Nada pessoal me move contra o Jorge Jesus e torci como todos os portugueses torcem pelo seu sucesso no Flamengo, como torcemos pelo sucesso de Luis Castro, Paulo Fonseca, Villas Boas - este menos por razões óbvias - Mourinho, Nuno Espirito Santo, Abel Ferreira, Sá Pinto, Pedro Martins, Carlos Carvalhal quando brilhou em Inglaterra e tantos, tantos outros.
Tudo o que eu não simpatizo com Jorge Jesus, devo-o a atitudes que ele teve quando era treinador do Benfica.
Não gostei de o ver aos empurrões a um policia em Guimarães pois independentemente da razão que possa ter, não se deve andar aos empurrões com a autoridade num estádio, sendo treinador do Benfica.
Não gostei de o ver a esticar os "4 dedos a Manuel Machado" numa célebre goleada do Benfica contra o Nacional, como também não gostei de o ver mentir dizendo que estava a falar com Luisão para "defender em linha com 4..."
Não gostei de o ver empurrar e ser violento com o nosso Shéu em Inglaterra. Com o Shéu !!!!
Não gosto quando foi e é verbalmente violento com vários jogadores do Benfica apenas e só "porque sim", porque a sua adrenalina dá-lhe para gritar com os nossos, enervando-os e nada trazendo de bom para a equipa.
Não gosto que embirre com jogadores bons e faça deles maus jogadores para provar que tinha razão e detesto quando embirra com jogadores maus e aposta neles até a exaustão para também provar que tinha razão. Ser treinador é ter a humildade de escolher sempre o melhor para a equipa e não ter uma agenda própria ou um Ego inflado que lhe tire a visão correcta para cada momento do jogo. Escrevi "humildade" numa frase em que falo de Jorge Jesus... Eu que devo estar a ficar maluco...
Não gosto quando Jorge Jesus acha que é melhor que todos os outros, e como facilmente se comprova, perde e ganha como todos os outros e nalguns casos perde muito mais do que devia perder...
Não gosto quando vejo uma imprensa rendida a um treinador português que ganhou uma Libertadores e um campeonato brasileiro quando na verdade esse facto não é nada de mais, tendo em conta que das ultimas dez edições da Libertadores, seis foram ganhas por equipas brasileiras com treinadores tão díspares como Renato Gaúcho do Grémio, Cuca do Atlético Mineiro, Tite do Corinthians, Muricy Ramalho do Santos, ou Celso Roth do Internacional só para falar dos treinadores que ganharam por clubes brasileiros a Libertadores nos ultimos 10 anos.
Tirando estes treinadores de clubes brasileiros, Marcelo Gallardo ganhou 2 vezes a Libertadores com o seu River Plate, perdendo a final de forma anedótica o ano passado - tem 3 finais em 5 anos - alem de Edgardo Bauza com o San Lorenzo e Reinaldo Rueda com o Atletico Nacional da Colombia.
Portugal tem um treinador que acabou de ganhar duas vezes ao Real Madrid com um plantel de 135 milhões de euros contra um plantel de 850 milhões de euros e não vi 1% da loucura que existiu em Portugal com o facto de Jorge Jesus chegar à final da Libertadores, depois de eliminar duas equipas brasileiras nos quartos de final dessa mesma Libertadores - Internacional - e nas meias finais - o Grémio. Parecia uma "Taça do Brasil em modo Libertadores..."
Tudo isto para chegar ao que se viu e ouviu de Jorge Jesus naquilo que apelidei no título como 24 horas "horribilis" de Jorge Jesus.
Na conferencia de lançamento do jogo contra o Marítimo, Jorge Jesus disse uma frase que mais parecia um soundbite preparado, tal o alcance da frase nos quatro cantos do mundo :
- Maradona tem paixão, Cristiano Ronaldo tem pouquinho e o Messi não tem nada...
Eu vi em directo e não foram exactamente assim as palavras, até porque Jorge Jesus contextualiza, mas disse-as...
Neste caso é uma opinião dele e como todas as opiniões que são dadas com elevação e educação são de aplaudir. Não foi mal educado com ninguém, polémico talvez, mas que fosse sempre assim...
Dizer que Ronaldo tem "pouquinho de paixão pelo jogo", vendo o que ele faz aos 35 anos é um pouco descabido, consideraria até ridículo mas tendo em conta que estamos todos de luto por Maradona pode existir um certo exagero nas palavras.
O pior aparece no decorrer do jogo contra o Marítimo.
Não nos podemos esquecer que quase no início do jogo, o Marítimo vê Otamendi falhar um passe que o avançado do Marítimo aproveita de forma soberba marcando um grande golo. Ou seja o Marítimo estava a ganhar ao Benfica.
O que queria Jorge Jesus que o Marítimo fizesse? Atacasse? Claro, queria ele e eu porque assim havia mais espaços atrás para o Benfica aproveitar.
Mas o treinador do Marítimo não é estupido e defendeu como pode, tal como o fez no Dragão.
Quando o Benfica marca o 1-1, já Jorge Jesus começa o seu recital começando a gritar para o banco adversário. Porquê?
Que fez o banco adversário? Tentou defender o resultado? Tentou perder tempo? Quem não? Quem não se lembra do jogo em Turim contra a Juventus com Jorge Jesus no banco? Aliás o único resultado extraordinário que Jorge Jesus fez sendo treinador do Benfica. O Benfica defendeu e perdemos tempo. Claro... Obviamente que perdemos tempo, como ontem o Sérgio Conceição e o Porto perderam tempo contra o Manchester City ou como Jorge Jesus perdeu tempo em tantos e tantos e tantos jogos, alguns deles onde mandou o nosso guarda redes para o chão com 60 mil no estádio da Luz...
Mas o pior aparece com o segundo golo do Benfica.
Jorge Jesus gritou, gesticulou e disse ao treinador do Marítimo "para ter vergonha" e "ir treinar o Elvas".
Rui Costa agarrou o nosso treinador e o jogo seguiu com o Marítimo a jogar à bola - claro, estava a perder - e a tentar o empate. Ou seja, um jogo normal de futebol.
O Benfica não marcou mais nenhum golo, mesmo com espaços e o Marítimo também não conseguiu marcar, mesmo tendo atacado mais.
Uma equipa pobre e pequena joga com a rica e forte. Apanha-se a ganhar e defende o máximo possível, perde tempo, joga com o cronómetro. A equipa forte empata e a fraca ainda defende a tentar "o pontinho". A rica e forte marca o segundo golo e a fraca vai jogar a tentar o empate.
Isto acontece em 99% dos jogos com estas características mas porque Jorge Jesus rebentou daquela forma com o banco do Marítimo?
- Porque Jorge Jesus é assim e o Benfica não merece um treinador assim.
Dizem-me os mais "acérrimos e cegos defensores de Jorge Jesus ou de tudo o que é do Benfica" "que é assim que se defende o clube", "que é assim que se mostra o Amor pelo clube", "que o que ele fez foi pouco, porque o anti jogo do Marítimo é uma vergonha"...
Eu lembro a estes "benfiquistas que se julgam mais benquistas que eu" que com o anti jogo do Marítimo o FCPorto perdeu 3 pontos no Dragão que se não os tivesse perdido o Benfica de Jorge Jesus hoje seria quarto classificado na Liga Portuguesa atrás desse mesmo FCPorto.
Não contente com a figura triste que fez durante o jogo, Jorge Jesus vem para a flash interview e não gostou que a jornalista lhe perguntasse uma pergunta que não o satisfez - só Jorge Jesus viu um grande jogo do Benfica na Madeira - e ofendeu a jornalista basicamente dizendo que "ela não percebe nada de futebol"
Jorge Jesus é por norma bastante condescendente com as jornalistas que o interpelam e verdade seja dita que até aceita melhor as criticas das jornalistas femininas que dos jornalistas masculinos, mas desta vez não aceitou e foi mal educado, como é tantas e tantas vezes.
Um dos problemas que a nossa sociedade tem com os mal educados é o perdão fácil.
"Oh deixa lá, é o Jorge Jesus, já sabes como ele é..."
"Oh deixa lá, é o Sérgio Conceição, já sabes como ele é..."
"Oh deixa lá, é o Donald Trump, já sabes como ele é..."
Não, não quero saber como ele é nem me interessa, porque esta desculpabilização dos mal educados, dos arrogantes, dos "Maus contra os Bons" é desprezível.
E é isto que temos no Benfica. Um dos Maus a treinar a nossa equipa.
Nem vou entrar no capítulo técnico e se ele é pior ou melhor treinador que outros, mas ele representa um tipo de atitude perante a competição que não tem nada de evoluído ou educado.
E o jogo, o futebol como na vida, tem que ser essencialmente um terreno de competição dentro do campo e não fora do campo.
Fora do campo tem que prevalecer sempre a educação, o ser evoluído e respeitador do seu adversário, dos jornalistas ou de quaisquer agentes desportivos.
Dizia Jorge Jesus neste defeso que a sua passagem pela Arábia e pelo Brasil lhe "tinham dado um respeito maior pelos adversários, que agora era outra pessoa, mais calma, mais maduro, com outra perspectiva do jogo e de tudo o que rodeia o jogo..."
Caiu-lhe a máscara na Madeira e percebemos que o mesmo Jorge Jesus é sempre o mesmo Jorge Jesus e eu tenho vergonha que este seja o nosso treinador, mesmo sabendo que com esta equipa se não ganhar tudo em Portugal, pode ser considerado o pior treinador que alguma vez treinou o Benfica, porque na parte humana tem o prémio à sua mercê, sem concorrência...
Força Benfica