique e tenho que dizer bem alto que a única coisa que temos e devemos ter certa nos próximos três anos (eu não admito sequer que ele não faça 2 épocas mais 1) é que Quique e sua equipa técnica são intocáveis.

Já nos deu TODAS as razões para entendermos que se trata doutra classe de treinador. Como bom treinador aprenderá as lições que os pequenos nos dão. Exigirá a todos os elementos do plantel responsabilidade e profissionalismo da mesma maneira que nós a ele lhe exigimos trabalho e disciplina. Só com exigências ao máximo em TODOS os jogos do campeonato, taça de Portugal, taça Uefa e taça da Liga podemos aspirar a ser felizes esta época. Não há outra forma.

E se queremos seguir o exemplo dos pequenos, que mostram toda a sua garra contra o Benfica também podemos olhar para dentro e seguir o exemplo dos suplentes do nosso Plantel. Um especialmente, que há três anos que não joga um único jogo oficial e que nunca criticou nenhuma opção de nenhum treinador, que nunca ousou treinar menos ou pior pela sua razão de suplente e que ontem deu uma lição de humildade, profissionalismo e de Mística Benfiquista. Sobre Moreira, Quique disse ontem:

"Moreira merece-me o maior respeito como pessoa e profissional. Dá-nos alegria no balneário, esforça-se ao máximo e é quase sempre o último a sair do relvado. Além disso, é dos estudiosos, dos que chegam a casa revêem as partidas e tiram as suas conclusões. Alegra-me muito que tenha jogado três anos depois".

Não mudaria a minha opinião sobre Moreira se não tivesse defendido nenhum penalti ou se tivéssemos sido eliminados pelo Penafiel porque este é um dos Grandes do Novo Benfica. Disse há umas semanas que "precisava-se fato macaco" para este Benfica. Eu penso que Moreira personifica este fato macaco que necessitamos e espero realmente que todos entendam que teremos que ter fato-macaco, fato de gala e alguma elegância (sempre juntos) para podermos ganhar todos os nosso jogos.

Aprender com os pequenos e seguir os seus exemplos de humildade, profissionalismo e seriedade - no fundo os mesmos exemplos que eles retiram do Glorioso e que estão personificados nessa Mística tão nossa - é a chave fácil para o sucesso nesta época.

Força Benfica

sábado, 18 de outubro de 2008

Entrevista de António Lobo Antunes ao Jornal "A Bola" 18/10/08


António Lobo Antunes
O arquipélago do futebol

Admirável poeta de prosas, António Lobo Antunes acaba de publicar o 'Arquipélago da Insónia'. Gosta tanto de futebol — o futebol do desporto, não o da indústria — que alguém, um dia, lhe chamou o Eusébio das letras. «O Eusébio é responsável por algumas das minhas alegrias; António Lobo Antunes por algumas das minhas maiores chatices» — respondeu então. O único escritor português vivo nobelizável concedeu a A BOLA — seu jornal de sempre — uma tão surpreendente como fantástica entrevista.

Entrevista de Vítor Serpa

Trouxe comigo uma entrevista sua, dada ao Carlos Miranda, de há vinte anos. Uma entrevista notável...

— Tive esse privilégio. A BOLA sempre teve grandes jornalistas e uma grande preocupação cultural. O Miranda era um desses grandes jornalistas. É uma pena que as suas crónicas da Volta a França nunca tenham sido publicadas em livro. Aquelas crónicas com o Agostinho são admiráveis e olhe que este é um termo que eu uso muito poucas vezes...

— Lembra-se dessa entrevista?

— O Carlos Miranda fez-me várias entrevistas. Gostava muito dele, ele pedia e eu não conseguia dizer-lhe que não. Felizmente tive oportunidade de dizer ao Carlos Miranda que ele tinha uma espantosa qualidade literária. Ficava a olhar para mim, surpreendido. Era um homem que eu muito admirava.

— O Pinhão também falava muito consigo...

— Havia mais uma série de jornalistas de A BOLA que escreviam admiravelmente. O Carlos Pinhão, que eu conheci bem e outros que não conheci, mas que igualmente admirava. O Aurélio Márcio, O Homero Serpa...não sei, sequer, se era da sua família...

— Meu pai...

— Excelente qualidade literária. Escrevia muito bem. E mais. O Alfredo Farinha e, de uma geração mais recente, o Santos Neves.

— Já lia A BOLA, quando era jovem?

— Havia três jornais desportivos de que me lembro. A Bola, o Norte Desportivo e o Record. Eu, os meus irmãos e os meus amigos, sempre compramos A BOLA. As crónicas de futebol eram muito bem escritas. Não havia equivalente, nem mesmo na imprensa não desportiva. A BOLA tinha, além de tudo o mais, uma componente literária. Lembro-me bem do Ruy Belo publicar, na BOLA, poemas inéditos.

— Influência do Pinhão

— O Carlos Pinhão tinha uma extrema simpatia. Era uma pessoa quente. É uma pena que se deixem morrer estes nomes. Era importante manter na lembrança o Pinhão, o Homero, o Miranda...

A morte do Agostinho

— O Miranda ajudou muito a fazer do Agostinho um ídolo nacional...

— Quando o Agostinho teve o acidente foi o meu irmão que o operou. Tinha acabado de chegar da América. Foi o meu irmão que me disse que o Agostinho ia morrer. Ele tinha perdido muita substância cerebral. E lembro-me do Manuel Graça dizer: o país não está preparado para a morte do Agostinho.

— O seu irmão já conhecia o Joaquim Agostinho?

— Só o conheceu quando o Agostinho já estava em coma, mas tinha um grande respeito por ele.

— É curioso como perdurou, entre os portugueses, a lembrança do Joaquim Agostinho...

— O Agostinho tinha de ser um homem inteligente. Aliás, é como no futebol. É impossível haver um grande futebolista estúpido. Pode ter dificuldade de comunicação, ser limitado nessa capacidade de saber comunicar, mas estúpido, nunca. O Maradona, por exemplo. Tal como o Eusébio, pode ter dificuldades de expressão, mas é um homem inteligente. São pessoas que pensam rápido.

Xixi ao lado do Vicente

— Fale-me da sua primeira relação com o mundo do futebol...

— Quando era miúdo coleccionava os bonecos da bola. Conhecia todos os jogadores pelos bonecos. O Grazina, o grande Patalino, o José Pedro, do Lusitano de Évora, que era o clube dos ricos. O Ernesto, guarda-redes do Atlético. O Eloi, do Estoril.

— Via-os jogar?

— Alguns, sim, mas a maior parte deles conhecia-os só pela colecção dos bonecos da bola. Os do Porto. O Barrigana, o Monteiro da Costa, o Miguel Arcanjo. E do Sporting. Muito pequeno vi jogar o Azevedo. Depois, o grande Carlos Gomes.

— Noto-lhe a paixão com que fala desses jogadores. Como foi possível perder essa relação tão forte com o futebol?

— O futebol deixou de ser um desporto. Naquele tempo havia um deprimido debaixo dos paus e dez eufóricos a mandar brasa e, disso, eu gostava. Era impensável o Travassos ir para o Benfica, ou o Coluna ir para o Sporting e isso marcava-nos a todos. Faziam com que se amasse verdadeiramente os clubes. Lembro-me de tanta gente minha amiga do Belenenses que, naquela altura, tinha as célebres torres de Belém. O Capela. O Matateu, fantástico Matateu. O extraordinário Vicente. Que grande jogador! Um dia, era eu miúdo, de calções, e, num cinema, fiz xixi ao lado do Vicente. Inesquecível. Lembro-me de ter reparado como ele era um homem baixo e, no entanto, parecia sempre grandioso no campo.

Quando o futebol era desporto...

— Você é do Belenenses, eu sei, li no seu livro... [comentário de Lobo Antunes]

— Sou, mas, hoje, poucos acreditam que haja alguém do Belenenses. Não faz sentido para muita gente que não se seja de um clube grande... [resposta de Vítor Serpa]

— Mas naquele tempo havia muita gente do Belenenses. Como havia muita gente que era do Atlético, ou do Oriental. Ser, mas ser mesmo, ou seja, não ser também do Benfica ou do Sporting. [comentário de Lobo Antunes]

— O António Lobo Antunes é do Benfica...

— Eu sou do Benfica, mas ia ver, muitas vezes, o Belenenses ao Restelo. Tinha boas equipas e o estádio sempre foi lindíssimo. Não passava um fim de semana sem ir a um jogo de futebol. Adorava, apesar de apenas ter jogado hóquei no Benfica. Nunca futebol.

— O hóquei vai definhando, hoje em dia...

— E naquele tempo até os treinos enchiam os pavilhões. Havia aqueles relatos pela rádio. O Amadeu, o Artur Agostinho, que relatavam muito bem. Sempre estive ligado ao hóquei por causa do meu pai. Aliás, havia uma fotografia do meu pai, publicada nos jornais, nos campeonatos da Europa de 1936.

— O seu pai era adepto do futebol...

— O meu pai não ia ao campo ver o futebol, porque achava que dava azar. Era do Benfica, ficava em casa a ouvir os relatos e a fazer desenhos, até dar um salto quando o locutor gritava GOOOOLO. Naquela altura o futebol era um desporto. Agora vêm aqueles tipos todos, muito senhores de si, com aqueles novos termos da pressão alta, das diagonais, o losango. Não tem interesse nenhum.

— Foi uma mudança tão radical assim?

— E os treinadores? Quando eles começam a pedir paciência e muito trabalho. Agora, é uma indústria, não é desporto. Eu que sou sócio do Benfica desde pequenino, fui deixando, gradualmente, de ir ao futebol e ainda nem sequer entrei neste estádio novo do Benfica.

O Coluna era admirável

— Qual a equipa que mais o entusiasmou?

— Uma do Benfica, na minha adolescência. Inesquecível aquela equipa que venceu a primeira Taça dos Campeões. Sei todos os nomes de cor: Costa Pereira; Mário João, Germano e Ângelo, Neto e Cruz; José Augusto, Santana, Águas, Coluna e Cavém.

O Coluna era admirável. Que grande jogador. Fazia todo o meio campo num passinho curto e tinha uma autoridade natural sobre toda a equipa.

— Tinha paixão pelo Benfica...

— Havia, nesse tempo, um amor real pelos clubes. Acho que isso se começou a perder quando o Yaúca foi para o Benfica. Hoje, não há qualquer amor pelo clube. O Dinheiro comanda tudo e isso transforma o futebol para pior. Agora, quando perdem, o treinador avisa-os de que é preciso levantar a cabeça. Antes, os jogadores sofriam mesmo com as derrotas. Agora estão-se nas tintas.

— Acha, mesmo?

— Sabe o que eu acho, Vítor. A arte, no futebol, foi substituída pela eficácia. E isso, a prazo, mata o futebol. Ainda hoje estava a ler no seu jornal. Não interessa jogar mal ou bem, o que interessa é ganhar.

— Antigamente o futebol tinha mais arte?

— Lembro-me de uma linha avançada extraordinária do Vasco da Gama, tenho uma memória tão má que me lembro de tudo, e que eu vi quando tinha cinco ou seis anos. Era notável. Equipas para quem a grande finalidade era o prazer do jogo. Havia uma dimensão lúdica em tudo aquilo. Hoje, não há. Lembra-se do Didi, do incomparável Garrincha?...

Ronaldo? Prefiro o Águas

— Agora há o Cristiano Ronaldo...

— Quero que eu seja sincero? Não me dá prazer vê-lo jogar. Dava-me prazer ver o Coluna e o Zé Águas, esse sim, que foi dos jogadores mais elegantes que eu vi jogar.

— Outro tempo, futebol mais lento, mais desenhado...

— Não posso dizer como seriam os grandes jogadores de então a jogar agora.

— O Coluna continuaria a ser fantástico...

— E era tudo limpo. O Jesus Correia dizia que o doping dele era o arroz doce da mãe. Isso também é importante. A credibilidade do jogo.

— Quando começou a perder essa paixão?

— Começo a perder a paixão quando o Benfica começa a deixar de ser o Benfica. Ao contrário do FC Porto, fundado por banqueiros, ou do Sporting, fundado por um visconde, o Benfica foi fundado por casapianos. Teve um tipógrafo como presidente. Sempre foi um clube do povo e por isso se tornou tão grande.

— O Benfica não deixou de ser popular...

— Lá em Benfica, onde eu morava, as pessoas apanhavam bebedeiras quando ganhávamos. E lembro-me de colegas meus, do liceu, me dizerem: tu és do Benfica? Mas isso é um clube de gente pobre...

— Nesse tempo, os intelectuais não se interessavam por futebol...

— Essa história dos intelectuais não gostarem e não se interessarem pelo desporto é uma treta. O Niels Bohr, dinamarquês que foi prémio Nobel da física, jogou na selecção do seu país. O Camus foi um vigoroso guarda redes. É uma estupidez completa.

Os jogadores e as manequins

— Não me diga que não reconhece talento num Cristiano Ronaldo, ou num Figo?

— Admito que o Cristiano Ronaldo ou o Figo tenham, de facto, muito talento, mas não me interessa essa indústria na qual eles têm sucesso. Essa indústria em que os jogadores têm de casar com manequins, como acontecia no Real Madrid. Você, Vítor, ainda se lembra da dona Fernanda Coluna? então hoje não podia casar com um jogador de futebol?

— Outros tempos, reconheço...

— As pessoas estavam juntas no futebol. Lembro-me de estar nas bancadas do estádio da Luz e a meu lado estarem cegos. Ouviam o relato e sentiam o ambiente. Nessa altura, para mim, toda a gente com mais de trinta anos era velha, e eu via-os a chorar quando o Benfica perdia. As mulheres nos carros a fazerem croché e, sobretudo, não havia essa promiscuidade de interesses.

— E a selecção. Não sente a Selecção?

— Sou quase como o José Cardoso Pires. Ele dizia, não sou do Benfica, sou do Nené. Eu digo: não sou da Selecção, sou do Benfica.

— Mas também já não gosta tanto do Benfica...

— Sabe, gosto deste treinador. Do Quique Flores. Li umas coisas de que gostei.

— Sobrinho da grande Lola Flores...

— Mulher extraordinária.

— No Benfica actual só gosta do Quique Flores?

— Não. Gosto muito e admiro o Rui Costa. É inteligente, parece ter uma vida estável. E ainda por cima tem um amor muito grande ao clube.

O FC Porto e Pinto da Costa...

— O FC Porto roubou o comando ao Benfica...

— O FC Porto tem um problema. Tem sucesso e não consegue ter uma dimensão nacional. Continua a ser um clube regional, com sucesso. No entanto, reconheço que, para o bem ou para o mal, o presidente do FC Porto foi uma pessoa importante no clube e até no futebol português, nos últimos trinta anos.

— Não me diga que gostava que Pinto da Costa fosse presidente do Benfica?

— Se fosse para ganhar campeonatos não me importava nada...a sério, nesta fase do futebol, não me interessa do presidente, o que me interessava é que o Benfica não tivesse deixado de ser um clube de afectos.

— Mas nem na Selecção sente esses afectos...

— Uma vez perguntaram ao José Luís Borges o que ele pensava da Argentina ganhar à Holanda e o Borges respondeu: não me apetece nada ganhar ao Erasmos. É que não se trata, de facto, de Argentina ou de Portugal. São onze profissionais e, como eles dizem, é a selecção da montra.

Carlos Queirós e José Mourinho

— Não se sentiu empolgado pelo Euro 2004?

— Não. E neste último europeu nem vi jogo nenhum. Vi a final do Mundial 2006, que a Itália ganhou e jogou muito bem. Com muita inteligência. Foi um grande jogo.

— E dos treinadores portugueses, não gosta?

— Ao Jorge Jesus, por exemplo, acho uma certa graça. Ao professor Carlos Queirós acho menos.

— O Mourinho?

— Acho que não vai ter, em Itália, o sucesso que teve em Inglaterra. Não conheço o homem, gostava do pai dele, que foi guarda-redes do Vitória de Setúbal e do Belenenses, mas a ele acho-o muito arrogante.

— Faz parte da imagem...

— Não gosto de ver os treinadores como umas figuras distantes, que nem comem à mesa com os jogadores e que passam a vida a fazer treinos à porta fechada, para esconder a táctica. E também não gosto dos treinadores que passam a vida a falar naqueles termos que eu detesto, as linhas de passe, a pressão alta, os losangos. Posso parecer um velho saudosista a falar, mas, para mim, o futebol pelo qual tinha paixão era o do deprimido debaixo dos paus e dos dez eufóricos a correrem no campo e a mandarem brasa.

— Mas tem admiração por um grande jogador de futebol?

— Eu olho com o mesmo respeito para um grande jogador de futebol como olho para um grande escritor. Para mim são artistas que encheram de alegria a minha vida: Desde a infância.

— O que não gosta mais nos clubes de futebol?

— Aquelas claques organizadas. Acho-as horríveis... os nomes dos patrocinadores nas camisolas... e aquilo que ainda hoje li na BOLA, do campo de treinos do Benfica ser a Caixa Futebol Clube, ou lá como se chama aquilo.

— Sabia que para falar a um jornal o jogador tem de pedir autorização à direcção do clube?

— Porquê? Um jogador não tem liberdade de falar a quem quiser?

— Não, não tem...

— Não sabia que era assim. Não fazia ideia...Mas há alguma razão para ser assim?

— Os jogadores podem dizer algo que não interesse ao clube. As coisas são mais controladas...

— Quando o Ângelo chamou ao Costa Pereira «ladrão do meu dinheiro», todos os jornais trouxeram isso...

— Pois, mas hoje teria de pagar uma enorme multa...

— Por isso, antigamente, os jogos prolongavam-se por discussões na segunda feira. Era assim quando estava no Hospital. Hoje, de facto, já não vejo esse entusiasmo da discussão do futebol à segunda feira...

— Até porque há jogos quase todos os dias na semana...

— Mas cada vez menos gente nos estádios. Isso, eu sei.

Médico no futebol

— Quando estava na tropa, colocado no Hospital militar de Tomar, fui médico do União. O treinador era o Fernando Cabrita. Formavam a equipa com restos do Benfica, do Sporting e do FC Porto e eu sentava-me no banco. Era o Nascimento, que tinha sido guarda-redes do Belenenses, o Calado, o Totoi, o Barnabé. Eles estavam a jogar mal e o presidente dizia: dou mais quinhentos escudos a cada um. E o massagista, muito gordo, começava a correr pela linha lateral, com uma botija na mão, e gritava para o campo: mais quinhentos escudos, mais quinhentos escudos, e eles começavam todos a correr mais depressa.

Barrigana ...no plural

Aquela sua crónica sobre o Barrigana, ficou célebre...

— Foi quando estava na tropa, em Malange. Foi aí que eu vi o grande Barrigana, que estava em África a treinar miúdos. E os miúdos puxavam por ele e gritavam: vai Barrigana, anda Barrigana, e ele, muito sério, virava-se para os miúdos e dizia: vai Barrigana, não. No plural, se faz favor. Senhor Barrigana.

Ciclismo, livros e tourada

— Estava sempre a dizer ao Miranda que gostava de fazer uma Volta a Portugal...

— Está a tempo, A BOLA leva-o...

— Mas eu estou sempre a escrever. No Verão nunca posso. Agora, este livro que eu comecei em Fevereiro, não sei quando vai estar pronto...

— E esse livro está a correr bem?

— Um livro nunca está a correr bem...

— Li numa entrevista que o livro tem a tourada como tema.

— Não, não é nada disso. Não é sobre touradas. Eu nem gosto da tourada à portuguesa. Gosto da tourada à espanhola, embora não seja um aficionado. Mas gosto. Aquilo é trágico. Tem a majestade que a nossa não tem. Na nossa vão a correr, a correr, e pumba, espetam as bandarilhas no boi. No tempo do João Núncio não era assim, agora, aquilo, é um farró-bó-dó. Mas eu queria dar uma estrutura aquilo. O livro acaba com a morte do touro que é a morte da mãe. Trata-se de uma família... mas o ciclismo, estava a falar de ciclismo, ainda gosto imenso de ver as imagens da Volta à França.

— É uma corrida notável...

— Aquelas montanhas... O Marçal Grilo diz, e com razão, que ninguém sobe aquilo só a comer bifes...

As brasas do Ronaldo

« ...Vejo-as quando vou aos quiosques. Parecem todas desenhadas pelo Vilhena»
— Sabia que Cristiano Ronaldo pode vir a ser nomeado o melhor jogador do mundo?

— Não me interessa muito. Sei que é muito popular. Vejo nos quiosques as fotografias das brasas com que o Ronaldo namora. Parecem todas desenhadas pelo Vilhena.

— Tão curvilíneas, que parecem feitas em banda desenhada...

— É... e você, diga-me lá, quando joga a Selecção, ainda sente alguma coisa?

— Mesmo como jornalista, sinto. Gosto de ver a Selecção e quero que ganhe. Temos bons jogadores e há ali gente boa...

— Isso, eu admito que sim. Já o Miranda me dizia que o mais puro no futebol eram os jogadores.

— Às vezes um bocado manipulados...

— Mas isso também eu, às vezes, sou manipulado pelo editor. É inevitável. O Zé Cardoso Pires dizia que um escritor não podia ser amigo de um editor, porque os interesses são opostos.

— Mas o António Lobo Antunes tem estado em alta. O seu último livro, o Arquipélago da Insónia...

— Sim, está a ter uma grande procura e só foi posto à venda na última sexta feira.

— Era muito amigo do José Cardoso Pires?

- Uma amizade diária.

Cavalos que fazem sombra no mar

«Quando comecei o 'Arquipélago da Insónia' não tinha nada. E neste só tinha uma frase...»
— Deixe-me falar do seu novo livro...

— Não se pode falar de livros?

— Acha que não?

— Consegue falar do seu?

— Deixe-me desafiar, pelo menos, uma ideia que o Arquipélago da Insónia me suscitou. A ironia de dizer sempre que escreve muito devagar e do seu livro nos obrigar a um tempo rápido de leitura, para conseguirmos acompanhar a musicalidade das palavras...

— É curioso que sinta isso. Não lhe sei dizer. Sou incapaz de ler um livro meu depois de escrito. Não sei.

— Mas está cada vez mais distante, nos livros, das suas crónicas na Visão. É verdade que escreve crónicas por atacado?

— É tão diferente o que se escreve, num caso e noutro. Nas crónicas posso escrever catorze crónicas seguidas. Preciso de resolver assim o problema da mudança de ritmo. Por isso eu lhe dizia que, no seu caso, não deve ter sido nada fácil mudar de ritmo da escrita de jornal para a escrita do livro que publicou.

— Por isso são contos...

— Eu nunca escrevi contos, mas um conto não se faz numa noite. Será difícil, ainda assim...é muito difícil estar a escrever um livro, largar e escrever crónicas para jornais e voltar ao livro. Muito difícil.

— Não lhe aparece gente a falar-lhe mais das crónicas que dos livros?

— Aparece. Mas a minha dúvida é se muitos daqueles que me lêem na Visão vão depois ler os meus livros...

— Muitos, seguramente, sentir-se-ão tentados a fazê-lo...

— Mas é como a diferença entre uma piscina para crianças e uma piscina para adultos. Afinal, uma crónica para jornal, ou para uma revista, tem sempre pé...

— Este seu livro, o Arquipélago, é mesmo muito especial...

— Mas quando o comecei não tinha nada.

— E no novo?

— Este? tinha uma frase. Tenho um grupo que almoça às quintas feiras. Um professor da faculdade de letras, um oftalmologista, um editor e há também dois cantores, entre eles o Vitorino. Aqui há um ano estavam a cantar uma moda velha do século XIX, por alturas do Natal, uma moda do interior do país, gente que nunca vira o mar, e quando chega a altura de descrever os reis magos, o poeta, que não se sabe quem é, poeta anónimo, escreveu isto: que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? E isto ficou-me cá dentro. É de uma beleza que eu não resisti e pensei: vou chamar o livro assim. O título é grande de mais, mas é tão bonito que ficou assim.

Mais mortos que glóbulos

— E tão injusta a morte. Principalmente, a morte de quem a gente gosta. É muito dolorosa. O pior é que se chega a uma altura na vida em que temos mais mortos que glóbulos nas veias.

— Os amigos...cada vez menos...

— É. Às vezes eu esqueço-me da idade e digo em casa: lembras— te daquele rapaz da minha idade? E as minhas filhas, logo: rapaz...?

— Sei o que é isso. Também tenho duas filhas?

— Tem duas filhas? E os ciúmes que eu tenho dos namorados delas?...Você também tem?

— ...

— E já tem netos?

— Uma neta.

— Eu tenho um neto. Anda nas escolas do futebol. É a mãe que o leva, mas parece que corre muito atrás da bola...e eu pergunto-lhe: ouve lá, como é que se chama o teu treinador? E ele, muito sério: mister!

Força Benfica

O Benfica de António Lobo Antunes

Hoje a entrevista de António Lobo Antunes n' "A Bola" é emocionante. Eu gosto do Benfica de António Lobo Antunes porque é exactamente o meu Benfica - o Benfica da emoção, do amor à camisola, do futebol bonito e livre, da mística, da vitória.

Colocarei online toda a entrevista num post seguinte, porque sei que quem gosta do Benfica e sente o Benfica tem de se identificar com o que o grande escritor diz hoje nesta conversa com Vítor Serpa.

A razão principal que eu gosto do António Lobo Antunes é a sua escrita, mas admito que desde sempre soube que foi, é e será um grande Benfiquista o que me influenciou positivamente para a sua pessoa - aparte da escrita...

Recentemente tive oportunidade de pedir um autógrafo a António Lobo Antunes, num livro que tenho seu, e quando estava na fila pensei em pedir-lhe que me escrevesse uma frase sobre o Benfica na página branca que antecede o texto. Durante a minha estadia na fila, pensei que apesar de essa "dedicatória Benfiquista" representar mesmo o que eu desejava - uma frase do António Lobo Antunes num livro seu (mas meu) sobre o Benfica - tive receio que com tanta gente a solicitar autógrafos, esse pedido fosse um "abuso" e optei por não lhe pedir o que mais desejava. Depois de ler a entrevista dele e sabendo que o autógrafo num livro (como num disco) vale o que cada um quiser considerar como valorizável, decidi que tentarei ter a tal dedicatória do grande escritor Benfiquista num próximo autógrafo, num qualquer outro livro seu, para sempre me lembrar da sua ideia magnífica de Benfiquismo.

A entrevista que hoje concede ao jornal "A Bola" tem vários momentos de interesse mas também tem passagens tristes que merecem reflexão. Eu sempre vi o Benfica como um clube de cultura. Bem sei que é orgulhosamente um "clube do povo" e António Lobo Antunes reforça essa ideia da mesma maneira que reforça a ideia que obviamente os intelectuais também gostam de futebol e o Benfica sempre teve muitos adeptos incondicionais ligados às artes, à cultura, às ciências, à investigação. No entanto, consequência desta nova indústria do futebol mediatizado, procuram-se mais facilmente as novas caras das novelas, os novos ou velhos músicos mais mediatizados, alguns "Jet Set" mal amanhados (as) e oferecem-se bilhetes quase como que a pensar que essa oferta terá um efeito comercial num determinado público-alvo que assim mais facilmente irá ao estádio.

Eu paguei todos os bilhetes de todos os jogos no antigo e no novo Estádio da Luz (salvo uma ou outra excepção perfeitamente justificadas - até porque o cativo não engana), e não aceito que nenhum VIP ou não VIP utilize constantemente qualquer estatuto para de forma continuada ver jogos no Estádio da Luz - todos sabemos que há vários exemplos destes no passado recente Benfiquista. Para mim, estes exemplos são inaceitáveis. Não admito que se convidem continuamente VIPs ou "pretensos" VIPs que na maioria dos casos utilizam o Benfiquismo para sua promoção, nem sequer são sócios do clube e provavelmente nem sabem quanto custa um bilhete para um jogo - quanto mais um bilhete de época. Declaro que não tenho nada contra as promoções, contra um ou outro bilhete que se ofereça a um ou outro Benfiquista destacado mas sinceramente tenho a ideia "antiga" e quase "religiosa" de pagar ao Benfica todo e qualquer bilhete, quota ou cativo. Obviamente...

Isto a propósito de algo que me chocou na entrevista - António Lobo Antunes ainda não foi ao novo Estádio da Luz.

Obviamente que o escritor não precisa de qualquer convite para aí se deslocar e se nunca lá foi é obviamente consequência do enorme desencanto que tem vindo a crescer sobre toda a indústria do futebol e também dos resultados recentes Benfiquistas. Penso que alguém (que pode e deve ser Rui Costa ou em última análise o próprio Luis Filipe Vieira) deve fazer algo formal e provavelmente com carácter Institucional para que António Lobo Antunes volte a fazer parte da mobília do Estádio da Luz porque faz mesmo falta. O timing é bom porque parece que António Lobo Antunes (tal como eu) vê em Quique Flores e em Rui Costa uma lufada de ar fresco que pode ser determinante para a sua primeira visita ao novo Estádio da Luz. É mesmo importante ter o António Lobo Antunes no nosso estádio. Este e todos os Antónios Lobos Antunes que estão espalhados nos 4 cantos do país - para não dizer do mundo. Fazem falta porque eles representam também este novo Benfica - não o Benfica de passado mas o Benfica de futuro.

Um Benfica de futuro tem de saber ler as entrelinhas da entrevista de António Lobo Antunes. Este é o Benfica que nos foi passado pelos avós, pais, tios, amigos e que terá necessariamente ser o Benfica de futuro. Eu sou dos que apoio todo o tipo de modernidade que possa trazer mais receitas, mais criatividade na abordagem a essas mesmas receitas, dum marketing evoluído que permita a quem está em qualquer parte do mundo possa aceder pela internet ou pelo telefone móvel ao jogo ou a conteúdos exclusivos, sou a favor dum Benfica virado para as novas gerações falando a sua linguagem, sou a favor dum Benfica ecléctico e mais competitivo nesse ecletismo, sou a favor dum Benfica social e cultural e não apenas desportivo. A Mística que vem à baila, muitas e muitas vezes estará presente no futuro se soubermos ler o passado. E o passado aprende-se com quem o viveu nas bancadas frias e duras do antigo Estádio para que possamos revivê-las nas bancadas quentes e confortáveis do novo Estádio da Luz.

Quero muito ser campeão este ano, mas também é importante ver o grande António Lobo Antunes na bancada dum dos próximos jogos, porque isso significa que recuperaríamos um desanimado e sabíamos apontar as verdadeiras baterias para o presente/futuro da Mística do Glorioso.

Força Benfica

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Senhor empresário, quem manda aqui somos nós!

Li hoje n' "A Bola" afirmações do empresário de Cardozo que me deixaram estupefacto. Diz o senhor Pedro Aldave que "apesar de ser feliz no Benfica, se as condições do contrato não melhorarem, se calhar é melhor o Cardozo mudar-se".

Também li esta semana no mesmo jornal que Rui Costa pensa em renovar o contrato de Cardozo e de Nuno Gomes - que termina em Junho 2009. Nesse dia não entendi o porquê da renovação de Cardozo e obviamente que aplaudo a renovação de Nuno Gomes pela simples razão que numa altura da carreira os jogadores passam a ser símbolos e se temos um dos nossos símbolos recentes há anos e anos no estaleiro - Mantorras - quem é que pode ter dúvidas na renovação do nosso único avançado da selecção nacional com 150 golos marcados ao serviço do Benfica?

O que me surpreende é a urgência na renovação do contrato do Cardozo. Pelos vistos o atleta tem contrato até Junho de 2012 e tem uma cláusula de rescisão de 50 milhões de euros. Fantástico contrato. O jogador quer ser aumentado. Eu acrescento que todos os jogadores num determinado momento do contrato querem ser aumentados e os clubes nalguns casos devem ter isso em consideração. Uma das vezes em que se deve rever o contrato é porque queremos aumentar a cláusula de rescisão e blindar o jogador de propostas mais tentadoras. Neste caso, isso não se verifica porque com uma cláusula de 50 milhões de euros, o Benfica não tem neste momento interesse ou urgência em aumentá-la.

Então a quem serve a renovação de Cardozo e com que objectivos se fala duma renovação de contrato depois de 16 meses no Benfica e com mais outros 44 meses até ao final do contrato? Só interessa ao jogador e ao seu empresário. A mais ninguém...

Estas frases ameaçadoras próprias de empresários muito manhosos (sim manhoso é a palavra certa) são na minha opinião autênticas bombas que se enviam para a cabeça do jogador primeiro, para a direcção em seguida e para o restante plantel por último. Existem neste momento jogadores com contratos que acabam antes de 2012, com cláusulas muito mas reduzidas e que não têm propostas de renovação. Que pensarão eles da renovação de Cardozo , sabendo que faltam 3 anos e meio até ao final desse contrato? Então o que realmente quer este empresário? O mesmo empresário que disse que se o Cardozo fosse Brasileiro, Espanhol ou Argentino não teria sido castigado por Quique Flores. Mas quem é que este senhor pensa que é? Não há ninguém que peça uma reunião com este senhor e lhe ensine que quem manda no Benfica não é ele? Não há ninguém que lhe diga que o silêncio dos empresários para com a imprensa deve ser uma regra de ouro, especialmente se os seus jogadores tiverem contratos longos por cumprir com cláusulas de rescisão acordadas por ambas as partes?

Se Cardozo e o senhor empresário aceitaram receber por mês um valor x, uns prémios de jogo por valor y e uma cláusula de rescisão de valor z (por acaso esta sabemos que é de 50 milhões) porque razão agora diz ele que "apesar de ser feliz no Benfica, se as condições do contrato não melhorarem, se calhar é melhor o Cardozo mudar-se". Mas mudar-se para onde? Quando? Quem pagará a cláusula?

É fundamental ser forte com esta gente e mostrar coragem, ensinando-lhes olhos nos olhos que quem manda e quem decide as renovações dos jogadores do Benfica é o seu director desportivo, nos timings que bem entender.

Não podemos aceitar pressões de ninguém - pais, amigos, empresários, etc... - sob pena de ficarmos reféns da manhosice desta gente sem escrúpulos.

Conheço bem este tipo de pessoas e sei bem o que pretendem. Espero que o Rui Costa consiga ter mão neste tipo de gente porque o nível é tão baixo que será complicado para Rui Costa descer abaixo da sua média. O mais fácil é falar de cima e esperar que a ralé oiça e entenda que quem tem a faca e o queijo na mão somos nós. E isto pode ser explicado sem gritos e a falar devagarinho, porque além de manhoso este senhor já revelou que é pouco inteligente. Assim devagarinho, pode ser que entenda o essencial - "Esteja caladinho e quando quiser falar sobre o que quer que seja relacionado com o seu jogador, o número do meu telemóvel é..."

Eu não sei quanto Cardozo ganha e até admito que possa ganhar menos do que merece ganhar - duvido que ganhe mal porque com uma cláusula de 50 milhões de euros, mal não ganhará... Admitindo que pode e deve ser aumentado e que estrategicamente o Benfica vai aumentá-lo, o que não pode acontecer é ser no timing do empresário ou que o jogador use as birras e os maus humores para ser aumentado consoante o seu timing.

Quem manda no Benfica somos nós. Neste caso o Rui Costa e a direcção. Nunca um Paraguaio aqui mandou e não será este o primeiro - nada contra os Paraguaios, mas desta laia, sinto que pouca falta cá fazem...

Força Benfica e Força Cardozo, onde mais de ti precisamos - no campo...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Precisa-se Fato de Macaco

Faltou tudo a este Benfica hoje, mas o que mais me preocupou foi a apatia geral da nossa equipa. Sinto que há jogos que o Benfica nunca entra, e este foi um deles. O resultado foi-nos favorável, porque se alguém merecia ganhar o jogo, não seríamos nós seguramente. Quase que com alguma luta e felicidade conseguimos alcançar o objectivo da vitória, mas seria obviamente uma vitória injusta.

O que alguém tem de entender rapidamente (espero que Quique e sua equipa técnica) é porque voltamos constantemente a desequilibrar o que parece equilibrado. Com o Paços de Ferreira tivemos atitude, raça, força e mesmo que o resultado fosse 4-4, não teríamos dúvidas da vontade de ganhar da equipa. Pensava que com Quique, jogos como este de Matosinhos tinham terminado, mas pelos vistos ainda falta algum trabalho neste particular. Hoje pareciam depressivos, tristes, sem nenhum tipo de "ganas" de ali estar. Parece que qualquer um daqueles jogadores esperava o apito final como uma salvação para poderem ir para junto das famílias ou para ver/fazer qualquer coisa mais interessante que estar a jogar com a camisola do Glorioso.

Isto mudará. Não tenho dúvidas que tem de mudar, porque o Benfica hoje, voltou a ser igual ao de Chalana, de Fernando Santos e de mais outros que têm passado por aqui nos últimos anos. Voltámos a estar dormentes, sem a mínima noção da importância e de respeito pelo nosso clube. É passageiro, seguramente.

Teria sido bom que se safasse o resultado, porque assim poderíamos aprender e tirar ilações com 3 pontos no saco, mas isso não foi possível pela simples razão que por vezes, ainda há justiça no futebol. Pena, porque ficámos sem três pontos na recta final da partida.

Era muito, muito importante que se tivessem ganho os três pontos hoje e eu próprio tenho referido que neste momento em que a equipa cresce (hoje nem cresceu, nem evolui, e até parece que regrediu) o resultado será sempre o mais importante. As exibições boas chegarão com o tempo e agora será importante prevalecer o resultado. Apesar de tudo, ganhámos 1 ponto a uma equipa que há quinta jornada só perdeu 1 jogo. Para a próxima jornada prestará vassalagem nas Antas e perderá o segundo, porque no futebol há coisas que nunca mudam. Ou talvez não... Veremos.

Perdemos uma oportunidade de ouro para irmos descansar na pausa de selecções com o primeiro lugar da Liga, mas temos que ser pacientes e sentir que tendo em conta o cenário trágico que se apoderou do nosso inicio de época, estar dois pontos atrás do FCPorto não é nada de embaraçoso, nem que nos possamos envergonhar.

Mas uma coisa torna-se imediatamente clara a quem entende minimamente de futebol. Se continuarmos com esta atitude nos jogos fora, (especialmente nos jogos em campos que não se assemelham a uma Liga Europeia) o Benfica não ganhará muitos desses jogos decisivos. Como eu sou dos que acredito que tudo se aprende e a evolução faz parte do ser Humano, espero que todos entendam que nestes campos que mais parecem da segunda divisão Turca se perdem e ganham campeonatos e que sem fato de macaco a vitória não aparecerá em nenhum destes campos...

Será tudo melhor se alguém convencer a equipa a puxar do fato de macaco. O fato de gala tem de estar guardado para palcos maiores e melhores, como o Estádio da Luz.

Apesar de tudo, safou-se o resultado.

Força Benfica

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Orgulho neste Benfica

O Benfica mostrou hoje porque temos razões para acreditar neste plantel. Como pedimos, a equipa hoje mostrou atitude, foi coesa, combativa, mostrou garra e foi acima de tudo eficaz. Marcámos quando tínhamos de marcar e decidimos quando tínhamos que decidir.

Sempre tenho defendido a paciência e o acreditar no trabalho de toda esta equipa técnica, plantel e direcção desportiva liderada por Rui Costa, mas hoje é dia de dizer bem alto que temos Orgulho neste novo Benfica. Um orgulho grande porque começa a ser finalmente uma equipa de acordo com os pergaminhos do Benfica.

Penso no entanto, que vamos ter muitas dificuldades esta época, muitas desilusões, mas também muitas alegrias e muita esperança num futuro que tem nesta semana decisiva a primeira semana "à Benfica" de muitas que se seguirão.

Não consigo pensar em nenhuma outra palavra que descreva melhor o que sinto pelo trabalho que Quique e seus pares têm desenvolvido no Benfica como a que utilizo no título deste post - Orgulho.

Não podemos agora pedir muito mais que disciplina e motivação para ganhar ao Leixões. Esta época é, e vai continuar a ser a época zero de muitas outras, onde a palavra Vitória será uma constante.

Não podemos ter dúvidas disso...

Forca Benfica

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Há Maldição Italiana?

O Benfica dá-se mal com equipas italianas. Assim diz a estatística, mas a estatística também diz que nem sempre foi assim. A verdade é que nos últimos anos o Benfica tem se dado mal com muitas equipas Italianas, bem como com muitas outras de muitos outros campeonatos distintos – a última malapata é que não conseguimos ganhar a equipas Espanholas.

Para mim toda esta questão de ter azares mal resolvidos com equipas Italianas ou Espanholas tem a ver com a atitude com que se defrontam estas equipas. Nem mais nem menos que a atitude que temos perante cada um destes desafios.

Fala-se muito no projecto Europeu deste novo Benfica e eu sou dos que defendo que este projecto é o que vai marcar positivamente ou negativamente o Benfica dos próximos 10 anos. Sabemos que temos anos estratégicos muito importantes – pagamento integral do Estádio e consequente alívio nas prestações do project finance; rendas e quotas colocadas em prol do Benfica e não reféns desse mesmo project finance do Estádio; diminuição natural de algum do nosso passivo; aumento das receitas publicitárias; criação do Benfica TV e consequentes receitas associadas; maior número de sócios e aumento de receitas de bilheteira – que podem criar condições para que o Benfica volte à alta roda do futebol Europeu e de forma continuada nos anos que se seguem.

Tenho defendido que esta época a prioridade tem de ser o campeonato. Digo-o desde Maio e não retiro uma única palavra a esta ideia base do Benfica 08/09. Parece-me natural depois da miserável temporada passada. No entanto, apostar tudo no campeonato não pode significar deixar todas as outras competições para trás. A Taça Uefa deste ano, pelo menos o apuramento para a primeira fase de grupos, é algo que estava intrinsecamente ligado a esta época pela razão simples de que ao Benfica (como principal cabeça de série) iria sair em sorte uma equipa bastante inferior à nossa. A verdade é que saiu o Nápoles, segundo classificado do campeonato Italiano e que vem jogar ao estádio da Luz com uma vantagem de 3-2, muito importante por três razões essenciais, que são:

- O Benfica não ganha a equipas Italianas há muitos, muitos anos (são quase 25 anos sem eliminar Italianos)
- O Benfica só por uma vez conseguiu recuperar este resultado, virando-o e ganhando 2-0 ao Estrela Vermelha de Belgrado, passando a eliminatória com um saldo de 4-3 a nosso favor.
- O Benfica tem 5 jogadores pseudo-titulares castigados e lesionados.

Como sabemos, as estatísticas no Futebol valem a exacta importância que as equipas lhe querem dar. Se o Benfica na quinta-feira entrar a pensar que a estatística joga contra nós a atitude pode ser negativa e muito dificilmente passamos este eliminatória. Se pelo contrário os jogadores entrarem com bom espírito, com boa atitude, com positivismo e virando os pontos fracos em pontos fortes, o Benfica vai ganhar ao Nápoles.

Não interessa chorar antes dos jogos – e na verdade nem depois deles – nem tão pouco inventar desculpas antes de se iniciar a partida. Vejo alguns rostos apreensivos com as lesões e castigos que nos retiram seguramente David Luiz, Cardozo e Suazo e aparentemente Aimar deste importantíssimo jogo Europeu. Eu não vejo o Benfica deste ano dependente de dois ou três jogadores, mas vejo o Benfica deste ano mais junto, mais coeso e muito mais solidário. Vejo uma equipa combativa, simultaneamente nobre, com uma vontade de fazer bem, mesmo que muitas vezes ainda não o consiga e muito diferente de qualquer outra de anos recentes. Também, vejo uma equipa muito motivada depois do resultado contra Sporting, da mesma maneira que vejo com apreensão que com 34.000 bilhetes vendidos a dois dias do jogo, não haverá seguramente “casa esgotada”, o que muito me entristece.

Quando um clube como o Benfica, com quase 200.000 sócios não consegue esgotar o Estádio da Luz num jogo de extrema importância como este, algo vai mal no universo Benfiquista – ou na crise que abala Portugal e Mundo?

Também não vale a pena chorar sob este facto, mas é bom que se avalie as razões pelas quais o Benfica ainda está divorciado do grande público, para que nesta próxima década se possa resolver este importante tópico aumentando as receitas que nos permitirão crescer como equipa e como clube. Isso são outras conversas...

Temos que estar preparados para todos os resultados e assumi-los como parte do futebol. A derrota não será algo desastroso nem deverá ter repercussões dramáticas no plantel, na equipa técnica ou na direcção desportiva. Sabemos da importância desportiva e financeira deste resultado, como também sabemos que o tal Benfica Europeu deveria crescer este ano “rodando” o que pudesse rodar para dar minutos e experiência a uma equipa que ainda está em crescimento. Isso é o que desejamos e é isso que seguramente vai acontecer, mas temos que estar preparados para tudo, pois preparados para todos os cenários, mais facilmente chegamos aos nossos maiores objectivos.

Acredito, como sempre, e combato a estatística do “contra” afirmando que esta nossa equipa não perdeu em casa nenhum jogo – apesar dos empates com Inter e FCPorto – e sei que quinta-feira isso também não acontecerá. Sei que os místicos da estatística vão querer agoirar tudo o que pode mexer essas águas turvas da sorte e azar, mas também sei que os nossos jogadores não são dados a “místicismos baratos”, mas sim mais preocupados em recuperar a Mística de outros tempos. O Benfica é uma grande equipa e vai prová-lo contra o Nápoles. Se infelizmente algo contrário a este desejo acontecer, é porque os Italianos foram superiores a nós, merecendo passar a eliminatória – e aqui estarei para aplaudir e esperar que contra o Leixões o resultado não se repita.

É a única forma possível de ajudar este nosso Benfica a continuar o grande objectivo da época – a conquista do campeonato.

Força Benfica

domingo, 28 de setembro de 2008

Quique 2 - Bento 0

Hoje é um dia importante na época 08/09. Tenho aqui falado de paciência e da necessidade em acreditar nesta equipa técnica, neste plantel e neste novo projecto Benfiquista. Alguns dos nossos caros colegas consócios ou simpatizantes Benfiquistas têm colocado algumas questões (uma mais pertinentes que outras) sobre a maneira como a época foi preparada. Neste aspecto, é fácil de entender que a pré-época teve erros de timing próprios de projectos que arrancam do zero e sobre isto estamos conversados. Obviamente que esses erros foram cometidos e alguém terá que aprender com esses erros. Já passou...

Para quem tinha dúvidas, a equipa hoje deu uma resposta de humildade, de força e de coesão como há muito não víamos no nosso plantel profissional de futebol e Quique Flores deu mais uma lição a Paulo Bento, depois da resposta exemplar na conferência de imprensa anterior ao jogo.

Quando tudo corre bem é fácil dizer bem e quando tudo corre mal é fácil dizer mal. Hoje tudo correu bem e temos que aplaudir quem arriscou e quem planificou tudo a pensar que as apostas arriscadas iam mesmo correr bem.

Fiquei contente por ver seis jogadores Portugueses na equipa titular, contente com a aposta na juventude que Quique preconizou e mais contente fiquei por sentir que a equipa focou a importância da exibição no resultado, sendo inteligente e experiente na prossecução e obtenção desse objectivo maior – A Vitória.

Na próxima quinta-feira jogamos o jogo mais importante da época (até ver) e como já disse antes, seria bom que o ambiente no Estádio da Luz fosse ainda mais caloroso e mais esgotado que os 60 000 adeptos que hoje se deslocaram à catedral.

O Benfica está a crescer e não será uma hipotética derrota que retirá mérito a um trabalho que está a começar a dar pequenos resultados, mas se conseguirmos ganhar (como esperamos todos), alcançamos algo mais importante que é a conquista de uma tranquilidade no imediato , que terá frutos desportivos e financeiros durante toda a restante época.

Peço deste meu singelo cantinho blogosférico, que uma vez mais a equipa tenha coração e coesão porque sem Suazo, Cardozo e Makukula, teremos mais dificuldades em chegar ao grande objectivo da vitória, só possível com uma entreajuda própria das grandes equipas. Com atitude igual à que tivemos hoje, e que na minha opinião vimos manifestando na maioria dos jogos desta época, o Benfica pode arriscar ganhar todos os jogos – como aliás é apanágio da nossa História.

Celebremos a vitória contra o Grande Rival, mas não podemos esquecer que a semana ainda agora começa – falta ganhar a Nápoles e a Leixões para termos lugar na fase de grupos da Uefa e para tentar assegurar desde já a liderança do campeonato nacional.

Por ora, um contentamento enorme que não pode ofuscar o grande objectivo da semana - Ganhar ao Nápoles. Viva o Benfica!

Força Benfica

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Quique 1 - Bento 0

Não gostei nada das palavras de Paulo Bento na conferência de imprensa que antecedeu o derby. Paulo Bento tem uma equipa coesa, consolidada, com vários anos de trabalho e vai na liderança do campeonato. Vai defrontar um Benfica em construção, com castigados, por vezes inseguro mas com vontade de mostrar outros resultados. Joga no campo adversário e por isso mesmo devia ter dado o favoritismo ao Benfica. Agradeço que não o tenha feito, porque foi um erro de palmatória.

Há coisas no futebol que nunca mudam e Paulo Bento tem obrigação de saber isso mesmo. Os clichés do futebol existem, para se utilizarem nestes jogos e quem quer fugir dos clichés tem de estar preparado para essa difícil barreira de "mindgames" como Mourinho faz de forma soberba.

Quando Paulo Bento assume que vai ao Estádio da Luz para ganhar e "aumentar a vantagem" quer dar moral e confiança aos seus jogadores - até aqui entendo. Mas a verdade é que manda a prudência, nestes casos, utilizar a linguagem do politicamente correcto como "vamos defrontar uma grande equipa"; "temos de respeitar a equipa que joga em casa"; "há 50% de hipóteses, estamos confiantes, mas o factor casa nestes derbies pesa". Alguns clichés habituais no futebol que Paulo Bento de forma corajosa mas naif resolveu não utilizar.

E seria tão fácil utilizá-los porque a verdade é que o líder é o Sporting, vai jogar fora e por isso devia ter metido pressão no Benfica. Não o fez.

Quique respondeu umas horas depois de forma sublime. Diz ele que:

- "quer ver uma «grande resposta» dos seus jogadores no “derby” com o Sporting, que, na opinião do técnico espanhol, opõe «um projecto consolidado e outro em construção». Um deslize no embate de sábado não compromete as aspirações dos encarnados, porque, frisa, «a Liga não se decide em Setembro».

Paulo Bento lembrou, esta sexta-feira, que o Sporting não perde no Estádio da Luz há três épocas – a última derrota remonta a 2004/05 (1-0), a que se seguiu uma vitória (1-3) e dois empates (1-1 e 0-0).

Quique Flores responde de forma magistral afirmando:

- «Prefiro o caminho da humildade e não andar de peito feito. Sendo humilde é mais fácil as coisas saírem bem», acrescentando que «as estatísticas dizem-me pouco, estou cansado de as quebrar».

No final e como bom gentleman resolveu valorizar as qualidades do Sporting afirmando que se trata duma equipa «que gosta de jogar bem», mas que tem «virtudes e defeitos». «O Sporting sabe como joga. Não depende de um ou outro jogador, vale pelo colectivo».

Sempre disse aqui que temos treinador de futuro - caso Quique aqui queira ficar - e só espero que os resultados apareçam para tirarmos todas as dúvidas sobre se este é ou não o timoneiro certo para a grande Nau que representa o Glorioso.

Para terminar, e agora que Quique ganha na guerra de palavras, espero que os jogadores entendam que estas palavras de Quique - "prefiro o caminho da humildade" - não são mais nem menos que um aviso à navegação, reforçando a ideia que amanhã só com suor, força, determinação, raça e vontade podemos ganhar os três pontos. O jogo bonito que fique para os Romagnolis, Moutinhos, Rochembachs e Derleis desta vida...

Força Benfica

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A decisão da Época (Parte 1)

O Benfica pode decidir a época 08/09 nos próximos três jogos contra Sporting, Nápoles e Leixões. Se ganharmos os três arriscamos a ser primeiros no campeonato daqui a 10 dias, e temos o apuramento garantido para a fase de grupos da Taça Uefa.

Se por acaso a vida nos corre mal nestes próximos três jogos, decidimos a época no sentido prático de não chegarmos a esse importante objectivo desportivo e estratégico de estar na UEFA em ano zero da Benfica TV, e vermos o rival de sempre distanciar-se de uma maneira perigosa na luta pelo título - se bem que na Liga nada (mas mesmo nada) se decide na quinta jornada.

Este segunda parte do parágrafo até me custou escrever... Mas tive que fazê-lo para entendermos todos o que se joga nestes próximos 10 dias. Assumir a responsabilidade não tem nada a ver com meter pressão nos jogadores.

Penso que é muito importante que todos os jogadores sintam este perigo de jogar muito da época em 10 dias. Quando digo que se joga muito da época digo-o na exacta medida em que não ganhando nada, podemos deitar muito a perder...

Sem pressão, mas assumindo que mais importante que ter a estratégia, a táctica, os mecanismos, o entrosamento, os sistemas interiorizados é termos uma equipa coesa, unida e com coração. É muito importante ter coração e perceber que neste preciso momento o que nos importa são os resultados. Temos que ganhar, sem tentar jogar bonito ou jogar para a bancada. Não interessa perder e mostrar evoluções tácticas. Isso agora não serve. Como não serve perder e a crítica afirmar que a equipa está melhor. Prefiro que joguemos três maus jogos com três vitórias que o contrário. A equipa tem de estar armada para ganhar, transformar as fraquezas em forças (nomeadamente a impossibilidade de usar alguns jogadores contra Sporting e especialmente contra Nápoles) e acreditar que com vitórias nestes jogos tudo vai ser melhor durante a época.

Menos pressão, mais condescendência nalguns resultados negativos, mais desanuviados para poder jogar bem e ganhar bem, porque como diz Nuno Gomes hoje - "sabemos o que estamos a fazer". Não tenho dúvidas disso mas têm de fazê-lo já.

Quique Flores no meio de Agosto pedia mais dois meses para o início do campeonato. Eu com a paciência que me caracteriza alarguei o prazo e meti na minha cabeça que o ideal seria estar bem na Liga no início de 2009. Mas não posso deixar de sentir que neste momento tão importante para equipa, para técnicos, para adeptos, para a Benfica TV e para muitos outros projectos não necessariamente ligados ao futebol, estes resultados interessam. Sim interessam, porque antes de tudo o resto o Benfica é um clube de futebol ganhador. Não me recordo de me passarem a mística dizendo quão bem jogou o Benfica noutros tempos. Lembro-me sim, de me enaltecerem as vitórias e a capacidade de sofrimento e de luta que muitas das vezes foram a receita para essas mesmas vitórias.

Nestes próximos 10 dias a equipa tem de ser solidária, correr mais que os adversários e cada jogador tem de aceitar os erros de cada um dos colegas corrigindo-os e não cobrando-lhes esses erros. Têm de ser Benfica. Para quem não sabe o que é ser Benfica nesta equipa, que se deixe levar pela força e pelo coração e no final desta semana louca terá um curso intensivo de Benfiquismo passado com distinção.

Aproveitando a deixa da Grande Leonor Pinhão no texto de hoje dizendo que "nós benfiquistas temos de moralizar Quim", eu acrescento que além do Quim temos de moralizar toda a equipa e acreditar neles de forma inequívoca.

Nunca peço declaradamente vitórias e de forma bastante clara até escrevi aqui há pouco tempo que afinal um empate até pode ser um bom resultado, mas nestes próximos 10 dias conseguir as três vitórias não pode ser um objectivo mas sim uma certeza. Assim pensem os nossos jogadores...

Força Benfica

(Imagem utilizada retirada do blog http://benfica-slb-imagens.blogspot.com )

sábado, 20 de setembro de 2008

Benfica, TV e afins...

Tenho assistido com importante atenção a tudo o que se tem dito sobre o Benfica TV. Sei que grande parte do futuro estratégico do Benfica pode estar alicerçado neste importante item, e sei que os Benfiquistas vão ajudar a fazer deste canal uma importantíssima fonte de receitas para o Glorioso.

No entanto, estamos ainda no início dum ciclo que se iniciou há vários anos e que encontrou grandes obstáculos pelo caminho. Num blog vizinho, está muito bem contada toda a história que envolve o nascimento deste canal e dos interesses ramificados que estão por trás da entrada dum player tão importante no mercado audiovisual nacional.

Tenho por norma uma opinião consolidada, que se baseia na premissa de que os grandes negócios não se fazem com guerras. Ou seja, acredito que na gestão de vontades e na prossecução de objectivos claros, deve estar o equilíbrio que seria desejável ter quando se fala em grandes negócios. Não acredito nesses grandes negócios só para um lado e não tenho nenhuma simpatia por aquelas pessoas que metem interesses pessoais acima dos interesses estratégicos das empresas que representam. Este parágrafo serve para tudo, não apenas para o Benfica ou para o caso específico da Benfica TV.

Antes de falar nas reais hipóteses de receita para o Benfica, através da Benfica TV, vou acrescentar que não tenho por nenhuns dos players audiovisuais qualquer ódio de estimação, nem afino pelo diapasão de ver inimigos em todas as publicações da Controlinveste (de Joaquim Oliveira) ou amigos em outros grupos audiovisuais concorrentes da Controlinveste e teoricamente próximos do Benfica. Acredito que para este projecto da Benfica TV há objectivos que temos que alcançar independentemente de com quem os alcançamos.

E o principal objectivo do Benfica TV, nos dias de hoje, tem de ser a boa distribuição do sinal. Neste momento, temos um acordo estratégico com a MEO e que é obviamente o mais acertado, mas não podemos pensar que será a MEO a ter a exclusividade do sinal do Benfica TV para sempre. Sei que este projecto do Benfica TV deverá ter no curto prazo (até 2012) uma cobertura nacional total e inequívoca de maneira a poder ser realmente apetecível para o mercado publicitário - principal fonte de receitas. Isto tem de ser o grande objectivo do Benfica, independentemente da programação, das reportagens, das transmissões em diferido ou em directo.

O que podemos constatar desde já, é que o Benfica tem muita força, a ver pelos milhares de pedidos de adesão à MEO que ocorreram nas últimas semanas e seria desejável usar essa força apenas e só na prossecução dos seus objectivos, que têm de ser claros - ter total distribuição nacional no menos espaço possível de tempo.

Há duas maneiras de ver as receitas futuras do Benfica TV - através do sistema Pay Per View ou através dum sistema aberto de distribuição de sinal com receitas baseadas na publicidade e num fee anual pago pelas distribuidoras do sinal.

Neste momento, o Benfica optou pela segunda opção tendo distribuição exclusiva no MEO. Admito que estrategicamente e tendo em conta o que aconteceu nos últimos anos (com o boicote da TV Cabo à Benfica TV e a grande ligação de sponsoring que temos com o grupo PT) esta tenha sido a melhor e mais acertada decisão. A primeira emissão experimental vai ser emitida no dia 2 de Outubro com o jogo Benfica - Nápoles e a receita desse jogo será inteiramente preenchida por publicidade que anunciantes colocarão no canal. No entanto, o valor de cada anúncio será hoje muito mais reduzido, do que o real valor do Benfica, pela simples razão que quem for anunciar no Benfica TV não terá uma audiência nacional mas sim apenas os cerca de 250 000 assinantes da MEO. Quando o canal tiver distribuição nacional em todas as plataformas (como por exemplo a SIC Noticias) estaremos a falar para quase 2 000 000 de assinantes - 10 vezes mais.

No entanto, é bom pensar num canal como algo com perspectivas de crescimento consolidado a vários níveis, mas neste post quero apenas e só reflectir sobre questões de distribuição e de receita potencial. Sendo assim, e tendo em conta que este Benfica TV está neste momento a ser lançado com o objectivo de gerar receitas, não vejo nenhum problema em que o Benfica queira estar integrado na ZON (grande concorrente do MEO) na CaboVisão, ou todas as outras distribuidoras. Tem é de aproveitar esta ligação à MEO para de alguma maneira ajudar o seu patrocinador (PT) a lançar o serviço e com isso também ajudar a crescer este player importante - quanto mais assinantes tiver o MEO, melhor será para o Benfica neste importante ano inicial - e ganhar força negocial com todos os outros.

Esta época é estrategicamente boa para lançar o Benfica TV, porque temos os direitos dos jogos da Taça Uefa e se passarmos à fase de grupos desta competição teremos ainda mais capacidade para poder negociar com outras estações - SIC, RTP ou TVI - ou apenas utilizar esses direitos passando os jogos no Benfica TV, arriscando-nos a ter menos receitas publicitárias que as ofertas dos grandes canais nacionais, mas mantendo uma estratégia interessante no crescimento do canal. Por estas e por outras razões (obviamente desportivas) nunca pensei que seria assim tão mau estar na Taça Uefa este ano - assim a sorte nos ajude a ultrapassar o Nápoles porque caso contrário a desgraça neste ponto será ainda maior que na parte desportiva.

Voltando ao meu início do texto, e naquela ideia muito pessoal de envolver o maior número de players para chegar ao maior número de pessoas, não vejo porque levanta tanta celeuma a aproximação de Joaquim Oliveira a Luís Filipe Vieira ou vice-versa. Se o nosso objectivo é estar presente em todas as distribuidoras a médio prazo, será bom colocar de lado o maior distribuidor? Outra ideia que quero ressalvar e sublinhar - O Benfica pode voltar a negociar com a Olivedesportos novo pacote de transmissões, sem que isso signifique uma cedência ou pressão sobre a empresa Controinveste. Desde que sejam pagos os valores certos, tudo é possível.

Se em 2012 o Benfica tiver distribuição nacional do Benfica TV em todas as plataformas, e a poucos meses de terminar o contrato com a Olivedesportos, pode perfeitamente equacionar duas hipóteses:

a) não assinar com ninguém e tentar gerar receitas publicitárias ou de pay per view com os jogos do campeonato nacional
b) utilizar a força do canal Benfica e a hipótese atrás transcrita para ter mais peso negocial para um novo contrato com a Olivedesportos, eventualmente com mais um zero, assegurando os diferidos na Benfica TV.

Antes de chegar 2012, devemos pensar no imediato e neste momento seria interessante começarmos por ter os diferidos dos nossos jogos no Benfica TV, não colidindo com os diferidos que a Sport TV normalmente dá dos nossos jogos. Daí que todos os players sejam importantes e não devemos pensar que por termos um canal à nossa disposição temos o Rei na Barriga. Devemos ser fortes, não ostracizar ninguém porque estamos a falar do Benfica e quando se fala do Benfica as guerras pessoais ficam à porta...

Assim desejo para que possamos tornar o canal e suas receitas numa forte contribuição para a consolidação financeira e consequente regresso aos grandes títulos nacionais e quem sabe europeus.

Força Benfica