domingo, 23 de novembro de 2008

"Há que falar pouco de mim, muito de todos e nada dos outros"

Quique Flores utilizou a frase que dá título a este post para comentar o badalado e hipotético interesse do Real Madrid na sua contratação para treinador - ou na verdade utilizou esta frase para "não comentar" esse interesse que segundo se diz por Espanha, é mesmo real...

Acrescenta Quique Flores que "neste caso o Real Madrid está nos outros, por isso não comento. Da mesma forma, quero falar muito pouco de mim, prefiro falar do Benfica, dos jogadores, da equipa, é isso o mais importante. Estou satisfeito com esta dinâmica e quero ficar aqui."

Com uma frase tão profunda ainda por cima com cariz de "citação" - é raro haver citações de cariz mais ou menos intelectual nas conferências de imprensa de futebol - um jornalista perguntou a Quique Flores "quem lhe tinha transmitido esse ensinamento", ao que ele respondeu de forma humilde e divertida que "sinceramente não me lembro [risos]... Lembro-me apenas da frase, não de quem a disse. Li numa entrevista que tinha a ver com literatura ou espectáculos, algo assim. A frase chamou-me a atenção, despertou-me interesse, por isso registei-a. Acho que pode aplicar-se em muitos casos."

Acho magnífico que o nosso treinador cite uma frase de um anónimo que sabemos que vem da área da literatura ou espectáculo - duas áreas artísticas com muitos intelectuais e com muitos apaixonados por futebol e especialmente pelo Benfica - para dar um exemplo muito simples, que se resume em expressão anglo-saxónica como um estilo "low profile".

E é exactamente isso que temos na direcção técnica do Benfica. Alguém tão bom e tão profissional que não precisa de se meter em bicos dos pés para que lhe reconheçam o seu valor. Isto é próprio das grandes pessoas, das pessoas predestinadas a chegar longe. Eu acredito que quando temos valor não necessitamos de gritar esse valor que temos. Pelo contrário. Deveremos provar que temos valor nos locais correctos, mas sem grande alarido - a não ser que estrategicamente tenhamos que utilizar esse alarido em nosso proveito.

Quique Flores chegou a Portugal e inovou em muitos aspectos. Não quero falar dos aspectos técnicos-tácticos porque sobre esses o tempo dirá de sua justiça, mas em termos de postura, de comportamento, de nível e de boa educação, provou que era uma pessoa de elevada estatura.

Desde sempre o defendi e defenderei neste espaço pela simples razão que neste momento ele é a pessoa mais importante da estrutura de futebol do Benfica. Disse aqui - num texto que intitulei de "A Mística de Quique Flores" - que gostava de ver este treinador no Benfica durante três temporadas (apesar de sabermos que assinou por duas). Além de não retirar uma única palavra a esta ideia, reforço esta mesma ideia. O Benfica precisa de Quique Flores por três temporadas. Bem sei que os resultados é que definem os treinadores e uma derrota por exemplo na Grécia nesta semana tira-nos fora da Taça Uefa, ou uma derrota com o Leixões em Dezembro tira-nos fora da Taça de Portugal, mas isso são exactamente as contingências que não devem direccionar o nosso caminho. Com Quique durante três anos, iremos estabilizar o plantel, iremos ganhar confiança, iremos ganhar obviamente alguns títulos, iremos cimentar o nosso nome na Europa, iremos ter uma equipa a perder menos e iremos basicamente ter uma equipa muito bem preparada para quem se seguir a Quique Flores.

Ganhar e perder faz parte do jogo e eu tenho aqui referido muitas vezes, que ainda vamos perder bastante esta época porque já não há milagres e as épocas longas, com ou sem títulos, também se constroem com derrotas. Pois eu independentemente dessas vitórias ou derrotas sei que Quique Flores e a sua equipa técnica são hoje peças fundamentais naquilo que vai ser o Benfica na próxima década.

O seu discurso, a sua cultura, a sua maneira de estar entre outras características de alto nível, são para mim o exemplo de como se deve estar no futebol moderno. Ver notícias do interesse do Real Madrid não me surpreendem até porque Schuster ao pé do Quique Flores é como comparar o Jaime Pacheco ao José Mourinho. Não tem comparação possível. Nunca entendi como Schuster chega ao Real Madrid, depois dumas épocas brilhantes no Getafe (é verdade) mas sem a experiência, conhecimento e sabedoria que por exemplo o seu antecessor detinha - Fabio Cappelo.

Espero, muito sinceramente que Rui Costa faça ver a Quique Flores que para ele serão apenas três anos e para o Benfica podem significar uma década inteira, manter o mesmo treinador e a mesma estrutura. Quique tem tempo de chegar ao Real Madrid, terá tempo de quiçá chegar à Selecção do seu país ou a outro qualquer grande clube Europeu.

"Neste momento, senhor Quique Flores, é fundamental que não fale dos outros - se esses outros forem o Real Madrid - mas que não deixe que eles falem de si. Qualquer resultado menos positivo do Real Madrid terá o nome de Quique Flores no jornal e qualquer resultado menos positivo do Benfica terá o Real Madrid nos jornais porque vão dizer que já está a pensar no Real e isso desestabilizará a nossa equipa (mesmo que obviamente as derrotas ou empates não tenham nada a ver com o interessa do Real Madrid em Quique Flores). Acredito muito no seu trabalho e sei que não nos deixará tão depressa. Assim espero."

Entretanto, que hoje consigamos os três pontos, num jogo que considero muito importante para o nosso futuro imediato na Liga. Apesar de normalmente não ser difícil para o Benfica ganhar em Coimbra, espero que os jogadores entrem determinados porque pensando que a História e estatística favorável resolvem jogos, é o primeiro passo para um dissabor. Isso não vai acontecer hoje.

Força Benfica

2 comentários:

Anónimo disse...

Força Benfica e força Quique!
Nem quero pensar numa eventual saída deste treinador, a quem já devemos alguma coisa.

Anónimo disse...

Quique para a seleção. Que se lixe o benfica