segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Indesculpável...

Eu sou um dos rostos da "paciência transformada em letras" nesta época Benfiquista. Tenho aqui escrito e apoiado um projecto em transição, fundamentado opiniões positivas, defendido sempre a nossa equipa técnica e criticando muito vagamente alguma falta de atitude pontual que penso não serem justificadas a quem representa o nosso Benfica.

Há várias semanas que tenho defendido que a Taça de Portugal era uma prioridade e fiquei muito contente quando Quique Flores fez publicamente um mea culpa depois de ter facilitado no onze que defrontou o Penafiel na Luz para a primeira eliminatória da Taça. Nesse dia Quique assumiu "que tal não se repetiria" e que o Benfica queria muito "estar presente na final da Taça de Portugal", definindo publicamente esse objectivo como "prioritário".

Escrevi aqui no blog textos e textos e textos sobre este jogo alertando para o receio que se vinha apoderando de mim e do meu poder intuitivo que normalmente me alerta quando existem dificuldades futebolísticas no caminho do Glorioso.

Eu não podia ter feito nada mais (até porque sou um mero adepto com ideias e sentimentos sobre o nosso Benfica) para alertar a nação encarnada do perigo em facilitar um milímetro que fosse neste jogo.

Estava parte da época em causa e escrevi algo provocatório no título do texto que antecedia a partida - raramente escrevo sobre jogos específicos antes deles acontecerem - decidindo-me por um simples e lacónico "O Jogo do Ano".

Senti realmente que este podia ser o Jogo do Ano. Não só do ano 2008 como aí ironicamente escrevi, mas o jogo que nos podia marcar o ano.

E não tenho dúvidas que há um antes e depois da eliminação da Taça de Portugal nesta época futebolística encarnada.

Não quero falar muito da atitude da equipa que esteve a anos luz do jogo que aí disputaram em Outubro para o campeonato e que me pareceu correcta, nem quero falar das opções técnicas/tácticas porque normalmente não falo delas e todos que me lêem sabem que assumi cegamente a minha preferência por esta equipa técnica por muitos e bons anos.

Não altero em nada essa minha preferência mas sei o que custa perder em Matosinhos e sei o que me custa saber que Quique não foi honesto com os adeptos do clube.

Quique Flores é um senhor, um gentleman e um profundo conhecedor do Futebol moderno. É a pessoa certa para levar o Benfica aos sucessos que todos queremos e alguns deles (esperamos) ainda nesta época, mas não tenho dúvidas em afirmar que Quique Flores não foi honesto com os adeptos do nosso Glorioso, na maneira como encarou este jogo contra o Leixões.

E não foi honesto, pela simples razão que não deu um sinal de prioridade à Taça de Portugal como tinha dito que daria na vitória sobre Penafiel. A opção de rodar os guarda redes é uma opção pessoal, mas que não deve ser regra de ouro em todas as partidas. É assim que eu a vejo.

Ora depois de Moreira ter três partidas oficiais, sem sofrer nenhum golo e sabendo que Quim não tinha sido convocado a opção de colocar Moretto na baliza revela automaticamente um sinal de que a prioridade da Taça não é de todo igual à do campeonato. É assim que eu leio essa opção no preciso momento em que soube desta decisão para defender a nossa baliza. Não quero dizer com isto que Moretto tem culpa, ou que Quique fez mal ou bem, ou que o resultado seria outro com Moreira. Nada disso. O resultado poderia ser o mesmo. Ou não... O que sei é que Quique não foi honesto e espero que aprenda com estes erros. Como pode aprender com estes erros? Metendo sempre os melhores jogadores disponíveis, jogando com a gestão de plantel que ele e equipa técnica têm provado magistralmente saber fazer e não dizer aos adeptos que um troféu é prioridade quando na verdade não o sente como tal.

Num ano em que é obrigatório ganhar algum título e sabendo que o Campeonato, sendo o mais apetecível é obviamente o mais difícil porque está indexado a uma regularidade que temos mantido mas que podemos perder, tendo a Taça Uefa com a pior participação do Benfica até à data, levar a sério (muito a sério) a Taça de Portugal era "obrigatório".

Para mim era obrigatório, mas provavelmente tenho critérios distintos da equipa técnica, e que sem ironia, assumo o meu respeito por esses mesmos critérios. Gostava no entanto que Quique me explicasse a opção Moretto e de que forma essa opção reforçava a confiança e a probabilidade do Benfica sair vitorioso do Estádio do Mar. Nunca se sabe quando um dia, em amena e simpática cavaqueira Quique me possa explicar essa opção, mas até lá considero-a indesculpável...

Há anos na vida dos clubes em que ganhar não é tudo. Neste ano, o Benfica não tinha que ganhar tudo, mas teria que fazer boa figura em tudo o que participa. Na Taça Uefa com Hertha de Berlim, Galatasaray, Olympiakos e Metalist apenas empatamos um jogo, estamos fora da competição e na melhor das hipóteses fazemos 4 pontos em 12 possíveis.

Na Taça de Portugal contra Penafiel, Desportivo das Aves e Leixões o Benfica ganha 3-0 com Desportivo das Aves e leva as outras duas partidas para penaltis. Ganha uma, e perde outra...

Em mais de 3h30m de dois jogos (Liga e Taça de Portugal) o Benfica não consegue ganhar ao Leixões e pior que isso, mesmo que a atitude tenha sido de louvar - longe de mim criticar nesse tópico a equipa - a verdade é que futebolisticamente o Benfica não provou ser superior ao Leixões em nenhum momento. As oportunidades claras de golo foram quase nulas e o empate apesar do domínio encarnado do jogo, justificava-se no final do tempo regulamentar e do prolongamento.

O que a mim me faz confusão é como o Benfica não entra determinado a vencer o Leixões de forma categórica, em vez de esperar pela lotaria dos penaltis, deixando que a sorte decidisse o que os nossos jogadores não foram capazes de decidir por eles próprios.

Eu considero indesculpável a derrota em Matosinhos, porque todos sabíamos o que ela podia representar. Bem sei que no futebol ganhar e perder faz parte, bem sei que muitas vezes as derrotas estão escritas, mas ontem não podíamos perder. Por isso, a dor não passa, mesmo depois de 30 horas sobre o último penalti de Reyes e por isso escrevo o texto mais desapontado de todos os que tenho aqui escrito.

Não estou contra ninguém, nem ninguém tem culpa, mas sei que a época do Benfica fica marcada por esta derrota. Sei que neste momento o campeonato será pouco para este plantel, até na perspectiva tão importante de crescimento competitivo que se desejava forte nesta época (não confundir a expressão "o campeonato será pouco" - referindo o campeonato em termos de jogos - com a "conquista do campeonato" que será muito e o objectivo primordial da época).

Neste momento temos mais uns quantos jogos da Taça da Liga - no máximo serão sete, no mínimo serão dois - um jogo a feijões para a Uefa e 19 jornadas da Liga. No total falta-nos muito pouco para o tal crescimento competitivo que desejámos para o plantel profissional do Benfica, que só é efectivo e alcançável com a própria competição.

Estamos num ponto da época em que temos tudo para fazê-la positiva, ou fazê-la uma vez mais, catastrófica. Eu acredito que vai ser positiva e continuo a acreditar no objectivo que tenho aqui apregoado desde sempre - prioridade ao campeonato, mas começamos a ter menos "tiros" caso algo corra mal na Liga.

Acredito e acredito e acredito neste plantel, nesta equipa técnica, nesta direcção técnica e nesta administração... Não o nego, mas sei que uma equipa faz se com vitórias reais e não com vitórias morais. Temos duas competições para ganhar - neste momento a Taça da liga passa para nível de prioridade total - e espero que a equipa pense em resultados, porque neste momento é apenas disso que necessitamos. Focar nos resultados e pensar que só com esses resultados podemos e devemos crescer.

Sonhei com a hegemonia interna neste ano, mas tal não virá a acontecer; sonhei com a presença na final do Jamor porque isso significaria que a equipa chegava a um patamar competitivo interessante e porque crescíamos como equipa e tal não acontecerá; sonhei que o Benfica ia deixar a alma em Matosinhos e apesar da atitude positiva não foi isso que aconteceu; sonhei com a energia positiva de Moreira nos penaltis e no final vi um Moretto incapaz e negativo; sonhei com um Natal Feliz para a nação encarnada e no máximo teremos um Natal esperançoso...

No entanto, sei que a equipa é forte e vai transformar os pontos fracos em pontos fortes.

Assim sendo, o discurso passará a ser mais incisivo - "ainda bem que estamos fora da Taça Uefa e da Taça de Portugal para poder ganhar o Campeonato..." Que assim seja, mas só por ironia e comédia barata esta frase fará sentido. Temos tanto, tanto, tanto trabalho pela frente que até lá teremos que sofrer muito....... Estamos todos preparados para isso.

Sonho com o dia em que matematicamente seremos campeões e será esse sonho que comandará a minha vida futebolística esta época.

Força Benfica

6 comentários:

Dylan disse...

Essa é precisamente a minha opinião. Veremos como esta eliminação vai afectar o futuro da equipa. Estou receoso...

mafegos disse...

todas as derrotas preocupam,mas o emprestimo de 40 milhões de euros,que o clube se prepara para fazer,isso sim é que é preocupante,para quem já tem uma divida grandiosa.

Anónimo disse...

Cuidado com as palavras! Dizer que o Quique "não foi honesto" ao decidir que o Moretto jogasse é forte e incorrecto. Por outro lado a sua atitude de desânimo não é a que melhor serve os interesses do Benfica. Tenha esperança, homem!

O Benfica Sou Eu disse...

Senhor Anónimo

Obrigado pelo seu comentário.

Eu também considero que dizer que Quique Flores não foi honesto com os adeptos do Glorioso é "forte" mas não considero que seja "incorrecto".

Tenho por ele uma estima pessoal e profissional acima de qualquer suspeita. Escrevi várias vezes sobre ele e sobre a simpatia que por ele tenho.

No entanto, a minha ideia sobre a desonestidade dele nesta questão da prioridade da Taça foi por ele iniciada quando de forma muito frontal assumiu que errou em ter menosprezado o adversário Penafiel e que isso não voltaria a acontecer.

A decisão de Moretto em detrimento de Moreira é uma decisão técnica ou de principio?

Presumo que seja de principio - na Taça serão sempre utilizados os guarda redes suplentes.

Respeito este critério mas não me peçam para concordar.

A minha opinião sobre Quique neste particular não tem nada a ver com o resultado e espero que não entendam este texto como uma rabugem pessoal por termos perdido o encontro.

Lembrei me da penalidade defendida por Moretto a Ronaldinho e nesse instante até acreditei e desejei que Moretto defendesse cada um dos penaltis em Matosinhos, mas sabia que a minha opinião não mudaria nem um pouco se os defendesse ou não defendesse.

A minha opinião nesta matéria ficou decidida no momento em que soube telefonicamente que Moretto ia jogar. A partir daí Quique desiludiu-me como me desiludiria se em vez de Leixões tivéssemos ido jogar às Antas no sábado passado para a Taça com Moretto. Ou será que se fosse com FCPorto (que até está atrás do Leixões) Quique colocaria Moretto?

Eu não tenho dúvidas que sim, que colocaria Moretto porque ele é fiel aos seus princípios. E eu fiel aos meus.

Quique quando confrontado com a pergunta na Madeira se Moreira ia continuar como Numero 1, respondeu que "Não há nº1, não há postos seguros. Todos dependem dos treinos, dos jogos, no entanto há coisas que são óbvias e esta parece-me uma delas."

Baseado nisto e no que tinha dito aquando do Penafiel, escrevi no dia do jogo que "não acredito em nada do que se vem dizendo nos jornais sobre a hipótese Moretto para a nossa baliza. Posso-me enganar mas não vejo nenhum sentido nessa opção. A opção terá de ser a Melhor Equipa possível, como prova a convocatória."

Enganei-me porque não tinha assimilado o critério inequívoco de Quique em sempre dar uma oportunidade aos guarda redes menos utilizados na Taça. Eu discordo e só penso que ele deveria ter sido mais Honesto connosco, com a equipa e com a própria Taça de Portugal que é uma competição que nos merece o maior respeito, mas repito que isso não invalida em nada a minha opinião sobre ele e sei que com Moreira provavelmente o desfecho teria sido o mesmo.

Aliás penso que qualquer Grande Benfiquista se ler o texto com cuidado entende bem as minhas palavras. Não há nenhuma crítica directa ao profissionalismo e à seriedade intelectual e pessoal de Quique , mas quando utilizo a expressão "não foi honesto", utilizo-a no contexto por ele criado de colocar a Taça como prioridade total neste ano.

Em relação ao meu desânimo, e lendo o texto outra vez (coisa que raramente faço) senti que há bastante esperança naquilo que é o nosso objectivo primordial para esta época.

Não desanimo nem um pouco, no objectivo difícil mas possível de ganhar o Campeonato este ano, aliás demonstrado nos parágrafos finais.

Digo e repito que acredito muito "nesta equipa, nesta direcção técnica, no director desportivo e na administração".

E acrescento que especialmente acredito neste Treinador porque já demonstrou muita vontade em fazer virar a História Benfiquista para o lado correcto - o lado das vitórias.

Tenho esperança... Muita esperança, mas se o campeonato não vier para o nosso lado este ano, não criticarei nem um pouco o excelente trabalho que Quique está a fazer. Mas continuarei a pensar que na próxima edição da Taça, deveremos ter sempre os melhores jogadores disponíveis. E provavelmente Quique irá continuar a pensar que ter o guarda redes suplente é a opção certa.

Respeito-o e sei que ele me respeita a mim, porque é um Senhor em toda a linha.

Força Benfica e Força Quique

Anónimo disse...

Obrigado pela resposta, que clarifica, em meu entender, a sua posição. Confesso que me chocou a palavra "honesto" (ou melhor, "não honesto") mas compreendo os seus critérios. Só que em termos de análise do discurso temos de pensar no que as palavras que usamos podem significar para toda a gente, e aí fui "ludibriado".

Saudações benfiquistas.

Nota: como interpreta a ideia de Quique de utilizar as "reservas" contra o Metalist? N~~ao precisa responder aquiu, certamente o fará em post próprio...

Anónimo disse...

Penso que a crítica às opções de Quique Flores não deveriam recair sobre a opção da titularidade de Moretto, embora me tenha parecido que Moretto não "estivesse ali" aquando da marcação das grandes penalidades, o que se pode criticar quanto a mim foi o facto do treinador não ter "posto a carne toda no assador" durante o prolongamento, no fundo no fundo esperou pelos penalties e saiu-lhe (saiu-nos) caro.

Filipe Santos