Esta semana soubemos que o treinador Quique Flores tem preferência pela utilização de redes negras nos jogos que o Benfica dispute no Estádio da Luz.
Trata-de uma preferência a meio caminho entre o "supersticioso" e o "mais eficaz" porque segundo rezam as crónicas o treinador pensa que assim os nossos atacantes têm um alvo mais destacado para donde bem rematar (eu acrescento à expressão os nossos atacantes, "os nossos adversários" que também terão esse alvo destacado) e ao mesmo tempo inicia as hostilidades num campo que é bastante caro ao nosso treinador - o campo supersticioso.
Já tinha ouvido algumas histórias sobre o tal lado supersticioso de Quique Flores, mas sempre pensei que esse lado mais místico fosse algo pessoal e pouco transmissível, como aliás é apanágio das superstições futebolísticas - cada um tem a sua. Pois parece que Quique tem várias superstições e algumas delas colectivas, como a mania de ter redes negras nos estádios das equipas que treina.
Eu não tenho nada contra as redes negras, mas segundo se diz no jornal "A Bola", o Benfica nunca teve redes negras nas balizas de qualquer um dos nossos estádios. Há teorias que contrariam esta notícia e porque eu não tenho a verdade absoluta sobre essa matéria, considerarei apenas que na grande maioria dos nossos 104 anos de História, o Benfica não teve redes negras nos nossos estádios.
Posto isto, parece-me legítimo perguntar porque raio Quique Flores quer impor ao nosso Glorioso algo que durante mais de um centenário não se ousou tocar?
A resposta está dada acima - por questões práticas de foco no alvo e por razões supersticiosas - mas o que temos que perguntar neste momento é sob que razão superior Rui Costa como director desportivo da área do futebol ou Luís Filipe Vieira como Presidente do Clube e da SAD, autorizaram a que se quebrasse uma das tradições que aparentemente sempre foi mantida no Estádio da Luz? As redes brancas fazem parte do Estádio da Luz como parte integrante da Mística que tantos de nós defendemos? Sim e não. Sim, porque na verdade várias gerações assim se habituaram a ver as redes brancas; Não, porque a tradição já não é o que era.
Eu, confrontado com esta questão e pondo-me no lugar de Rui Costa ou de Luís Filipe Vieira e colocando-me hipoteticamente com a suposta decisão de autorizar ou não autorizar as novas redes negras, sinto-me numa primeira análise indeciso. Balanço entre o classicismo das redes brancas e o tradicionalismo evolutivo que me permite manter e lutar por uma tradição, sem que essa tradição me tire o foco no presente e na normal evolução de ideias e de conceitos.
Em tempos idos achei ridículo que o técnico Tomislav Ivic tenha obrigado a nossa direcção de então a retirar alguns metros ao nosso relvado, pois assim, os nossos jogadores habituavam-se a jogar em espaços reduzidos, e quando defrontassem fora do Estádio da Luz equipas com campos mais pequenos, teriam facilidade em fazer prevalecer o nosso futebol. A direcção de então aprovou a ideia e todos sabemos com que resultados (negativos). Depois de alguns jogos, o Benfica voltou ao seu terreno normal de jogo com as medidas do nosso relvado a serem novamente aumentadas. Se esta medida do Ivic tivesse resultado, obviamente que ficaríamos com a teimosia do Tomislav até ao fim do campeonato.
E isto leva-me à verdadeira questão no que toca às redes negras ou redes brancas. Num ano em que tudo correu mal - eu acrescento numa década e meia em que quase tudo correu mal - o Benfica está numa altura de transformações de fundo, em toda a sua lógica de gestão do Futebol. Rui Costa acredita que neste ano zero das suas novas funções está a preparar o Benfica para ganhar durante muitos anos. A sua expectativa é contrariar a tendência de queda absoluta e tentar ganhar vários campeonatos nos próximos 10 anos.
Neste conceito de "mudar tudo" ou quase tudo, o detalhe das redes negras é algo ínfimo que Rui Costa ou Luis Filipe Vieira nem meditaram assim tanto, antes de aceitar a proposta de Quique Flores. A verdade é que eu sou dos que aceito e promovo a tradição, os valores que levaram o Benfica ao estatuto de Glorioso, mas não sou fechado a alterações que não descaracterizando os nossos ideais possam melhorar a nossa performance. E neste particular, entra a superstição tão própria do mundo do futebol.
Eu venho da escola racional. Sou muito racional em tudo o que faço na minha vida. No entanto, sei que no futebol o racional tem limites e a superstição tem espaço de manobra. Penso que eu, e todos os grandes apaixonados do Benfica, temos as nossas pequenas superstições. Eu tenho e assumo. Gosto de usar encarnado em dias de jogo. Não gosto de repetir peças de roupa encarnadas que tenham perdido/empatado jogos (como sabemos, no Benfica, empate é derrota). As superstições podem ser mínimas, como podem ter intrínsecas algo de bastante maior, quase que a sugerir algo mais ridículo que prático. Parece que Quique Flores leva mesmo a sério as suas superstições e Rui Costa como Homem do futebol sabe que essas crenças devem ser levadas a sério. Nesse sentido, achou (e bem) que não seria por esta razão que lhe pediriam a cabeça, até porque com redes amarelas, encarnadas, brancas ou negras o que todos queremos é ganhar.
Se ganharmos, as redes serão fantásticas e se perdermos as redes podem ainda vir a ter culpa. Como qualquer bom supersticioso, Quique Flores não gostará de repetir fórmulas perdedoras, o que talvez signifique que no fundo, as redes negras estão a teste. Ganhando o Feyenoord e hipoteticamente ganhando contra o Inter, testámos devidamente a indumentária das redes para o primeiro grande derby contra FCPorto. Perdendo contra Inter e FCPorto (que não acontecerá) as redes brancas terão hipóteses de voltar? Eu diria que eventualmente, "Sim têm". Ou talvez não, porque no Getafe e no Valência, independentemente de derrotas ou vitórias, Quique Flores manteve as redes negras durante todo o campeonato.
Por tudo isto, e mesmo sabendo que este fait-divers poderá ter o mesmo desfecho que a diminuição do relvado no tempo do Ivic, acabo por entender a razão da decisão de Rui Costa e/ou Luis Filipe Vieira. No fundo, a direcção tem que criar todas as condições para que o treinador possa desempenhar o seu trabalho sem queixas e com gosto. Neste momento, Quique não se pode queixar de nada, mas para que conste, até mesmo as superstições têm limites e espero não ver coisas estranhas atrás das tais famosas redes negras. Há limites para as superstições, especialmente se essas tiverem que ser aceites por mais pessoas. O limite do bom senso é sempre o melhor conselheiro nesta matéria.
Veremos o que nos reservará durante o ano, este místico Quique Flores. Por mim, espero vitórias. Só vitórias, e muitos golos Benfiquistas nas redes negras. Terão as redes negras alguma importância?As redes negras têm a importância que lhes quisermos dar. Eu penso que há coisas bem mais importantes, (o formato das redes, e de que forma a bola fará "chuáaaa" aquando dos golos é também relevante?) e a julgar pela alegria dos adeptos no final do jogo contra o Feyenoord, a grande maioria dos Benfiquistas também acha o mesmo.
O que importa de verdade é que o Benfica ganhe, com ou sem redes negras, até porque não faltará muito para que as redes do nosso Estádio tenham logos publicitários aí incluídos. A Adidas podia ser a primeira, não? Assim juntávamos o classicismo das redes brancas, a tradição evolutiva das redes negras e o marketing mais evoluído com a junção dum logotipo com as características do preto e branco. Não faltará muito...
Força Benfica
Trata-de uma preferência a meio caminho entre o "supersticioso" e o "mais eficaz" porque segundo rezam as crónicas o treinador pensa que assim os nossos atacantes têm um alvo mais destacado para donde bem rematar (eu acrescento à expressão os nossos atacantes, "os nossos adversários" que também terão esse alvo destacado) e ao mesmo tempo inicia as hostilidades num campo que é bastante caro ao nosso treinador - o campo supersticioso.
Já tinha ouvido algumas histórias sobre o tal lado supersticioso de Quique Flores, mas sempre pensei que esse lado mais místico fosse algo pessoal e pouco transmissível, como aliás é apanágio das superstições futebolísticas - cada um tem a sua. Pois parece que Quique tem várias superstições e algumas delas colectivas, como a mania de ter redes negras nos estádios das equipas que treina.
Eu não tenho nada contra as redes negras, mas segundo se diz no jornal "A Bola", o Benfica nunca teve redes negras nas balizas de qualquer um dos nossos estádios. Há teorias que contrariam esta notícia e porque eu não tenho a verdade absoluta sobre essa matéria, considerarei apenas que na grande maioria dos nossos 104 anos de História, o Benfica não teve redes negras nos nossos estádios.
Posto isto, parece-me legítimo perguntar porque raio Quique Flores quer impor ao nosso Glorioso algo que durante mais de um centenário não se ousou tocar?
A resposta está dada acima - por questões práticas de foco no alvo e por razões supersticiosas - mas o que temos que perguntar neste momento é sob que razão superior Rui Costa como director desportivo da área do futebol ou Luís Filipe Vieira como Presidente do Clube e da SAD, autorizaram a que se quebrasse uma das tradições que aparentemente sempre foi mantida no Estádio da Luz? As redes brancas fazem parte do Estádio da Luz como parte integrante da Mística que tantos de nós defendemos? Sim e não. Sim, porque na verdade várias gerações assim se habituaram a ver as redes brancas; Não, porque a tradição já não é o que era.
Eu, confrontado com esta questão e pondo-me no lugar de Rui Costa ou de Luís Filipe Vieira e colocando-me hipoteticamente com a suposta decisão de autorizar ou não autorizar as novas redes negras, sinto-me numa primeira análise indeciso. Balanço entre o classicismo das redes brancas e o tradicionalismo evolutivo que me permite manter e lutar por uma tradição, sem que essa tradição me tire o foco no presente e na normal evolução de ideias e de conceitos.
Em tempos idos achei ridículo que o técnico Tomislav Ivic tenha obrigado a nossa direcção de então a retirar alguns metros ao nosso relvado, pois assim, os nossos jogadores habituavam-se a jogar em espaços reduzidos, e quando defrontassem fora do Estádio da Luz equipas com campos mais pequenos, teriam facilidade em fazer prevalecer o nosso futebol. A direcção de então aprovou a ideia e todos sabemos com que resultados (negativos). Depois de alguns jogos, o Benfica voltou ao seu terreno normal de jogo com as medidas do nosso relvado a serem novamente aumentadas. Se esta medida do Ivic tivesse resultado, obviamente que ficaríamos com a teimosia do Tomislav até ao fim do campeonato.
E isto leva-me à verdadeira questão no que toca às redes negras ou redes brancas. Num ano em que tudo correu mal - eu acrescento numa década e meia em que quase tudo correu mal - o Benfica está numa altura de transformações de fundo, em toda a sua lógica de gestão do Futebol. Rui Costa acredita que neste ano zero das suas novas funções está a preparar o Benfica para ganhar durante muitos anos. A sua expectativa é contrariar a tendência de queda absoluta e tentar ganhar vários campeonatos nos próximos 10 anos.
Neste conceito de "mudar tudo" ou quase tudo, o detalhe das redes negras é algo ínfimo que Rui Costa ou Luis Filipe Vieira nem meditaram assim tanto, antes de aceitar a proposta de Quique Flores. A verdade é que eu sou dos que aceito e promovo a tradição, os valores que levaram o Benfica ao estatuto de Glorioso, mas não sou fechado a alterações que não descaracterizando os nossos ideais possam melhorar a nossa performance. E neste particular, entra a superstição tão própria do mundo do futebol.
Eu venho da escola racional. Sou muito racional em tudo o que faço na minha vida. No entanto, sei que no futebol o racional tem limites e a superstição tem espaço de manobra. Penso que eu, e todos os grandes apaixonados do Benfica, temos as nossas pequenas superstições. Eu tenho e assumo. Gosto de usar encarnado em dias de jogo. Não gosto de repetir peças de roupa encarnadas que tenham perdido/empatado jogos (como sabemos, no Benfica, empate é derrota). As superstições podem ser mínimas, como podem ter intrínsecas algo de bastante maior, quase que a sugerir algo mais ridículo que prático. Parece que Quique Flores leva mesmo a sério as suas superstições e Rui Costa como Homem do futebol sabe que essas crenças devem ser levadas a sério. Nesse sentido, achou (e bem) que não seria por esta razão que lhe pediriam a cabeça, até porque com redes amarelas, encarnadas, brancas ou negras o que todos queremos é ganhar.
Se ganharmos, as redes serão fantásticas e se perdermos as redes podem ainda vir a ter culpa. Como qualquer bom supersticioso, Quique Flores não gostará de repetir fórmulas perdedoras, o que talvez signifique que no fundo, as redes negras estão a teste. Ganhando o Feyenoord e hipoteticamente ganhando contra o Inter, testámos devidamente a indumentária das redes para o primeiro grande derby contra FCPorto. Perdendo contra Inter e FCPorto (que não acontecerá) as redes brancas terão hipóteses de voltar? Eu diria que eventualmente, "Sim têm". Ou talvez não, porque no Getafe e no Valência, independentemente de derrotas ou vitórias, Quique Flores manteve as redes negras durante todo o campeonato.
Por tudo isto, e mesmo sabendo que este fait-divers poderá ter o mesmo desfecho que a diminuição do relvado no tempo do Ivic, acabo por entender a razão da decisão de Rui Costa e/ou Luis Filipe Vieira. No fundo, a direcção tem que criar todas as condições para que o treinador possa desempenhar o seu trabalho sem queixas e com gosto. Neste momento, Quique não se pode queixar de nada, mas para que conste, até mesmo as superstições têm limites e espero não ver coisas estranhas atrás das tais famosas redes negras. Há limites para as superstições, especialmente se essas tiverem que ser aceites por mais pessoas. O limite do bom senso é sempre o melhor conselheiro nesta matéria.
Veremos o que nos reservará durante o ano, este místico Quique Flores. Por mim, espero vitórias. Só vitórias, e muitos golos Benfiquistas nas redes negras. Terão as redes negras alguma importância?As redes negras têm a importância que lhes quisermos dar. Eu penso que há coisas bem mais importantes, (o formato das redes, e de que forma a bola fará "chuáaaa" aquando dos golos é também relevante?) e a julgar pela alegria dos adeptos no final do jogo contra o Feyenoord, a grande maioria dos Benfiquistas também acha o mesmo.
O que importa de verdade é que o Benfica ganhe, com ou sem redes negras, até porque não faltará muito para que as redes do nosso Estádio tenham logos publicitários aí incluídos. A Adidas podia ser a primeira, não? Assim juntávamos o classicismo das redes brancas, a tradição evolutiva das redes negras e o marketing mais evoluído com a junção dum logotipo com as características do preto e branco. Não faltará muito...
Força Benfica
1 comentário:
Respondendo directamente à pergunta retórica. As superstições são como os gostos: não se discutem.
Se for por aí que o Benfica consiga bons resultados, que se troquem as redes.
Enviar um comentário