quarta-feira, 15 de julho de 2009

A gestão de expectativas desportivas vs empresariais

No último post escrevi que sou dos "que gosto de baixar as expectativas". Uma pessoa com expectativas baixas sob um determinado assunto tem mais margem de manobra caso alguma coisa corra mal.

No futebol desta altura do ano existe aqui um ponto de embraiagem muito complicado de fazer. Por um lado a direcção, os técnicos e o plantel gostam de aparecer motivados e gostam de prometer melhorias em relação á época transacta. Por outro lado há quem defenda que baixar as expectativas, passar mais tempo a alertar para as dificuldades e focar no longo caminho até ao título pode ser benéfico para a mentalização dos perigos do "excesso de confiança".

Eu repito que desportivamente gosto de passar mais despercebido até porque as nossas últimas épocas aconselham a sermos mais comedidos nas euforias. No entanto o nosso Presidente é muitas vezes acusado de vender falsas expectativas e frases feitas como "a melhor equipa da última década" o nosso "dream team", a famosa expressão "não cometeremos os mesmos erros do passado" ou o clássico "este ano seremos campeões, seguramente". No entanto há uma frase que rebenta a escala do optimismo e do aumentar de expectativa proferida pelo nosso Presidente quando diz que "Jorge Jesus é o melhor treinador Português". Ou seja, neste momento Jesus é superior a Mourinho para Luís Filipe Vieira e obviamente para muitos Benfiquistas que utilizam o cliché clássico "o treinador do Benfica é sempre o melhor treinador do mundo".

Todas estas frases podem servir de motivação extra para jogadores, equipa técnica ou adeptos mas também podem ser utilizados como arma de arremesso de adversários ou media mais críticos num determinado momento de fraqueza durante a época. Uma coisa é certa, este aumento de expectativa aumenta a pressão sobre toda a estrutura encarnada e aumentam o peso e a responsabilidade exigida pelo terceiro anel.

A verdade é que neste e noutros defesos o Benfica tem de gerir muito bem a utilidade estratégica de baixar as expectativas no futebol - com objectivos estratégicos e psicológicos a longo prazo mais positivos, especialmente quando algo corre mal - e aumentar essas expectativas, com o objectivo de comercialmente obter receitas imediatas numa altura muito importante do ano.

A ideia de aumentar estas expectativas e motivar a massa adepta do Benfica nesta altura do ano é fundamental em termos de negócio. Este ano temos o Red Pass que veio substituir o tradicional cativo com um posicionamento mais moderno e mais apelativo ao normal associado Benfiquista, mas também noutro nível temos os camarotes de empresa que estão a ser renovados por estes dias. Nesta fase, gerar receitas com vendas de bilhetes em jogos de apresentação, no torneio Eusébio, nas camisolas oficiais e alternativas com as letras a dizer Saviola, no merchandising, nas prendas dos emigrantes ou no normal adepto pode significar uns bons milhões em várias áreas.

Quando falei nos camarotes de empresa, tenho noção que serão os que menos são afectados pela performance do clube e mais (ou menos) da crise que afecta muitas empresas em muitos sectores económicos. No entanto, mesmo que muitos tenham que ser renovados por esta altura - os que assinaram por 5 anos em 2004 terão quer renovar por mais 3 ou mais 5 anos por estes dias - a ideia e a matriz fundamental neste negócio não passa pela euforia popular do tradicional terceiro anel.

Eu acho que depois dos quase 200 000 sócios que temos nesta altura, o nosso desafio é conseguir aumentar os tais Red Pass para um nível mais adequado à dimensão do clube e para que isso seja feito a atitude ultra positiva do nosso Presidente é fundamental. Muitas vezes nós criticamos o nosso Presidente pelas frases proferidas nos media e que ganham depois ecos sob várias formas, mas eu tenho que aplaudir a coragem em dizer coisas que se calhar nem acredita para ser a tal alavanca motivacional com o objectivo de conseguir que o clube num determinado momento atinja objectivos empresariais previamente definidos.

Eu não sei se o faria - dizer algo em que não acredito só para atingir objectivos definidos anteriormente - e por isso aplaudo a determinação do Presidente. Obviamente que eu sou de outra escola, mas entendo esta opção.

Além das receitas de bilhetes, Red Pass, camarotes, quotas de sócio, temos a acção para os grandes patrocinadores e nesse caso, a ideia anunciada que se está (ou vai estar) a negociar o naming do Estádio é importantíssima. Nesse sentido, quanto maior for a expectativa - nem que dure até ao natal - mais hipóteses temos de mostrar vitalidade e o tal plus psicológico que será obviamente determinante. Eu sei que é importante que depois dumas eleições concorridas, termos o estádio cheio nestes primeiros jogos e que se sinta que este é realmente um Novo Benfica. E por isso é que aparecem estas frases que reafirmam a opção de investimento comprador em detrimento de vendas, a aposta no futuro com juventude, a aposta na continuidade de Jesus por vários anos, etc...

No futebol não basta parecer há que ser, enquanto que nos negócios - especialmente negócios de receita impulsiva e de receitas de patrocinadores a longo prazo - há momentos em que se pode parecer sem realmente o ser. O momento em que se assinam os negócios pode ser fundamental e nesse aspecto não há boa ou má euforia. É sempre boa toda e qualquer euforia psicológica e que motive as massas. Por isso digo que nesse aspecto, e por mais que a minha postura seja mais low profile, o nosso Presidente está uma vez mais a servir os interesses maiores do Benfica.

Para que isto funcione bem, seria bom termos mais vitórias este fim de semana e que no dia 21 de Julho contra Atlético de Madrid o estádio pudesse estar cheio (ou quase), mesmo que isso signifique uma expectativa desportiva enorme, a um mês do inicio da competição e com consequências terríveis caso algo corra mal durante a época.

Força Benfica

2 comentários:

Rui Pinho disse...

Mais uma vez, continua a partilhar connosco as tuas opiniões.
São do melhor que se consegue encontrar na 'blogosfera' encarnada, concorde-se ou não com tudo o que escreves.

Obrigado.

Cumprimentos,
Benfica Sempre!

Atlas disse...

O LFV tem feito um trabalho que poucos fariam e como ser humano também tem falhas (ele próprio admite-o). Uma dessas falhas no meu intender é fazer declarações infelizes como esta, porque ao fazê-las "põe-se a geito" e toda a crítica negativa cai sobre ele e não merece. Se a intenção era de agitar as águas, o tópico dos depotados que convidam pessoas condenadas a cumprir penas por corrupção, seria muito mais eficaz e com ele correria menos riscos. Por outro lado só criando polémica à volta destes tópicos é que podemos ter esperança de acabar com o cancro da corrupção e os constantantes atentados à verdade desportiva, visto que nem a justiça nem a Federação Portuguesa funcionam neste país. Não consigo compreender a lógica da Federação Portuguesa permitir que um clube inscreva 70 e mais jogadores para emprestar mais de metade a outros clubes da liga que disputam. Isto é uma vergonha tão grande ou maior do que a compra dos árbitros e dos observadores. Clubes deviam poder comprar quantos jogadores quizessem mas deviam ser proibidos de os emprestar a clubes que disputam o mesmo campeonato. A FPF é uma vergonha!